Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Alarme do Ciberespaço! Tempo Real destruirá a Democracia, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Einstein teria falado sobre a “segunda bomba”: A bomba eletrônica, depois da atômica. Uma bomba na qual o que o tempo real é para a informação corresponderia ao que a radioatividade é para a energia. Em artigo de 1995, publicado na “Le Monde Diplomatique”, intitulado “Vitesse et Information: Alerte Dans le Cyberespace!”, o urbanista e pensador francês Paul Virilio alertava para o “grande evento que dominará o século XXI”: a corrosão da Democracia pelo tempo real das redes digitais. Um novo complexo militar que o Pentágono iniciava naquele ano – uma “revolução no exército junto com uma guerra do conhecimento que substituirá a guerra de campo”. Eram os esboços cibernéticos que hoje se transformaram em engenharia política. A vitória de Bolsonaro foi um dos laboratórios da corrosão da representação política pelo tempo real. E agora, os protestos dos “coletes amarelos” na França promete que essa engenharia será global.

Em postagens anteriores este Cinegnose cravava que não haveria eleições este ano. Afinal, para quê foi dado o golpe em 2016? Para todo o esforço da Guerra Híbrida iniciado em 2013 ser deixado a um arriscado resultado eleitoral? 

Como é dito em uma dura linha de diálogo no surpreendente final do filme Terra Prometida (2012 – clique aqui) de Gus Van Sant, “acha mesmo que deixaríamos algo assim cair nas suas mãos depois de deixa-los levar isso para uma eleição?… empresas como a Global não confiam em ninguém, assim que vencem. Vencem controlando qualquer resultado… e fazem isso jogando dos dois lados…”.

Estavam lá urnas eletrônicas, títulos eleitorais, postos de votação, eleitores e observadores internacionais que viram uma eleição acontecer. Pelo menos em sua forma houve uma espécie de processamento digital de votos, mas não uma eleição.

                  Assim como o Brexit e a vitória eleitoral de Trump, as eleições brasileiras de 2018 foram um ponto de inflexão, talvez sem volta, daquilo que o urbanista e pensador francês Paul Virilio considerava “o acidente de todos os acidentes”: como o tempo real da “bomba informática” iria destruir a Democracia.

 

 

O “Grande Evento”

 Em agosto de 1995, Paul Virilio publicava no “Le Monde Diplomatique” o artigo “Vitesse et Information: Alerte Dans le Cyberespace!” – “Velocidade e Informação: Alerta do Ciberespaço”. Nesse pequeno texto, Virilio descrevia o “grande evento que dominará o século XXI” que seria a invenção da perspectiva em tempo real substituindo a velha perspectiva tridimensional renascentista. À qual a Política e a Democracia são tributárias – a Política dependente de um lugar concreto (a cidade), a “democracia das festas políticas”.

A chegada ao poder do “golpista da mídia” Sílvio Berlusconi em 1994 seria apenas o prenúncio de uma tecnologia que reduziria os eleitores a espectadores onde “as pesquisas de opinião apurando votos reinariam”.

 

Paul Virilio (1932-2018)

 

Para Virilio, Einstein teria dito sobre a “segunda bomba”: “A bomba eletrônica, depois da atômica. Uma bomba na qual o que o tempo real é para a informação corresponderia ao que a radioatividade é para a energia”.

E essa “radioatividade” seria o tempo real da comunicação pelo computador – a instantaneidade, simultaneidade e ubiquidade que iriam aos poucos minar os fundamentos da democracia representativa. Nas palavras de Virilio:

Quando se levanta a pergunta sobre os riscos de acidentes na informação nas (super) estradas, o problema não está sobre a informação em si mesma, o problema está sobre a velocidade absoluta dos dados eletrônicos. O problema aqui é a interatividade. A ciência do computador não é o problema, mas a comunicação do computador, ou o (não completamente conhecido) potencial de comunicação do computador. Nos Estados Unidos, o Pentágono, o mesmo criador da lnternet, está falando até mesmo em termos de uma “revolução no exército” junto com uma “guerra de conhecimento” como a qual poderia substituir a guerra de campo, da mesma maneira que substituiu a guerra de corpo-a-corpo da qual Sarajevo é uma lembrança trágica e antiquada. (VIRILIO, Paul, “Vitesse et information: Alerte dans le cyberespace !”, In: Le Monde Diplomatique, 08/1995,clique aquiEm inglês clique aqui).

Esboços da Guerra Híbrida

Nos anos 1990, Virilio antevia aquilo que hoje chamamos de Guerra Híbrida, a guerra convencional transposta para ferramentas semióticas. Na qual o poder de agendamento da grande mídia se alia às estratégias de psicometria e manipulação de Big Data nas redes sociais. A representação política na esfera pública substituída pela apresentação em tempo real nas redes digitais.

 

 

Ao deixar a Casa Branca em 1961, Eisenhower alertou que o complexo militar-industrial era uma ameaça à Democracia. Um complexo similar ao que se formava em 1995: um novo complexo militar baseado nas tecnologias da informação. Naquele momento, líderes políticos norte-americanos como Ross Perot e Newt Gingrich falavam em “democracia virtual”.

“Como não se sentir alarmado? Como não ver os esboços cibernéticos se transformarem em uma engenharia política?”, indagava Paul Virilio. E completava:

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

4 Comentários

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    1. So true!

      | Política | Locus e Imagem Residual das Instituições.
      Há uma cena, no começo de Matrix, em que Neo é plugado e aparece num ambiente muito iluminado e branco, onde é recebido por Morpheus, que lhe dá boas vindas e apresenta um mundo fantástico, de possibilidades infinitas. Intrigado, Neo quer saber onde ficou o seu mundo, o mundo real. Morpheus então questiona o conceito do real, exibe numa televisão ultrapassada o antigo mundo de Neo e o tranquiliza informando que não é real, apenas imagem residual em sua mente. Esse estado de ‘wake up Neo’, que vem contagiando e comunicando tanta gente no mundo em tempo real, talvez represente uma tentativa, senão mesmo uma reapropriação, quiçá provisória, extraordinária, de um verdadeiro locus para a | Política |, quando a política se nos afigura cada vez mais um espaço tipicamente operacional, subordinado a instâncias de um locus deslocado, reconfigurado e inapreensível.

      À guisa de ilustração, procurando a postura de observação, de quem lança um olhar objetivo, científico, para não dizer acadêmico, visando a compreensão de um fenômeno:

      [video:https://youtu.be/bMC7OYbmZDo%5D

    2. Assim como não existe uma

      Assim como não existe uma “direita” que conscientize, que possa abrir mão de manipular, não é possível uma “esquerda” manipuladora. Isso é fácil de entender: à “direita” interessa que as diferenças de interesse entre as classes sociais fique escondida, e à “esquerda”, que seja esclarecida. A única alternativa a isso é um sociedade sem classes sociais.

      Não é à toa que a “direita” precisa usar armas – morais, como a propaganda, judiciais, como no chamado “lawfare”, e até de fogo – para manter sua superioridade desse lado de cá do mundo: se deixar solto, livre, informado, consciente, o povo vira socialista, mesmo. É assim desde o Hamurabi passando pela Comuna de Paris e chegando à indústria Flaskô: tentativa de estabelecer normas para todos. E isso explica porque é que a “esquerda” é legalista enquanto a “direita” aposta na barbárie, na ausência de leis e de estado. Excetuando-se os regimes autoritários – “A lei sou eu” – nenhuma organização política poria numa lei que alguns têm privilégios. Para que o capitalismo se mantenha é preciso manter as pessoas desinformadas e alienadas.

      Assim como contra a escuridão, faça-se a luz, contra a ignorância e a alienação, só os saberes e a consciência. Nenhum regime de desigualdade se mantém sem ser pela violência. Física ou moral.

      E lugar de gente é nas ruas e não vendo televisão ou pior, lendo mensagem do WhatsApp.

      1. Por que, entao, “deixaram”
        Por que, entao, “deixaram” fazer crer que Direitos Humanos existem pra “defender vagabundo”? Por que “deixaram” fazer crer que querem “ensinar sacanagem pra crianças”? Por que, entao, “deixaram” fazer crer que a falta de mais e melhores serviços públicos se deve a “corrupçao”, e não à derrama de juros?

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