Novo depoimento: número 2 da PF pode dar pistas sobre interferência de Bolsonaro

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Carlos Henrique Oliveira de Souza era Superintendente no Rio e ganhou promoção forçada. Sabendo de episódios controversos de Bolsonaro, dará novo depoimento

Jornal GGN – O número 2 da Polícia Federal (PF), delegado Carlos Henrique Oliveira de Souza, já prestou depoimento sobre as acusações de que Jair Bolsonaro interferiu na corporação. Ele era o superintendente da PF no Rio e foi retirado do posto em uma “promoção forçada” para ocupar a diretoria executiva da PF. Agora, ele pediu para conceder um novo depoimento aos investigadores do caso.

Por ter subido de cargo, Bolsonaro argumenta que a retirada de Carlos do comando no Rio não foi uma interferência, já que agora ele é o número 2 da instituição. Em seu primeiro depoimento, Carlos Henrique Oliveira de Souza não trouxe muitos detalhes para a acusação de interferência contra Bolsonaro.

Mencionou um encontro que teve com o mandatário, organizado pelo então diretor da Abin e cotado por Bolsonaro para substituir Maurício Valeixo do comando da PF, Alexandre Ramagem, uma das peças-chaves na acusação de interferência por Bolsonaro. O encontro teria durado entre 20 a 30 minutos e ocorreu pouco antes de Carlos ser nomeado para a Superintendência do Rio, no final do ano passado.

Na época, Carlos era superintendente da PF em Pernambuco. A decisão de nomeá-lo ao Rio deveria ser de Maurício Valeixo, então diretor da PF, ou do então ministro da Justiça, Sérgio Moro (leia mais aqui). Mas nem Valeixo, nem Moro compareceram a este encontro. Somente Ramagem e Bolsonaro.

Ao narrar a rápida reunião, Souza disse que “não foi declarado nenhum objetivo específico para a sua audiência com o presidente Jair Bolsonaro” e que “o delegado Ramagem apenas pontuou que seria importante o depoente [Sousa] conhecer o presidente Bolsonaro”. Também sem se aprofundar no conteúdo desta reunião, Carlos disse que presidente teria tratado “de sua trajetória, como normalmente fala ao público”.

Além dessa, outra declaração também foi foco de atenção dos investigadores. O delegado Carlos Henrique Oliveira de Souza foi questionado quais policiais do Rio seriam próximos a Jair Bolsonaro. Souza citou o nome de Márcio Derenne, hoje representante da PF na Interpol. Negou haver influência política na escolha de Derenne para o posto, mas disse que ele era amigo de um dos filhos de Bolsonaro, sem saber identificar qual.

E reportagem do Uol desta quarta (20) mostra que Derenne já foi homenageado por Flávio Bolsonaro, hoje senador (Republicanos-RJ). A cerimônia ocorreu em 2008, quando o filho 01 do mandatário era deputado estadual e concedeu ao delegado a Medalha Tiradentes.

A relação de Derenne com a família Bolsonaro e o encontro do então delegado prestes a ser nomeado superintendente da PF devem trazer avanços para a investigação contra Bolsonaro. E que podem ser esclarecidos pelo hoje número 2 da corporação, Carlos Henrique de Souza, que irá conceder novo depoimento aos investigadores.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Espero que a PF não desperdice esta rara oportunidade de se livrar de vez dos freios e cabrestos que os milicianos querem colocar em qualquer policial…
    depois de tantos anos de boa atuação, ser igualada a uma PM estadual, por exemplo, será muito humilhante para todos.

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