Golpe que atingiu o nosso país não é invencível, diz rede ligada à Igreja Católica

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Foto: Tiago Queiroz/Estadão
 
 
Jornal GGN – Redes ligadas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiram uma carta com uma mensagem otimista em relação ao golpe de Estado dado pelo grupo que levou Michel Temer ao poder e que culminou com uma série de mudanças em políticas públicas que retiraram direitos sociais. 
 
De acordo com a mensagem das Comissões Justiça e Paz da CNBB e da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação da CRB, que formam a Rede Brasileira Justiça e Paz, “o quadro atual de grandes perdas e de ameaças a direitos não abala a nossa fé na democracia pois o golpe que atingiu o nosso país não é invencível. A força da militância dos movimentos populares, irá demonstrar, mais cedo do que se imagina, como em outros momentos da história, que as tiranias sempre sucumbem à irresistível vontade popular.”
 
A carta critica o fim da CLT, medida que acaba de entrar em vigor, uma “ousadia que nem o arbítrio de 1964 foi capaz de propor”, e que Temer só conseguiu tirar do papel comprando apoio político para se manter no poder, a despeito das denúncias da Lava Jato.
 
“Essa lógica cruel, incapaz de sentir qualquer remorso com a dor de milhões, é constantemente tratada como responsabilidade fiscal”, diz a nota, que ainda leva as críticas ao Judiciário. 
 
“Tal quadro desolador se completa com a hipertrofia do judiciário, nem sempre distante das paixões políticas presentes na sociedade. Aliás, muitos se perguntam se ele não estaria em algum grau partidarizado e comprometido com o modelo econômico neoliberal.”
 
O informe ainda aponta que a “esperança que anima a nossa militância tem mantido acesos movimentos, redes e mobilizações” e isso tem ajudado a criar “resistência” e fazer o governo recuar em algumas pautas, como ocorreu no caso da Renca, “da insidiosa portaria que legitimava o trabalho escravo, bem como da cada vez mais improvável Reforma da Previdência.”
 
Leia a manifestação completa abaixo.
 
Mensagem pública aprovada pelas Comissões Justiça e Paz da CNBB e a Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação da CRB, que formam a Rede Brasileira Justiça e Paz, reunidas em Brasília, de 10 a 12 de Novembro de 2017
 
Misericórdia e fidelidade se encontram, justiça e paz se abraçam (Salmo 85, 11) 
 
A realidade brasileira expõe uma nação à deriva, sem rumo, entregue à voracidade do mercado financeiro nacional e internacional. Há quem sustente que esta situação revela algo premeditado e
com objetivo claro: aprofundar o modelo de país voltado para fora como fonte de matérias primas oferecidas às metrópoles de plantão.
 
Tal anomalia tem uma funcionalidade, pois legitima a adoção de políticas que, num quadro de normalidade, jamais seriam aceitas. Ao explorar o vocábulo crise, implicitamente induz à admissão de que o Estado Democrático de Direito ainda subsiste e não estaríamos caindo em outra realidade, um novo formato de Estado, voltado à multiplicação de lucros e ampliação do controle penal dos “indesejáveis”, em negação de valores essenciais à própria humanidade.
 
É dentro desta perspectiva, que se explica a interminável necessidade de buscar a desconstrução dos instrumentos de governança e inclusão social, que desde 1930 deram sentido à nacionalidade brasileira, apesar dos inúmeros limites e percalços que não podem ser olvidados.
 
Há poucos meses foi decretado o fim da CLT, medida que acaba de entrar em vigor, ousadia que nem o arbítrio de 1964 foi capaz de propor. O atual Presidente da República comporta-se sem cerimônia e desprovido da “liturgia do cargo” para enterrar as denúncias que pesam contra ele e seus mais próximos auxiliares. Para tanto, faz uso indevido de nomeações, verbas e distribui privilégios que o mau manejo da máquina pública proporciona, em escandalosa cooptação de parlamentares e parte majoritária da mídia empresarial.
 
O discurso oficial apregoa que teríamos entrado num lento, porém virtuoso processo de retomada do emprego, da renda e da atividade econômica. Tal aceno, choca-se com a sensação real de instabilidade institucional, pobreza crescente e enorme desemprego. É preciso lembrar que as medidas de “contenção de despesas” destinadas à área social acoplam-se à permanente drenagem desses recursos desviados para o infindável pagamento de inaceitáveis juros da dívida pública. Essa lógica cruel, incapaz de sentir qualquer remorso com a dor de milhões, é constantemente tratada como responsabilidade fiscal, verdadeira adoração ao mercado e desprezo pelos pobres, mulheres, negros, jovens, desempregados e indígenas.
 
Tal quadro desolador se completa com a hipertrofia do judiciário, nem sempre distante das paixões políticas presentes na sociedade. Aliás, muitos se perguntam se ele não estaria em algum grau partidarizado e comprometido com o modelo econômico neoliberal que se quer impor ao Brasil. Afinal, atribui-se a um dos ministros do STF a inaceitável expressão “a Constituição não cabe no
orçamento”. 
 
No campo da sociedade civil está presente forte e difundida oposição à implementação desse modelo, entretanto sem a força necessária às mobilizações, em parte fragilizadas pelo risco do desemprego que coloca os movimentos dos trabalhadores na defensiva, em parte, pela ausência de uma proposta de luta clara, exequível e unificada.
 
A esperança que anima a nossa militância tem mantido acesos movimentos, redes e mobilizações. Por isso, nossa resistência tem sido capaz de impor o recuo do governo em questões como a da Renca, da insidiosa portaria que legitimava o trabalho escravo, bem como da cada vez mais improvável Reforma da Previdência.
 
Esse quadro atual de grandes perdas e de ameaças a direitos, não abala a nossa fé na democracia pois o golpe que atingiu o nosso país não é invencível. A força da militância dos movimentos populares, irá demonstrar, mais cedo do que se imagina, como em outros momentos da história, que as tiranias sempre sucumbem à irresistível vontade popular.
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A ICAR do BRASIL, em grande parte, contribuiu com o GOLPE.

    A ICAR do BRASIL, em grande parte, contribuiu com o GOLPE. Basta lembrar o energúmeno bispo já falecido de GUARULHOS, grande parte dos padres da Canção Nova, o arcebispo de São Paulo, etc, etc…..A icar MARCAVA PASSEATAS COINCIDINDO COM A PASSEATA DO PATO AMARELO, etc, etc…..Agora é muito difícil reverter a retirada dos direitos dos trabalhadores! Não acredito que se consiga reverter, não a curto ou médio prazo. Mas o brasileiro deixou, e parte quiz, que isto acontecesse, agora, paciência, tem que digerir!!!!!!!!!

  2. E aí galera anti Igreja?

    cadê aquela galera esquerdista qeu odeia a Igreja católica? Porque não vem agora detonar este comunicado de católicos?

    Eu vejo que muitos odeiam e desprezam a instiuição Igreja Católica, especialmente o Clero, Padres e Bispos, por ver neles picaretas que enganam a pobres fiéis, gente que tira dinheiro de fiéis incautos “com um Deus que nunca exisitiu”. Outros lembram dos crimes e crueldades da Igreja como a santa Inquisição. Outros lembram de mutos padres e bispos qeu apoiam consertvadores e mesmo golpistas como Serra, Temer e Aécio.

    Mas como é maravilhoso generalizar, não? Sehá muitos sacerdotes corruptos, ultra conservodares, egóístas, há também muitos sacerdotes que querem aliento, educação, saúde, emprego e liberdade geral e irrestrita pra todso sem exceção! Há muitos sacerdotes que lutam contra as injustiças. Então, perseguidores da Igreja, como vocês sõ enxergam uma metade, ignoram a outra, e julgam e condenam o todo assim?

    A Igreja tem defeitos, corrupções, crimes, falha e decepciona? Sim, mas Igreja é feita de seres humanos imperfeitos e limitados como eu e você! Ou acaso você é perfeito, não erra, não falha, não comete injustiça? Ou teu partido ou grupo esquerdista é composto por pessoas superiores e perfeitas? Qualquer organização feita por humanos é falha e imperfeita!

    Ah, mas a Igreja corrompeu os ideias de Cristo e se vendeu por dinheiro! Não generalize: uma parte dos sacerdotes se vendeu e se vande por dinheiro, mas ora, mesmo entre os apóstolos, já havia um que se vendeu por dinheiro, mesmo estando ao lado do próprio Cristo! No entanto havi uma maioria que podia errar, mas era bem intencionada… como há uma maioria bem intencionada até os dias de hoje!

    Aliás, a Igreja não são só os sacerdotes, mas também todos os fiéis.

    Agora, como pode prosperar uma Esquerda onde os diferentes ficam julgando, acusando, perseguindo e odiando aos que creem em coisas com as quais não concordam? Enquanto os conservadores maus e corruptos afastam as diferenças pra conseguir cumprir objetivos m´nimos comuns, os esquerdsitas se degladiam, acusam e odeiam uns aos outros até serem subjulgados um a um.

    Respeitemos e aceitemos diferenças menores, nos centermos nos pontos e objetivos principais e comuns e toda a esquerda vá junto e em uníssono buscar realizar tais objetivos maiores.

  3. O recado deve ser dado também ao próprio clero

    É muito bom ver novamente a Igreja Católica posicionando-se contra as injustiças e as mazelas praticadas por bandos que tomaram de assalto as instituições públicas e o comando da nação. É preciso, no entanto, que a Igreja, ou as igrejas, também tenham visão e atitudes críticas quanto à pregação e ação de seus próprios membros. Não faltam padres e pastores a pregar, descaradamente ou por ignorância e má fé, que vivemos atualmente um ambiente melhor do que tivemos nos governos que antrecederam ao desgoverno atual. E, pior, reverberam nos templos ranço ideolóogico impregnado de ódio e violência contra os que ousaram defender os trabalhadores e a população mais humilde. Mea culpa. Mea culpa.

    1. Viuvez

      São os “viuvos” de João Paulo II, Renato. Pululam no clero brasileiro. Muito “católicos” mas pouco cristãos. É possível? Daí as aspas em católicos.

  4. Engraçado, um cabra todo

    Engraçado, um cabra todo paramentado, mais parecido com o bolo de casamento do Luciano Huck & sinhazinha Angélica não sei das quantas. Ainda assim, há quem creia nas palavras enganadoras desses hipócritas. Me deixe viu? Aonde que uma figura rídicula como essa representa o homem que andava em companhia de pobres, vagabundos e desempregados. Hora, defendendo as putas, noutra,  os ladrões de galinhas miseráveis e alcoólatras. Não há registro daquele Homem, participando de regabofes em faustosos palácios ao lado dos poderoso, digamos assim: Michel Temer, Gilmar Dantas, FHC, ACM, Tecla Duram, Dr. Emílio Odebrechet, do medalhado Ségio Moro, dos irmãos Marinho, et caterva.  

    Tal como o pretexto fajuto das pedaladas fiscais. No caso do subversivo de Nazaré, foram rápidos e radicais, logo foi condenado ao sacrificio e pregado na cruz. Acusado de subverter a ordem e prejudicar as finanças de suas excelências do alto clero, do governo fantoche local, e dos mandantes do Império. Ah! Vão te catar: Michel Temer, Bispo da ICAR & CIA.

    Não percerber que tratamos de velhas e renitentes alegorias, é não compreender nadinha da quase sempre feroz luta de classes que vem sendo travada ao longo da história da humanidade. Não parece, mas os poderosos atuais assim como seus antepassados, serão devidamente derrotados.

    Convém notar que a brutalidade na Queda da Bastilha, relacionava-se a crueza imposta aos miseráveis, ou seja, aquilo foi apenas o troco. Cuidemos pra que a nossa seja mais leve. 

    Orlando

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador