Livro analisa como caso Amarildo impactou “pacificação” nas favelas do Rio

Cientista social acompanhou o sumiço do pedreiro na Rocinha e detalha como a repercussão do caso foi um divisor de águas nas UPP do Rio

Foto: ABr
Da Editora Baioneta

“Cadê o Amarildo?”. A pergunta destinada às autoridades do Rio de Janeiro ecoou pelas ruas do Brasil em 2013, escrita em faixas e exibida repetidamente em protestos na própria cidade, por todo o país e até no exterior. É provável que o ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, “desaparecido” por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, se tornasse outro número nas estatísticas de violência do Rio se não tivesse mexido com as estruturas do programa de pacificação de favelas e do que se entende por segurança pública no Brasil.

O mesmo grito coletivo, até hoje sem resposta definitiva, acaba de ganhar registro inédito no livro Cadê o Amarildo? O desaparecimento do pedreiro e o caso das UPPs, novo lançamento da Baioneta Editora, de autoria do jornalista e sociólogo Leandro Resende. O livro é resultado de sua dissertação de mestrado, defendida em março de 2018 no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ). Mas a experiência é anterior: Leandro era estagiário do jornal O Dia em julho de 2013, quando Amarildo desapareceu, e, ao longo de sua carreira como repórter, acompanhou in loco diversos dos desdobramentos do caso que analisou sob a perspectiva sociológica.

O jornalista vai além: elucida como a história do pedreiro “sumido” por agentes do Estado após ter entrado em uma viatura da PM fluminense se transformou em um ponto de inflexão sobre a relação entre Poder público, violência urbana e as populações de favela no Rio. “No sentido mais básico da ideia, é assim que encaro a história de Amarildo: um crime que entrou para o imaginário do Rio de Janeiro, tendo sido possível que se falasse dele mesmo após a elucidação, com a prisão de policiais militares, e em diferentes contextos”, ressalta o autor.

O livro combina farta documentação fruto de sua investigação jornalística – desde a cobertura da imprensa nos anos posteriores a depoimentos da própria família de Amarildo, incluindo uma conversa exclusiva com a viúva Elizabete Gomes – com a análise dos acontecimentos à luz dos conceitos da sociologia pragmática. A premissa que norteia a pesquisa de Leandro é identificar quando a tragédia de Amarildo pelas mãos do Estado deixou de ser um drama particular para se tornar uma controvérsia pública, ou seja, uma polêmica capaz de fazer refletir sobre uma realidade social bem mais profunda.

Assim, Leandro demarca os fatores que fizeram do desaparecimento do pedreiro em 2013 um episódio de violência que despertou tamanha atenção pública – a ponto de ser individualizado como o “Caso Amarildo” – justo em um contexto em que crimes ficaram banalizados nas favelas. Afinal, as periferias das grandes cidades já são enxergadas pelo senso comum como territórios do medo e da insegurança preexistentes. Para isso, o livro investiga minuciosamente todo o caso a partir de suas implicações temporais: um “antes”, um “durante” e um “depois” do sumiço do pedreiro.

SOBRE O LIVRO:
Título: Cadê o Amarildo? O desaparecimento do pedreiro e o caso das UPPs

Autor: Leandro Resende
ISBN: 978-85-85338-01-5
Editora: Baioneta
Páginas: 204
Edição: 1
Ano: 2019
Preço de capa: R$ 42,00

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