Memórias da ditadura na visão de Adriano Diogo

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Ex-presidente da Comissão da Verdade de São Paulo, ex-deputado relembra tortura em mulheres por agentes do DOI-CODI comandado por Ustra

Adriano Diogo, ex-deputado estadual e atual coordenador do Setorial Nacional de Direitos Humanos do PT. Foto: Alesp.

O ex-deputado estadual Adriano Diogo foi preso pela ditadura militar na década de 70 quando era estudante de geologia na USP e, como ex-presidente da Comissão da Verdade de São Paulo Rubens Paiva, pode contar uma série de histórias a respeito da ditadura militar na capital paulista.

E uma delas envolve uma coincidência, e aconteceu em Brasília. “Um dia, um grande advogado brasileiro estava em Brasília na antesala das autoridades do governo Lula, e esse grande advogado brasileiro viu um juiz entrando e saindo da sala – o juiz que era presidente da Apamagis, presidente da associação dos juízes e tal…”, conta Adriano Diogo, que atualmente é coordenador do Setorial Nacional de Direitos Humanos do PT, em entrevista à TV GGN 20 horas desta quarta-feira (20/04).

“Entrando e saindo das salas para reivindicar um cargo, uma indicação para o Supremo Tribunal Federal. Esse grande advogado falou ‘que faz esse senhor aqui nos corredores?’. ‘Ele está sendo indicado para ser um dos ministros do Supremo'”, diz o ex-deputado.

“Coincidentemente, esse juiz tinha o nome de um torturador. Como era o nome do torturador (…) O nome do torturador era Calandra, Aparecido Calandra, que tinha um pseudônimo lá na Operação Bandeirante”, afirma Adriano Diogo.

Aparecido Calandra atuava no DOI-CODI e era especializado em torturar mulheres – e apenas mulheres. Segundo Diogo, o operacional de Calandra era o “delegado (Lourival) Gaeta, que lá na operação Bandeirante tinha um pseudônimo para se esconder da covardia dele”.

Tortura de mulheres e participação da esposa de Ustra

Diogo conta que todas as mulheres presas na operação Bandeirantes, seja por maior ou menor envolvimento no combate à ditadura, eram deixadas nuas frente aos interrogadores e torturadores.

“Todas as mulheres que eram presas na operação Bandeirantes… todas as mulheres que eram presas por mais envolvimento ou menos envolvimento, a primeira regra era deixá-las nuas diante de uma plateia de interrogadores e torturadores”, diz Adriano Diogo. “Todas as mulheres, de todas as idades, em quaisquer circunstâncias”.

O ex-deputado lembra que sua própria companheira, Arlete, foi colocada nua no pátio da Oban. No pátio, lá no fundo da delegacia, na frente de todas as pessoas. “E todas as meninas da USP”, pontua.

Depois de serem deixadas nuas, os torturadores davam início ao interrogatório “com a colocação dos fios nas partes mais sensíveis e toda forma de humilhação a essas mulheres. Daí que começam a surgir aquelas histórias dos animais…”, diz Adriano Diogo. “Esse (Lourival) Gaeta, o Gaeta que tinha o pseudônimo de Mangabeira, ele era o cara especializado em introdução de animais”.

O ex-deputado lembra que o DOI-CODI era presidido pelo então major Tibiriçá, o pseudônimo utilizado pelo então major Carlos Eduardo Brilhante Ustra. Que, inclusive, não só residia na região da Oban como comandava as sessões de tortura pessoalmente.

“Pasmem, o Ustra morava lá na Oban – as pessoas achavam que a Oban era só a parte da rua Tutoia. Pela rua Tomaz Carvalhal, que faz aquele enorme polígono militar, tinha uma série de pequenas edificações e um enorme pátio de estacionamento. O Ustra morava lá com a esposa e filhos”.

De acordo com Diogo, a esposa de Ustra ia visitar as mulheres nas celas após as sessões de tortura – “e perguntava, lógico, em uma condição péssima, inclusive há tentativa de aliciamento”, lembra Diogo.

Diogo destaca que todas essas informações estão em um documento chamado Bagulhão, produzido pelos presos políticos, e retirado por Dom Paulo Evaristo (Arns) e pelo Hélio Bicudo, e divulgado no mundo inteiro pela Jan Rocha, pelo Clamor, pelo pastor Wright na época, como eram essas técnicas de tortura”

“Então, esses áudios dos advogados, desses grandes advogados – a gente tem que lembrar da Eny Raimundo (advogada falecida em janeiro de 2022) e toda aquela escola daqueles grandes juristas, que começaram principalmente no Rio de Janeiro”

Veja mais a respeito da ditadura militar na íntegra da TV GGN 20 horas desta quarta-feira, disponível no link a seguir.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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