Augusto Cesar Barreto Rocha
Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).
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Amazônia: abandonada e queimando, por Augusto Rocha

A fumaça é irritante e adoece – já vivemos a falta de oxigênio durante a pandemia e agora o tal “pulmão do mundo” vive a falta de oxigênio

Valter Campanato – Agência Brasil

Amazônia: abandonada e queimando

por Augusto Cesar Barreto Rocha

Sem ajuda da chuva, a Amazônia só queima. Manaus está tomada de fumaça faz semanas. Na noite de sexta-feira uma chuva fez com que, no sábado, amanhecêssemos conseguindo respirar com alegria. No decorrer do dia, o cenário do caos respiratório voltou. Fala-se em 140 ou 300 brigadistas do Ibama e ICMBio, apoiados por 600 ou 1.500 bombeiros militares do Amazonas. Não pode ser sério, mas é o que se identifica na mídia. Se somarmos o total otimista e forem 2.100 profissionais, divididos para 1.664 focos de incêndio, há menos de dois combatentes para cada foco de incêndio. Será que realmente se quer extinguir estes incêndios?

A fumaça é irritante e adoece – já vivemos a falta de oxigênio durante a pandemia e agora o tal “pulmão do mundo” vive a falta de oxigênio para todos – antes era “só” para as vítimas da Covid-19, mas atualmente a cidade inteira está sem oxigênio, com níveis de poluição e contaminação do ar alarmantes. Enquanto isso, a imprensa nacional, de pauta única, só relata exaustivamente o que acontece no Oriente Médio. Lembro-me também das coberturas reiteradas quando o Canadá teve queimadas e Nova York foi tomada pela fumaça.

A imprensa nacional se preocupa, a exaustão, com a fumaça dos EUA, com grupos de 1 mil ou 2 mil brasileiros afetados por uma calamidade aqui ou uma guerra noutro continente. Entretanto, quando uma cidade inteira da Amazônia está tomada pela fumaça, quando há 1.664 focos de incêndio no Amazonas, não há uma reportagem investigativa, detalhe ou aprofundamento da questão – não há imagens aéreas ou de drones. Vira paisagem, normalidade e isso é um grande emblema do descaso com que o país trata a Amazônia. O ponto não é a relevância internacional, afinal é relevante. Todavia, o que chamo a atenção é para a irrelevância da nossa tragédia, em especial quando é na Amazônia.

O município de Autazes, no Amazonas, tem cerca de 7.599 km2. Para comparar, o município de São Paulo possui 1.521 km2. O Estado de São Paulo possui 8.200 bombeiros militares, enquanto o Amazonas inteiro possui 1.104. Quando mobilizaremos um contingente compatível com o tamanho dos incêndios no Amazonas? Acredito que nunca, pois não há verdadeiro interesse na preservação da Amazônia. Ela queima, arde, invade uma capital de fumaça e tudo vira nota de rodapé na imprensa nacional e na atuação dos governos. É mais fácil e barato reproduzir, a exaustão, o que se propaga nas agências de notícias internacionais – seguimos falando do que não nos cerca, para esquecermos os problemas que nos circundam.

Não faltam rastreamentos e informações de satélite. Não faltam vídeos de denúncia no YouTube e outras redes. Há informação abundante, mas falta recurso e esforço para combater o incêndio natural, acidental ou criminoso. Afinal, depois da queimada terão inúmeras razões para vir o pasto e a agricultura. É assim que a Amazônia queima, sem que ninguém dê importância, afinal, ela fica nos corações e nas mentes por momentos efêmeros. Ela é um ícone que só tem valor para falar dela, tirando algum proveito, mas não para viver nela, para interagir respeitosamente com ela.

A Amazônia é um símbolo para uma exploração constante e futura, mas não para o zelo cuidadoso ou para a proteção detida de seus recursos – ela é para a destruição, queimando, usurpando e retirando tudo o que se pode dela, desde que não se faça nada e não seja necessário investir. Assim, vamos destruindo-a e condenando mais de 2 milhões de pessoas a respirar sua fuligem, em meio aos rios que não são hidrovias e que dependem de dragagem e manutenções que só acontecem após a emergência, mas nunca com a prevenção. Seguimos com uma ausência secular de infraestrutura. E o descaso só aumenta. Tomara que a temporada de chuva chegue logo, para nos salvar. Fora disso, parece que não acordaremos antes da destruição total.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

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Augusto Cesar Barreto Rocha

Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).

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