Moro duvida de coação da Lava Jato em testemunha com filho de 8 anos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Reprodução
 
Jornal GGN – A força-tarefa da Lava Jato do Paraná, agora, está sob suspeita de ter forçado uma testemunha do processo do sítio de Atibaia, acompanhada de seu filho de 8 anos, a prestar depoimento. A criança hoje faz tratamento psicológico pelo trauma. E o juiz Sérgio Moro disse que “lhe causa surpresa”, questionando.
 
O caso envolve Rosilene da Luz Ferreira, ex-cozinheira do sítio de Atibaia. Os procuradores da República tomaram o depoimento dela no dia 4 de março de 2016, quando foi deflagrada a 24ª fase da Lava Jato, mesmo dia em que o ex-presidente Lula foi conduzido coercitivamente.
 
Até agora abafado, a acusação foi recuperada na última semana pelo eletricista Lietides Pereira Vieira, esposo de Rosilene, que prestou novo depoimento, desta vez ao juiz Sérgio Moro. Ao magistrado, ele afirmou que sua esposa foi coagida a prestar depoimento no sítio pelas autoridades.
 
Diante de Moro, os advogados de Fernando Bittar, dono do sítio, perguntaram se Rosilene havia concordado em prestar o depoimento no local. “Não é bem que ela concordou, né. Eles levaram ela”, respondeu Lietides, que reproduziu a fala dos investigadores à sua esposa: “A senhora vai ter que ir lá para depor para fazer alguns esclarecimentos”.
 
Ambos trabalharam no sítio. Só que além de sua mulher, também estava presente o filho do casal, de 8 anos de idade. Os policiais e procuradores foram até a casa deles, por volta das 6h, e levaram a esposa ao sítio de Atibaia, sem sequer apresentar mandado judicial. Lietides soube que sua mulher e seu filho tinham sido coagidos depois, quando a esposa o chamou por telefone. 
 
“Meu filho faz tratamento psicológico com a pediatra e psicológica até hoje, porque ele ficou muito tenso. Ele ficou muito com medinho, meu filho adoeceu. Meu filho ficou uns oito dias em que ele dormia comigo atracado no meu pescoço, com medo”, narrou.
 
“A gente vem de família simples e humilde. E a gente não tem esse tipo de parâmetro, de presenciar uma cena assim, doutor. Então isso foi um abalo gigantesco para ela e para o meu filho”, continuou o eletricista, narrando que sua esposa também ficou assustada. Entre as perguntas feita à então cozinheira do sítio, os investigadores questionaram se ela já tinha visto o ex-presidente Lula no local. 
 
MPF e Moro desconfiam
 
O MPF nega e diz que Rosilene se dispôs a ir ao sítio de Santa Bárbara, porque o equipamento de gravação de áudio dos investigadores estava sem bateria no momento em que iriam tomar o depoimento na casa de Rosilene. 
 
“Como a equipe comandada pelo Delegado Mauat e encarregada da tomada dos depoimentos somente encerraria os trabalhos no sítio após o meio dia, a testemunha se dispôs a comparecer na base operacional da PF no sítio Santa Barbara para formalizar e prestar depoimento ainda pela manhã, desde que pudesse se deslocar na viatura da Polícia Federal até o local onde seria colhido o depoimento e nela ser trazida de volta a sua residência a tempo de não se atrasar para o trabalho”, afirmou o MPF.
 
O posicionamento dos procuradores foi enviado ao juiz Sérgio Moro, após o magistrado pedir um parecer. “Conclusivamente, ao contrário do que afirmado por Lietides Pereira Vieira, não houve nenhuma coação ou condução coercitiva da testemunha Rosilene da Luz Ferreira, e de seu filho, tendo o procedimento se pautado pelas normas legais, conforme acima narrado”, disseram os investigadores.
 
Apesar da falta de mandado judicial para levar Rosilene ao sítio, da ausência do pai no momento e da necessidade de levar também o filho do casal ao local, da chegada dos investigadores às 6h conduzindo a cozinheira coercitivamente, e dos traumas provocados ao menino de 8 anos, o juiz da Lava Jato ainda duvidou das declarações de Rosilene e Lietides. 
 
“Ele – o menor – poderia ter permanecido junto com o esposo ou companheiro, por decisão exclusiva de seus genitores”, foi a manifestação do MPF a Moro. “Me causa um pouco de surpresa que esse assunto venha à tona de surpresa durante uma audiência e nunca tenha sido trazida ao juízo anteriormente”, concluiu o magistrado Sérgio Moro.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Trauma
     

    em filho de pobre, invasão policial as 6 da manhã sem mandado judicial, ameaça de prisão, coação, nada disso tem importância.

    Se é para implicar o Lula, tá valendo.

    Vou ali tomar um antiácido: meu estômago está embrulhado.

  2. se esta criança depender desse tipo de interpretação…

    vai acabar nas jaulas americanas

    ou nas que serão contruídas em breve aqui no Brazil para crianças venezuelanas

  3. REPRODUZINDO A MAIOR CARA DE

    REPRODUZINDO A MAIOR CARA DE PAU DO MPF:

    “Como a equipe comandada pelo Delegado Mauat e encarregada da tomada dos depoimentos somente encerraria os trabalhos no sítio após o meio dia, a testemunha se dispôs a comparecer na base operacional da PF no sítio Santa Barbara para formalizar e prestar depoimento ainda pela manhã, desde que pudesse se deslocar na viatura da Polícia Federal até o local onde seria colhido o depoimento e nela ser trazida de volta a sua residência a tempo de não se atrasar para o trabalho”, afirmou o MPF.

    PARECE CONTO DE FADAS…  VOLTADO PARA QUEM ACREDITA EM PAPAI NOEL E NA BRANCA DE NEVE E OS 7 ANOS.. E TAMBÉM, É CLARO, PARA O PROMOTOR/JUIZ MORO..

     

     

  4. “Justissa” que teve desrespeito de invadir o asilo “inviolável”

    de um ex-presidente, permitir que revirassem os colchões da família e levassem até os tablet’s dos netos de Lula, como esperar que fossem assumir que são arremedos de déspotas, discípulos do desumano Trump

  5. Se não me engano há até uma

    Se não me engano há até uma gravação, feita por um filho do caseiro de Atibaia, da abordagem sem mandato pela PF. Deu na imprensa progressista, acho que em 2016…

    É, tá bem pior que em ’68. Principalmente porque naquele momento havia censura imposta pelo estado; hoje ela é imposta pelo “Estadão” (além, claro, de outras firmas da iniciativa privada do mesmo ramo comercial, “Folha”, “Globo” e demais do cartel tácito, do “clube”). Antes os jornalistas tinham uma desculpa…

    De novidade só o anglicismo, tão adequado ao momento vira-lata, da opção pela pobreza nacional, mas notícia falsa é algo bem velho…

     

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