Letícia Sallorenzo
Letícia Sallorenzo é Mestra (2018) e doutoranda (2024) em Linguística pela Universidade de Brasília. Estuda e analisa processos cognitivos e discursivos de manipulação, o que inclui processos de disseminação de fake news.

Contexto? O que é isso? É de comer?, por Letícia Sallorenzo – a Madrasta do Texto Ruim

Contexto? O que é isso? É de comer?

por Letícia Sallorenzo – a Madrasta do Texto Ruim

Sábado, 15 de setembro de 2018

 

O texto de hoje é bem curtinho, praticamente um adendo ao texto de ontem, em que eu mostrei como a escolha de palavras propiciam determinados framings (ou enquadramentos) dos candidatos.

Apenas observem as manchetes de hoje:

  1. Governador acusa PT de ‘preconceito’ (Estadão, interna)

  2. PT atrasa pagamento de equipe de TV (Estadão, interna)

  3. Haddad é ignorado por petistas em evento (Folha, Interna)

  4. Haddad: ‘O demônio do país virou o PT’ (Globo, capa)

  5. Haddad: Demonização do PT levou eleitor ao erro (Globo, interna)

 

O Estadão pinta o PT como preconceituoso e mau pagador (a reportagem informa que a alteração de CNPJ da campanha, com a troca de Lula para Haddad, causou o atraso nos pagamentos). Folha trouxe a manchete que, se feita com mais cuidado, poderia até ser chamada de jornalismo (ainda existe resistência a Haddad dentro do PT, embora a ordem agora seja não externar mais a coisa).

Mas O Globo, ah, o Globo…

Jogou o contexto dentro do carro da Berenice que tá lá rodando e rodando e rodando…

Citou uma fala do Haddad no depoimento de ontem ao JN (aquilo que aconteceu no JN ontem não foi uma entrevista) de ontem, não deu o contexto de fala e meteu na boca do candidato petista a afirmação de que seu próprio partido é o demônio. O leitor do Globo tomou um banho de inferências, proposições, metáforas e saiu encharcado de antipetismo – troço que, dependendo da pessoa, demora a secar ou sair.

A manchete interna é mais honesta e mais condizente com o contexto do depoimento de ontem do Haddad.

Mas eu tendo a eleger (4) a manchete mais canalha de toda a eleição. Usei o verbo tender porque sei que ainda temos muito Segura Berenice pela frente – lembrem-se da “capa da Veja week”, que só ocorre na última semana de outubro.

 

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