Um Habeas Corpus de ofício para Lula: urgente!, por Luis Nassif

As instituições de Justiça de nosso país, especialmente a Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, continuam ignorando as provas cabais que surgiram neste ano de 2019 sobre as ilegalidades e abusos de poder que fizeram de Lula um preso político.

Sempre se soube que a condenação e a prisão desse cidadão brasileiro não observaram o devido processo legal e nem qualquer princípio de isonomia ou de razoabilidade, mas as provas disso nunca haviam sido tão explicitadas. Se a cúpula da Justiça tem dificuldade de ordenar e ligar os pontos, eu posso fazer esse trabalho e divulgar aqui. Fiquem à vontade para utilizá-lo, mas não aleguem que o fato não é problema do STF.

O último ato coator que manteve Lula preso, apesar de já serem públicas as provas de nulidade e de abuso do poder, foi o acórdão do STJ, proferido em 23 de abril de 2019. Portanto, cabe ao STF o poder de anulá-lo.

Nulidade por “incompetência, suspeição ou suborno do juiz”

Todos sabem que não havia suporte para a competência da Vara de Curitiba e do TRF4 para o julgamento de Lula e que foi absolutamente forçada a conexão da suposta doação do tríplex com contratos celebrados pela OAS e a Petrobrás. Em sua sentença (pág. 35), Moro diz explicitamente que os processos sob sua presidência são conexos “porque têm por objeto o esquema criminoso que vitimou a Petrobrás investigado no âmbito da assim denominada Operação Lava Jato”. Não se tem conhecimento de nenhum caso com a competência determinada por motivo tão amplo e indeterminado quanto um “esquema criminoso”. Mas isso não é novidade.

Todos também sabem que, em 2004, Sérgio Moro escreveu um artigo sobre a Operação “Mãos limpas” na Itália. Muitas das artimanhas ali analisadas, nem sempre éticas e nem jurídicas (manter preso o possível delator para forçá-lo a falar o que a investigação precisa; soltá-lo rapidamente assim colaborar contando a versão esperada; vazar como uma peneira; atuar contra o lado que a mídia não gosta; etc.), tornaram-se o modo corriqueiro de atuação da Lava Jato. Ou seja, Moro (amigo de Aécio Neves) preparou o caminho para ter Lula como o seu réu favorito, condená-lo e prendê-lo, antes das eleições de 2018. Isto também não é novidade.

Mesmo praticando tantos absurdos, Moro ergueu uma imensa couraça de opinião pública favorável a seus atos, tornando reféns todos os demais julgadores que participaram do processo, nas instâncias acima, que confirmaram a fatídica sentença. É claro que também contou a seu favor ter em sua defesa boa parte dos desembargadores do TRF4 e de outros juristas movidos pelo desejo que uniu mais de 50% do país, e quem sabe quase 80% do Judiciário: o ‘antipetismo’ e o ‘antilulismo’.

A novidade chega apenas no final de 2018. Sérgio Moro deixou a toga para se tornar ministro do presidente da República que venceu as eleições de 2018 graças à manutenção de Lula na prisão. Essa é a prova definitiva de que a competência e a imparcialidade do Juízo nunca existiram.

E mais: nas últimas semanas, vieram a público informações de que o presidente eleito (graças à prisão de Lula) prometeu ao desembargador João Pedro Gebran Neto, do TRF 4, a primeira vaga que surgisse no STF, no caso, a de Celso de Mello. Bolsonaro disse que prometeu a Sérgio Moro, a segunda vaga, de Marco Aurélio de Mello. No dia 12 de maio, procurando agradar a Moro, Bolsonaro anunciou que seria dele a primeira vaga no STF, e não mais a segunda.

Já denunciei aqui (clique aqui) a trama que fez com que a composição da 8ª Turma (criminal) do TRF 4 fosse alterada ainda em 2015 graças a um entendimento questionável sobre a antiguidade de dois de seus membros, um deles aparentemente não favorável aos métodos Lavajato. Também falei sobre o fato de que a ação contra Lula deveria ter ido para a 7ª Vara, mas inusitadamente foi para a 8ª, tendo Gebran como relator.

Pouco tempo depois, em 2017, nova estratégia fez com que o decano fosse preterido e a presidência do Tribunal  ocupada por Thompson Flores, nitidamente pró Lava Jato. Assim, o Tribunal  se preparou para receber os recursos contra a sentença de Moro, proferida em meados de 2017.

O caso de Lula foi julgado pela turma de Gebran em aproximadamente 06 meses, um verdadeiro recorde. Casos graves e emblemáticos, como por exemplo o da Boate Kiss, que deixou 242 mortos e 623 feridos, a maioria pessoas jovens, aguardam julgamento no mesmo TRF4 há 04 anos.

Mas Gebran e outros membros do Judiciário antilulistas e antpetistas estavam empenhados em “salvar o Brasíl” da ameaça Lula. Moro, peça chave, recebeu e aceitou como recompensa o cargo de Ministro da Justiça. E tanto ele como Gebran agiram inspirados pelas promessas de virem a ser os próximos Ministros do STF.

A selvageria que se instalou no Brasil tem que ser interrompida por atos de coragem.  E a maneira mais objetiva seria um HC de ofício – isto é, sem ser provocado – que devolva ao STF a senioridade perdida nesses anos, acuado pelo clamor das ruas. É hora do STF voltar a ser Supremo.

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • O fundamento do HC que foi impetrado por mim em favor de Lula tinha justamente esse fundamento (Aa suspeição evidente de Sérgio Moro para julgar o ex-presidente petista). O STF simplesmente se recusou a julgar o merito da questão sob o fundamento de que ocorreria supressão de instância. A supressão de instância havia ocorrido em dois outros casos (Daniel Dantas e Paulo Preto), mas esse fundamento apresentado por mim também foi ignorado.

    https://jornalggn.com.br/justica/carmem-lucia-rejeitou-habeas-corpus-em-favor-de-lula/

    O STF poderia ter libertado Lula há mais de um ano.

  • A conexão dos "crimes" de Lula foi estabelecida pelo pauer point do delanhol, e ponto final.
    Qualquer juiz auxiliar, de comarca longínqua do interior deste imenso país, que ainda que nomeado por parentes e sem fazer prova oral, escrita e de títulos, se recusaria a aceitar uma denúncia como a que o delanhol propôs.
    A menos que o julgador estivesse imbuído do mais brutal instinto de perseguição e com objetivos políticos claros, a tal denúncia, pela notoriedade da vida de Lula e de seu governo, não mereceria acolhida, pois que descabida e deserta de provas.
    Mas, virou processo, condenação e prisão.
    Se toda a justiça que foi aplicada a Lula se estender a cada cidadão, o país vai se transformar numa cela imensa.

  • E hoje, li que em apenas 2 dias o dito gebramoro já leu e mandou ouvir as partes no caso do sítio. Outro recorde digno que boltsaltitantes.
    Se alguém espera que qualquer desses julguem de acordo com a lei, os ritos, a ética e a moral, ora, lembrem-se do passinheiro-ministreco e o AI5: ...que se exploda a ética e a moral.
    Está tudo dominado: todos os toffolóides (que estava em NY pra premiação do bolsodória?) estão no mesmo titanic da miséria que se apossou deste país de merrecas.

  • E quando e em que condições o coiso prometeu isso para os dois????

    Esse é um mundinho em que não se vai muito longe se o cabra não for...isso mesmo... lojista...........

    Tá tão explícito, o coiso ganhou a presidência que lhe caiu no colo, ele mesmo confessou os conchavos inconfessáveis......teve que aturar o conge, e o tchutchuca.....esses ele não pode pôr a mão, um quer abocanhar a presidência, esse é o prêmio, indicação é sinecura....o outro, assim que garantir os bilhões da previdência para os cofres dos bancos, passa para o outro lado sem cerimônia nenhuma.....depois se espantam quando um ze-ruela pinta tudo de preto....como se não soubessem....

    Os velhinhos não vão fazer nada, são paus mandados desse escumalha.....

  • Não seria interessante um entrevista com o Léo Pinheiro, o delator que acabou dando condições para a prisão do Lula? FAla-se de muitos personagens dessa farsa enquanto que ninguém pergunta ou aperta um dos principais atores. Ele teria coragem de manter a versão para continuar tentando salvar a pele?

  • O Judiciário, ou parte importante dele, já foi tão longe nessa insana empreitada que o recuo só viria mesmo de um ato quase heróico.
    Algo parecido ocorreu através do desembargador Rogério Favreto, do próprio TRF-4.
    Deu no que deu.
    Todos os envolvidos no encarceramento de Lula surgiram de todos os lugares para reverter a corajosa e legal decisão de Favreto.
    Portanto, uma decisão monocrática de um dos ministros do STF teria o mesmo desfecho.
    A coisa tomou rumo tão estranho que mesmo que ao pleno do STF fosse oferecida essa oportunidade, a decisão poderia desmoralizar tão profundamente o processo e seus artífices que seria difícil imaginar caminho tão nobre dado o já conhecido corporativismo que toma conta da instituição.
    Vivemos tempos tão estranhos que atos de Justiça com importantes implicações políticas só seriam possíveis em uma Suprema, em uma Superlativa Corte de Justiça.
    Nós temos essa Corte?

  • MORO JÁ FOI ACUSADO DE VÁRIAS COISAS E SUA INCOMPETÊNCIA JÁ FOI QUESTIONADA POR GRANDES JUÍZES TANTO DAQUI COMO LÁ FORA. JÁ FORAM MOSTRADOS SEUS ABUSOS DE AUTORIDADES. SEUS CRIMES JÁ FORAM EXPOSTOS QUANDO ERA JUIZ, E O CNJ, TRF4, STJ, STF E PGR NÃO FIZERAM ABSOLUTAMENTE NADA. TODOS AGIRAM COMO SE TIVESSEM O RABO PRESO COM ELE, COM EXCEÇÃO O GILMAR QUE JÁ SOLTOU VÁRIAS VEZES OS CACHORROS PRA CIMA DELE. SE OS MINISTROS DO STF NÃO SE DEBRUÇAREM COMO SE PREZE AO PROCESSO DE LULA É PORQUE AÍ TEM COISA.

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