por Wilson Ferreira
Guerra econômica, guerra cinética, guerra da informação. Esses três princípios da guerra moderna parecem estar estruturando a tática militar de comunicação do “staff” de Bolsonaro. Em quatro dias desde a posse do capitão da reserva, ficou evidente a linha de continuidade entre a campanha eleitoral e a rotina diária do governo. Marcadas não pela estratégia clássica de propaganda, mas por táticas diversionistas de comunicação: “Marxismo cultural”? “Ideologia de gênero”? Bolsonaro desautorizou Paulo Guedes? Quem é menina ou menino? Quem veste rosa ou azul? A logística da guerra é uma questão de desorientar e criar pânico no adversário – no caso atual, criar dissonâncias e ambiguidades. Com isso, qualquer discussão sobre a “guerra econômica” (“tirar”, “acabar”, “reduzir”, “diminuir” etc.) e a guerra cinética (a guerra ao pan terrorismo narco-político), embora com impactos bem concretos num futuro próximo, está oculta da opinião pública com a proliferação de memes, metamemes e análises da grande mídia que escondem o essencial: a guerra produzida sob o discurso da “terra arrasada”.
Em postagem anterior, esse humilde blogueiro argumentava que desde a campanha eleitoral, Bolsonaro não utilizou estratégias de propaganda, mas de comunicação: ao invés dos instrumentos de convencimento e persuasão (doutrinação ideológica, retórica, repetição de slogans, festas e discursos em palanques), sistematicamente produziu informações dissonantes, ambiguidades, bravatas e provocações para criar, principalmente, polarização – clique aqui.
Por isso, é sintomático que o seu “parlatório” sejam as mídias sociais no lugar dos meios de comunicação de massas – apesar do papel fundamental dessas mídias clássicas como função de pauta ou agendamento dos pitacos no WhatsApp e Twitter: o pano de fundo da grande mídia acaba sendo o condutor dos “debates” nas redes sociais.
Propaganda não é comunicação, é a esteticização da informação, de caráter acumulativo, aditivo, afirmativo; e comunicação é acontecimento – tudo aquilo que gera eventos que criam dissonâncias, que confrontam, interferem, tornam-se agentes disruptivos.
Bastaram apenas quatro dias desde a posse (ou possessão?) do presidente eleito, para ficar clara a linha de continuidade entre a campanha eleitoral e a estratégia de Governo: uma atividade sistemática e diária de comunicação que objetiva criar uma espécie de fosso repleto de crocodilos em volta do castelo.
O castelo do “núcleo duro”
Esse castelo seria o “núcleo duro” do Governo (economia, justiça e segurança) que, à todo custo, deve se manter longe de qualquer debate racional na opinião pública.
Enquanto os “crocodilos ferozes” são jogados diariamente nesse fosso para chamar a atenção e distrair – são as dissonâncias e provocações.
Desde o primeiro dia do ano, a estratégia de comunicação foi a de encher esse fosso de proteção com diversos “crocodilos”:
(a) Meganhização da posse com Brasília em estado de sítio não declarado: soldados fortemente armados com toucas ninja e ordens para abater qualquer “OVNI” (desculpe a ironia…) que aparecesse no espaço aéreo da capital – na verdade, apenas a continuação icônica das imagens diárias dos telejornais nos últimos quatro anos com policiais federais nas ruas armados até os dentes para fazer prisões coercitivas nas inesgotáveis operações da Lava Jato;
(b) Contenção e maus tratos dos jornalistas na posse como indício do alvorecer de uma distopia autoritária brasileira na qual os pobres jornalistas serão censurados e executados. Enquanto isso, nas telas da TV, Bonner só faltou bater continência para as câmeras do Jornal Nacional, elogiando a tecnologia de informação da emissora que conseguiu suplantar os “desafios logísticos” da cobertura da posse presidencial;
(c) Em pouco mais de 12 horas, recorrentes dissonâncias de informações entre o que Bolsonaro fala daquilo que efetivamente a equipe econômica está planejando – o capitão da reserva fala em aumento da alíquota do IOF, redução das faixa de Imposto de Renda e anúncio de idade mínima para aposentadoria (57 para mulheres e 62 para homens), enquanto integrantes do Governo como Marcos Cintra (secretário da Receita Federal) e Onix Lorenzoni (ministro chefe da Casa Civil) tentam acalmar os ânimos diante de estupefatos jornalistas, tentando traduzir a fala presidencial: “não era bem assim…”, “ele estava querendo dizer…”;
(d) O confuso e inacreditável discurso do ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo dizendo que o “marxismo cultural pilota o globalismo”, a “fé em Cristo para lutar contra o globalismo anti-cristão”, entre citações a Raul Seixas e Renato Russo;
(e) O discurso de posse (ou possessão?) do novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodrigues, dizendo que vai acabar com o “marxismo cultural nas escolas” e “ideologia de gênero” porque “faz mal à saúde”;
(f) E, o mais pirado crocodilo do fosso que cerca o castelo, a fala da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) dizendo que “o Estado é laico, mas essa ministra é terrivelmente cristã!” e que “é uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa”, tendo ao fundo uma bandeira de Israel desfraldada por apoiadores…
Esquerda identitária namastê
De (a) a (f), tudo foi repercutido pelos analistas econômicos e políticos da grande mídia. Mas, em particular, a “metáfora” de Damares gerou a previsível reação da chamada “esquerda identitária namastê” com direito a Fernando Haddad posando de camisa rosa e livro na mão em foto nas redes sociais e o inefável Caetano Veloso posando no Instagram com uma camiseta rosa e a inscrição “proteja seus amigos”.
Modus operandi do artista que posava vestido de black bloc no auge das manifestações de 2013. Mais do mesmo: criação reativa de metamemes, atingindo em cheio o objetivo dessas verdadeiras bombas semióticas de dissuasão criadas pela estratégia de comunicação da assessoria de Bolsonaro.
E toca até a fazer análises linguísticas cognitivas de um não-acontecimento criado pela dublê de ministra e pastora neopentecostal. Como se houvesse algum substrato em um simulacro propositalmente plantado como “pseudo-evento”.
Sintomaticamente, enquanto grande mídia e a pretensa oposição política criam metamemes (recombinações e variações reativas das provocações) para supostamente denunciar as incorreções autoritárias e ideológicos do novo governo, o discurso do núcleo duro segue numa fileira de verbos no infinitivo: “acabar”, “tirar”, “reduzir”, “diminuir”, “cortar”, “encolher”, “fundir”, “finalizar”, “extirpar” e assim por diante.
Enquanto a grande mídia coloca acima de qualquer crítica esse discurso de gestor (sem projetos, imaginação ou criação), a esquerda se perde na polarização artificialmente criada. Para os luminares da esquerda, o ministério de Bolsonaro é formado por aloprados, pirados e proto-fascistas que poderiam tranquilamente figurar como personagens da distópica República de Gilead da série Handmaid’s Tale.
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Não desconsidero de modo
Não desconsidero de modo algum a importância da comunicação na política dos nossos dias. Seria absurdo fazê-lo em vista de tudo o que passamos. Mas que o grande erro da esquerda foi colocar em segundo plano o que antigamente chamavamos de condições objetivas.
Uma análise séria da realidade brasileira impunha ações orientadas pelos interesses das classes trabalhadoras e média [sim, a demonizada classe média]. Quais são esses interesses e o que seria uma opção de esquerda? Essencialmente, mostar, enfatizar e politizar as diferenças das diferentes agendas em relação ao estado de bem-estar social e modelo econômico, o que engloba:
Previdência social;
Direitos trabalhistas;
Política de segurança;
Presença do estado na economia;
Desenvolvimentismo;
Política externa;
etc.
O problema da esquerda a partir dos anos oitenta é a incapacidade, ou falta de coragem, de se apresentar consistentemente como uma alternativa ao neoliberalismo. Prefere, então, apostar suas fichas nas políticas identitárias (que parte da direita compartilha) e no carisma do Lula.
Participei da manifestação do “EleNão” no Largo da Batata em São Paulo. Lindo, comovente. Mas a reduzida participação “do povão” era nítida. E foi desanimador constatar que prevalecia o “olhar para o próprio umbigo”. Onde estavam as bandeiras de defesa da classe trabalhadora? Onde estava a denúncia do projeto econômico neoliberal?
Parece que a própria esquerda desconfia na capacidade do povo de compreender os seus interesses de classe. Não iremos longe com essa postura.
Particularmente, posiciono-me
Particularmente, posiciono-me na mesma direção, mas em sentido contrário. Fico pensando, que a constatação procede. No entanto, não dá conta (observe-se o volume do O quê fazer) ou avalia superficialmente o fenômeno em curso. A reação, nas redes, em função dos discursos de posse e das asneiras que o sucederam tem origem num extrato social especifico, diretamente atingido/ofendido pelos conteúdos contra civilizatórios em pauta. Segundo penso, essa reação tem potencial aglutinador de uma parcela expressiva da classe média, justamente onde Bolsonaro canalizou o apoio necessário para sua vitória eleitoral e, também, de onde devem partir movimentos duradouros de questionamento aos valores culturais utilizados como álibi de fuga da pauta econômica durante o processo eleitoral. O estágio da luta politica no Brasil já é o da reconquista de liberdades individuais ou minimamente democráticas. Esse estágio demanda amplitude e ressonância, em ações que ultrapassem os limites da institucionalidade, ocupe a rua, a escola, o local de trabalho, os palcos e as exposições, que exploda a bolha. Em dados momentos (não há novidade nisso) são setores da intelectualidade, da cultura, da arte, da juventude estudantil, dos movimentos identitários a quem cabe a tarefa e o papel da guerrilha contra cultural, a vanguarda do enfrentamento politico, do inquietante desaforo. Penso que é o caso, na tal frente diversionista. Quanto à materialidade da economia, mesmo que projetado seus estragos na vida da ampla maioria do povo, é improvável esperar uma reação mais forte da parte dos atingidos, em face do desmantelamento sofrido, especialmente, na frente sindical. A vanguarda do enfrentamento ainda não surgiu, mas pode brotar de qualquer lado e a qualquer momento. Fiquemos atentos, para reconhecê-la quando emergir do tecido social. Nada é dispensável, nenhum retrocesso é “mais prioritário” e, uma lágrima, uma só, pode ser a gota d’água!
“Por incrível que possa
“Por incrível que possa parecer, até aqui a fala mais lúcida em tudo isso veio do comentarista de Política do programa “Estúdio I”, da Globo News. Octávio Guedes analisou: “o governo Bolsonaro é formado pelo núcleo econômico (Paulo Guedes), o núcleo da Justiça (Moro), o núcleo militar (Mourão, Heleno) e o núcleo de entretenimento, que cria todas essas polêmicas para entreter a opinião pública e evitar debater aquilo que é essencial”.”
Lula avaliou que Bolsonaro “está usando temas morais ou de comportamento como cortina de fumaça para ações impopulares nas áreas econômica e de direitos sociais”.
Combater as fake News e
Combater as fake News e mentira congêneres e golpistas e fraudulentas realmente é muito difícil, mesmo com técnicas avançadas de comunicação…
É preciso a meu ver continuar defendendo as políticas de inclusao social de sucesso dos governos anteriores….
POR PARADOXAL QUE PAREÇA, TEM
POR PARADOXAL QUE PAREÇA, TEM GENTE QUE AINDA ACREDITA QUE O GOVERNO QUE TERMINOUU AGORA AINDA FOI PETISTA…POR ISSO, OS BOLSIGNAROS CONTINUAM A SE APROVEITAR DESSA FALTA DE INFORNAÇÃO E AGREDINDO E INCRIMINANDO OS PETISTAS POR TUDO O QUE O TEMER FEZ DE ERRADO E OS BOLSIGNAROS CONTINUARÃO FAZENDO….
Fernando Brito: volte logo !
O jornalismo político sofrerá, TEMPORARIAMENTE, uma baixa.
O brilhante jornalista Fernando Brito, defensor lúcido do Estado Democrático de Direito, será submetido a delicada cirurgia.
Aos democratas: quem é religioso, que ore; quem é ateu, que mande boas energias a esse valoroso brasileiro.
A ORDEM É:EVITEM O TEMA DO
A ORDEM É:EVITEM O TEMA DO PAGAMENTO VULTOSO DE RECURSOS PÚBLICOS A BANCOS(ECONÔMICO)FUJAM DISSO COMO O DIABO DA CRUZ,FALEM QQ COISA AZUL,ROSA,VERMELHO,COMUNISMO,CUBA,VENEZUELA,SOCIALISMO,SISTEMA FEUDAL,KIT GAY,OVNIS…