Vídeo detalha conversa entre Temer e Joesley Batista sobre propina a Eduardo Cunha

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Cunha recebeu, na prisão, R$ 5 milhões de uma “dívida anterior”, por ter atuado em desoneração tributária do setor de frango. Já Funaro ganha mensalidade de R$ 400 mil para “ficar em silêncio”. Segundo JBS, Geddel mandou financiar a família dos presos da Lava Jato e, Temer, por sua vez, mandou “manter isso ai”

Jornal GGN – O vídeo da delação de Joesley Batista à força-tarefa da Lava Jato fragiliza o argumento de Michel Temer sobre o pagamento feito pela JBS a Lúcio Funaro e Eduardo Cunha ter sido uma “ajuda humanitária”.

No depoimento abaixo, Joesley deixa claro que sua missão no Palácio do Jaburu, na noite de 7 de março, era informar Temer de que a empresa vinha pagando uma “mensalidade” de R$ 400 mil a Funaro para manter ele e Cunha “em silêncio”. Cunha, por sua vez, não recebia mensalidade. Mas levou R$ 5 milhões de uma “dívida anterior”, ou seja, ter ajudado a JBS com a desoneração tributária do setor de frango.

Joesley relatou aos procuradores o que ocorreu no encontro com Temer. O objetivo era saber se os pagamentos a Cunha e Funaro deveriam continuar. “De pronto, ele me disse que sim”, afirmou o delator.

Além disso, o empresário esclareceu que a ordem para pagar Cunha e Funaro partiu de Geddel Vieira Lima. Como Geddel saiu do governo, Temer indicou Rodrigo Rocha Louras, pessoa de sua “estrita confiança”, para continuar fazendo a ponte entre a JBS e o governo. Com Louras, Joesley discutiu negócios de onde poderia sair mais propina para manter os pagamentos aos presos da Lava Jato. Louras foi filmado recebendo uma mala de dinheiro da JBS.

A partir dos 7 minutos do vídeo abaixo, a Lava Jato pergunta a Joesley qual era o motivo da visita a Temer:

Joesley Batista: Eu fui lá no intuito de saber basicamente o seguinte: primeiro, voltando um pouco atrás, tinha o problema do Eduardo Cunha e Lucio Funaro. Que Lucio Funaro era o operador financeiro de Eduardo no esquema PMDB na Câmara. O esquema era composto pelo presidente Michel, Eduardo, e alguns outros membros, enfim. Eu fui lá dizer: ‘Eduardo tá preso, Lucio tá preso e a gente paga lá uma mesalidade para o Lucio até hoje…’

Lava Jato: Paga apenas para Lucio ou também para paga para Eduardo?
 
Joesley: Não, para o Lucio é mensalidade, e para o Eduardo foi um montante. Depois que ele foi preso, a gente pagou 5 milhões de um crédito ilícito de propinas que ficou de um saldo anterior. Eram 20 milhões relacionados à renovação do incentivo da desoneração tributária do setor de frango. Cunha tramitou essa prorrogação e pediu 20 milhões para que isso acontecesse. Eu achava que eram 15, depois ele me disse que eram 20, e por isso, ficou o saldo de mais 5. Eu fui lá falar com o presidente exatamente isso. Que eu tinha pago o saldo do Eduardo, tinha acabado tudo, mas que estava em dia e, por outro lado, que eu continuava pagando a Lucio 400 mil por mês, e eu queria informar isso aí, e saber a opinião dele. Foi quando, de pronto, ele me disse que tinha que manter isso aí.
 
Lava Jato: Só para entender essa situação. Esse valor mensal que o senhor pagou e continua pagando ao Lucio e o valor que pagou ao Michel [Cunha], era para quê? Para manter o silêncio deles? Qual a razão disso?
 
Joesley: Então, agora ultimamente isso é que tava sendo o problema. Era para garantir o silêncio deles. Era para manter eles calmos. Manter o Lucio calmo lá na penitenciária e o Eduardo também.
 
Lava Jato: Calmo é o que, para eles não revelarem algum fato?
 
Joesley: É, calmo, eu não sei como se fica calmo na cadeia. Mas era para ficar em silêncio, não se rebelarem, enfim.
 
Lava Jato: Tinha algum temor de eles fazerem colaboração premiada?
 
Joesley: Olha, eu sempre recebi sinais claros de que era importante mantê-los financeiramente, a familia e tal, resolvidos.
 
Lava Jato: Esse sinais vieram de onde?
 
Joesley: Começou… assim que ele [Cunha] foi preso, foi muito perto de quando o presidente [Temer] tinha assumido. Foi inicialmente através do Geddel, e quando Geddel passou a ser investigado, eu fui lá falar com o presidente.
 
Lava Jato: Quando o senhor falou que estava cuidando do Lucio e Eduardo, o que o presidente falou?
 
Joesley: Eu ouvi do presidente claramente ele me dizendo que era importante manter isso. A primeira missão minha de ir lá era essa: saber dele se ainda era necessário. Ele me disse de pronto que sim.
 
Lava Jato: E ele sabe quem é Lucio?
 
Joesley: Sim, quando eu falei Lucio ele até achou que era o irmão do Geddel. E ainda eu disse: ‘Não, presidente, não é o Lucio Vieira Lima, é o Lucio Funaro’. ‘Ah tá, entendi’…
 
Lava Jato: Ele fez comentário sobre Cunha?
 
Joesley: Ele fez comentário de que naquele questionário [enviado a Sergio Moro] o Eduardo ficava fusgitando ele. Eu entendi aquilo como um reforço à necessidade de eu manter financeiramente, né, porque quer dizer, existe ali um grupo onde parte está preso e parte está no poder. 
 
 
Em outro momento, Joesley Batista disse que Temer fez um “comentário curioso”, disse: “O Eduardo quer que eu ajude ele no Supremo. Eu posso ajudar com dois, mas com 11 [ministros] não dá”. “Eu fiquei calado porque não sei como ele poderia ajudar”, acrescentou o delator.
 
Segundo o empresário, na mesma conversa, Temer ficou sabendo que Joesley iria negociar com Rocha Louras interferência em órgãos como CVM, Cade, Receita e outros. Temer concordou.
 

https://www.youtube.com/watch?v=Lva_qRfIKiA height:394

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. GILMAR MENDES, AÉCIO NEVES E DIRETOR DA POLÍCIA FEDERAL

    GILMAR MENDES, AÉCIO NEVES E O DIRETOR DA POLÍCIA FEDERAL TROCARAM LIGAÇÕES CRIMINOSAS!!!

    VEJAM ESSA NOTÍCIA:
    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1885509-pf-interceptou-conversas-telefonicas-de-temer-e-de-gilmar-mendes.shtml

    O estranho que o título do link dá a entender que seria um diálogo entre Temer e Gilmar Mendes… ao abrirmos a matéria descobrimos que o título principal foi modificado e o nome de Gilmar Mendes sumiu: “PF interceptou conversa telefônica de Temer com Rodrigo Loures”.

    Ao ler a matéria vemos que não existe nenhum diálogo entre Temer e Mendes… os diálogos são entre Aécio e Gilmar Mendes… e o conteúdo é uma bomba!

    Para terminar, a matéria fala rapidamente no parágrafo final, como se fosse a coisa mais normal do mundo, que também tem ligações entre Aécio e o diretor Geral da Polícia Federal, para falar sobre seu próprio depoimento… que seria adiado graças a Gilmar Mendes!

    É o fim do mundo!!!

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