Lava Jato denuncia empresários que ofereceram R$ 10 milhões a ex-presidente do PSDB

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Os procuradores da Operação Lava Jato em Curitiba denunciaram formalmente dois empresários suspeitos de terem oferecido o pagamento de R$ 10 milhões para o ex-presidente nacional do PSDB, Sergio Guerra, e ao deputado federal Eduardo da Ponte (PP), com vistas a paralizar os trabalhos da CPI da Petrobras em 2009.

Segundo informações do Ministério Público Federal, Ildefonso Colares Filhos, ex-executivo da Queiroz Galvão, e Erton Medeiros, também ligado à Galvão, são acusados de corrupção ativa. Em gravação entregue à Lava Jato pelo delator Fernando Baiano, os empresários aparecem reunidos com o então senador tucano, discutindo a propina que seria desviada de uma diretoria da Petrobras sob influência do PP de José Janene. Outro delator, Paulo Roberto Costa, ex-dirigente da estatal, teria confirmado a transação.

Do MPF

Lava Jato denuncia empresários por corrupção na investigação da CPI da Petrobras em 2009

Procuradores da força-tarefa Lava Jato em Curitiba ofereceram denúncia contra Ildefonso Colares Filho, ex-executivo do grupo Queiroz Galvão, e Erton Medeiros, empresário ligado à Galvão Engenharia, alvos da 33ª fase da operação deflagrada em agosto deste ano. Os dois empresários são acusados pelo crime de corrupção ativa pelo oferecimento de R$ 10 milhões em propina, no segundo semestre de 2009, ao então senador Sérgio Guerra (PSDB-SP, falecido em 2010) e ao deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) para que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, instalada no mesmo ano, não tivesse resultado efetivo.

A CPI tinha o objetivo de apurar, no prazo de 180 dias, irregularidades envolvendo a Petrobras e a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o que não ocorreu. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) elaborado em 2008 apontou, entre outros fatos, indícios de superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. As obras no Complexo Industrial e Portuário de Suape, no município de Ipojuca (local onde está localizada a Refinaria Abreu e Lima), foram orçadas no Plano Plurianual de 2008-2011 com o valor de R$ 10,1 bilhões. Na época, em um dos contratos da refinaria, firmado no valor de R$ 429.207.776,71 pelo Consórcio RNEST (integrado pelas empresas Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Construtora Norberto Odebrecht S.A e Construções Camargo Corrêa S.A.), o TCU identificou indícios de superfaturamento de R$ 58,5 milhões. Desta forma, tanto a Queiroz Galvão como a Galvão Engenharia eram diretamente interessadas nas apurações da CPI.

A partir de depoimento prestado na colaboração premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, começou-se a investigar o oferecimento e a promessa de pagamento de propina no valor de R$ 10 milhões aos partidos de oposição e da base aliada do governo federal na época, para que a CPI que investigava a Petrobras não levasse à responsabilização de nenhum envolvido. Segundo o ex-diretor da estatal, durante o segundo semestre de 2009, período no qual a CPI desempenhava seus trabalhos, ocorreram encontros reservados com os parlamentares Eduardo da Fonte (PP-PE) e Sérgio Guerra (PSDB-SP) em pelo menos quatro ocasiões, nos quais foi discutido o pagamento de propina para que a comissão não tivesse efetividade.

Durante as negociações, Paulo Roberto Costa conseguiu a “autorização” do então ex-deputado federal José Janene (PP-PR) para retirar a propina da quota de propinas do Partido Progressista (PP) na diretoria de Abastecimento da estatal. Após a sinalização positiva de Janene, Costa marcou um encontro final para fechar a negociação espúria em uma sala comercial de um prédio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 21 de setembro de 2009. A sala foi emprestada por um amigo de Fernando Soares, o Fernando “Baiano”, também réu colaborador na Lava Jato. Além de Costa e “Baiano”, participaram do encontro Sérgio Guerra, Eduardo da Fonte e os empreiteiros responsáveis pelo pagamento de propina, agora denunciados, Ildefonso Colares Filho, ligado ao grupo Queiroz Galvão, e Erton Medeiros Fonseca, ex-executivo da Galvão Engenharia.

Quando ouvidos, os envolvidos negaram ter participado da reunião. Entretanto, além dos depoimentos prestados pelos réus colaboradores, a força-tarefa teve acesso a outras provas que comprovaram a realização da reunião em 2009. A sala onde o encontro foi realizado, por exemplo, possuía um sistema de gravação de áudio e vídeo e toda a negociação espúria foi integralmente gravada e disponibilizada aos investigadores pelo colaborador Fernando Soares. Na gravação, tanto Paulo Roberto Costa como Fernando Soares identificaram o momento exato em que o oferecimento de vantagem indevida foi tratado pelos interlocutores das empreiteiras com termos ocultos, como era o usual nessas negociações. Segundo os colaboradores, o registro da negociação da vantagem indevida ocorre mais claramente quando Ildefonso Colares menciona querer dar “um suporte” ao então senador Sérgio Guerra. O empresário se manifesta com a seguinte frase: “dando um suporte aí ao Senador”, numa referência aos valores espúrios que seriam pagos ao parlamentar. Na sequência da gravação o político responde: “conversa aí entre vocês”, deixando claro que caberia às duas empresas acertarem a divisão e a forma de pagamento da propina.

Embora o crime tenha se consumado com a mera promessa de oferecimento de vantagem indevida, segundo Paulo Roberto Costa, a propina foi devidamente paga, o que foi também confirmado por Alberto Youssef, responsável por gerenciar o caixa de propina do Partido Progressista. Como resultado, o relatório final da CPI da Petrobras em 2009 não indiciou ninguém ou sequer mencionava as empresas Queiroz Galvão e Galvão Engenharia. Além disso, a apuração parlamentar concluiu que “o conjunto de indícios de irregularidades apontados pelo TCU nas obras da Refinaria Abreu e Lima, depois da análise empreendida pela CPI, mostrou-se inconsistente”. Para a força-tarefa, “a referida CPI não chegou a resultados efetivos devido ao grande esquema criminoso que já existia na época dentro da Petrobras, tanto que este se manteve ao longo dos anos seguintes, até ser comprovado pela operação Lava Jato”.

Além da denúncia pelo crime de corrupção ativa, os procuradores ainda pedem a fixação de R$ 10 milhões como o montante mínimo para reparação dos danos causados.

Para o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, a provas do pagamento de propinas a parlamentares para barrar CPIs da Petrobras, em 2009 e 2014, são perturbadoras. “Não só porque a casa foi assaltada e o guardião subornado para garantir a impunidade. Não só porque isso aconteceu na mais alta esfera da República. Isso perturba especialmente porque se os parlamentares agiram para barrar a investigação de crimes praticados por terceiros, há uma perspectiva de que poderão agir para barrar a investigação dos crimes que eles próprios praticaram. Na medida em que o número de parlamentares investigados aumenta, nossa preocupação cresce. A sociedade precisa ficar atenta, porque reações contra a Lava Jato já começaram e se fortalecerão, tanto mediante campanhas difamatórias como por meio de iniciativas legislativas”.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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  1. Essa Lava Jato é de uma

    Essa Lava Jato é de uma canalhice que faz corar frade de ferro-gusa.Quer dizer, um morto paga pelos vivos Serra e Aécio.E eu continuo achando que já tivesse visto tudo.

  2. Dois tipos de pessoas que

    Dois tipos de pessoas que ainda apoiam essa farasajato e o juiz da globo: o(s) Néscio(s) e o(s) canalha (s), canalha (s), canalha (s).

  3. Só uma perguntinha, por que o

    Só uma perguntinha, por que o meretíssimo não mandou prender o tesoureiro desse tucano, o secretário desse tucano, a mãe desse tucano, a avó desse tucano, o tio desse tucano, a cunhada desse tucano…? aé, isso só vale pra petistas.

  4. Conta outra, Janot!

    Prezados,

     

    Apenas os que gostam de ser enganados ainda caem na conversa cínica do Janot e de outros que integram a ORCRIM da Farsa a Jato. Nesses dois anos de ‘operação’, midiática e espetaculosa, NENHUM tucano graúdo foi sequer denunciado pelo MP, embora alguns deles tenham sido citados dezenas de vezes nas tais ‘delações premiadas’ e contra ele haja fartas e robustas provas, como é o caso de Aécio Cunha.

    A dupla Jajá-Gigi (Rodrigo Janot e Gilmar Mendes) não admite ficar longe dos holofotes. Quando começam a ficar apagados, contactam o PIG/PPV e retomam o jogo ensaiado, com jogos de cena, usando a ‘mídia amiga como escada e palco’. A  menção a tucanos é só para fingir imparcialidade que jamais mostraram ter. Se estivesse vivo, Sérgio Guerrra não seria ciado ou se isso acontecesse, JAMAIS o MP divulgaria a existência de provas.

    Como já sentenciei, há alguns meses: é mais fácil um camelo passar pelo orifício de uma agulha que do que um tucano graúdo ser condenado em investigação derivada da Farsa a Jato; mais improvável ainda é que tucanos gráudos sejam presos.

  5. Impressionante

    Como são isentos…. E a manada segue sem saber que tomou um golpe no meio do nariz e que o Brasil descambou ladeira abaixo… Mas esta tudo bem, a Globo disse que o Brasil agora esta curado do mar de lama que o assola e so falta o Moro prender o Lula, trabalho pelo qual ele ja foi em parte recompenando com prêmios e holofotes, que voltaremos ao Brasil de sempre.

    1. Paulo BR

      KKKKKKKKKKKK desculpem a gargalhada, mas não aguentei.

      Agora o outro , o FHC está dizendo que o PSDB  e PT, são partidos  que estão “velhos” !

      E eu pergunto, Quais seriam os novos ?

      Será que ele se referia ao DEM, ao PPS, ao PV, ao PRB ?

      Coitado do FHC. Oh dó !

    1. Sabe, o juiz da globo se faz

      Sabe, o juiz da globo se faz de bobo. Quem estava naquela CPI e era do pósdb? Sérgio Guerra e Álvaro Botox, lá do Paraná.  Tem reportagens dos dois anunciando a saída e tinha até um vídeo no youtube, que sumiu, com os dois com aquelas caras de filhadaputa que só um tucano tem, dando entrevista coletiva para o PIG dizendo que iam sair da CPI.

      O juiz da globo não mandou o STF investigar o Álvaro Botox por que não quis. 

  6. Mas nem os mortos vivos ?

    Como o FHC, citado na compra da estatal de petróleo argentina ?

    Que mau cheiro ! Assim não há tatu que aguente ! pois até os urubús já estão voando para outros cantos, como PV, p.ex.

    Hoje, até o “cara de brabo” do Teori já está dizendo que o Lula está atrapalhando a Lava jato. Um Joaquim Barbosa branco ?

    Joga a m…… na Geni !

    E os procuradores já estão ficando de cabelos brancos de tanta preocupação.  É só seguir a constituição e quero ver quem irá atazaná-los , viu Ilmo gastador do dinheiro público, e desmantelador de nossas maiores empreiteiras, Petrobras, eletrobras, etc viu sr. Dalagnol e Cia.

    Com qual pais ficaremos ?

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