Para que não se esqueça, para que não se repita, por Eugênia Augusta Gonzaga

Esperamos que o martírio dessas meninas, moças, filhas, mães, irmãs, exposto à luz da história, impeça o martírio de outras meninas, moças, filhas, mães, irmãs

“Para que não se esqueça, para que não se repita”

No dia de hoje… 

08 de março é dia de prestar nossas homenagens – nesta série de textos sobre a violência estatal e suas vítimas – às mulheres que, direta ou indiretamente, foram atingidas pela violência do Estado.

por Eugênia Augusta Gonzaga

Neste 08 de março, é preciso homenagear especialmente as mulheres que, direta ou indiretamente, foram atingidas pela violência do Estado.

Como fizeram Aldir Blanc e João Bosco, é preciso lembrar das Marias e Clarices, que choraram, mas que sobretudo resistiram criando seus filhos após terem visto seus maridos serem presos e recebido uma comunicação falsa de suicídio.

É preciso lembrar das Marias, Mahins e Marielles, mulheres negras e imortais, que lutaram contra a escravidão e a injustiça que se instalou mesmo após a abolição. Fica aqui registrado o nosso agradecimento à Mangueira, por nos ensinar que o nome do Brasil é Dandara, guerreira, mulher de Zumbi dos Palmares, que se suicidou quando foi presa para nunca mais voltar a ser escrava.

Hoje é dia de lembrar de tantas mulheres marcadas pela ignorância e crueldade de quem tinha o dever de garantir as suas integridades física e mental. Mulheres como Isabel e Janaína, que conheceram a violência estatal ainda crianças de tenra idade, para que suas mães fossem forçadas a entregar informações sobre seus entes queridos; como Criméia Alice que, grávida de seu companheiro na Guerrilha do Araguaia, André Grabois, voltou para a cidade, mas caiu em mãos sujas que a colocaram num pau de arara; como Patrícia, irmã de um sobrevivente da chacina da Candelária, que luta em nome dele e de tantas outras crianças vitimadas apenas por terem nascido pobres e negras; como Débora, que teve seu filho, jovem e já trabalhador há 07 anos – como gari, gratuitamente assassinado pela Polícia Militar no fatídico mês de maio de 2006; como Ana Rosa, Heleny, Ísis, Walquíria, Helenira e tantas outras resistentes, assassinadas por forças estatais, mas que sequer tiveram seus corpos entregues às famílias para sepultamento.

Esperamos que o martírio dessas heroínas tão moças, tão meninas, tão mulheres, exposto à luz da história, ative e reative a memória coletiva desse país e leve a um comportamento mais digno de seus agentes públicos, impedindo assim o martírio de outras mulheres, moças e meninas.

Eugênia Augusta Gonzaga – Presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e Procuradora Federal dos Direitos Cidadão Adjunta.

* Este texto é parte da série “Para que não se esqueça, para que não se repita”, que vem sendo publicada diariamente para divulgação da I Caminhada do Silêncio em São Paulo em prol das vítimas de violência do Estado. Para acesso aos demais textos e informações sobre o evento acesse:  https://web.facebook.com/events/2327473097484498/

Redação

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