Ombudsman diz que PGR vazou a lista de Janot

Representantes do Ministério Público Federal teriam passado informações em off para jornalistas 
 
Jornal GGN – A coincidência verificada na última semana dos mesmos 16 nomes de políticos indicados na lista da Odebrecht e estampados nas principais manchetes dos telejornais, rádios e portais de notícias não é coincidência de fato.
 
A ombudsman da Folha de S.Paulo, Paula Cesarino Costa, afirma que apurou os motivos para a tal sincronia e concluiu que a “chamada segunda lista de Janot” ocorreu por “entrevista coletiva em off”, termo do jargão jornalístico para dizer que esses nomes foram divulgados com a proteção de anonimato.
 
“Após receberem a garantia de que não seriam identificados, representantes do Ministério Público Federal se reuniram com jornalistas, em conjunto, para passar informações sobre os pedidos de inquérito, sob segredo, baseados nas delações de executivos da Odebrecht”, denuncia a ombudsman, ponderando que entrar nesse “acordo subterrâneo” levanta questões importantes como:
 
“Qual o sentido de se deixar conhecer só alguns dos envolvidos? Qual a estratégia dos procuradores, parte interessada do processo, ao divulgar uns e omitir outros? Por que não liberar, por exemplo, os que estão nos pedidos de arquivamento?”, lembrando que a lei que regula a delação premiada prevê sigilo do seu conteúdo até a apresentação da denúncia. 
 
Folha de S.Paulo
 
Um jato de água fria
 
Por Paula Cesarino Costa – Ombudsman
 
A operação Lava Jato, a maior investigação já feita no país, completou três anos. É também o maior desafio jornalístico da história recente.
 
Nos últimos meses, o noticiário político girou em torno da expectativa do acordo de colaboração premiada de 77 executivos e ex-dirigentes da construtora Odebrecht. Recebeu o batismo de “delação do fim do mundo” para marcar a extensão de seus danos entre os frequentadores das rodas do poder.
 
Na terça (14), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal 83 pedidos de abertura de inquérito.
 
Oficialmente, por meio de nota, a Procuradoria-Geral informou: “Não é possível divulgar detalhes sobre os termos de depoimentos, inquéritos e demais peças enviadas ao STF por estarem em segredo de Justiça”. Rodrigo Janot pediu ao relator do caso no STF, ministro Edson Fachin, a retirada do sigilo de parte desse material, considerando a necessidade “de promover transparência e garantir o interesse público”. Fachin ainda decidirá sobre tal pedido.
 
A surpresa foi a constatação de que a cobertura dos principais órgãos de comunicação _ impressos, televisivos e eletrônicos_ trazia versões inacreditavelmente harmoniosas umas com as outras. Um jato de água fria em quem acredita na independência da imprensa.
 
Das dezenas de envolvidos na investigação, vazaram para os jornalistas os mesmos 16 nomes de políticos _ cinco ministros do atual governo, os presidentes da Câmara e do Senado, cinco senadores, dois ex-presidentes e dois ex-ministros. Eles estavam nas manchetes dos telejornais, das rádios, dos portais de internet e nas páginas da Folha e dos seus concorrentes _”O Estado de S. Paulo”, “O Globo” e “Valor”.
 
Por que tanta coincidência? A ombudsman apurou que a divulgação da chamada segunda lista de Janot se deu por meio do que, no mundo jornalístico, se convencionou chamar de “entrevista coletiva em off”.
 
Em geral, a informação em “off”, aquela que determinada fonte passa ao jornalista com o gravador desligado e com proteção de anonimato, não se coaduna com a formalidade de uma entrevista coletiva _para a qual os jornalistas são convocados protocolarmente a ouvir determinada autoridade.
 
Após receberem a garantia de que não seriam identificados, representantes do Ministério Público Federal se reuniram com jornalistas, em conjunto, para passar informações sobre os pedidos de inquérito, sob segredo, baseados nas delações de executivos da Odebrecht.
 
A lei que regula a delação premiada prevê sigilo do seu conteúdo até a apresentação da denúncia.
 
No dia seguinte, a corrida jornalística por notícia voltou ao normal, com vários veículos obtendo informações exclusivas de partes não divulgadas dos inquéritos sob sigilo.
 
Foi publicado que mais um ministro, quatro senadores e cinco deputados estão entre os que tiveram pedidos de inquérito apresentados pelo procurador e não haviam sido antes mencionados. Depois se soube que pelo menos dez governadores, cinco deles identificados, são mencionados no processo.
 
Qual o sentido de se deixar conhecer só alguns dos envolvidos? Qual a estratégia dos procuradores, parte interessada do processo, ao divulgar uns e omitir outros? Por que não liberar, por exemplo, os que estão nos pedidos de arquivamento?
 
Para o leitor, resulta em história contada pela metade. Informação passada a conta-gotas tira o entendimento do todo e levanta a desconfiança de manipulação.
 
O resultado desse tipo de acordo subterrâneo é que o jornalista se submete a critérios não claros da fonte, que fornecerá as informações que tiver, quiser ou puder. O repórter concorda em parar de fazer perguntas em determinado momento.
 
Não foi a primeira vez, porém, que tal procedimento ocorreu. A prática já se repetiu no Palácio do Planalto, no Congresso e até no STF.
 
Tudo isso resulta numa desconfortável uniformidade de narrativa jornalística, que exala tom oficial.
 
Nos muitos escândalos que assombraram o país desde a redemocratização de 1985, a imprensa manteve, até muito recentemente, posição dianteira e relevante na investigação de ilícitos públicos.
 
Na intrincada narrativa da Lava Jato, a dependência dos repórteres para com fontes e investigações oficiais tem sido grande demais.
 
O ideal é que o jornal tenha linhas investigativas próprias e independentes. Mas tem sido difícil para não dizer impossível sobreviver sem a colaboração oficiosa de órgãos envolvidos na Lava Jato.
 
Diante disso, o jornal deve, no mínimo, transparência ao leitor, que tem o direito de saber de onde vem a informação que consome. Procurada, a direção da Folha não quis comentar. Como nos bons vinhos, denominação de origem é boa forma de controle de qualidade.
Redação

13 Comentários

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  1. “Qual o sentido de se deixar

    “Qual o sentido de se deixar conhecer só alguns dos envolvidos? Qual a estratégia dos procuradores, parte interessada do processo, ao divulgar uns e omitir outros?”:

    Proteger tucanos.

  2. Não preciso de créditos.
    Mas

    Não preciso de créditos.

    Mas este post teve meu auxílio.

    Veja no Fora de Pauta.

    E o horário que escrevi.

  3. Diante de mais um Mega

    Diante de mais um Mega Escândalo, urge que o Procurador Geral da República e mais Policia Federal e o Juiz Sergio Moro e outros Juizes que estão apurando os fatos tragam a público as denúncias que eles mandaram arquivar. Smoente e apenas somente esta providência trazer de volta a credibilidade perdida, pois a muito já se presente que as denúncias apresentas, inquéritos etc são seletivos!!!!

  4. Afastem o PGR

    Diante deste Mega ,Ultra, Blast Escândalo só resta três providências a serem tomadas:

    Providência 1 – Procuradoria Geral da República; Juiz Sérgio Moro e Juízes nos estados que dão continuidade a Lava Jato; Policia Federal e Ministério Público dos Estados trazerem a público as denúncias ou apurações que eles mandaram arquivar e o inteiro teor das denúncias aos que já foram acusados, para o povo ver se procede as acusações e os arquivamentos;

    Providência 2 – Imediato afastamento do Procurador Geral da República e dos Procuradores que participaram da entrevista em off;

    Providência três – A quebra do sigilo fiscal e telefônico dos Procuradores que participaram desta entrevista em Off para sabermos o grau de intimidade que eles têm com certos órgãos de Imprensa.

    E ainda temos que aguentar o Comandante do Exército dizer: As Instituições estão funcionando
    Basta Chega SOMOS NÓS O POVO QUE PAGAMOS A CONTA DESSA ESBÓRNIA TODA!!!!Diante deste Mega ,Ultra, Blast Escândalo só resta três providências a serem tomadas:

     

  5. Não entendemos como paula

    Não entendemos como paula cesarino costa submete-se a trabalhar para a gangue frias, assassinos golpistas da pior espécie. Mas, como existem doentes mentais coniventes com assassinos de tudo que é tipo, nosso dever é estar sempre denunciando e lembrando sôbre os crimes desses ditadores criminosos hediondos psicopatas desajustados mentais, exatamente para tentar que não pratiquem as barbaridades novamente, mas tá difícil pois implantaram a ditadura novamente agora em 2016, e tudo pode acontecer da mesma forma que em 1964. Abaixo os assassinos e o coniventes omissos!!!!

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  6. Jornalista presta juramento?
    Tenho pra mim que, a despeito do seu direito de proteger a fonte, ele, ao divulgar fato protegido por lei, infringem a.
    Ou não?

  7. Chamem o ladrão

    Nos últimos anos o judiciário vem prestando os piores exemplos a sociedade, através de várias e constantes ações criminosas. Mesmo após as denúncias de advogados, de ex-juristas, de políticos da esquerda, de alguns raros jornalistas honestos.éticos e honrados. Muito já se foi criticado e denunciado, sobre a infinidade de vazamentos ilegais, e portanto criminosos, por parte do MP, da PGR e da PF.  Ora, se a lei diz que vazamentos de assuntos classificados sigilosos é crime, que escuta gravada ilegalmente é crime e que abusar da autoridade pública, para, sem provas, promover e propagar ofensa a honra, com acusações e/ou insinuações que causem graves danos morais ao vitimado, também é crime. Portanto, mesmo após várias advertências das instâncias superiores, estão todos os agressores e desrespeitadores da lei e da ordem se lixando para a lei e para aqueles que a fiscalizam e para, também, aqueles outros que já os advertiram, sem sucesso. Então, se continuam do crimes descaradamente 

    Reincidentes, abusados, debochados e desrespeitosos com a lei, com o país, com a instituição do judiciário e com a população, muitos membros do MP, da PGR, da PF, do STF e outros tribunais, algumas figuras carimbadas e conhecidas por delinquências anteriores continuam desafiando a tudo e a todos.

    Talvez tenham perdido a compustura de vez ou não mais acreditam nas leis e nas instituições em que proferiram seus juramentos.

    Após advertências, criticas e muitas denúncias de vazamentos de processos e depoimentos sigilosos, após denúncia e a comprovação da práticas de escutas ilegais, esses delinquentes do judiciário indicam, por suas recentes ações, que jogaram a constituição nas imundícies do lixo.

    Deixam a impressão de que passam um recado a população para que não levem a lei tão a sério e que se tiverem que afrontá-la, que o façam de modo que deixem bem claro o seu lado, ou seja: se é pelo lado que os favoreça e os defenda, ou se é em favor e pelo lado daqueles que tentam incessantemente exterminar do cenário político nacional. 

    Eu fico imaginando que exista mais de um grupo de desobedientes, que reincidindo nas ilegalidades que já lhe foram criticadas, denunciadas e advertidas estão, na verdade, se comportando como as quadrilhas de meliantes que eles combatem, porém com muito pouca imparcialidade e com bastante partidarismo. 

     

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