Como um recém-operado de catarata enxerga a República-das-Bananas, por Sebastião Nunes

Como um recém-operado de catarata enxerga a República-das-Bananas

por Sebastião Nunes

Há cerca de um mês fui operado da porra do olho direito. Nada de dramático: coisa de 30 minutos e estava liberado. Pronto para enxergar o mundo azul? Não. Na República-das-Bananas não tem azul. Nem verde. Nem amarelo. Só cinza.

Durante 15 dias pinguei colírios variados no olho avariado, 15 vezes a cada 24 horas. Voltei ao médico três vezes, até que na última visita receitou óculos novos e mandou voltar seis meses depois para operar a porra do olho esquerdo.

Tudo bem? Não. O mundo continua cinza.

Sem alternativa, entrei na ótica e mandei aviar a receita, mas eu só queria por enquanto a lente para o olho direito. A do esquerdo se bastava a si mesma.

Tudo bem? – perguntei ao técnico. Tudo bem, dá pra fazer – disse ele.

Marcou a entrega dos óculos para o dia 2, estamos no dia 7 e necas de óculos.

– Lente de cristal demora mais – disse explicativo o técnico.

– Então por que marcaram a entrega para o dia 2?

– Engano da burra da balconista – disse ele.

Concordei. De burrice eu entendo. Assim me dispus a enxergar a República-das-Bananas com um olho de cada vez: com os óculos velhos enxergo da porra do olho esquerdo; sem óculos enxergo da porra do olho direito. A cor predominante? Cinza. Nos dois olhos. Nisso eles empatam.

 

O MUNDO DO OLHO ESQUERDO

A coisa tá preta, ou melhor, tá cinza.

O muxibento Temer continua brincando de presidente, quase aos 80 anos. Estará caducando? Não seria melhor passar a brincadeira para o Michelzinho, que está na idade de brincar, ainda que com madama Marcela na cola?

A corte de puxa-sacos continua em franco progresso. Pegam um com a boca na botija (daria na vista – sic! – pegar vários ao mesmo tempo), trocam por outro idem que logo será apanhado na ratoeira das marotagens.

Os garotões de Curitiba continuam brincando de mocinho e bandido, como a gente fazia quando era criança. Meio ridículo brincar de paletó e gravata, não é mesmo? Podiam pelo menos vestir bermudão e boné da moda.

A urubuzada do STF continua urubuzando. Um mais beiçudo que os outros, outra mais bruxa que as outras – e por aí vai.

Os paus mandados do Congresso continuam fazendo o que sempre fizeram: nada. Ou nadando de costas. Em rio que tem piranha jacaré medroso nada de costas.

Algum graúdo foi condenado e pagar 52 milhões de fiança por algum motivo que desconheço. Claro: para essa gente dinheiro dá em árvore.

Madame Cabral foi mandada para casa, coitadinha, porque os moleques não podiam ficar sem mamãe. Claro que na hora de obrar porca e fedorentamente ela não pensou neles. Mas a justiça pensou nos coitadinhos. Mãe amorosíssima, ela, a justiça.

 O arrocho? A cada dia aumenta mais. Como o cordão dos puxa.

 

O MUNDO DO OLHO DIREITO

O prefeito da maior cidade brasileira continua brincando de prefeito. Faz cara de bom moço, alegrinho e bem penteado. Faz média com a mídia.

A população do resto do país continua entregue às baratas. Só por isso as baratas estão rindo à toa. Já viu barata rindo? Nem queira.

Não se pode chamar negro de preto, mas a polícia pode matar à vontade a negada dos morros, subúrbios e periferias.

Tem negro demais na porra da República-das-Bananas, especialmente nas duas maiores cidades da porra deste país, daí que a polícia se encarrega da necessária faxina pelo bem da eugenia.

Você entendeu Eugênia?

Não, Eugênia é aquela mulata gostosa e não tem nada com a história. Estou falando é de eugenia, que é outra história e não vem ao caso.

É de menino que se torce o pepino, diz o dito. Daí que acabando com os meninos pretos das favelas dos morros e das favelas das baixadas acaba a criminalidade.

Palavras do Senhor – epa! – desculpe: palavras dos legisladores que sabem das coisas, das leis e do que serve para a porra desta República-das-Bananas.

 

MELHOR NÃO ENXERGAR NADA?

Não sei. Talvez seja melhor fazer de conta que não enxergo nada. Fingir de cego. Mas que o mundo tá cinza, lá isso tá.

Tem muita gente dizendo que a República-das-Bananas não tem mais jeito.

Besteira. Os donos do poder estão multi-multiplicando a produção de bananas.

Em time que está ganhando, ainda que mal e porcamente, não se mexe.

O resto é conversa mole de quem sofre da porra da catarata.

Enquanto isso, o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais.

Sebastiao Nunes

3 Comentários

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  1. retificação espúria

    “Os paus mandados do Congresso continuam fazendo o que sempre fizeram: nada”

    Talvez melhor:

    Os paus mandados do Congresso continuam fazendo o que sempre fizeram: tratando dos $eu$ intere$$e$.

  2. como…..

    Cachorro atrás do rabo. Nossa elite anticapitalista. Aqui até Coronéis são anticapitalistas. Neste ciclo de 30 anos interminável. Basta ouvir os discursos de Jânio Quadros contra a corrupção e os discursos da esquerda lá nos anos de 1950. Mais do mesmo, num país estático. Parece que estão falando nos anos de 2010. Qual a engenharia de nação? Qual o projeto de país? Quais as nossas saídas e perspectivas. Ficamos patinando neste “nhenhenhen” de honestidade pra cá, honestidade pra lá….Onde alguma Politica de Estado fora de Getúllio Vargas, quase comletando 1 século. “Sempre fomos assim. Lá em 1500, os portugueses….” Só balela. Vivemos no Brasil de 30 anos pra cá. O resto foi reconstruído, o resto foi reeescrito, o resto foi aposentado e abandonado. Nossa Elites Políticas que ascendem ao Poder, reescrevem uma nova Constituição, a tal Cidadã, controlam a Politica e o Estado, redigem as leis, impõe sua as ideologias e convicções. O comunismo desaparece, a China entra no mercado com seu aviso escrito em 1979. Onde a surpresa? Somos donos das nossas atitudes escolhas. Quem seria então responsável por tal catástrofe? Fantasas?! Num país onde faz sol 300 dias por ano. Na maior parte 25 graus de média o ano todo. Onde piscinas públicas, onde parques, onde esportes áquaticos e náuticos na Pátria das Águas? Lagos, maiores rios do planeta, 6.000 Km de litoral. Na Pátria das Flora, brasileiro não enxerga brasileiro com seu ambientalismo importado. Não existem árvores onde estão os brasileiros. E por que a Cia. de Energia manda mais que a Nação. A periferia de Manaus, no meio da Amazônia, parece os bairros de São Paulo. Ruas estreitas, asfalto, cimento, postes e fios pendurados, calçadas estreitas. E inacreditável? SEM ÁRVORES !!!. Na cidade de São Paulo, de modinhas ciclofaixas e ciclovias, temos 2 vias totalmente PLANAS que interligam toda a cidade, as Marginais Pinheiros e Tiête, que o Prefeito Faria Lima há quase 1 século já havia projetado com parques lineares. 120 Kms de ciclovias no local da capital mais indicado para a tal obra de cidadania. Tem ciclovias nos lugares mais inimagináveis, improváveis e impraticáveis para tais obras. Menos no lugar mais óbvio. Então paremos com tantas desculkpas a culpar outros e ao  cemitério. Até porque os mortos nada mais podem fazer. E começar pelo começo. Pelo mais simples. Pela porta das casas das pessoas. O resto da ladainha e das desculpas já encheram o saco.

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