A imprensa apoia Dilma, por Luciano Martins Costa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Observatório da Imprensa

A sexta-feira (15/5) marca um ponto de inflexão no noticiário político, no qual se pode perceber que há uma mudança na narrativa da imprensa sobre os efeitos da disputa entre o Executivo e o Congresso Nacional. Também é possível que se trate de uma reversão na parábola desenhada pelos acontecimentos em Brasília, com a redução das tensões e alguma acomodação nas próximas semanas.

As duas figuras de geometria analítica, comumente usadas no controle de risco em comunicação, se referem a uma tendência natural das crises, que costumam se comportar, metaforicamente, como um objeto lançado para o alto: se responder apenas à força inercial, o objeto vai em algum momento atingir o ápice da parábola e começar a cair. Se houver uma força adicional capaz de dar novo impulso a ele, o objeto irá sofrer uma inflexão no ponto de exaustão da força inicial, em que se começa a curva descendente, e receberá novo impulso, retomando a ascensão com uma curva inversa, para cima.

O fato que determina esse momento curioso da nossa crônica política é a aprovação, pela Câmara dos Deputados, de uma emenda que extingue, na prática, o fator previdenciário no cálculo das aposentadorias.

O tema é bastante explorado pelos diários de circulação nacional, com boas reportagens, análises variadas e um ponto em comum: em maior ou menor grau, os jornais condenam a decisão e mobilizam seus colunistas para questionar o que chamam de irresponsabilidade do Legislativo.

O sistema proposto pelos deputados, chamado de fórmula 85/95, garante aposentadoria integral para os homens que se aposentarem quando a soma da idade com o tempo de contribuição atingir 95 e as mulheres alcançarem o número 85 na mesma conta.

Embora o assunto envolva uma alta complexidade, que inclui as perspectivas de longevidade das próximas gerações, a composição de renda das famílias e outros fatores, é consenso entre os analistas que a iniciativa vai causar um grande impacto nas despesas do governo com a previdência social.

A imprensa observa que o custo será insignificante nos primeiros quatro anos, porque as pessoas tenderão a adiar a aposentadoria para se beneficiar da nova regra, assegurando um benefício maior no longo prazo. Mas os textos assumem que o sistema previdenciário sofrerá um choque de mais de R$ 40 bilhões na primeira década.

Lula é o alvo

O leitor curioso e atento se perguntaria: por que a mídia tradicional se mostra tão preocupada com o futuro, e ao mesmo tempo incentiva uma crise política que afeta as chances de desenvolvimento do Brasil?

Da mesma forma, o que explicaria, para além das picuinhas partidárias, o fato de que boa parte da oposição votou contra seus interesses de longo prazo e parte da aliança governista contrariou seu discurso tradicional de defesa do trabalhador para se opor à proposta?

Os jornais exploram o sinal invertido entre petistas e tucanos, e surpreendem ao tomar o partido da presidente Dilma Rousseff nessa questão.

Uma razão pode estar no fato de que, até mesmo quando imersa até os ossos na disputa partidária, a imprensa precisa definir um limite para as ações populistas dos presidentes da Câmara e do Senado, que jogam para a plateia para fugir dos holofotes da Operação Lava Jato. Em algum momento há de se impor a responsabilidade nesse cenário que um articulista doEstado de S. Paulo chama de “clima de bundalelê”.

Para os pouco afeitos à nova linguagem jornalística, convém registrar que a expressão “bundalelê” representa a atitude provocativa de alguém que exibe as nádegas em público, como ocorreu na quarta-feira (13/5) em que foi votada a medida provisória que define as regras da pensão por morte.

Até o Jornal Nacional, da Globo, mostrou rapidamente o ativista da Força Sindical, de camisa preta (ver aqui a cena que acontece aos 30 segundos do vídeo) tirando as calças e mostrando o traseiro aos deputados.

O fato de os principais jornais do país, que têm investido no desgaste da imagem da presidente Dilma Rousseff, definirem um limite para as diatribes da dupla que dirige o Congresso Nacional precisa ser visto sob diversos ângulos.

Um deles é a percepção de que, apesar da crise política, o governo já aprovou as medidas básicas destinadas a conter os gastos públicos, e o Brasil volta a receber novos investimentos, o que pode reacender a economia em curto prazo. A outra razão é menos nobre: o principal alvo da imprensa não é a atual presidente da República, que, mal ou bem, vem retomando as rédeas do governo. O projeto da mídia tradicional é atingir a reputação do ex-presidente Lula da Silva, para minar suas chances caso venha a se candidatar em 2018.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. artigo lúcido

    Há um limite para a falsa constituição de uma luta política na sociedade e entre os três poderes. A imprensa tradicional continua insistindo em manter posição de 4o poder na sociedade. A blogosfera tem exercido sua função procurando desfazer os equívocos que são propositalmente lançados, usando inclusive as ferramentas e os recursos das redes sociais. Parece que manterão uma trégua diante da aprovação das medidas de ajuste fiscal. Procuraram veicular imagens que desmoralizam as centrais sindicais e o exercício legislativo. É preciso recuperar acima de tudo a imagem do Legislativo, do Executivo e do Judiciário que não seja somente de forma burocrática mas através da ocupação de todos os canais existentes de comunicação. Afinal foi Dilma quem foi eleita. Lula deveria evitar articulações políticas que não lhe competem ou deixar claro que ele representa somente o Partido dos Trabalhadores. Ele não pode, no meu ponto de vista, ocupar funções que são próprias do exercício da Presidência da República. Se Lula vier a se candidatar novamente a algum cargo majoritário, ele deve se manter discreto para não enfraquecer o próprio governo atual.

  2. Eles não dão nó até em pingo

    Eles não dão nó até em pingo dágua.

     

    Isto é só um ensaio, para agredir depois.

    Dilma veta a medida.

    Ela é atacada como inimiga dos aposentados e trabalhadores.

    E cria mais problemas para ela.

     

     

     

    1. O alvo é o Lula

      Aos principais jornais do país somente interessa que a economia se estabilize, o que significa a adoção de medidas de ajuste fiscal. Ao mundo corporativo, incluídas as grandes empresas de comunicação, não interessa se essas medidas terão impacto negativo sobre os setores sociais produtivos, os trabalhadores. Com a aprovação das medidas, os principais jornais do país arrefecem a cobertura que prevê caos na economia. E os prejudicados serão os trabalhadores, como sempre. A mídia cobre política nacional, internacional, casos particulares de pessoas que tiveram mobilidade social e violência urbana e rural. O mundo do trabalho organizado e os movimentos sociais não fazem parte da pauta, por isso é fundamental manter a blogosfera e a imprensa alternativa fortalecida.

      Quanto ao Lula, ele é o alvo, porque não há interesse tanto no mundo corporativo quanto nos meios de comunicação de que ele se candidate novamente.

      1. Concordo com seu comentário,

        Concordo com seu comentário, em quase tudo. Só acrescentaria que o mundo do trabalho organizado e os movimentos sociais não fazem parte da pauta nem da mídia nem do governo.

  3. Voz do patrão.

    A voz do patrão na mídia é a voz do Itaú, Bradesco, Satander, HSBC et caterva.

    Os “grandes” anunciantes da sistema financeiro não gostam de sustentar pobre que começa a trabalhar cedo.

    Sou a favor da proposta. O Governo já tinha sinalizado e estava disposto a negociar a solução – o Ministro Gabas já tinha se pronunciado acerca disso.

    Eis que o Sr. Cunha, o queridinho da “Grobo”, coloca o tema em votação, Uma emenda à uma MP que trata de restrição na concessão de pensões possibilitando a majoração e, parece, o pagamento em retroatividade do pagamento de aposentadias.

    Pois bem, há uma norma constitucional que a majoração ou estensão de benefícios deve ter a fonte de custeio total (art. 195, parágrafo 5º, da CF). Ora, se a lei – ou a MP – não prevê a fonte de custeio dessa majoração ela é inconstitucional.

    Se o Senado não revisar isso, e a Presidenta Dilma não vetar, o caso reacairá no STF. O Vice-Presidente Temer sabe disso, Mas um desgaste que tentam impor ao Governo, mas sem o carimbo da voz do patrão da mídia.

    Coisa boa para o trabalhador, a voz do patrão é contra.

  4. A midia é um braço dos

    A midia é um braço dos mercados, esse mercado quer governos, e dinheiro publico trabalhando em seus interesses, nao no interesse do componente chamado povo, entenderam???

  5. E também porque perceberam

    E também porque perceberam que as medidas tanto de Dilma quanto do Congresso reanimaram as esquerdas que estavam dormindo. Viram que o Congresso virou uma suruba dificil de defender. Até mesmo os comentaristas mais direitistas devem ter ficado constrangidos.

    Outro fator pode ser que as medidas do Congresso podem fazer agua na politica economica de Levy, quindim de Iáiá. O ajuste tem que “dar certo” ou cairá por terra mais uma vez a falácia liberal.

  6. Uma Teoria

    Minha teoria, sobre a última parte do artigo (“O Alvo é Lula”), é a seguinte: Lula se fez alvo, deliberadamente, para aliviar a barra do massacre da mídia/oposição/etc sobre Dilma/Governo Federal/PT.

    Parece que tá dando certo! 

  7. E ……………………….

    Tanto especialista em politica partidaria que dá até medo de opinar, mas vamos lá !!!!

    Na realidade o proposito da midia prostituta partidaria, é nada mais nada menos que atingir Dilma e desconstruir a imagem do Lula !!!

    E estejam certo que ela tudo fará para consguir este intento, pois é questão de sobrevivência !!!!

    Impedir que o PT ganhe mais uma eleição é a prioridade da midia prostituta e seus alidados nacionais e internacionais!!!

    Todo o resto é simplesmente figurinha !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Em tempo: Cabe a nós militantes virtuais ou presenciais, marcar nossa diferença nesta “guerra”, plois o que está em jogo é também uma sobrevivência digna ! Não só nossa como tb de nossos filhos e netos !!!!!!!!!!!!!!!

  8. Não confio

    Não acredito em nada wque venha dessa imprensa. Eles escancararam desde a eleição de tal forma , que agora me parece que isso não tgem mais volta .
    Como a Globo ou Folha , depois de tudo ioq ue fizeram , agora vêm com a cara de pau de mostrar simpatia por Dilma. Não confio mesmo.O que está por trás disso não é bom. 

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