Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Kissinger, o influencer. Por Felipe Bueno

Sua “relevância” na América do Sul é conhecida: garantiu manutenção de ditaduras militares assassinas e foi apoiador da Operação Condor

no Observatório de Geopolítica

Kissinger, o influencer.

por Felipe Bueno

A estética do cancelamento não chegou a tempo para punir Henry Kissinger. O político norte-americano se despediu deste plano agraciado com termos elogiosos como “gênio”, “sábio”, “estrategista”, “intelectual”, “acadêmico”, “estadista”, “líder”, “referência” e “amigo”, entre outros.

Henry, que nasceu Heinz na Alemanha e chegou aos Estados Unidos com quinze anos fugindo do nazismo com a família, foi herdeiro de uma doutrina que colocava os interesses do seu país de adoção acima de qualquer coisa, inclusive vidas humanas. Mais que isso, ajudou a desenvolver mecanismos para que os resultados práticos dessa doutrina fossem os mais efetivos desde o estabelecimento da Democracia na América (que Alexis de Tocqueville nos perdoe a menção irônica). Posou para fotos e vídeos sob a luz, mas sua zona de interesse era nas sombras ou na escuridão total, cenário em que se movimentou com mais desenvoltura, como fazem os morcegos e talvez com os mesmos objetivos.

Se fez amigo de inimigos da democracia, mas nesse fingimento, tal qual o poeta pessoano, simulou que era por interesses nacionais algo que já se misturava à sua essência.

Sua “relevância” na América do Sul é conhecida: garantiu ascensão e manutenção de ditaduras militares assassinas e foi apoiador da Operação Condor, um Mercosul do terrorismo de Estado.

Mas seu aval a genocidas e genocídios não se limitou ao quintal dos Estados Unidos: foi globalizado – anos antes de a expressão entrar na moda.

Não obstante sua ficha corrida, foi agraciado em 1973 com o Prêmio Nobel da Paz.

Depois de anos defendendo as causas norte-americanas, tornou-se “consultor”, oferecendo a seus clientes serviços baseados em seu aprendizado como homem público.

Porém, não foi esquecido pelo mundo político. Xi Jinping, por exemplo, enviou mensagem ao governo dos Estados Unidos lamentando a morte do ex-secretário de Estado.

Não erra quem diz que Henry Kissinger foi o último “grande homem” de uma estética diplomática que está chegando ao fim. Talvez tenha insistido em permanecer como fóssil vivo de um sistema-mundo que nem existe mais. Seu desaparecimento, porém, não garante dias melhores à humanidade: nada indica que as políticas e os políticos do futuro sejam mais democráticos e igualitários.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepautaggn@gmail.com. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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