Manual do perfeito midiota – 13, por Luciano Martins Costa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Luciano Martins Costa

Da Revista Brasileiros

Claro, a mídia foi seletivamente avisada para produzir as imagens e os comentários que vão circular nas redes sociais

O noticiário da semana que se encerra oferece um desafio extraordinário para o midiota brasileiro, na sua incansável saga em busca da perfeita midiotice.

A suposta delação do senador Delcídio do Amaral, acusando a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula da Silva de agirem para obstruir investigações na Operação Lava Jato, dominou os comentários dos programas de rádio e televisão desde as primeiras horas da quinta-feira (03/03), a partir de uma reportagem postada no site da revista IstoÉ.

Os principais jornais do País, aqueles que sofrem de estranha amnésia conforme os protagonistas do escândalo, seguiram repetindo na Internet a versão original do factoide, mesmo depois que o suposto denunciante divulgou nota dizendo não reconhecer a origem e a autenticidade do conteúdo divulgado.

Por volta das 17h, as redações já tinham recebido esclarecimentos suficientes que recomendavam, no mínimo, alguma cautela com relação ao assunto.

Nesse horário, uma entrevista do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, transmitida ao vivo por rádio e televisão, demonstrava que a suposta delação era inverossímil ou, se confirmada, um apanhado de injunções que não faziam sentido.

Mesmo assim, com base nesse factoide, a Polícia Federal foi mobilizada para fazer a operação em Atibaia, no Guarujá e na residência da família Lula da Silva.

Claro, a mídia foi seletivamente avisada para produzir as imagens e os comentários que vão circular nas redes sociais.

Trata-se da culminância de um processo político que tem a imprensa hegemônica como mentora e as instituições da Justiça como operadoras.

Esse projeto consiste em fragilizar a governabilidade, mantendo a presidente sitiada, e inviabilizar uma eventual candidatura do ex-presidente Lula da Silva em 2018.

Nem mesmo no Partido dos Trabalhadores há unanimidade sobre a conveniência de Lula voltar a se candidatar, mas isso quem deve resolver é o eleitor, não a imprensa.

As decisões das redações dos veículos de comunicação hegemônicos – com exceção do jornal Valor Econômico, que adota outra agenda – não têm nenhuma relação com jornalismo.

Quase tudo que você lê nessa matriz monotemática é apenas panfletagem política, que produz resultados imediatos, como o ressurgimento em cena do candidato derrotado em 2014, Aécio Neves, em nova performance sobre o tema impeachment.

Mas tudo bem.

Se você é um midiota em busca da perfeição, bata panelas.

É preciso que alguém diga a você, hoje, o que você está ajudando a construir amanhã. Mesmo que sua reação seja postar comentários agressivos e destilar esse ódio que nem você sabe de onde vem.

Mas, voltando ao factoide, é preciso pontuar umas coisinhas: primeiro, Delcídio Amaral fez uma consulta, por meio de seus advogados, sobre o  conteúdo de declarações que poderia lhe valer algum desconto na pena que se considera certa e inevitável; segundo, o conteúdo publicado pela IstoÉ repete o que os interrogadores do réu querem ouvir – uma declaração de encomenda para justificar a operação que se segue.

Outra coisa: observe-se o trecho em que ele afirma que o ministro Marcelo Navarro foi nomeado para o Superior Tribunal de Justiça com a missão de votar pela soltura de empreiteiros acusados no processo da Operação Lava-Jato, e quando disse que teria falado sobre o tema com ministros do Supremo Tribunal Federal.

Ora, quem conhece minimamente o corporativismo no sistema da Justiça sabe que uma acusação a um magistrado coloca toda a instituição em pé de guerra.

Portanto, tal declaração, se verdadeira, seria um tiro no pé do suposto denunciante.

Ainda que seja autêntico, o conteúdo não havia sido homologado pelo STF.

Assim, é bem possível que toda essa trapalhada acabe por desmoralizar a própria instituição da delação premiada.

Para ler: IstoÉ e EBC.

Para ver e ouvir: a entrevista em que o ex-ministro José Eduardo Cardoso desmonta o factoide.

*Jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade. Autor dos livros “O Mal-Estar na Globalização”,”Satie”, “As Razões do Lobo”, “Escrever com Criatividade”, “O Diabo na Mídia” e “Histórias sem Salvaguardas”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Tentando juntar as pontas

    Ora, por isso o Gilson Dip pediu o bonê na defesa do tucano infiltrado junto ao Senado na investigação que irá cassar-lhe o mandato. Caso ocorra a homologação ou se investigue o vazamento é porque, realmente, houve um pedido de delação premiada e este tem o “rascunho” já pronto. Oras, se o Senador negocia com a justiça essa possível delação premiada é porque tem alguma coisa a oferecer e portanto é réu confesso. Se é réu confesso, o relator do caso no Senado Federal, Senador Telmário Mota está partindo para o abraço.

    Só por curiosidade, alguém sabe quem é o (a) suplente do Ex-Senador Delcídio do Amaral?

    1. Precisa cassar urgente

      0 e de eleições anteriores

         

      Zonir (2010)

         Zonir / Zonir Freitas Tetila

      Dados pessoais do candidato

      Nome completo:Zonir Freitas TetilaCPF:146.404.901-78 *RG:1435826Data de nascimento:27/09/1945Idade ao final de 2010:65Município de nascimento:Dourados /MSNacionalidade:Brasileira NataSexo:FemininoEstado Civil:Casado(A)Grau de Instrução:Superior CompletoOcupação principal declarada:Professor De Ensino SuperiorCertidões criminais:Baixar arquivo (ZIP)

      Saiba como checar o CPF dos políticos e sua situação fiscal

      Dados eleitorais do candidato

      Cargo disputado:2º Suplente SenadorUF onde concorre:MSNome na urna:ZonirNúmero eleitoral:138Nome do partido:Partido Dos TrabalhadoresSigla/ número do partido:PT /13Nome do vice:DelcídioPartido do vice:PT /13Coligação:A Força Do Povo (PP / PDT / PT / PSL / PSC / PSDC / PV / PRP / PC DO B)Situação da candidatura:Deferido

       

  2. Prevejo com um grau de

    Prevejo com um grau de certeza quase absoluto que esse instituto da Delação Premiada está com os dias contados. E estes dias perdurarão apenas enquanto subsistir esse processo abrangente, do qual a Operação Lava Jato é um dos elementos, de criminalizar o PT e enfraquecer o governo. 

    Tangencio os aspectos essencialmente jurídicos porque não leigo na área, mas a juridicidade de per si não tem o condão de dar consistência filosófica-política-social a uma determinada legislação. Ademais, o que se constata empiricamente é que sua aplicabilidade pouco ou nada tem contribuído para a dissipação do crime organizado no país. 

     

     

  3. No fundo é tudo Golpe….O resto é teoria…rs

    Em relação ao artigo do autor só algumas divergências: 1)quanto ao papel dos atores [mediato e imediato],e b) em relação à finalidade[mediatas e imediata]”.  (na prática não muda em nada – continua sendo golpe)

    Trechos : 1) – “Trata-se da culminância de um processo político que tem a imprensa hegemônica como mentora e as instituições da Justiça como operadoras” e 2)- “Esse projeto consiste em fragilizar a governabilidade, mantendo a presidente sitiada, e inviabilizar uma eventual candidatura do ex-presidente Lula da Silva em 2018”. 

    1) – Apesar do autor chamar ou dar o nome de “processo político”, para mim, trata-se de “Golpe de Estado” por entender que este termo é mais profundo, contundente e condiz mais com a realidade. Como atores mediatos – a) a mídia³ [no meu entender a mentora não é a mídia hegemônica, ao contrário, esta só patrocina os interesses de quem a patrocina comercialmente, maioria bancos, e b) as instituiçoes da justiça²[ porque são diretamente influenciadas em cursos e intercâmbios com os Eua¹, além de tratados que possibilitam a vassalagem – tratados de cooperação intenacional²];   autoria imediata –  são aqueles com interesses maiores e mais abrangentes: a) interesses financeiros e b) interesses de Estado. a) – Da parte do Estado[refiro-me às 7 irmãs], em especial os EUA devido ao seu poderio militar que, dentro da estrutura em que se organiza o poder mundial das 7 irmãs, é o que garante o interesse iminentemente geopolítico das nações-irmãs e que está à frente as grandes disputas.. Da parte de interesses financeiros figurariam aí os conglomerados dos maiores bancos e empresas investidors do mundo [as coorporações financeiras/empresarias – principais investidores globais] das quais essas nações e conglomerados guardam íntimas relações  entre si, pois são os principais beneficiários e se confundem no bastidor em propósitos e poderio. Apurando direitinho eles são um ente só devido as suas relações cruzadas de interesses. É uma estrutura única de poder mundial, podem acreditar[muitos chamam isso de hegemonia anglo-americana-sionista]

    2) – O projeto quanto a sua finalidade: Imediata :  não é fragilizar o governo mas derrubá-lo – o golpe de Estado propriamente dito -, e, em relação ao Lula, o objetivo não visa a eleiçao de 2018 mas sim destruí-lo agora – imagem pública, desmobilização da sua miltância além de processo de cassação/criminalização do partido junto ao tse; mediata – abertura total do país aos interesses internacionais financeiros e de Estado, como citei acima.

    Para obtenção de êxito o golpe de Estado deve contar com um serviço de Inteligência comprometido[com o patrocinador] da qual a engenharia social, refiro-me mais à sua implicação de uso militar/geopolítico é é de fundamental importância instrumental. Os jornalistas e os profissionais com formação em comunicação social, como o autor do artigo, ajudam pacas a desvendam as armadilhas dos discuros, reportagens, factóides, etc… e isso atrapalha o inimigo, tenho certeza.. Dentro desse contexto, Dilma não tem retagurada nenhuma dentro das instituiçoes da justiça[os intercambios e cooperações internacionais coorompeu a maioria das mentes e corações,, e a pf e abin foram “adquiridas’ e quem manda é quem paga as contas – [https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-espionagem-americana-no-brasil-por-bob-fernandes]. Há também a entrevista exclusiva da Carta Capital Edição 283, de 24/03/2004. Trata-se da entrevista do chefe do FBI no Brasil. Ele mesmo declara ao jornalista  “A vossa Polícia Federal é nossa, trabalha para nós há anos. […] Foi comprada por alguns milhões de dólares. […] Os Estados Unidos compraram a Polícia Federal… quem paga dá as ordens…: http://www.blogdobolche.blogspot.com.br/2016/01/policia-federal-brasileira-recebe.html

    Notas:

    1 – O André deu uma introdução aqui – https://jornalggn.com.br/noticia/os-estados-unidos-e-as-causas-internacionais-por-andre-araujo

    2 – Dá uma idéia bem resumida – https://jornalggn.com.br/noticia/a-cooperacao-internacional-como-arma-politica; https://jornalggn.com.br/noticia/cooperacao-internacional-o-interesse-dos-eua-e-do-brasil;  https://jornalggn.com.br/noticia/os-limites-da-corrupcao-judiciaria-internacional-por-andre-araujo

    3- https://jornalggn.com.br/noticia/a-cooperacao-internacional-e-o-negocio-da-globo

     

  4. mais uma ótima

    mais uma ótima contextiualização onde se insere o midiota,

    o preconceituoso que repete as asneiras ditas pelos outros…

    os sem noção..,

    os que não pensam,

     os impensáveis,

    os inomináveis… 

    os personagens de ionesco bestificaram-se…

    os personagens beckettianos tropicalizaram-se…

    o teatro do absurdo é encenado cotidainamente nas  telinha globais

    e os midiotas deliram…

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