
Contexto? O que é isso? É de comer?
por Letícia Sallorenzo – a Madrasta do Texto Ruim
Sábado, 15 de setembro de 2018
O texto de hoje é bem curtinho, praticamente um adendo ao texto de ontem, em que eu mostrei como a escolha de palavras propiciam determinados framings (ou enquadramentos) dos candidatos.
Apenas observem as manchetes de hoje:
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Governador acusa PT de ‘preconceito’ (Estadão, interna)
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PT atrasa pagamento de equipe de TV (Estadão, interna)
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Haddad é ignorado por petistas em evento (Folha, Interna)
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Haddad: ‘O demônio do país virou o PT’ (Globo, capa)
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Haddad: Demonização do PT levou eleitor ao erro (Globo, interna)
O Estadão pinta o PT como preconceituoso e mau pagador (a reportagem informa que a alteração de CNPJ da campanha, com a troca de Lula para Haddad, causou o atraso nos pagamentos). Folha trouxe a manchete que, se feita com mais cuidado, poderia até ser chamada de jornalismo (ainda existe resistência a Haddad dentro do PT, embora a ordem agora seja não externar mais a coisa).
Mas O Globo, ah, o Globo…
Jogou o contexto dentro do carro da Berenice que tá lá rodando e rodando e rodando…
Citou uma fala do Haddad no depoimento de ontem ao JN (aquilo que aconteceu no JN ontem não foi uma entrevista) de ontem, não deu o contexto de fala e meteu na boca do candidato petista a afirmação de que seu próprio partido é o demônio. O leitor do Globo tomou um banho de inferências, proposições, metáforas e saiu encharcado de antipetismo – troço que, dependendo da pessoa, demora a secar ou sair.
A manchete interna é mais honesta e mais condizente com o contexto do depoimento de ontem do Haddad.
Mas eu tendo a eleger (4) a manchete mais canalha de toda a eleição. Usei o verbo tender porque sei que ainda temos muito Segura Berenice pela frente – lembrem-se da “capa da Veja week”, que só ocorre na última semana de outubro.

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