Capitalismo, Discurso Midiático e Populismo de Direita no Brasil, por Alexandre Camargo de Sant’Ana

A mídia também possui uma culpa gigantesca na ascensão desse movimento antidemocrático de Direita Extrema

Bolsonaro gesticula em Brasília ao lado do vice Mourão, a primeira-dama Michelle e o empresário Luciano Hang nas comemorações do Bicentenário da Independência. 7/09/2022. REUTERS/Ueslei Marcelino

Capitalismo, Discurso Midiático e Populismo de Direita no Brasil

por Alexandre Camargo de Sant’Ana

Introdução

O crescimento de movimentos políticos antidemocráticos, denominados populistas, não é recente, pois há anos temos sinais do avanço desse autoritarismo até em democracias antigas. É um fenômeno bastante complexo, afinal, como apontam os autores apresentados nesse artigo (apesar das diversas divergências entre eles), o Populismo não pode ser conceituado antes que aconteça. Ou seja, não há uma ideologia ou esquema teórico que explique os movimentos populistas e permita entender a priori a ascensão de líderes e governos autoritários e antidemocráticos inclusive em países com democracias bem consolidadas. Apesar dessas afirmações de não ser possível conceituar o Populismo antes de ele ocorrer, esses movimentos autoritários não parecem acontecer assim de forma totalmente aleatória como muitos tentam nos convencer. Afinal, tais fenômenos possuem algumas características bem específicas: 1) normalmente os populismos antidemocráticos recentes são de Direita; 2) ocorrem no interior de Democracias liberais e 3) não pretendem mudar o sistema econômico – bem na verdade são defensores do Capitalismo.

Desse modo, devemos questionar quais fatores facilitam o surgimento do Populismo autoritário de Direita extrema no interior do Neoliberalismo e assim bater de frente com a intensa deturpação do assunto ainda muito presente nos meios de comunicação. Na mídia tradicional, normalmente os exemplos dos fenômenos populistas são apresentados de forma genérica e apenas a partir de seus efeitos: só mostram como eles estariam corroendo a Democracia em cada país onde surgiram, mas não analisam seu desenvolvimento. Na realidade nem tentam, pois isso exigiria uma crítica ao sistema capitalista que a mídia hegemônica não irá fazer. Além de não problematizar a ascensão autoritária da forma como deveria (se pretendesse defender os princípios democráticos), desde sempre a mídia contribuiu para o surgimento e fortalecimento do Populismo da Direita extrema ao baixar o nível dos debates, esconder as causas da desigualdade social, incentivar todo tipo de ataques às esquerdas e manter o anticomunismo presente no senso comum com mentiras e falsas ameaças sobre o avanço do Comunismo.

Trazendo para o Brasil, a mídia também possui uma culpa gigantesca na ascensão desse movimento antidemocrático de Direita Extrema, mas ela não é a origem do problema e sim a porta-voz dos verdadeiros donos do poder econômico, que não pensam duas vezes antes de agirem contra a Democracia para defenderem seus interesses financeiros. Esse artigo é sobre isso, ou seja, sobre como as elites econômicas e os meios de comunicação vêm manipulando o senso comum na defesa do Capitalismo e desse modo não apenas abriram espaço para o avanço do Populismo autoritário de Direita no Brasil, como também apoiaram diretamente a ascensão de Bolsonaro. Como a análise é complexa, o texto acabou ficando longo. Desse modo, peço desculpas, mas prometo ser o mais conciso possível.

Democracias em Risco

Defendendo o sistema econômico, o discurso midiático dissimulado costuma apresentar o Populismo de forma genérica como um movimento antidemocrático que pode ser tanto de Direita quanto de Esquerda e não se aprofunda na análise. Desse modo, além de isentar o Capitalismo, ainda afirma que o sistema capitalista é uma pobre vítima sendo ameaçada por extremistas.

No início de outubro de 2018, um pouco antes das eleições brasileiras, Rodrigo Mattos se aproximou dessa narrativa ao alertar sobre os perigos do Populismo (de Esquerda ou de Direita). Ele apresentou os resultados de um estudo da ONG Freedom House: 113 países tiveram piora na democracia entre 2006 e 2017, citou o cientista político Yasha Monk e equiparou o PT com Bolsonaro, pois ambos seriam igualmente populistas e perigosos. Segundo o autor, uma porta de entrada ao Populismo “são os escândalos de corrupção” quando as instituições não conseguem melhorar a vida de seus cidadãos. Fortalecido por Fake News e teorias da conspiração, o populista utiliza as redes sociais para atacar o sistema e prometer resolver todos os problemas[1]. Mattos, apesar de reconhecer que o Populismo se desenvolve em um contexto de falta de respostas das instituições a demandas populares, apresenta a corrupção dos políticos como causa do enfraquecimento dos princípios democráticos, isentando as elites econômicas e as desigualdades do sistema econômico. Aparentemente, se não fosse a corrupção política, as demandas dos menos favorecidos poderiam ser sanadas pelo Capitalismo e não haveria espaço para líderes populistas. Esse tipo de abordagem com soluções simples e sem propor mudanças estruturais no sistema econômico é algo bastante comum e por isso sugiro iniciar analisando esse tipo de narrativa.

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Índices de liberdade econômica normalmente são ferramentas para reforçar a ideologia capitalista, informando o quanto o país estaria longe de ser uma Democracia Liberal plena na qual o Mercado não teria amarras. Tais índices são explorados pelos meios de comunicação na defesa do Capitalismo contra qualquer ameaça de regulamentação econômica ou fortalecimento do Estado. Tendo isso em mente, vejamos esse artigo sobre o “Índice de Transformação Bertelsmann” (BTI), da Fundação Bertelsmann, Alemanha. Publicado de dois em dois anos, ele analisa a “consolidação da democracia e da economia de mercado” nos países em desenvolvimento. De acordo com o BTI divulgado em fevereiro de 2022, o Brasil caiu de uma “democracia estável” para uma “democracia defeituosa”. Segundo a matéria, outro estudo, esse britânico, chegou a conclusões similares e definiu Bolsonaro como um “líder populista que provoca a erosão da democracia brasileira”. Mas não estamos sozinhos nessa decadência democrática, pois nos últimos dez anos esse “declínio contínuo de qualidade” ocorreu em uma a cada cinco democracias, resultando em governos e governantes autoritários “caracterizados por graus variados de populismo de direita”. Pela primeira vez, o BTI encontrou mais Estados autocráticos do que democráticos, sendo o pior resultado dos últimos 15 anos. Para Hauke Hartmann, da Fundação Bertelsmann, as “elites políticas e econômicas”, ao protegerem seu “sistema clientelista e corrupto”, seriam a causa principal da “erosão das normas democráticas”: o modelo de Democracia impossibilita a participação social nas decisões políticas na maioria dos países estudados e isso promove o surgimento de movimentos populistas[2]. Em nenhum momento, a matéria sugere superar o Capitalismo, mas aponta duas características principais para tentarmos compreender esses movimentos populistas autoritários: são em sua extrema maioria de Direita e nascem a partir de demandas sociais genuínas, em momentos de crise econômica e falta de respostas populares das instituições e das elites governantes ao clima de insatisfação popular. Assim como Mattos, a conclusão é que se a corrupção diminuísse e as elites buscassem uma sociedade mais inclusiva, seria muito difícil o Populismo se desenvolver. Ambas as análises apresentam corrupção e falta de inclusão como se fossem externas ao sistema econômico. Ou seja, o Capitalismo é bom, todavia estaria sendo corrompido pela ganância das pessoas e abrindo espaço a líderes populistas autoritários.

James Keenan, jesuíta e professor de Teologia Moral do Boston College nos Estados Unidos, concorda que o crescimento do Populismo é responsabilidade das elites política e econômica, mas também não sugere superar o Capitalismo. Para ele, as pessoas escolhem votar em candidatos autoritários por sentirem-se alienadas do sistema democrático e a culpa disso é das “elites governantes”, que nunca incluíram as “massas populistas” no projeto Neoliberal e nem demonstraram apreço pelo “bem comum ou em qualquer noção de justiça”. Ele cita Cas Mudle, cientista político que classificou o populismo como um movimento baseado na divisão entre dois antagonistas, “povo puro” contra “elite corrupta”, para ampliar essa divisão. Keenan defende que são cinco grupos participando desse processo populista: massas populistas, líder populista, ricos, líderes políticos e sociais e elite. Não obstante a nova classificação proposta, ele coloca massas, líderes e ricos de um lado e a elite governante do outro. Como origem do Populismo, Keenan aponta a insatisfação das classes populares – que estão desconfiadas da política tradicional e resolvem votar em quem se mostra como diferente do sistema e suficientemente forte para enfrentar as poderosas elites corruptas. Normalmente esses líderes são homens autoritários e de Direita com discursos vazios e direcionados a grupos bastante diferentes e insatisfeitos, contando uma história sobre existir um “nós” – pessoas de bem – contra “eles” – a elite opressora e manipuladora. Segundo o autor, como causadoras da crise, somente as elites poderiam salvar a Democracia e barrar o fortalecimento de líderes populistas, mas para isso devem atender às demandas das massas e se aliarem aos populares em busca de uma sociedade mais justa e sem hierarquia social[3], novamente algo bem difícil de visualizar dentro da lógica capitalista.

No artigo “A Crise da Democracia Liberal no Início do Século XXI: Duas Abordagens da Teoria Política”, Theófilo Machado Rodrigues e Caíque Bellato analisam mais profundamente as opiniões sobre a crise das democracias ocidentais e as dividem em dois grupos: aqueles que desejam defender a Democracia Liberal – como os três artigos acima – e os que buscam ultrapassar esse sistema e alcançar uma Democracia mais radical e pluralista. Na primeira corrente, a Democracia Liberal é considerada o “ápice do regramento institucional democrático” e estaria seriamente ameaçada pelo Populismo, sempre definido como autoritário, excludente e antidemocrático, pouco importando se é de Direita ou de Esquerda. Esse grupo reconhece que os golpes contra a Democracia não ocorrem mais com tanques, mas acontecem dentro das regras institucionais democráticas. Por conta disso, as próprias instituições e partidos políticos possuem muita culpa nesse processo ao deixarem de respeitar as “normas não escritas” que mantinham a “ordem institucional” e permitiam o debate político sem tratar os adversários como inimigos que deveriam ser exterminados. O sistema é bom e os partidos políticos poderiam barrar o avanço de personagens populistas e autoritárias, funcionando como um filtro. Todavia a falta de comedimento dos políticos na batalha pelo aumento constante de poder deixou de lado o “jogo democrático”, criando uma polarização extremada. Por conta da corrupção política, o Populismo autoritário e antidemocrático se fortalece e aumenta a intolerância aos direitos das minorias, pois responde às insatisfações populares com discursos extremistas, a partir de líderes que se apresentam como outsiders políticos e antissistema e que utilizam a internet como plataforma de disseminação de suas ideias, deturpações da realidade e Fake News. Esse grupo Liberal entende que o ataque à Democracia na rede mundial de computadores é potencializado pelo uso de robôs e bots agindo como propagadores de desinformação e impedindo as pessoas de separarem “fatos e desejos”[4]. Tendo tudo isso em mente, para essa corrente de pensamento, somente fortalecendo ainda mais as instituições democráticas liberais será possível salvar a Democracia e não é necessário alterar o sistema econômico.

Contraditoriamente, o grupo defensor da Democracia Neoliberal sugere combater o populismo autoritário a partir de mudanças difíceis de acontecerem sem transformar o sistema econômico por eles apresentado como perfeito. Afinal, para a elite deixar de pensar apenas no próprio interesse, aumentar a participação popular e diminuir a desigualdade e concentração de renda, ou para acabar com a corrupção de um sistema político defensor, aliado e parceiro do Capitalismo predatório, assim como para os políticos voltarem a ser civilizados e tratarem seus rivais com respeito, precisaríamos de mudanças tão drásticas e profundas na sociedade capitalista que ela nem seria mais a mesma. Por conta disso, as mesmas mudanças também são sugeridas pelo outro grupo, mas segundo eles, para tais transformações ocorrerem precisaríamos ultrapassar esse modelo de Democracia Neoliberal e o Populismo de Esquerda seria o caminho.

Radicalização das Democracias

Para aqueles que enxergam o próprio sistema Neoliberal como o causador do problema é quase um consenso que tudo piorou após a crise econômica de 2007/2008: as elites políticas e econômicas optaram por salvar o Capitalismo em detrimento dos interesses populares, gerando mais insatisfação em grande parte da população, que deixou de acreditar nas instituições democráticas e passou a apoiar líderes populistas e autoritários que prometiam soluções simples e atacavam princípios tidos como básicos para a Democracia. Entretanto, esses comportamentos das elites, mais que causadores da crise democrática, seriam reflexos do funcionamento do Neoliberalismo e de sua estratégia de manutenção, exploração e opressão. Enxergando tais limitações do sistema econômico como as causadoras do problema, esse grupo não deseja salvar a Democracia e sim aproveitar o momento populista para radicalizá-la com mais Populismo, todavia um Populismo de Esquerda. Ainda segundo os já citados Bellato e Rodrigues, os pensadores dessa corrente afirmam que esse Populismo autoritário que avança sobre a Democracia é unicamente de Direita e se aproveita das insatisfações populares no interior de um Neoliberalismo desigual e que só respeita a lógica do Mercado, deixando de lado as demandas daqueles que não fazem parte do projeto hegemônico Neoliberal. Vistos como defensores corruptos de um sistema econômico injusto, as instituições e partidos políticos, cada vez mais parecidos uns com os outros, não respondem aos anseios das camadas menos favorecidas e o Populismo de extrema Direita avança nesse vazio[5].

Enquanto na primeira corrente o Populismo é rejeitado e sempre tratado como autoritário e antidemocrático, não importando o espectro político do movimento, para o segundo grupo há uma separação bem clara entre populismos de extrema Direita e de Esquerda (que seria democrático, inclusivo e baseado na pluralidade). Para esses pensadores, o Populismo por si só não é um problema, pois tem origem em demandas populares legítimas que deveriam ser ouvidas pelas instituições. É uma exigência por mais Democracia em um contexto de extrema desigualdade social e isso não pode ser encarado como algo negativo. A questão é o caminho que o movimento toma. Quando direcionado à Esquerda, o Populismo pode radicalizar a Democracia e superar o Neoliberalismo. Se cooptado pela Direita, tenderá a ser autoritário, excludente e antidemocrático. Nesse contexto populista, a Esquerda precisa decidir como agir.

Resende e Mendonça, no artigo “A Especificidade do Populismo de Esquerda”, afirmam que o Populismo – por atacar as instituições da Democracia Liberal – sempre é definido como um caminho autoritário e contrário aos direitos individuais. Entretanto eles também argumentam que um Populismo de Esquerda pode radicalizar a Democracia e permitir uma verdadeira participação popular, ultrapassando o modelo Neoliberal a partir de ações emancipatórias que busquem mais igualdade social e aumento de direitos. De acordo com os autores, o Populismo de Esquerda visa alcançar aquilo que seria a base da Democracia, mas vem se perdendo: a Igualdade[6].

Chantal Mouffe, provavelmente a maior expoente desse grupo, ao responder um artigo de Pierre Rosanvallon criticando o Populismo de Esquerda, afirmou que o movimento populista não pode ser definido somente como algo ruim e autoritário. Como já mostrou Ernesto Laclau, o fenômeno do Populismo é sempre uma construção, uma criação de uma fronteira política entre um “nós” e um “eles” que define os inferiores e os superiores, os dominados e os dominantes. O caráter (autoritário ou não) do Populismo resultante dessa construção, dessa união de identidades antagônicas, dependerá de como se constrói essa oposição entre “nós” e “eles”. Infelizmente, dentro da Democracia Liberal, as instituições e os partidos políticos se parecem muito uns com os outros e desse modo são vistos pela população apenas como defensores do Capitalismo que deixam as demandas populares de lado, piorando a vida da maioria. Essa situação de descrédito do sistema e a falta de uma proposta antagônica e democrática abre espaço para o avanço do Populismo de extrema Direita, antidemocrático e autoritário, que utiliza o discurso do “nós contras eles”, ou seja, do povo contra as elites governantes. A saída sugerida por Mouffe é ultrapassar a Democracia Neoliberal a partir do Populismo de Esquerda, rompendo de vez com o Capital Financeiro. Para isso, a Esquerda precisa estabelecer uma nova hegemonia, baseada na igualdade e na Justiça social, reconquistando o pluralismo e unindo as mais variadas lutas democráticas em torno da busca por um novo modelo econômico. Como sugestão de um tema que pudesse unir atores diferentes em um Populismo de Esquerda, Mouffe acredita na “agenda verde”, na defesa do meio ambiente, pois seria um problema que afeta a todos, já que ameaça a existência da sociedade[7].

Alguns meses após o artigo acima, Mouffe retomou a questão da agenda verde como um tema aglutinador. Contestando os críticos que sugeriram estar próximo o fim do Populismo de Esquerda, ela reafirmou ser esse o único caminho para superar as desigualdades do neoliberalismo. Entretanto é necessário ficar atento, pois da crise da Covid pode surgir um Capitalismo ainda mais poderoso, estatizado e fundamentado em falsas promessas de soluções tecnológicas, um “solucionismo tecnológico” baseado em aplicativos que favorecem o Vale do Silício e suprimem os antagonismos sociais em um sistema pós-democrático de “tecno-autoritarismo”. Por outro lado, enfrentando esse Capitalismo mais agressivo e baseado na tecnologia, o Populismo de Direita tem chances de se fortalecer, minando de vez a Democracia Liberal até destruí-la. Para enfrentar essas duas opções antidemocráticas, Mouffe defende que a Esquerda precisa entender a existência de uma demanda por proteção nas classes populares e dar mais atenção a noções de “soberania e protecionismo”. O Populismo de Esquerda deve criar uma nova “força popular” a partir da fronteira entre “povo” e “oligarquia” e construir novas coletividades através dos “afetos” e dos “desejos”, entretanto sempre utilizando argumentos democráticos. Na construção do Populismo de Direita, um dos sentimentos mais importantes para manter a união de seus integrantes é o medo, mas o populismo de Esquerda não deve usar o discurso do medo para romper a Democracia Liberal e sim construir uma crença na possibilidade de uma sociedade mais justa e igualitária. A defesa do meio ambiente seria um tema que possibilitaria a união de diversos atores sociais e de lutas democráticas variadas, como o feminismo, o antirracismo e o movimento LGBTQ+, pois nas últimas duas décadas, a crise climática deixou evidente que esse modelo “produtivista e extrativista” coloca a existência de toda a sociedade em risco. Logo, o Populismo de Esquerda poderia utilizar a defesa do meio ambiente como fator aglutinador, como o ponto comum, na luta pela superação do Neoliberalismo[8].

Independente da causa apontada (externa ou interna) ou do objetivo (manter ou ultrapassar a Democracia Liberal), nada disso discutido até aqui realmente explica como o Populismo de Direita e antidemocrático se desenvolve dentro da Democracia. Algo em comum nas análises é a questão do discurso populista ser vazio e baseado em soluções fáceis e autoritárias e servir como resposta a indignações diversas de grupos e pessoas diferentes, que deixam suas diferenças de lado e se unem em torno de um líder que se diz antissistema. Outro fator essencial é essa divisão entre nós e eles: o populista se apresenta como salvador do povo contra uma elite dominante que seria corrupta. Mas como as pessoas insatisfeitas com a corrupção e a falta de participação e oportunidades superam suas diferenças e se deixam levar por discursos vazios e explicações simplificadas do mundo, embarcando em movimentos contrários aos princípios democráticos e colocando assim a própria liberdade em risco? A partir dos autores pesquisados, fica evidente que um fator essencial para compreender esses fenômenos é a existência de um senso comum conservador, autoritário, punitivista e anticomunista, que é manipulado pelos meios de comunicação na defesa do Capitalismo, visto pela maioria como um provedor de liberdades.

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Mídia Populista

A mídia tradicional é um elemento essencial no avanço populista autoritário de Direita. Não apenas por continuar defendendo o Neoliberalismo e tratando os fenômenos antidemocráticos de maneira totalmente simplificada e até deturpada, como se o contexto econômico não tivesse nenhuma relação com isso e como se não importasse o espectro político do movimento, mas principalmente por sempre ter cooperado com a manutenção do clima populista autoritário no senso comum: esse sentimento de guerra, de “nós contra eles”, forjado no medo e no ódio é essencial para manter a união de diversos grupos em um movimento de caráter populista de Direita extrema. Durante muito tempo, os meios de comunicação utilizaram o medo e o ódio como ferramentas para fortalecerem o sistema Neoliberal, apontando múltiplas ameaças – muitas falsas – à nossa liberdade, à liberdade de expressão, à liberdade de Mercado. Fazem isso para evitarem qualquer tipo de regulamentação econômica ou da mídia, acusando de autoritária toda personagem ou projeto que sugerir o mínimo de controle sobre o Capital ou sobre os meios de comunicação e sua deturpação da realidade. Desse modo, como esse tipo de proposta baseada em certo nível de regulamentação midiática e econômica normalmente vem de setores da Esquerda, a mídia tradicional espalhou um sentimento de medo generalizado dos projetos esquerdistas, que seriam contrários à nossa liberdade e à nossa propriedade. Para defender o Capital, o discurso midiático fez uso intensivo da falsa ameaça comunista (mantendo o anticomunismo como um sentimento muito forte no senso comum) e colocou a culpa dos problemas na corrupção dos políticos, demonizando a política e isentando o Capitalismo. 

De acordo com Isabel Ferin Cunha, a crise da mídia tradicional iniciou nos anos 90, quando ela assumiu o “papel populista” de “animadora cultural” e “advogada do povo”, ao mesmo tempo em que não podia contestar o sistema econômico. Sempre defendendo o modelo Neoliberal, o discurso midiático enfraqueceu as “instituições democráticas e os governantes”, pois optou pelo “achincalhamento” de personagens políticas e “conflitos entre cidadãos”, tudo através da “exacerbação da emotividade”. Esse método de colocar a culpa em uma elite política corrupta (isentando a elite econômica) abriu espaço para narrativas antissistema político, principalmente após a crise econômica de 2008, quando as desigualdades sociais não puderam mais ser escondidas, inclusive nos países ricos. A forma como as instituições e partidos políticos escolheram salvar o sistema econômico injusto em detrimento das demandas populares certamente foi uma causa importante no avanço do Populismo e diminuição da Democracia. Porém, apesar de posteriormente se tornar uma vítima do autoritarismo populista, a mídia tradicional também tem sua parcela de culpa, e não é pequena. Para defender o Neoliberalismo – mesmo em momentos de grave crise econômica! – o discurso midiático flertou com temas antidemocráticos, ignorando e até encobrindo as demandas populares, além de simplificar os antagonismos sociais e manipular as informações. Com o avanço da internet, o ataque à Democracia ficou ainda maior, não apenas pelo conteúdo carregado de Fake News e notícias falsas, mas também pela possibilidade de uso e controle dos dados dos usuários e pela monitorização digital. Robôs e bots agindo como humanos criam bolhas entregando apenas aquilo que o usuário deseja ver, eliminando o contraditório e a pluralidade e até manipulando eleições. As redes sociais foram uma radicalização do estilo populista da mídia tradicional, baseado no medo e nas simplificações para explicar (adulterar?) a realidade. De tão poderosas, as redes sociais afetaram a própria origem e alteraram inclusive o jornalismo profissional, que se tornou cada vez mais emocional, simplificando os conteúdos de forma extrema e dando soluções fáceis baseadas na ideia de um mundo binário dividido entre um “nós” – os supostamente favorecidos pelas liberdades capitalistas – e um “eles” – a elite política corrupta inimiga das liberdades. A mídia age assim, apresentando a suposta corrupção de todos os políticos como um inimigo a ser destruído para resolver os problemas do mundo. Dessa maneira irresponsável, flertando com discursos antidemocráticos, a mídia tradicional cooperou com o crescimento da “desconfiança política”. Para a autora, os meios de comunicação precisam se reinventar e ajudar a salvar a Democracia sendo transparentes e tratando as demandas populares com seriedade, mas sem dar espaço para figuras, discursos e projetos autoritários. Devem informar baseados em fatos e dados, contextualizando e sendo verdadeiramente investigativos, mantendo distanciamento e sem escolher lados políticos[9]. Novamente, uma solução bastante difícil de visualizar sem a alteração do sistema econômico.        

Na mesma linha de pensamento de Cunha, os autores Herrman, Gosselin e Harel concordam que a “natureza discursiva” da mídia tradicional sempre favoreceu o Populismo. Atualmente ela virou vítima do avanço populista de extrema Direita e autoritário, sendo tratada como inimiga. Isso porque a mídia, apesar de flertar com discursos que ameaçam os valores democráticos para defender o Capital, também é uma crítica ferrenha do Populismo e defensora das liberdades individuais. Por conta disso, as mídias digitais e as redes sociais tornaram-se o porto seguro dos populistas, pois na internet eles estão livres para aproveitarem a crise das democracias e utilizarem ideias extremistas contra o sistema, mesmo que façam parte dele. A tão desejada democratização dos meios de comunicação com o crescimento da internet não resultou na pluralidade de pensamentos progressistas e na radicalização da Democracia, mas ao contrário, virou um palco para líderes populistas e autoritários normalizando discursos extremistas e antidemocráticos que apelam às emoções e ressentimentos das camadas populares. Fake News e boatos tornaram-se inimigos da ciência e do conhecimento, piorando a crise sanitária trazida pela Covid. Esse Populismo das redes sociais, contrário ao pluralismo, se fortalece no vazio das mídias tradicionais, explorando as insatisfações e o sentimento de incerteza nesse sistema globalizado e acelerado do Neoliberalismo de nossa época[10], entretanto sem nunca propor outro sistema econômico no lugar do Capitalismo. Pelo contrário, o Populismo radicaliza o anticomunismo midiático afirmando que nossas liberdades estariam em risco com o avanço das ideias esquerdistas e sempre defende o Capital.

Sobre o neoliberalismo atual e sua ilusão de liberdade, é necessário considerar que apesar da exploração capitalista não parar de aumentar, a maioria dos indivíduos, até mesmo os mais explorados pelo sistema, acredita ser livre e dona de seu próprio destino e isso é diariamente fortalecido pela mídia. Desse modo, esse sentimento de “defesa da liberdade”, que é muito forte no interior do Capitalismo e motivado pelo discurso midiático, não pode ser ignorado nas análises sobre Populismo, principalmente porque a “defesa da liberdade” é uns dos temas mais presentes nos discursos populistas – mesmo vindo de líderes autoritários. Esse medo de perder a nossa liberdade por conta de um Estado opressor (normalmente de Esquerda – Comunista) é apenas um dos sentimentos negativos explorados pela mídia tradicional em sua defesa do sistema econômico Neoliberal, mas é essencial para compreender a corrosão dos regimes democráticos.

Byung-Chul Han discute essa ilusão de liberdade em seu livro “Sociedade do Cansaço”: os indivíduos trocaram o papel de obedientes para o de “empresários de si mesmo” e são sempre incentivados a produzirem mais e mais e mostrarem como podem superar a si mesmos. Hiperestimulado e sem tempo para raciocinar, buscando atingir uma meta inalcançável, cansado e desapontado consigo mesmo por seu constante fracasso, o sujeito individualizado e solitário vive com sentimentos de carência e tende a se deprimir. Atordoados com antidepressivos, nós permanecemos presos nessa autoexploração diária rumo à morte e sonhando com o impossível no interior de uma Ditadura Capitalista que se disfarça de libertária. Vivos demais para morrer e mortos demais para viver, todavia acreditando estarem livres, os indivíduos não se revoltam contra o Capitalismo e assim a produção não cessa de aumentar[11].

Os cidadãos das democracias capitalistas estão cada vez mais isolados em suas próprias vidas e interesses. Estão cansados e atordoados demais para reagirem e não possuem conexões e relacionamentos estáveis e duradouros. Com a subjetividade sempre diluída em uma constante alteração de identidade na busca de um padrão inatingível, o indivíduo não tem tempo para pensar e nem pensamento crítico. Segue aprisionado e explorado, todavia acreditando estar mais livre do que nunca. A questão da liberdade levantada por Han é importante para entender como o Populismo usa um discurso vazio para superar o individualismo. Destarte toda a fragmentação social, existe esse sentimento em comum de medo de perder a liberdade, principalmente se houver um crescimento dos ideais de Esquerda. Esse temor do Comunismo explorado pelo discurso midiático há décadas é algo presente nos diferentes grupos que apoiam movimentos populistas de Direita. Sedo assim, para entender o desenvolvimento do populismo de Direita extrema é necessário ultrapassar o individual – sujeito atomizado e explorado pelo Capitalismo – e buscar as respostas no comportamento coletivo e seus temores – pessoas unidas com medo de perderem suas liberdades: contraditoriamente, esses indivíduos “livres” se unem em grupos e esses grupos se unem em movimentos populistas antidemocráticos, mas teoricamente em defesa das nossas liberdades ameaçadas pelo Comunismo. Mas como isso funciona? Como as pessoas tão diferentes deixam de lado a realidade e embarcam em narrativas ficcionais sobre um perigo comunista quando o Capitalismo está cada vez mais forte?

Medos Coletivos

Patrícia Ferreira, partindo de um ponto-de-vista psicanalítico, define os movimentos populistas como um processo de articulação de diversas insatisfações populares em “identificações e identidades”. Por conta disso, necessitam obrigatoriamente de um “denominador comum” capaz de gerar uma “identidade popular” e manter uma equivalência das diferenças dos indivíduos e grupos heterogêneos que participam desses movimentos. Se uma ideia ou pessoa consegue aglutinar e “articular as demandas populares”, passa a ser um “significante populista” capaz de manter a união do movimento condensando os interesses diversos e variados e criando uma identidade popular, muitas vezes chamada pelos líderes populistas de “povo” – o “nós” da guerra contra “eles”, que seriam a elite governante e responsável pela crise. Sendo assim, enquanto o líder mantiver um discurso que agrade a base, enquanto continuar convencendo que é relevante nessa guerra do “povo” contra a “elite”, ele receberá apoio popular[12].

Esse discurso do líder populista – para ser o mais aglutinador possível e dar conta da variedade de demandas particulares que precisam ser transformadas em coletivas – não pode ter um conteúdo definido. De acordo com Doménico Uhng Hur, só assim, sendo vazio, o discurso populista consegue funcionar para sujeitos diferentes, pois seus buracos são preenchidos pelos desejos e expectativas dos indivíduos que escutam. Para funcionar no interior dessa heterogeneidade de demandas e identidades e formar uma “identidade popular”, o discurso populista necessita ser “impreciso e flutuante”, mantendo-se “vago” para agradar o maior número de “atores sociais”. Apesar de seu caráter difuso, o discurso populista sempre  aproveita contextos de crise e por isso se apresenta como antissistema e ataca as “elites governantes corruptas” e inimigas do “povo”. Prometendo mudanças, consegue transformar o “potencial de contestação” popular em “processo de massa de contestação” em torno de um líder carismático que derrotará o inimigo, ou seja, todos que não seguirem o movimento. Normalmente o líder populista utiliza “mecanismos de nostalgia” como ferramenta de “persuasão da população”, falando em momentos passados idealizados que seriam melhores do que hoje, pois haveria uma “unidade nacional perdida”. Desse modo, o “coletivo populista” se fortalece a partir do desejo, sendo um local onde se “desencadeiam emoções” nos participantes e que funciona como um tipo de “sonho”, uma “fantasia inconsciente”. A realidade interna do movimento não precisa ter fundamentação na realidade externa e cria-se uma “configuração imaginária do grupo” que passa a se enxergar como “utopia”. O Populismo pode ser analisado a partir desse “processo de ilusão grupal” com indivíduos insatisfeitos reunidos em uma “fantasia coletiva de transformação”, desejando a mudança pela mudança e seguindo um discurso impreciso, mas com enunciados que proporcionam a sensação de defesa contra a crise e a ansiedade. Seria uma “catarse coletiva” em volta do desejo de mudar, todavia é apenas “retórica de transformação fictícia” e muitas vezes torna-se um organizador do Neoliberalismo, pois ao alcançar o poder impede a mudança real do sistema que dizia contestar, servindo apenas como outro elemento de defesa do Capitalismo[13].

Bem, o Populismo não pode ser conceituado ou definido a priori como bom ou ruim, pois ele é um movimento de reação, um período de contestação popular quando as instituições não conseguem dar respostas decentes às insatisfações da sociedade. Sua origem é totalmente justificável e até bem vinda, pois representa um momento de crescimento das justas demandas populares contra um sistema político-econômico desigual e gerador de pobreza. Por conta dessa fluidez, seu destino depende do contexto local e das relações de forças dos integrantes do movimento e do sistema onde o fenômeno populista acontece. Entretanto o Populismo sempre necessita de um ponto em comum servindo como cola entre os participantes e de um líder utilizando discursos vazios para manter a união dessas personagens heterogêneas em volta de um consenso, de uma pauta (que não precisa ser real!). Nas sociedades ocidentais, por conta da influência da mídia tradicional, um ponto comum extremamente forte é o medo de perder a liberdade em um avanço do Estado de Esquerda, que se reflete no anticomunismo, cola utilizada pelos populistas de Direita. Apesar de sua origem contestatória e neutra, o fenômeno populista desenvolve-se no interior desse senso comum carregado de medo e ódio aos esquerdistas e paixão ilusória pelo Capitalismo. Radicalizando o discurso midiático, o Populismo de Direita cresce ao afirmar defender a liberdade do povo trabalhador dos perigos comunistas, dessa elite governante de esquerda e corrupta que deseja destruir o Capitalismo libertário. Faz isso a partir de um discurso vazio e sem prometer mudanças no sistema econômico. Sua função é derrotar o inimigo esquerdista que está dominando o mundo.

Não obstante sua suposta isenção de lado na origem, a maioria dos exemplos de líderes e governos considerados populistas pertence à extrema Direita autoritária e aparentemente isso é reflexo das próprias democracias nas quais eles surgem. Afinal, além do clima de crise e insatisfação, o Populismo de Direita cresce nesse terreno previamente arado e adubado pela linguagem populista e anti-esquerda da mídia tradicional, posteriormente potencializada nas redes sociais. Nesse mundo midiático, o Capitalismo é ótimo e o problema está na corrupção do Estado, no avanço dos ideais esquerdistas e na falta de liberdade, predominando um clima de vale-tudo contra o inimigo que deve ser exterminado – pouco importando se tal inimigo realmente existe ou se está na base dos problemas que causaram as insatisfações populares. Tanto a mídia tradicional quanto diversos pensadores sempre deram um jeito de isentar o sistema econômico e suas desigualdades nesse processo de deterioração das democracias, deixando de lado o crescimento da pobreza e da concentração de renda, como se isso não gerasse insatisfação entre os cidadãos e não proporcionasse sua migração a movimentos populistas autoritários de Direita. Para defender o Capitalismo, a mídia tradicional abusou das explicações fáceis, preparando o contexto para o discurso vazio do Populismo de Direita, marcadamente anticomunista, se espalhar pela internet. Isso é essencial para compreender o surgimento e fortalecimento do Populismo autoritário da Direita extrema, pois além da situação de crise e do clima de insatisfação popular, ele utiliza o medo do avanço da Esquerda, tão forte no senso comum, como a cola que mantém o movimento unido. Dessa maneira, apesar de se apresentar como antissistema, o Populismo da extrema Direita cresce radicalizando a ideologia capitalista, ou seja, não enfrenta o Capitalismo, mas o fortalece o sistema econômico a partir da defesa das liberdades.

Baseado nessa paranoia contra a Esquerda e o Comunismo e defendendo o sistema capitalista e suas supostas liberdades ameaçadas, o discurso vazio dos líderes populistas de Direita é uma radicalização da ideologia capitalista e funciona potencializando a catarse coletiva anticomunista, principalmente nas redes sociais. O populismo de Direita – mesmo se apresentando como contrário ao establishment – é a radicalização do Capitalismo e por conta disso teve espaço e contexto para se desenvolver entre a mídia hegemônica e as elites econômicas e políticas, servindo como um aliado do sistema.

No caso do Brasil a situação parece ainda mais complicada, pois essa aversão à Esquerda e o anticomunismo foram e continuam sendo radicalmente intensos e constantemente incentivados pela mídia tradicional e por líderes políticos e religiosos. Além disso, no Brasil, o inimigo tem rosto e o anti-esquerdismo virou antipetismo. Aqui, o medo de um Estado comunista petista totalitário é algo extremamente forte no senso comum e nossa mídia tem muita culpa nessa paranoia usada pelo discurso populista de Direita. Piorando a situação, existe no Brasil um conservadorismo intenso, histórico e potencializado pelas mídias cristãs, cada vez mais fortes, mas também pela mídia tradicional quando necessário. Escondendo as contradições sociais oriundas do Capitalismo nacional e apelando ao medo da população, os formadores de opinião sempre manipularam o discurso anticorrupção e as questões morais na batalha contra a Esquerda e abriram espaço aos populistas da extrema Direita. Mais que isso, já passamos da metade de 2022 e grande parte dos meios de comunicação continua agindo da mesma forma irresponsável e evitando qualquer pauta que favoreça o discurso de Esquerda e anticapitalista. Todavia as mídias tradicionais e religiosas não passam de porta-vozes de uma elite pouco apegada aos princípios democráticos e que não pensou duas vezes antes de embarcar em uma aventura autoritária para evitar o retorno do PT ao poder. 

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Populismo no Brasil

O professor Felipe Calabrez, em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos, puxando essa discussão à realidade brasileira, acompanha Mouffe na crítica ao Neoliberalismo, que com sua desigualdade e concentração de renda abriu espaço a contestações populares contra os “poderosos”, contra os políticos e os partidos, vistos como defensores de um sistema econômico que não responde às demandas populares. Esse abandono da busca por melhores condições de vida à maioria da população gerou insatisfação e uma “energia contestatória”, deixando um vazio ocupado por populistas de extrema Direita que souberam utilizar as “paixões” e cooptar os indivíduos indignados com o sistema. Para ele, no Brasil houve praticamente o mesmo modelo: apesar de todas as contradições, o governo petista melhorou as condições de vida de algumas parcelas da sociedade e isso gerou um sentimento de “querer mais”, que explodiu em 2013 em um movimento totalmente heterogêneo – com demandas democráticas e outras de traços fascistas. Essa bomba estourou no colo do PT, cada vez mais parecido com os outros partidos e organizações neoliberais, sendo encarado como parte do sistema corrupto e elitista que estava sendo contestado. Por uma série de razões, o ódio antissistema virou um antipetismo e a Direita soube explorar isso politicamente a partir do conservadorismo e das pautas morais, unindo-se aos setores evangélicos. Apesar de reconhecer que no Brasil o termo populismo ainda é tratado de forma pejorativa, como se todos os populismos fossem igualmente autoritários e antidemocráticos, Calabrez também afirma que existem muitas diferenças entre o Populismo da extrema Direita (autoritário) e o Populismo de Esquerda (pluralista e democrático). Segundo o autor, Bolsonaro é um populista autoritário de Direita que conseguiu canalizar as diversas insatisfações populares. O desafio da Esquerda é fazer o mesmo, mas dentro de um modelo democrático e inclusivo, organizando um discurso que faça sentido a esses sujeitos insatisfeitos e que defenda o pluralismo de ideias e demandas. Além de compreender que as pessoas operam mentalmente no interior de uma “subjetividade neoliberal”, devemos considerar a existência de um intenso conservadorismo com traços de autoritarismo na sociedade brasileira. A esquerda necessita entender que as pessoas são levadas pela paixão[14].

Marco Antônio Perruso tem uma visão mais crítica sobre o governo petista e o Populismo, pois o PT teria trocado a defesa da “classe trabalhadora” pelo conceito de “povo”, transformando-se em um governo populista que escondia os antagonismos de classe através de uma política de conciliação. Todas as melhorias trazidas pelo PT teriam sido resultados de lutas sociais dos anos 70 e 80, entretanto o modelo populista do lulismo colocou esses avanços em risco e ainda permitiu a chegada do Temer ao poder. Quando escolheu seguir a política de conciliação e ignorar os antagonismos sociais, o governo paralisou e virou alvo fácil dos conservadores. Em 2013, as insatisfações levaram diversos movimentos para a rua e a extrema Direita soube cooptar esses sujeitos. Dessa forma, os populares abandonaram o populismo do lulismo e escolheram Bolsonaro como o novo líder. A esquerda deveria manter seus programas políticos “ancorados” nas demandas populares, conversando com as lutas dos “de baixo” e com o sindicalismo, mas entendendo como funciona a dominação capitalista e neoliberal sobre esses setores. Diferente de Mouffe, Laclau e Calabrez, que apostam no Populismo de Esquerda para radicalizar a Democracia, Perruso critica essa ideia porque em movimentos populistas o conceito de classe é substituído pelo de “povo” e desse modo nunca seria possível superar o Neoliberalismo. O Populismo de Esquerda poderia no máximo levar o país novamente ao lulismo de conciliação[15].

Concordo que o governo petista foi de conciliação e não ultrapassou o Neoliberalismo, mas também acredito na melhoria de vida ocorrida em certos setores da população durante algum tempo e como isso gerou esse sentimento de “querer mais”. O modelo petista, além de não enfrentar o Capital, também não conseguiu manter um ritmo de melhora constante e de certo modo permitiu uma intensificação do Capitalismo brasileiro, aumentando o clima de insatisfação popular. É perfeitamente possível concordar que uma justa indignação dos populares teria explodido em 2013, mas isso não explica por qual motivo essa revolta resultou no fortalecimento de um movimento populista de Direita extrema e contrário aos princípios democráticos. Para compreendermos isso, não podemos deixar fora da balança dois elementos essenciais: o anticomunismo midiático e o conservadorismo do Capitalismo brasileiro.

Assim como aconteceu no exterior, aqui no Brasil, o Populismo autoritário de Direita também contou com a mídia tradicional e seu discurso simplificado e descontextualizado, que esconde os antagonismos sociais para defender o Capitalismo acima de qualquer interesse. Fundamentando sua narrativa no medo, na ameaça às liberdades, e incentivando o sentimento de guerra e ódio contra uma elite política corrupta (PT, Esquerda e amigos) que impedia o desenvolvimento do Neoliberalismo supostamente libertário, a mídia tradicional nunca viu problema em flertar com mentiras e Fake News. Já utilizava esse método antes do governo petista, mas radicalizou ainda mais após 2003, explorando sem um mínimo de vergonha mentiras como o Brasil estar virando uma Ditadura comunista ou uma Cuba ou uma Venezuela. Qualquer movimento ou comentário sobre regulamentação econômica sempre foi tratado como uma séria ameaça comunista e autoritária às nossas liberdades. Dessa maneira, abusando do medo e criando um falso avanço do Comunismo, a mídia tradicional brasileira, antes do YouTube ou WhatsApp, mesmo antes do PT, preparou um terreno anti-esquerda usado para plantar e germinar o Populismo de extrema Direita e autoritário. Segundo Eduardo Migowski, essa manipulação midiática, ainda tão forte na atualidade, se fortaleceu durante a Ditadura Militar, quando empresários se uniram aos ditadores na criação da propaganda anticomunista, e continua sendo utilizada pela Direita brasileira, inclusive por jovens liberais como os integrantes do “Brasil Paralelo” e do “MBL”[16], que não hesitaram antes de apoiarem a Direita extrema na luta contra o Comunismo.

Capitalismo Brasileiro

O Liberalismo brasileiro sempre foi conservador, autoritário e misturou interesses privados com o governo. Em “Liberalismo à Brasileira: do Conservadorismo ao Militarismo”, Gabriel de Aguiar Tajra afirma que o Liberalismo nacional, desde a Independência do Brasil, foi limitado pelo conservadorismo e pela “institucionalização dos interesses das elites à máquina estatal”. Mesmo após a República, o pensamento Liberal ficou apenas no discurso e o poder permaneceu com as elites. Segundo o autor, o Liberalismo no Brasil é conservador, contrário aos direitos individuais, privatizante, antitrabalhista e militarista[17].

Ideia parecida tem Lincoln Secco, que em “Anticomunismo Preventivo” mostra como lá no século XIX, antes mesmo de qualquer movimento comunista no Brasil, já existia o anticomunismo entre nossas elites política e econômica. Os ataques a supostos comunistas eram realizados para barrar qualquer proposta de caráter social ou que defendesse os mais pobres. Até os abolicionistas eram chamados de comunistas. Esse anticomunismo histórico, a partir de deturpações sobre a teoria comunista, criou “um inimigo no espaço público” que é utilizado até hoje pela imprensa e pela Direita tradicional, que sem conseguir se eleger pelas urnas, decidiu apoiar extremistas e radicais[18]

Fábio Mascaro Querido segue a mesma linha ao dizer que o Liberalismo nasceu no Brasil no século XIX adaptando o pensamento Liberal à realidade brasileira: conservadora, escravista e autoritária. Para o autor, isso não mudou no século XX e nem nesse começo do século XXI e o pensamento Liberal permanece atrelado a ideias antidemocráticas e contrárias à incorporação das massas ao processo político. Segundo ele, aqui os Liberais, em nome do antipetismo, se unem à “animosidade fascista” para se apresentarem como novidade, como libertadores lutando contra a “opressão lulo-petista” geradora de caos e desordem. Seriam guerreiros evitando o bolivarianismo ou, beirando ao ridículo, o comunismo[19].

Por ignorarem o que realmente é o Liberalismo, afirma Leonardo Avritzer, os Liberais brasileiros (elites, economistas e mídia) continuam apresentando o PT como se fosse Esquerda radical e antiliberal. Isso é resultado da nossa História, na qual elite e militares sempre se acharam acima da soberania popular e nunca se adaptaram ao pensamento democrático. Desse modo, os liberais acham que Liberalismo é única e exclusivamente a defesa da propriedade privada com Estado mínimo. Para defenderem isso, se aliam à Direita Extrema[20].

Foi no interior desse Liberalismo conservador e autoritário que a mídia nacional se desenvolveu e ajudou a moldar o senso comum carregado de anticomunismo, de medo da Esquerda e de crença na liberdade capitalista. Mais que isso, o discurso midiático ajudou a preparar o terreno punitivista e autoritário, esse vale-tudo no qual o Populismo de Direita extrema surgiu e se fortaleceu no Brasil. 

Pensamento Único

Para João Vitor dos Santos, “a pluralidade da mídia” seria essencial para o fortalecimento da Democracia, pois a “diversidade e o confronto” de opiniões permitem a população enxergar seus governantes de forma mais completa, além de possibilitarem que as pessoas exijam “a realização de suas demandas”. Infelizmente isso não ocorre no Brasil, onde a regra nos meios de comunicação é a concentração. Nosso país é um dos com menos diversidade, pois aqui a mídia é altamente concentrada e mais da metade dos 50 principais veículos está nas mãos de apenas 5 grupos, entre eles um canal evangélico. Uma “elite socioeconômica” do sul e do sudeste, formada por homens brancos, controla a informação no país, atrelando “seus interesses econômicos, políticos e religioso” na programação de suas mídias, apresentando uma visão conservadora do Brasil e muito distante de sua pluralidade[21].  

Thiago Brito aponta como desde a década de 90, programas televisivos “pseudojornalísticos e sensacionalistas, de notícias policiais” estão fortalecendo o clima de ódio no país a partir do punitivismo e dando voz a “demandas e anseios conservadores e autoritários”. Desse modo, ajudam a criar no “inconsciente coletivo” a figura do inimigo sobre os pobres, negros, homossexuais, nordestinos e a periferia em geral. A solução oferecida é sempre mais e mais violência, redução da maioridade penal e mais prisões. Propagam “ódio e violência” como se isso resolvesse os problemas de Segurança Pública e fazem isso usando o nome de Deus, sem nunca dar espaço para especialistas no assunto ou para o contraditório, pois utilizam um discurso vazio e mentiroso[22]. Sobre esse punitivismo midiático, Felipe Haigert Simi acusa a mídia de criar uma “realidade paralela” e manipular a sensação de insegurança e o medo dos cidadãos. Como solução, o discurso midiático “extremamente punitivista” defende maior rigor penal, mais repressão e maior severidade das leis. Os meios de comunicação oferecem essa “solução mágica” para defenderem reduções das “garantias fundamentais do transgressor”[23].

No Brasil, potencializando o discurso anticomunista e punitivista da mídia neoliberal, também existe uma forte presença cristã nos meios de comunicação. Desse modo, o anticomunismo como arma contra a Esquerda foi radicalizado nas mídias religiosas, apoiadoras dos ataques ao governo Dilma e ao Lula (supostamente corruptos e imorais). As mídias cristãs já representam quase 20% dos 50 maiores veículos de comunicação do país e além da pauta sobre corrupção, ainda utilizam os temas morais para atacar comunistas, esquerdistas e petistas. Como afirma Olívia Bandeira, defendendo os “valores cristãos” e a “família tradicional”, as mídias cristãs são contrárias ao homossexualismo e ao aborto, exigem isenção de impostos e acreditam na necessidade de escolas religiosas[24].

Marcelo Natividade, em entrevista à revista Cronos, expõem alguns resultados de seu estudo sobre “populismo e fundamentalismo” e comenta sobre a ascensão de Bolsonaro, um “cristão” de “extrema direita” cada vez mais apoiado por igrejas, mídias e lideranças evangélicas. Nessa “guerra cultural” os rivais são taxados de comunistas, esquerdistas e petistas que estariam impondo um “marxismo cultural” “imoral” e “a favor da corrupção”. O “inimigo imaginário” que precisa ser exterminado é necessário para manter a união do movimento e seus discursos contrários aos direitos das minorias. É uma estratégia utilizada há décadas, mas que se espalhou rapidamente com a internet, potencializada pelo “pânico moral” mentiroso de que direitos das minorias representam um perigo à Democracia. Natividade afirma que “essa relação foi forjada e intensificada nos protestos de 2013 e no golpe que afastou a Presidenta Dilma”. Ele destaca os “componentes ideológicos” do impeachment, Deus, “família” e “nação”, e das eleições, “contra o comunismo, o lulopetismo, as esquerdas, contra ideologia de gênero, a favor das armas”[25].

Servindo aos interesses desse Liberalismo brasileiro, conservador e autoritário, a mídia tradicional sempre manipulou o senso comum contra os ideais esquerdistas a partir da deturpação dos conceitos de Comunismo e Liberalismo e da ilusão de uma liberdade que somente o Capitalismo poderia oferecer. Isentando o sistema econômico, a corrupção era apresentada como única causa das desigualdades sociais e da falta de oportunidades. Após 2003, com o governo petista, esse anticomunismo e anti-esquerdismo ganhou um rosto e se concretizou como o antipetismo. Nos meios de comunicação cristãos e também na mídia tradicional, as pautas morais avançaram sobre a política. Com o crescimento da internet no Brasil, a narrativa pela defesa do moralismo, da liberdade e contra a corrupção se fortaleceu de maneira extremamente rápida, assim como o antipetismo e o anticomunismo, com teorias de conspiração e Fake News contrárias ao pensamento científico.  

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Antipetismo Midiático

Em sua tese de Mestrado, Eduardo Nunomura comparou o comportamento da Folha de São Paulo e da Veja durante o Mensalão. Para ele, tanto um quanto o outro usaram e abusaram daquilo que o autor chama de “Denunciação Antecipada”. A revista Veja, segundo o pesquisador, desde 2005 já se posicionou contrária ao governo petista, “chegando abdicar de sua subjetividade” para colocar toda a culpa sobre os ombros do presidente Lula, mesmo sem nenhuma prova do seu envolvimento[26]. Também analisando o comportamento da mídia durante o processo do Mensalão, Lemos e Barros – após problematizarem como os meios de comunicação funcionam de forma geral – apontam a manipulação da emoção pelo “pânico moral” na exigência de uma Justiça dura e rápida contra os políticos petistas considerados corruptos antes mesmo do final do processo. O tipo de cobertura escolhido foi uma “sequência de manobras retóricas” acentuando o caráter coletivo do dano de uma Justiça que não funcione ou de um processo que se arraste por anos. Essa estratégia da mídia “alimentou expectativas de renovação política” e não poupou o uso do “tom dramático, com nuances de jogo, emoção e suspense”. Segundo o autor, “as revistas semanais imprimiram um tom ainda mais sensacionalista”. A causa para a deterioração democrática era a corrupção (do PT) e precisava ser punida com “agilidade dos julgamentos” e “imediata prisão dos culpados”. Apesar das acusações sobre a corrupção política ser o problema da Democracia e mesmo se colocando como “defensora dos valores republicanos”, a mídia brasileira atuou dentro da ideologia de que a opinião pública pode ser conquistada “pela adesão simbólica às causas” bem defendidas[27], pouco importando sua relação com a realidade.

Outro exemplo essencial para compreender até onde a mídia liberal vai para defender o Capital, foi o seu comportamento nas eleições de 2010 a respeito da questão do aborto. Naara Luna analisou o discurso midiático da época e mostrou como o aumento da frequência do assunto nos meios de comunicação, além de não gerar um “debate sobre o problema do aborto na sociedade”, ainda foi usado para atacar candidatos durante a campanha presidencial e contou com forte presença da Igreja Católica. Essa “dinâmica de acusações” atingiu principalmente o PT e a candidata Dilma Rousseff, deixando claro como o tema alterava os votos dos “eleitores religiosos”. Isso forçou o partido a agir para combater boatos vinculando o PT e a Dilma ao aborto. No segundo turno a pressão aumentou mais ainda por conta do voto evangélico, obrigando a candidata petista a publicar uma carta de compromisso com setores religiosos. Mesmo assim, a mídia continuou atacando, dizendo que o partido estaria afirmando isso somente por conta da pressão popular, mas frisando que anteriormente era defensor do aborto. Ao invés de tratar do tema a partir da noção de Saúde Pública, na tentativa de enfraquecer o PT, os meios de comunicação optaram por chamar religiosos da Igreja Católica para discutirem aborto, sempre pelo viés moralista, e não deram espaço aos especialistas. Uma novidade nas eleições de 2010 teria sido o “enfoque nos evangélicos”[28].

Em junho de 2013, novamente podemos observar a manipulação do senso comum pelos meios de comunicação. Fernando Antônio da C. Vieira, em “As Jornadas de Junho de 2013: o Olhar Midiático”, após analisar o poder que a mídia tem de formar consensos em “defesa da meritocracia, das desigualdades” e da educação não como direito, mas sim mercadoria, avalia o discurso da imprensa nacional, principalmente dos “grandes conglomerados”, sobre as manifestações de 2013. Segundo ele, primeiro a mídia ignorou as manifestações a favor do passe livre no transporte público. Após o aumento da violência, principalmente da polícia, os meios de comunicação deram mais atenção aos acontecimentos, mas sempre mostrando as manifestações de forma negativa e relativizando a violência policial. No dia 17, houve uma manifestação gigantesca e a mídia começou a “construir uma nova pauta para o movimento” alterando o tema da Tarifa Zero para um viés moralista de combate à corrupção e pela prisão dos envolvidos no Mensalão. Houve uma despolitização das manifestações com a narrativa do “caráter apartidário” das pessoas, escondendo os movimentos de Esquerda e dando um tom nacionalista e moralista aos protestos. Pouco a pouco, os manifestantes originais e as organizações esquerdistas saíram de cena por conta do aumento da violência e isso abriu espaço “para uma onda conservadora”[29]. Daniel Pinha Silva defende que a origem do movimento foi legítima e motivada por demandas reais e buscando ampliar a participação popular e melhorar a Democracia brasileira. Entretanto a falta de lideranças e a multiplicidade de pautas deixou espaço para apropriações das manifestações. Isso teria ocorrido com a manipulação do discurso pelos meios de comunicação, que passaram a atacar o governo tornando-se porta-voz da pauta do combate à corrupção, tema muito importante na “cultura política liberal conservadora” e no “imaginário político brasileiro”[30]

Outro fator importantíssimo é o avanço da internet no Brasil entre 2010 e 2014. Naquele período, o número de usuários brasileiros no Facebook cresceu de 6 milhões para 89 milhões, assim como acesso à internet via smartphones, que subiu de 4% da população para 31%, ou 52,5 milhões de pessoas. Tudo isso alterou os hábitos das pessoas e políticos, que passaram a usar as redes sociais com maior frequência e perderam o pudor ao atacar seus adversários ou críticos, extremando a polarização e o fortalecimento de bolhas digitais. Rafael Barifouse, em outubro de 2014, afirmava que as eleições seriam “as mais emocionantes da história recente” do país. Em seu artigo para a BBC, ele entrevistou o diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, o senhor Carlos Afonso Pereira de Souza, sobre esses novos comportamentos do eleitor e de políticos brasileiros. Segundo o entrevistado, aquela era apenas a primeira eleição com uso intensivo da internet e provavelmente a violência diminuiria nas próximas eleições.[31] Infelizmente isso não aconteceu. Pelo contrário, com o aumento do uso da internet e das redes sociais, associado aos algoritmos, robôs e às bolhas digitais, a violência e os extremismos só cresceram de lá para cá, assim como o conservadorismo, o punitivismo, o anticomunismo e o antipetismo, principalmente com o lavajatismo. 

Chicario, Ronderos e Segurado realizaram uma análise da revista Veja no processo de impeachment da presidenta Dilma. Segundo eles, desde o fim da Ditadura Militar, a revista adotou o discurso único de defesa do Neoliberalismo a partir de um movimento constante de “degradação institucional”. Durante a crise do governo Dilma, a Veja apoiou o PSDB e defendia como solução a saída da Presidenta e o fim de seu governo “corrupto” e “populista”. Ao mesmo tempo, dava espaço para o “MBL” e “Vem Pra Rua”. Sempre pautando a corrupção petista como o maior mal de todos, a revista potencializou o clima de “nós contra eles”, onde o “nós” seria o “povo” prejudicado pela corrupção do “eles”, ou seja, pela corrupção do governo populista e antidemocrático do PT[32].

Durante a operação Lava Jato (e até hoje, mesmo após o The Intercept expor na Vaza Jato como atropelaram “regras constitucionais e processuais em nome [do] bem maior”), a mídia tradicional continuou agindo como parte julgadora, não apenas manipulando as informações e aproveitando de vazamentos ilegais, mas também validando as ações e atitudes antidemocráticas do lavajatismo. Na conclusão de Diego Yasuda Rodrigues de Oliveira, a cumplicidade midiática aos desmandos da operação sediada em Curitiba tem apenas uma explicação: “sedenta que estava em seu objetivo de acabar com o PT, com Lula e, principalmente, impedir a vitória do partido nas urnas”, a grande mídia transformou um juiz em herói. Se o Brasil fosse um “país sério, o tal juiz teria sido afastado do caso, pra dizer o mínimo”[33].

Sobre esse antipetismo midiático, Francisco Fernandes Ladeira analisa o comportamento da mídia e desde 2011 escreve a respeito no Observatório da Imprensa, evidenciando como os meios de comunicação atacavam mais o PT, o Lula e a Dilma do que outros atores políticos. Citando Antônio Gramsci, ele afirma que os “principais grupos de comunicação” do país viraram “uma espécie de partido político das forças conservadoras” afetando negativamente a Democracia. Ele chama a atenção à pesquisa de João Feres Junior, cientista político da UERJ, intitulada “Cerco Midiático: o Lugar da Esquerda na ‘Esfera Pública’”, na qual o pesquisador analisa as publicações dos três maiores jornais do Brasil entre 2014 e 2020 e mostra como Dilma recebeu um tratamento bastante crítico, enquanto Temer e Bolsonaro foram poupados até em momentos de crise. Desde as eleições de 2014, passando pelo impeachment e chegando em 2018, os jornais pesquisados, além de atacarem o PT, ainda colocaram Lula e Bolsonaro como igualmente ruins à Democracia[34], como se fossem dois lados da mesma moeda autoritária.

Foi nesse Capitalismo nacional conservador e autoritário, com um antipetismo exacerbado pelos meios de comunicação e com aumento intensivo do uso da internet, que surgiu o bolsonarismo. Jair Bolsonaro se apresentou como antissistema, mas não contra o sistema econômico e sim contra um fictício sistema dominado pelo Comunismo corrupto do PT. Como veremos a seguir, nas manifestações contra a Dilma, metade acreditava na ameaça comunista. Quase dez anos depois, essa situação permanece, principalmente entre os eleitores de Bolsonaro. Pesquisa do Datafolha de dezembro de 2021 mostra que 40% dos brasileiros acreditavam que o Comunismo poderia dominar o Brasil agora em 2022. Entre os eleitores do Bolsonaro o índice chega aos 60%[35]. No meio dessa paranóia, ele seria um defensor do povo trabalhador e de bem contra a elite petista comunista corrupta e imoral. Seguindo aquele padrão de utilizar discursos vazios para agrupar pessoas e movimentos heterogêneos em torno de um líder, Bolsonaro contou com o antipetismo do senso comum como uma cola para manter a união de seus apoiadores e atrair inclusive indivíduos que se dizem liberais. O bolsonarismo não inventou nada, apenas usou um terreno que já estava arado pelos meios de comunicação e potencializado pela internet. Após seu sucesso digital, ele foi fortalecido pelo apoio de uma parte da elite e de grupos de Direita antipetistas e anticomunistas. Se não fosse o clima de vale tudo contra o PT, criado pela mídia brasileira para evitar qualquer avanço social ou de direitos, e o pouco apreço à Democracia por parte da elite nacional, dificilmente Bolsonaro teria tido tanto sucesso. Talvez nem saísse de sua bolha digital, mas no jogo contra o PT e contra o Lula valia tudo, até mesmo passar por cima da Constituição e dos princípios democráticos. Afinal, melhor isso do que ver o Comunismo dominar o Brasil.       

Bolsonarismo

O movimento populista de extrema Direita no Brasil, que chamamos de bolsonarismo, surgiu e se desenvolveu em um momento de insatisfação popular no contexto de crise econômica durante o governo do PT. Mas esse Populismo nacional e autoritário aproveitou o clima punitivista de guerra contra o Comunismo, contra a Esquerda (e depois contra o governo petista) e a favor do Neoliberalismo, mantido pela mídia tradicional há décadas. Ou seja, o sentimento de revolta cooptado pelo Populismo de extrema Direita no Brasil não foi um sentimento contra o sistema econômico ou a elite capitalista, não era contra a “Sociedade do Cansaço”, mas sim contra uma elite comunista/esquerdista/petista ameaçando as supostas liberdades proporcionadas pelo Neoliberalismo. Antes do surgimento desse populismo bolsonarista, já havia uma velha cola unindo pessoas e grupos heterogêneos no Brasil: o anticomunismo, que se potencializou como antipetismo e ficou muito mais forte com o lavajatismo, virando um sentimento antissistema. Por outro lado, nas mídias evangélicas, essa mesma aversão à Esquerda também era politizada, mas a partir de pautas morais, todavia continuando com o discurso focado nas liberdades: liberdade do cristão poder criar seus filhos sem a influência maligna dos esquerdistas abortistas, defensores do homossexualismo e usuários de drogas; liberdade de defenderem a família tradicional como o único modelo correto e aceito por Deus; liberdade de aplicarem a “cura gay” em seus filhos e filhas e negarem vacinas; entre outros. Tudo isso acabou potencializado pela internet e pelas redes sociais.

Esse sentimento de ódio à Esquerda, ao PT, ao Estado, foi ainda mais explorado pela mídia tanto no processo de impeachment da Dilma, quanto na Lava Jato, potencializando o medo do retorno dos petistas corruptos e imorais ao poder, pois esses seriam defensores de um Estado opressor e destruidor das liberdades individuais e das liberdades de ser cristão. Mesmo antes da ascensão de Bolsonaro, existiam diversos grupos diferentes reunidos em torno do lavajatismo, exigindo Justiça contra os “Petralhas” corruptos e inimigos da família e dos bons costumes. Não me parece que o Bolsonaro uniu o movimento em torno desse discurso anticomunista, mas sim que esse discurso anticomunista, antipetista, punitivista, conservador e moralista uniu pessoas e grupos diferentes e que eles acabaram permitindo o destacamento do Bolsonaro. Mas ele não era essencial e poderia ter sido qualquer outro que correspondesse aos desejos desses grupos que se sentiam ameaçados pelo retorno da Esquerda imoral e corrupta e do bandido Lula ao poder. Provavelmente seu grande diferencial foi o uso da internet, o que permitiu uma popularização do deputado Bolsonaro principalmente após 2014, quando seu número de seguidores passou a crescer com intensidade e ele foi eleito com recorde de votos.

Como vimos, o discurso populista deve ser vazio e o menos definido possível para agradar o maior número de grupos e indivíduos. Talvez Bolsonaro tenha sido o que uniu mais elementos desconexos em suas falas vazias, atingindo assim um agrupamento maior de pessoas. Entretanto, sem o apoio das poderosas elites, líderes evangélicos e outros grupos de Direita, ele não teria ido tão longe. De acordo com o cientista político Rudá Ricci, muitas das ideias liberais de hoje foram formadas na década de 80 e de lá para cá, a partir de fundações empresariais, elas foram se fortalecendo. Merecem destaque o IED, o MBC e o LIDE de Dória. Essas organizações serviram de base para as elites econômicas capturarem o Estado na defesa de seus interesses. Desta vertente, surgiu outra de jovens liberais e ThinK Thanks como o MBL. Além disso, ainda existe uma articulação internacional e o alto empresariado brasileiro patrocinando esses grupos, bem como o apoio da mídia nacional[36]. Essas personagens se fortaleceram muito mais desde 2013, principalmente nos protestos contra a Dilma e com a Lava Jato e foram essenciais ao avanço do bolsonarismo, inclusive na internet.

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Como mostra um artigo do El País, Bolsonaro estreou sua página no Facebook quando o país pegava fogo com as manifestações de 2013 e sua primeira postagem obteve apenas 70 curtidas. Na mesma época, grupos de Direita também passaram a utilizar mais as redes sociais, como o “MBL [que] empreendeu uma guerra cultural em sintonia com os evangélicos e Bolsonaro”[37]. Antes de 2014, Bolsonaro teve apenas dois picos de procura de seu nome na internet: 2008, quando agrediu verbalmente a deputada Maria do Rosário, dizendo que não a estupraria porque ela não merecia; 2011, no CQC, quando respondeu a Preta Gil dizendo que não teria um nora negra, pois seus filhos eram bem criados. Mas foi em “Em 2014, envolvido nos atos capitaneados por MBL, Vem para a Rua e Revoltados Online, [que] Bolsonaro conquistou a simpatia da classe média” e passou a ganhar mais seguidores “concatenando o discurso conservador com uma crítica ferrenha ao projeto petista”. Por conta disso, em 2015 e 2016, seu nome já aparecia como um possível candidato a presidente nas buscas da internet[38].

Esther Solano, cientista social e professora da UNIFESP, analisa a escalada conservadora no Brasil. Segundo ela, grande parte da população é conservadora, punitivista e preconceituosa e 2013 teria sido uma “Catarse coletiva”. Em paralelo surgiu a Lava-Jato e o sistema político passou a ser visto como podre. O antipetismo virou um antissistema, um sentimento contra a política em geral, pois todos os políticos seriam corruptos. Isso abriu espaço para quem se apresentava como outsiders, como Dória e Bolsonaro, e o MBL, que também deixou o discurso liberal de lado e aderiu às pautas morais e punitivistas, se comunicando com a sociedade. Sem o campo progressista para defender a Democracia, as Fake News não pararam de crescer, assim como os discursos de ódio. Para ter uma ideia do tamanho da desinformação, nos protestos contra a Dilma em 2015, mais da metade acreditava que o PT implantaria o comunismo[39].

Naquele ano, Flávia Marreiro comentou sobre essa união de empresários, outsiders, mídia e líderes anti-Dilma, muito visível em um evento do Grupo Lide, de João Dória, realizado na Bahia. A reunião contou com a participação de Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Cunha, entre outras personalidades políticas e artistas, como Bruna Lombardi e Ana Maria Braga, e uma extrema maioria de apoiadores do impeachment. Mas Marreiro chamou a atenção à importância dada a um dos líderes do Movimento Vem Pra Rua, que em seu discurso atacou até mesmo o Cunha e foi mais bem tratado que muitos políticos presentes, inclusive causando comentários entre os convidados[40].

A respeito dessa união de liberais com o Bolsonarismo, Camila Rocha afirma que Bolsonaro não é um Liberal e sim um “Libertário Reacionário”, pois defende a liberdade individual acima de tudo, mas essa liberdade só pode existir para um reduzido grupo de pessoas. Além disso, apesar de se apresentar como um nacionalista, seu nacionalismo se reduz a símbolos e ao discurso. Para ela, Bolsonaro surge como personagem política relevante em 2011 na luta contra o “Kit-Gay”, se destaca nas eleições de 2014 ao ser eleito com 4 vezes mais votos e fica muito forte nas manifestações contra a Dilma. Segundo Rocha, faltou trabalho de base da Esquerda e Bolsonaro cresceu nesse vácuo, mas também fortalecido pelo antipetismo, lavajatismo, pautas morais e pelo fundamentalismo religioso, além do ressentimento da classe média, majoritariamente Liberal[41].

O já citado Ladeira, mas em outro artigo, afirma que Bolsonaro contou com essa poderosa e “heterogênea aliança” formada por “militares, grandes capitalistas, mídia hegemônica, pastores neopentecostais e grupos extremistas”, pois era necessário derrotar o PT e garantir a agenda econômica de Paulo Guedes. Desse modo, a mídia nem mesmo definia Bolsonaro como extrema Direita. Mas atacava o PT como corrupto e afirmava que a corrupção só existia no Estado, potencializando assim o ódio ao sistema político e protegendo o “deus mercado”[42]. Marcia Tiburi segue uma linha parecida em “Demonização da Política”, denunciando como “os donos do poder econômico” possuem interesse em demonizar a politica para afastar os cidadãos do debate público. Fazem isso manipulando o discurso contra a corrupção, que seria política e principalmente petista, e destruindo os “limites constitucionais e legais” na luta contra a Esquerda, pois essas elites jamais retornariam ao poder pelo voto popular. A política é mostrada como o Mal e a economia como o Bem, como “a solução final”[43].  

Por conta disso tudo, Bolsonaro contou com o apoio do Liberalismo nacional, que é autoritário, conservador, anticomunista, antiesquerdista e antipetista. Ele passou a ser visto como um líder da Direita, um homem forte e fora do sistema, capaz de vencer as elites esquerdistas e corruptas, mesmo sendo político há muitos e muitos anos sem mostrar nada de novo. Nessa ascensão, o apoio da elite nacional foi essencial. Em fevereiro de 2016, o deputado Jair Bolsonaro conheceu o empresário paulista Meyer Nigri em um jantar – aparentemente promovido pelos filhos de ambos, que eram amigos de balada e desejavam que seus pais se conhecessem. Meyer Nigry já disse acreditar no predomínio da ideologia de uma esquerda minoritária dentro da comunidade judaica e sempre apoiou Alckmin e Aécio Neves ou qualquer um contra a Esquerda. No mesmo jantar, o deputado também conheceu Fábio Wajngarten, envolvido com instituições filantrópicas e íntimo do Elie Horn (um dos homens mais ricos do Brasil). Como mostra um artigo da Revista Piauí, “Desde então Wajngarten e Nigri têm se comunicado frequentemente com o presidenciável pelo meio de comunicação favorito de Bolsonaro, o WhatsApp, e pessoalmente. Os dois propiciaram encontros entre o pré-candidato e empresários da comunidade judaica e de outros credos”. Esse apoio, segundo Negri, foi porque o Brasil se tornou “um país socialista, impossível para os empresários” e “as leis trabalhistas, as cabeças dos procuradores, dos juízes, são pró-socialistas”[44].

Entre 2015 e 2017, o nome de Bolsonaro nas pesquisas de intenções de votos passou de 5% para 16% e ele contou com apoio de outros canais na internet, entre eles, MBL e Nando Moura: “Além das páginas do próprio deputado, outros canais nas redes também ajudaram a direita a chegar a mais jovens”. Desse modo, apesar do crescimento de Bolsonaro nas pesquisas e do apoio de parte da elite nacional, em 2017 a extrema maioria de seus eleitores permanecia formada por jovens de classe média, mais adeptos a discursos radicais como os do deputado e decepcionados com o governo petista.[45]. Naquele ano, Bolsonaro ainda era pré-candidato e começava a sair de sua bolha de 4 milhões de seguidores no Facebook, aparecendo constantemente em programas de televisão, frequentando jantares com “representantes da elite paulista e, pela primeira vez, disse ele, sentou-se numa mesa com banqueiros”. Toda essa exposição resultou em maior interesse em torno de seu nome, principalmente entre os homens ricos. Entretanto Bolsonaro ainda não tinha um plano econômico e isso seria um empecilho para se tornar o favorito da elite nacional. Apesar de ser visto como uma pessoa grosseira, “Ele está tentando moderar o discurso, que ainda é muito agressivo, para uma elite empresarial”, avaliava a cientista política Camila Rocha. Deixando evidente que não mudaria seu comportamento assim tão facilmente, pois contava com uma baixa rejeição, mesmo com seu discurso agressivo, ele estava confiante: acreditava “que a adesão do capital à sua causa [era] questão de tempo”. Segundo Bolsonaro, “Um [banqueiro] me perguntou se eu já tinha algum economista de nome comigo. O que que eu respondi? Por enquanto eu ainda não desperto confiança no sistema financeiro. Mas após duas conversas, eu tenho certeza de que esse pessoal vai se aliar a mim”[46]

Oito meses depois da reportagem acima, a partir da deputada federal Bia Kicis (que “despontou na esteira do movimento pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em vídeos na internet”) e do empresário Winston Ling, Bolsonaro conheceu Paulo Guedes em um jantar. Duas semanas depois teve uma reunião particular com seu futuro ministro[47]. Logo em seguida, ele assumiu publicamente estar conversando com Guedes, que foi procurado e confirmou os encontros com Bolsonaro[48]. No início de 2018, Guedes já era o coordenador econômico do pré-candidato Bolsonaro e concedeu uma entrevista de seis horas ao Valor Econômico, na qual prometeu privatizações e toda a cartilha Liberal caso Bolsonaro fosse eleito e ele se tornasse ministro da Economia[49]. No lançamento de sua candidatura, em julho, Bolsonaro fez questão de apresentar “uma aquisição que agradeço a Deus: o economista Paulo Guedes”, que foi aplaudido pelos presentes e fez um breve discurso. Desde aquele mês, como mostra uma extensa matéria da Piauí, Guedes promoveu diversos encontros entre Bolsonaro e representantes do mercado financeiro e também com grupos de mídia, inclusive a Globo. Paulo Guedes era um tipo de garantia que o governo Bolsonaro seria Liberal e privatizante, que faria as reformas econômicas tão desejadas pela elite financeira[50]

Mesmo com todo o apoio e contexto favorável, em agosto de 2018, Bolsonaro perdia nas pesquisas de intenção de voto para Lula (que já estava preso): 39% versus 19%[51]. Após a facada em 06 de setembro, ele cresceu nas pesquisas[52], passando para 26% na espontânea e chegando a 30% na de intenção de voto. Isso agradou o Mercado e no dia 10 daquele mês o dólar operava abaixo de R$ 4,10, valor ultrapassado no dia do atentado. Em segundo lugar estava Ciro com 12%, enquanto Marina, Alckmin e Haddad empatavam em terceiro com 8%[53]. No início de outubro, Bolsonaro chegou aos 32% e Haddad já aparecia em segundo com 21%, mas as pesquisas indicavam possibilidade de vitória bolsonarista ainda no primeiro turno e isso continuou derrubando o dólar, operando a R$ 3,85 naquele dia[54]. Segundo um artigo do El País do dia 03 daquele mês, “há euforia na Bolsa de Valores de São Paulo com a alta do deputado federal nas pesquisas, ao lado do crescimento da rejeição à opção petista, a quatro dias do primeiro turno. Nesta terça, o índice Ibovespa fechou em alta de quase 4%, a maior desde novembro de 2016”[55].  Após o resultado do primeiro turno, o Mercado ficou ainda mais animado com Bolsonaro. O dólar bateu novo recorde de queda[56] e continuou caindo, chegando ao menor valor em cinco meses no dia 26 de outubro, um pouco antes do segundo turno[57], deixando evidente que a elite financeira estava com Bolsonaro. Além disso, ainda contava com o apoio das mídias evangélicas a até da mídia tradicional, que insistia em mostrar Bolsonaro e Haddad como equivalentes. Era uma escolha difícil, afirmou o Estadão e teve jornalista antigo que inclusive atacou a mídia internacional por alertarem sobre o autoritarismo de Bolsonaro: “Traduzindo para o Português: nós não nos importamos; não queremos saber. Traduzindo para o Ricardêz: estamos cagando e andando para o que vocês pensam”[58].

Como vimos, Bolsonaro surgiu pequeno, cresceu nas redes sociais radicalizando o discurso punitivista, moralista, anticomunista e antipetista da mídia hegemônica e da cristã e ganhou apoio dos jovens durante os protestos contra o PT. Sua popularidade digital chamou a atenção da mídia tradicional, de grupos e políticos de Direita, de líderes religiosos e dos homens ricos, atraindo apoio de parte importante da elite nacional e do Capital financeiro. Após a chegada de Paulo Guedes, o Mercado passou a apoiar Bolsonaro abertamente, derrubando o dólar cada vez que ele crescia nas pesquisas. Com tudo a seu favor e contra o PT, Jair Bolsonaro venceu as eleições de 2018.

Levando em consideração esse contexto favorável ao bolsonarismo, parece complicado culpar somente a Esquerda pela ascensão do Populismo autoritário de Direita no Brasil, como se a causa disso tivese sido apenas a falta de um trabalho de base dos esquerdistas. Afinal já existia um discurso pronto e bem sedimentado no senso comum que foi apenas radicalizado pelo Bolsonarismo. Algo impossível de ser feito pela Esquerda, pois nós precisamos combater esse senso comum e não potencializar, como fez Bolsonaro. Não podemos usar o medo e o ódio, nem mentiras ou fake news, para mobilizar os explorados pelo sistema, como faz Bolsonaro e a Direita extrema em geral. Podemos concordar que o trabalho de base da Esquerda enfraqueceu, mas não aceitar como causa do avanço autoritário, pois assim estaremos deixando de lado fatores essenciais para compreender como o Populismo de Direita extrema e antidemocrático se desenvoleu no Brasil e elegeu Bolsonaro.

Há quem diga que ele ganhou somente por conta do atentado. Todavia, o sociólogo Marcos Coimbra tem uma opinião totalmente diferente. Analisando as pesquisas da época, ele mostra que a evolução de Haddad após sua confirmação como candidato em 11 de setembro foi extremamente maior que a de Bolsonaro após a facada. Porém, o deputado já vinha contando com um crescimento constante muito antes do atentado e continuou crescendo depois do evento. Obviamente, Bolsonaro aproveitou a situação para escapar dos debates, mas isso não teria sido o motivo de sua vitória. Para Coimbra, essa narrativa sobre o povo ter ficado “compreensivelmente enfurecido com o PT” e “naturalmente comovido com o sofrimento de Bolsonaro” foi criada pelas elites para esconder a realidade:

“o cidadão ganhou porque milicos autoritários, picaretas do Judiciário e do Congresso, barões da mídia, ricaços oportunistas e bispos milionários interferiram na eleição com golpes e manobras, a começar pela prisão e amordaçamento de Lula. O que está por trás de Bolsonaro e do bolsonarismo é a ganância e o golpismo dessa gente. Foi ela que cometeu o atentado verdadeiro que houve em 2018”[59].


[1] MATTOS, Rodrigo, Democracia Regride no Mundo Todo e Corre Risco Também no Brasil, Dizem Especialistas. Rio de Janeiro: UOL, 04 de outubro de 2018. Disponível em https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/10/04/democracia-regride-no-mundo-todo-e-corre-risco-tambem-no-brasil-dizem-especialistas.htm, acessado em 26 de fevereiro de 2022.

[2] Agência Deutsche Welle. Estudo aponta Brasil como exemplo de piora global do estado da democracia. Istoé Dinheiro, edição 1262, 23 de fevereiro de 2022. Disponível em https://www.istoedinheiro.com.br/estudo-aponta-brasil-como-exemplo-de-piora-global-do-estado-da-democracia/, acessado em 26 de fevereiro de 2022.

[3] KEENAN, James; tradução de Wagner Fernandes de Azevedo. O Populismo não vai a Lugar Nenhum. As Elites Precisam Escutar as Massas para Reconstruir nossa Democracia. Instituto Humanitas Unisinos, 16 de dezembro de 2021. Disponível em https://www.ihu.unisinos.br/615323-o-populismo-nao-vai-a-lugar-nenhum-as-elites-precisam-escutar-as-massas-para-reconstruir-nossa-democracia, acessado em 25 de fevereiro de 2022.

[4] BELLATO, Caíque; RODRIGUES, Theofilo Machado. A Crise da Democracia Liberal no Início do Século XXI. Duas Abordagens da Teoria Política. Agenda Política, 25 de janeiro de 2022. Disponível em https://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/592 , acessado em 23 de fevereiro de 2022.

[5] BELLATO, Caíque; RODRIGUES, Theofilo Machado. Idem

[6] MENDONÇA, Daniel; RESENDE, Erica Simone Almeida Resende. A Especificidade do Populismo de Esquerda. São Paulo: Revista História São Paulo – UNESP, nº 40, 2021. Disponível em https://www.scielo.br/j/his/a/PhvdGQd6LYDd5Wnd67Wy4Mg/abstract/?lang=pt , acessado em 01 de março de 2022.

[7] MOUFFE, Chantal. Controvérsia Sobre o Populismo de Esquerda. Le Monde Diplomatique Brasil, edição 154, 30 de abril de 2020. Disponível em https://diplomatique.org.br/controversia-sobre-o-populismo-de-esquerda/ , acessado em 01 de março de 2022.

[8] MOUFFE, Chantal. Não Subestimem o Populismo de Esquerda. Outras Palavras, tradução de Simone Paz Hernandes, 28 de outubro de 2020.

[9] CUNHA, Isabel Ferin. O Jornalismo na Era do Populismo Mediatizado. Revista Estudos em Jornalismo e Mídia, volume 06, nº 02, julho a dezembro de 2019.

[10] GOSSELIN, Tania; HARELL, Allison; HERRMAN, Júlian Durazo. Populismo, Mídia e Jornalismo: Uma introdução à Edição Especial. Brasília: Journal Braz. Volume 17, nº 03, dezembro de 2021.

[11] HAN, Byung-Chul; tradução de Enio Paulo Giachini. Sociedade do Cansaço. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2ª dição ampliada, 2017.

[12] FERREIRA, Patrícia. De que falamos quando falamos de populismo? Aproximações entre Ernesto Laclau e Psicanálise. Rio de Janeiro: Evento na PUC “De que falamos quando falamos de populismo”, publicado pelo site “Psicanalistas pela Democracia”, 13 de novembro de 2017. Disponível em https://psicanalisedemocracia.com.br/2017/11/de-que-falamos-quando-falamos-de-populismo-aproximacoes-entre-ernesto-laclau-e-psicanalise-por-patricia-ferreira/, acessado em 22 de fevereiro de 2022 realizado em 23 de agosto de 2017.

[13] HUR, Doménico Uhng. Populismo: Debates entre Psicologia, Política Latino-Americana e Psicanálise. São Paulo: Revista Psicologia Política, vol. 21, nº 50, janeiro a abril de 2021.

[14] CALABREZ, Felipe. Populismo de Esquerda: Um Chamado à Ação Política para Canalizar e dar Sentido às Insatisfações Sociais. Instituto Humanitas Unisinos em entrevista a Patrícia Fachin, 16 de setembro de 2020. 

[15] PERRUSO, Marco Antônio. O Lulismo e a Reabilitação do Populismo, A Trajetória de um Debate Intelectual. Revista Movimento, 03 de agosto de 2020.

[16] MIGOWSKI, Eduardo. Para uma história do anticomunismo no Brasil. Outras Palavras, 08 de agosto de 2017. Disponível em: https://outraspalavras.net/sem-categoria/para-uma-historia-do-anticomunismo-no-brasil/, acessado em 28 de fevereiro de 2022. 

[17] TARJA, Gabriel de Aguiar. Liberalismo à Brasileira: do Conservadorismo ao Militarismo. Justificando. Brasil, 16 de novembro de 2018. Disponível em https://www.justificando.com/2018/11/16/liberalismo-a-brasileira-do-conservadorismo-ao-militarismo/ , acessado em 20 de maio de 2022. 

[18] SECCO, Lincoln. O Anticomunismo Preventivo. Boletim do GMarx-USP, ano 1, nº 55, 22 de novembro de 2020. Disponível em https://gmarx.fflch.usp.br/boletim55 , acessado em 15 de junho de 2022.

[19] QUERIDO, Fábio Mascaro. Liberal-Conservadorismo à Brasileira. Le Monde Diplomatique Brasil, 04 de julho de 2016. Disponível em https://diplomatique.org.br/liberal-conservadorismo-a-brasileira/ , acessado em 10 de julho de 2022.

[20] AVRITZER, Leonardo. Bolsonarismo e Liberalismo. Instituto Humanitas Unisinos, 31 de agosto de 2020.Disponível em https://www.ihu.unisinos.br/categorias/602379-bolsonarismo-e-liberalismo-artigo-de-leonardo-avritzer , acessado em 11 de junho de 2022.

[21] Dos SANTOS, João Vitor. Elite Midiática Nacional Reproduz uma Visão Conservadora do Brasil e Descolada de sua Pluralidade. Instituto Humanitas Unisinos, 15 de fevereiro de 2018. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/576031-elite-midiatica-nacional-reproduz-uma-visao-conservadora-do-brasil-e-descolada-de-sua-pluralidade-entrevista-especial-com-olivia-bandeira , acessado em 10 de julho de 2022.

[22] BRITO, Thiago. A Mídia e a Ascensão do Conservadorismo Neofascista nos Trópicos. Le Diplomatique Brasil, 16 de outubro de 2018. Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-midia-e-a-ascensao-do-conservadorismo-neofascista-nos-tropicos/ , acessado em 15 de junho de 2022. 

[23] SIMI, Felipe Haigert. O Populismo Penal Midiático e sua Forma Vingativa de Punir. Justificando, 21 de fevereiro de 2017. Disponível em https://www.justificando.com/2017/02/21/o-populismo-penal-midiatico-e-sua-forma-vingativa-de-punir/ , acessado em 20 de maio de 2022.

[24] BANDEIRA, Olívia. Mídia, religião e política: igrejas cristãs intensificam presença na esfera pública. Le Monde Diplomatique Brasil, 16 de abril de 2018. Disponível em https://diplomatique.org.br/midia-religiao-e-politica-igrejas-cristas-intensificam-presenca-na-esfera-publica/, acessando em 01 de março de 2022.

[25] JUNIOR, Orivaldo Pimentel Lopes. POPULISMO E FUNDAMENTALISMONA ATUAÇÃO POLÍTICA DOS EVANGÉLICOS: Uma entrevista a Marcelo Natividade para a revista Cronos. Revista Cronos, nº 21, Vol. 1, Janeiro a Junho de 2020. Disponível em https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/view/26615/14714, acessado em 21 de fevereiro de 2022.

[26] DEUS, Lara. Imprensa Abordou “Mensalão” de Forma Denunciativa, Aponta Pesquisa da ECA. Universidade São Paulo USP, 10 de maio de 2013. Disponível em https://www5.usp.br/noticias/sociedade/imprensa-abordou-mensalao-de-forma-denunciativa-revela-pesquisa-da-eca/ , acessado em 01 de junho de 2022.

[27] BARROS, Antônio Teixeira de; LEMOS, Cláudia Regina Fonseca. Política, pânico moral e mídia: controvérsias sobre os embargos infringentes do escândalo do Mensalão. Opinião Pública, nº 24, maio a outubro de 2018. Disponível em https://www.scielo.br/j/op/a/d589nCvm6gdcz6rLQBPmfsL/?lang=pt, acessado em 27 de fevereiro de 2022.

[28] LUNA, Naara. A Controvérsia do Aborto e a imprensa na Campanha Eleitoral de 2010. Scielo Brasil, 16 de outubro de 2014. Disponível em https://www.scielo.br/j/ccrh/a/py3FMFSxmKgKWFMpZqFJxdF/?lang=pt , acessado em 27 de abril de 2022.

[29] VIEIRA, Fernando Antônio da Costa. As Jornadas de junho de 2013: o Olhar Midiático. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação. Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/vieira-fernando-2020-jornadas-junho.pdf , acessado em 12 de julho de 2022.

[30] SILVA, Daniel Pinheiro. Junho de 2013: Crítica e Abertura da Crise da Democracia Brasileira. Revista Maracanan, nº 18, janeiro/junho de 2018. Disponível em https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/maracanan/article/view/31322/23100  , acessado em 19 de maio de 2022.

[31] BARIFOUSE, Rafael. Eleições 2014: Novos hábitos criam pleito mais conectado do mundo. BBC, Brasil, 29 de outubro de 2014. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/10/141028_eleicoes2014_internet_rb , acessado em 10 de maio de 2022.

[32] CHICARINO, Tathiana Senne; RONDEROS, Sebastian; SEGURADO, Rosemary. IMPEACHMENT! Em nome do Povo: uma análise discursiva da revista Veja nos governos Collor e Rousseff. Coimbra: Mediapolis – Revista de Comunicação, Jornalismo e Espaço Publicitário. Imprensa da Universidade de Coimbra, nº 12, 1º semestre de 2020.

[33] OLIVEIRA, Diego Yasuda Rodrigues de. Populismo anticorrupção, Moro e Lava Jato levam o sistema de justiça ao descrédito absoluto. Justificando, 21 de junho de 2019. Disponível em https://www.justificando.com/2019/06/21/populismo-anticorrupcao-moro-e-lava-jato-levam-o-sistema-de-justica-ao-descredito/, acessado em 25 de fevereiro de 2022.

[34] LADEIRA, Francisco Fernandes. Estudo Demonstra Antipetismo da Mídia Brasileira. Observatório da Imprensa, edição 1112, 03 de novembro de 2020. Disponível em https://www.observatoriodaimprensa.com.br/eleicoes-municipais/estudo-demonstra-antipetismo-da-midia-brasileira/ acessado em 01 de julho de 2022.

[35] 44% dos brasileiros temem que País se torne comunista após eleições, aponta Datafolha. Carta Capital, 26 de dezembro de 20121. Disponível em https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/44-dos-brasileiros-temem-que-pais-se-torne-comunista-nas-apos-eleicoes-aponta-datafolha/, acessado em 20 de agosto de 2022..

[36] RICCI, Rudá. A Ofensiva doutrinária do empresariado brasileiro. Jornalistas Livres, 03 de novembro de 2021. Disponível em https://jornalistaslivres.org/a-ofensiva-doutrinaria-do-empresariado-brasileiro/ , acessado em 15 de março de 2022.

[37] BECKER, Fernanda; GORTÁZAR, Naiara Galarraga. Bolsonaro, um candidato que cresceu no Facebook e não quer sair de lá. El País, 26 de outubro de 2018. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/24/politica/1540388654_185690.html , acessado em 20 de julho de 2022.

[38] UTSCH, Jullie. De antiquado a meme: a trajetória digital de Bolsonaro. Jornalistas Livres, 27 de outubro de 2018. Disponível em https://jornalistaslivres.org/de-antiquado-a-meme-a-trajetoria-digital-de-bolsonaro/ , acessado em 20 de julho de 2022.

[39] PIAI, Carolina. Esther Solano: uma mulher que comprou guerra contra o MBL e a patrulha do Pensamento. Entrevista com Esther Solano para o Arte Brasileiros, 10 de outubro de 2017. Disponível em https://artebrasileiros.com.br/brasil/esther-solano-uma-mulher-que-comprou-guerra-contra-o-mbl-e-patrulha-do-pensamento/ , acessado em 25 de fevereiro de 2022.

[40] MARREIRO, Flavia. Empresários, em versão azul e branco, afagam líder anti-Dilma. El Pais, 20 de abril de 2015. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/21/politica/1429569987_636679.html#?rel=listaapoyo , acessado em 20 de abril de 2022>

[41]  ALVARENGA, Camila. Bolsonarismo é a versão reacionária do liberalismo, diz Camila Rocha. Entrevista com Camila Rocha para o Operamundi, 20 de setembro de 2021, Espanha. Disponível em https://operamundi.uol.com.br/20-minutos/71365/bolsonarismo-e-versao-mais-reacionaria-do-liberalismo-diz-camila-rocha , acessado em 05 de março de 2022.

[42] LADEIRA, Francisco Fernandes. Mídia ajudou a ariar Bolsonaro e o Bolsonarismo, mas diz não ter nada a ver com isso. Observatório da Imprensa, edição 1087, 12 de maio de 2020. Disponível em https://www.observatoriodaimprensa.com.br/sem-categoria/midia-ajudou-a-criar-bolsonaro-e-o-bolsonarismo-mas-diz-nao-ter-nada-a-ver-com-isso/ , acessado em 20 de março de 2022.

[43] TIBURI, Marcia. Demonização da Política. Revista Cult, 13 de junho de 2018. Disponível em https://revistacult.uol.com.br/home/demonizacao-da-politica/ , acessado em 20 de março de 2022.

[44] Dois empresários paulistas contam por que estimulam Bolsonaro. Revista Piauí, 19 de fevereiro de 2018. Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/dois-empresarios-paulistas-contam-por-que-estimulam-bolsonaro/ , acessado em 12 de junho de 2022.

[45] MACHADO, Leandro. Por que 60% dos eleitores de Bolsonaro são jovens?. BBC Brasil, 16 de novembro de 2017. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-41936761 , acessado em 23 de julho de 2022.

[46] MARTÍN, María. Após triunfar nas redes, Bolsonaro testa sua influência fora da bolha virtual. El País, 27 de março de 2017. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/22/politica/1490206144_801457.html , acessado em 20 de março de 2022.

[47] Conheça a ativista que uniu Bolsonaro e Paulo Guedes. Seu Dinheiro, 28 de outubro de 2018. Disponível em https://www.seudinheiro.com/2018/jair-bolsonaro/conheca-a-ativista-que-uniu-bolsonaro-e-paulo-guedes/ , acessado em 20 de março de 2022.

[48] RAPHAEL, Martins. Paulo Guedes e o candidato Bolsonaro são “dupla inesperada”. Exame, 02 de dezembro de 2017. Disponível em https://exame.com/brasil/paulo-guedes-e-os-dilemas-do-candidato-bolsonaro/ , acessado em 25 de março de 2022.

[49] FELÍCIO, César; KLEIN, Cristian; Koike, Beth. Plano de Bolsonaro é arrecadar R$ 700 bi com privatizações. Valor Econômico, 26 de fevereiro de 2018. Disponível em https://valor.globo.com/politica/noticia/2018/02/26/plano-de-bolsonaro-e-arrecadar-r-700-bi-com-privatizacoes.ghtml , acessado em 20 de junho de 2022.

[50] GASPAR, Malu. O FIADOR. Revista Piauí, edição 144, setembro de 2018. Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-fiador/ , acessado em 23 de julho de 2022.

[51] Pesquisa Datafolha: Lula, 39%; Bolsonaro, 19%; Marina, 8%; Alckmin, 6%; Ciro, 5%. G1, 22 de agosto de 2018. Disponível em https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-em-numeros/noticia/2018/08/22/pesquisa-datafolha-lula-39-bolsonaro-19-marina-8-alckmin-6-ciro-5.ghtml , acessado em 15 de junho de 2022.

[52] SARDINHA, Edson. Bolsonaro cresce e chega a 30% após facada, mostra pesquisa BTG Pactual. Congresso em Foco, 10 de setembro de 2018. Disponível em https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/bolsonaro-cresce-e-chega-a-30-apos-facada-mostra-pesquisa-btg-pactual/ , acessado em 15 de junho de 2022.

[53] MACHADO, Ana Paula. Dólar opera abaixo de R$ 4,10, após crescimento de Bolsonaro. Veja, 10 de setembro de 2018. Disponível em https://veja.abril.com.br/economia/dolar-opera-abaixo-de-r-410-apos-crescimento-de-bolsonaro/ , acessado em 03 de julho de 2022.

[54] Dólar tem forte queda e toca R$3,85 com crescimento de Bolsonaro. Exame, 03 de outubro de 2018. Disponível em https://exame.com/invest/mercados/dolar-tem-forte-queda-e-toca-r385-com-crescimento-de-bolsonaro/ , acessado em 03 de julho de 2022.

[55] BATIM, Felipe; OLIVEIRA, Regiane. A euforia de investidores que normalizam o risco do extremista Bolsonaro. El País, 03 de outubro de 2018. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/02/politica/1538432558_436000.html , acessado em 03 de julho de 2022.

[56] Dólar fecha no menor patamar em dois meses com resultado do 1º turno. G1, 08 de outubro de 2018. Disponível em https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/10/08/cotacao-do-dolar-081018.ghtml , acessado em 03 de julho de 2022.

[57] Dólar cai a R$ 3,655, menor valor em 5 meses; desde 1º turno, recuo é de 5%. UOL, 26 de outubro de 2018. Disponível em https://economia.uol.com.br/cotacoes/noticias/redacao/2018/10/26/dolar-bolsa-fechamento.htm , acessado em 03 de julho de 2022.

[58] KERTZMAN, Ricardo. Jair Bolsonaro é uma triste escolha do Brasil, diz o jornal The New York Times. Opinião sem Medo, 22 de outubro de 2018. Disponível em https://blogs.uai.com.br/opiniaosemmedo/2018/10/22/bolsonaro-brasil-nyt/ , acessado em 01 de julho de 2022.

[59] COIMBRA, Marcos. A facada não foi decisiva em 2018. Por que, então, Bolsonaro segue recorrendo a ela?. Carta Capital, 14 de janeiro de 2022. Disponível em https://www.cartacapital.com.br/opiniao/facada-ii-a-lorota/ , acessado em 20 de junho de 2022.

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