Não tenho pressa. Pressa de quê?

Enviado por Gilberto Cruvinel

 

Alberto Caeiro

 

Não tenho pressa. Pressa de quê?

Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.

Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,

Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.

Não; não sei ter pressa.

Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega —

Nem um centímetro mais longe.

Toco só onde toco, não aonde penso.

Só me posso sentar aonde estou.

E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,

Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,

E vivemos vadios da nossa realidade.

E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

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20-6-1919

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“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994. – 147.

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Fontes:

1) Página O Bardo

2) Arquivo Pessoa

 

Redação

1 Comentário

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  1. Lindíssimo poema.

    Para se ficar, sem pressa, lendo, relendo, separando as camadas todas de interpretação, fazendo relações entre este e outros de Caeiro e …. e ….

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