O caso René Dotti e o contrato milionário com a Petrobras

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Advogado que protagonizou críticas contra Zanin e que obteve até R$ 3 milhões da Petrobras passa a atuar em defesa de Sérgio Moro

Foto: TRF4

Jornal GGN – Alvo da reabertura de investigação pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre as acusações levantadas pelo advogado Rodrigo Tacla Duran, o ex-juiz Sérgio Moro contratou o advogado René Ariel Dotti para a sua defesa. Dotti, que já protagonizou um confronto direto contra a defesa do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin, à época elogiado pelo próprio ex-juiz, atuava como assistente de acusação da Petrobras, em um contrato milionário, em dezembro de 2014, que agora vem à tona.

O confronto

O advogado curitibano atraiu os holofotes da imprensa em julho de 2017, durante um interrogatório do ex-presidente Lula ao então juiz da Lava Jato, Sérgio Moro. Na ocasião, o criminalista -que não exercia papel de acusador- descontrolou-se diante das respostas dadas pelo advogado Cristiano Zanin, e tomou a palavra, em clara defesa de Moro.

O próprio ex-juiz mostrou-se surpreso com a reação de René Dotti e o elogiou, tanto na sessão de audiência contra o ex-presidente Lula, quanto ao noticiário que repercutiu o caso. “O comportamento inadequado da defesa de Lula foi inclusive objeto de censura pelo renomado e veterano advogado criminal René Ariel Dotti, atuando como representante da Petrobras”, havia escrito Moro, na transcrição da audiência contra o ex-presidente.

Demonstrando que não se tratava de um episódio pontual, à época, o advogado enfatizou publicamente as críticas contra Zanin em entrevistas, chegando a republicá-las na página do escritório de advocacia (aqui). “Resolvi intervir para demonstrar que não é possível transformar uma audiência num palco de confrontação, num cenário de guerra para efeito de publicidade midiática. O que o advogado queria, evidentemente, era fazer uma propaganda para a defesa de seu cliente”, havia dito Dotti, em declarações à Gazeta do Povo.

A relação com a Petrobras

Em entrevista recente concedida à TV GGN, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) denunciou que o advogado René Ariel Dotti obteve um contrato milionário para atuar como assistente de defesa da Petrobras no caso da Operação Lava Jato.

“Eu recebi hoje um contrato que o René Ariel Dotti tem com a Petrobras, com remuneração dele é de R$ 3 milhões no contrato e a cada assistência que ele presta numa ação ele ganha mais R$ 100 mil. Então há uma estimativa que ele esteja ganhando em torno de R$ 13 milhões. É uma contratação sem licitação da Petrobras”, disse Teixeira.

O contrato, que também foi divulgado pelo site DCM, aponta que a Petrobras previa o pagamento de 3 milhões de reais em honorários, sendo destes R$ 80 mil por ação penal, na condição que o escritório de advocacia atuasse a favor da estatal como parte “interessada”, e R$ 100 mil como assistente do Ministério Público, por cada ação penal.

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Agora, o nome do advogado volta a ser associado ao ex-juiz Sérgio Moro, desta vez, para atuar diretamente em sua defesa do processo no qual é investigado pela Procuradoria-Geral da República.

Resposta

O GGN entrou em contato com o escritório de advocacia Professor René Dotti e com a Petrobras, para entender o contrato exposto e as atuações do advogado a favor da estatal nos processos da Operação Lava Jato.

“Gostaríamos que fossem esclarecidos em que consistia o trabalho de assistente de acusação, como foram calculados os honorários, se foram feitas outras atuações do mesmo escritório junto à Petrobras, em que casos o escritório de advocacia atuou até agora na Operação Lava Jato como assistente da Petrobras e respectivos honorários”, foram as perguntas enviadas.

A Petrobras, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que “não irá comentar a demanda”.

E o advogado Alexandre Knopfholz, do escritório de advocacia de René Dotti, confirmou que o escritório foi contratado pela Petrobras para atuar nos casos relacionados à Operação Lava Jato e restringiu-se a mencionar que a contratação, com o pagamento de honorários, foi feita de acordo com a legislação vigente.

Abaixo, reproduzimos a íntegra da resposta enviada:

“Agradecendo o contato, em atenção aos questionamentos formulados, informo:

a) O Escritório foi contratado pela Petrobras para atuação em casos relativos à Operação Lavajato;
b) A contratação observou rigorosamente a legislação vigente;
c) Na qualidade de assistentes de acusação, foram praticados atos processuais de representação da Petrobras (CPP, art. 268 a 273).”

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Brizola insinuava que o que era defendido pela Globo não era bom para o povo. Então, em uma versão atualizada, podemos da mesma forma insinuar que o que é defendido por Moro, não é bom para o Brasil. O mar de lama, de traição, de ilegalidades e de abusos certamente revelará a fabulosa, e até então incalculável, fortuna em prejuízos que ele, a Lava Jato e todos e todas que os cercaram, defenderam e apoiaram, causaram e ainda causam ao país, as empresas vitimadas e a milhões de trabalhadores e trabalhadoras que perderam seus empregos.

  2. LAVA JATO DE CURITIBA OFERECE $$$ QUE NÃO LHE CABE FAZER AO COMBATE DA CORONAVIRÚS. PROPAGANDA PURA DA FORÇA TAREFA

    https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/dinheiro-da-lava-jato-reinaldo-azevedo-mostra-como-globo-virou-assessoria-de-imprensa-de-dallagnol/

    DINHEIRO DA LAVA JATO: REINALDO AZEVEDO MOSTRA COMO GLOBO VIROUS ASSESSORA DE IMPRENSA DE DALLAGNOL

    Jornal Nacional em matéria sobre a Lava Jato (Reprodução)

    Da coluna de Reinaldo Azevedo no UOL:

    A Lava Jato é tão boazinha, tão boazinha, mas tão boazinha que resolveu oferecer até R$ 508 milhões ao governo federal para o combate ao coronavírus. Assim as coisas são noticiadas. Se você está disposto a fazer assessoria de imprensa para a força-tarefa, informa isso com ar de espanto e ainda acrescenta: “Até agora, o Planalto não deu resposta nenhuma”. Se você é jornalista de verdade, pergunta: “Mas quem disse que a Lava Jato tem autonomia para isso?”.

    Se você não tem vergonha nenhuma na cara e se desprendeu completamente de qualquer senso de objetividade, tenta convencer os outros de que se trata de uma plêiade de varões de Plutarco que só quer ajudar o próximo. Se você tem alguma preocupação coma ordem legal, indaga: mas cadê o ato normativo, e em que instância foi estabelecido, que permite à Lava Jato doar dinheiro para o que quer que seja? Antes que eu prossiga, pergunte-se aí, leitor: se a Lava Jato pode doar R$ 508 milhões para o combate ao coronavírus, isso significa que ela é livre para fazer com os recursos o que lhe der na telha, desde que a finalidade seja considerada elevada? Poderíamos fazer aqui uma lista infinita de outras nobres destinações.(…)

    Esperem aí: desde quando uma vara federal, que tem dinheiro depositado sob a sua custódia, pode dispor dele a seu bel-prazer, independentemente de um ato legal que normatize o uso? A propósito, é preciso atentar para um absurdo certamente sem precedentes. Informa o lead da reportagem do Jornal Nacional: “A força tarefa da Lava Jato em Curitiba ofereceu R$ 500 milhões ao governo federal para reforçar o caixa no combate à pandemia. Mas, até agora, não teve resposta.” No G1, lemos: “A força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba (PR) ofereceu R$ 508 milhões ao governo federal para reforçar o caixa no combate à pandemia do novo coronavírus. Mas ainda não teve resposta.”

    Se os doutores estão em busca de assessoria de imprensa, não será obviamente neste blog que encontrarão guarida. A Força Tarefa de Curitiba é aquela mesma que queria usar R$ 2,5 bilhões de multa paga pela Petrobras a seu gosto: os bravos pretendiam destinar metade à criação de uma fundação de combate à corrupção — com sede, claro!, em Curitiba —, e a outra ficaria reservada a eventual ressarcimento de acionistas minoritários. Em qualquer caso, a força-tarefa de Curitiba decidiriam o destino do dinheiro. A pedido da própria PGR, o Supremo suspendeu a farra.

    (…)

  3. Gostaria de destacar um detalhe da figura professor/doutor Renê Ariel Dotti: Trata-se de uma personalidade profundamente egocêntrica, resultado de amplo relacionamento político, numerosa claque acadêmica – sobretudo no âmbito da corporação de ofício dos rábulas. No plano político, foi Secretário de Estado no período Álvaro Dias (1987-90), no Governo do Paraná. Mas, não foi só aí que se revelou seu senso de oportunidade político. Como este seu ‘mestre’, tem profundo conhecimento do ‘mise-en-scène’ de oportunidade, ou seja, não perde nenhuma chance que os fatos à sua volta lhe apresentam. Quem o conhece na intimidade sabe dos seus enormes esforços na sua formação ‘teatral’, uma vez que ele recita, nas suas horas vagas, Shakespeare, entre outros autores, em inglês ou português, a depender do seu estado de espírito. Em resumo, é um personagem que ficaria bem num set televisivo, que se ombraria com quaisquer figuras notáveis do showbiz, dentre as quais, não se pode esquecer, Paulo Gracindo e seu personagem célebre personagem ‘Odorico Paraguaçu’, no Bem Amado de Dias Gomes. É uma espécie de ‘Sérgio Bermudes’ da província.

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