Os protestos contra a exploração do gás de xisto na Romênia

Sugerido por Marcos Chiapas

Do Voz da Rússia

A Europa Oriental sobreviverá à “grande revolução do xisto”?

Nos últimos dias, as manifestações de protesto chegaram à Romênia, tendo atingido o ponto mais tenso. A polícia e tropas do Ministério do Interior romenas empregaram gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes que seguravam cartazes com palavras de ordem “Abaixo Ponta!”, “Abaixo Basescu!”, “Entremos no Ano Novo e Natal sem Ponta e Chevron!”. Muitos manifestantes ficaram feridos.
 
Porém, ao contrário dos protestos antigovernamentais em Kiev, os acontecimentos em Bucareste não tiveram grande destaque nos órgãos de informação ocidentais. A razão é simples: os habitantes de Bucareste atentaram contra a “vaca sagrada” das corporações gasíferas e petrolíferas transnacionais: a “grande revolução do xisto”.
 
A companhia americana Chevron iniciou a extração de gás de xisto na comuna de Pungesti, não obstante os protestos dos habitantes locais. O método proposto para exploração das jazidas é o mesmo que o empregue nos EUA: a explosão hidráulica das camadas do solo, isto é, o fracking. Este método provoca cada vez maiores protestos dos próprios norte-americanos, porque criam uma ameaça direta à atmosfera, à terra e águas subterrâneas. Estes protestos deviam ser ouvidos pela parte romena, porque, para os europeus, o processo de extração de gás de xisto é particularmente perigoso, declarou à Voz da Rússia Konstantin Simonov, chefe do Fundo da Segurança Energética Nacional:

 
“As consequências deste processo são muito perigosas. É utilizada uma grande quantidade de água que dissolve reagentes que podem misturar-se na estrutura dos coletores de água potável das cidades. Ao contrário dos EUA, a Europa está densamente povoada, aí não há territórios despovoados. A propósito, hoje, nos EUA, logo que a extração se aproxima das cidades, a resistência dos ecologistas aumenta”.
 
Porém, isso em nada incomoda os representantes da Chevron, que não veem nada de perigoso na transferência desses métodos para a bacia do Danúbio e a região costeira do mar Negro. Segundo a agência francesa AFP, Victor Ponta, primeiro-ministro da Romênia, era um adversário convicto do gás de xisto quando estava na oposição. Quando chegou ao poder, mudou radicalmente as suas ideias. Apenas se pode tentar adivinhar as causas de semelhante mudança.
 
Na própria União Europeia não existe unanimidade na questão da exploração de jazidas de gás de xisto. Estes métodos já foram oficialmente proibidos em França, na República Checa, vigoram moratórias sobre o emprego do fracking na Bélgica, Irlanda e Bulgária. A empresa americana Exxon Mobil já desistiu da realização de projetos de exploração de gás de xisto na Polónia e Hungria. A companhia Royal Dutch Shell tomou a mesma decisão na Suécia. Nos Estados europeus onde ofracking ainda é permitido, os protestos dos ecologistas são cada vez maiores, recordou à Voz da Rússia Alexei Gromov, dirigente do Departamento Energético do Instituto Energético e Finanças da Rússia:
 
“A experiência dos EUA na extração de gás de xisto está longe de ser universal. Na Europa há uma situação completamente diferente. Primeiro, condições ecológicas diferentes. Elas são menos próprias para extração do ponto de vista económico. Segundo, o subsolo pertence ao Estado e ele é obrigado a adquirir terras para a extração de jazidas de xisto a privados. Terceiro, começam a ser colocadas cada vez mais questões ecológicas na esfera da extração de gás e petróleo de xisto. Quando se faz esse tipo de extração, é altamente provável a poluição com metano não só da atmosfera, mas também das águas subterrâneas.”
 
Por isso não é de espantar que a Comissão Europeia não tenha pressa, elabore regras comuns de extração de gás de xisto e analise atentamente as questões da proteção do meio ambiente.
 
Porém, a Chevron continua a ditar condições à Europa Oriental. Apoiando-se nas concessões, ela estabelece, de fato, relações com a Romênia semelhantes às dos tempos coloniais.
 
É sintomático o fato de na China, que sente necessidade cada vez maior de recursos energéticos, as reservas de gás de xisto serem avaliadas em um volume astronómico de 36 triliões de metros cúbicos, ou seja, quase 70 vezes superior às reservas calculadas pelos americanos na Bulgária, Hungria e Romênia. Porém, as empresas chinesas, incluindo as maiores públicas, não têm pressa de explorar reservas tão gigantescas, tendo em conta o alto preço dos trabalhos e o efeito económico negativo.
 
Piotr Iskenderov
Redação

2 Comentários

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  1. Os Russos não querem perder a boquinha!

    Quem conhece o mercado do gás e do petróleo chega rapidamente à conclusão porque desta reportagem da Voz da Rússia. Nos últimos dez anos a Rússia tem garantido a sua sobrevivência a partir da exportação de gás para a Europa Ocidental, os alemães e outros países que estão abandonando a energia nuclear estão dependendo cada vez mais do gás Russo. Construíram inclusive gaseodutos dentro do mar para levar o gás Siberiano a Alemanha. Há muito tempo que a amizade dos dois países não era tão grande (pelo sim ou não, os poloneses já estão pensando em levantar um grande muro ao leste e outro ao oeste J), agora surge do nada algo que se sabia da existência há mais de um século, o gás do xisto.

    Quanto ao perigo da operação desses depósitos, pode-se dizer que com uma boa regulamentação ele fica muitas vezes menos perigoso do que vazamentos de superpetroleiros ou resíduos nucleares. Não tem o mesmo charme do que os geradores eólicos ou as células fotovoltaicas, porém a energia gerada é no mínimo a metade do preço dos cata-ventos metidos a besta, ou cinco vezes menor do que as células que precisam de sol, num continente em que isto é um luxo.

    Os países da Europa e a China estão de moratória não devido à falta de condições de gerar regulação para gerar uma extração sem poluição, mas sim porque as patentes dos métodos desenvolvidos de forma desordenada e caótica no USA, ainda estão na mão de empresas norte-americanas e o gás da Sibéria continua barato.

    A indústria Alemã está sofrendo perda de plantas fabris para os Estados Unidos, a sirene já tocou, e por mais que os cata-ventos girem, mais cedo ou mais tarde, eles virarão peças decorativas na paisagem europeia. Diga-se de passagem, a indústria desses cata-ventos e das placas de geração foto voltaica já faliram ou estão falindo tanto na Europa como na China.

    O que a voz da Rússia esta falando é que a Sibéria ainda está fornecendo energia para a Europa, e não querem perder a boquinha.

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