Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Novo logo revela que Bolsonaro não consegue sair do personagem, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Em cinema e teatro fala-se muito de atores que, de tão concentrados no personagem, não conseguem mais sair do papel. Uma análise semiótica da nova identidade visual do Governo Federal revela que nada mais resta para o presidente Jair Bolsonaro do que se manter no personagem da campanha eleitoral – belicoso e provocativo, pronto para criar sempre um novo inimigo.  Para além do ufanismo e da nostalgia idealizada dos governos militares, o novo logo revela muito mais uma estratégia de comunicação do que de propaganda clássica – simbolização ou doutrinação ideológica. A marca visual expressa a atual estratégia visual da chamada alt-right (“direita alternativa”): polarização, provocação e apropriação. Assim como a bandeira nacional e a camisa amarela da CBF, agora o último verso do hino nacional foi apropriado. Do simbolismo original da Pátria como “mãe gentil”, foi ressignificado como ícone de polarização: a divisão entre patriotas e antipatriotas.  

Em postagem anterior, quando esse Cinegnose analisou anomalias semióticas no lançamento da logomarca do então “novo” Governo Temer, observávamos que a marca visual revelava atos falhos: verdadeiras intenções por trás de uma propaganda política que pretendia expressar progresso, avanço e retomada do desenvolvimento econômico – clique aqui.

Os “atos falhos” da comunicação visual criada pelo marqueteiro Elsinho Mouco revelavam diversos retrocessos: o desaparecimento da cor verde – predomínio do azul, masculino, e o contraste com o branco, conotando “inteligência”, “racionalidade”, “concentração”, contrastando com a “emotividade”, segundo a Psicologia das Cores; e o estilo geométrico com um sólido geométrico levitando sobre letras com superfície em extrusão – alusão direta ao estilo retro-futurista da velha marca da Globo dos tempos de Hans Donner, que a própria emissora abandonou.

Enfim, uma marca que nascia velha. Tentava esconder os retrocessos, mas revelava involuntariamente o contrário. Digamos que a logomarca do Governo Temer era um caso exemplar de ideologia como falsa consciência. 

Muito diferente é a nova logomarca do Governo Jair Bolsonaro: não há “atos falhos” ou qualquer exercício de retórica visual para tentar esconder intenções. A comunicação é direta e sem floreios: replica a polarização que a velha propaganda da ditadura militar nos anos 1970 criou no tom de “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Se ainda no tom retro-futurista de Temer ainda tinha uma intenção (frustrada) teleológica ao simbolizar progresso ou ansiar por algum tipo de futuro, nessa logomarca de 2019 é nostálgico e explícito: meia volta e volver aos tempos das ditaduras militares.

Retorna a velha dominante verde e amarela recorrente de todas as marcas de governos anteriores, mas dessa vez com uma sugestão de movimento e narrativa: a associação da bandeira do Brasil como um sol nascente sobre as terras verdes brasileiras. 

Mas, muito mais do que isso: a marca visual do governo do capitão da reserva comprova a linha de continuidade entre a campanha eleitoral e o dia-a-dia do Governo – diferente das logomarcas anteriores que simbolicamente demarcaram o início dos trabalhos do Poder Executivo, a marca atual revela que a retórica alt-right da campanha de 2018 continuará como tática cotidiana dos próximos anos.

 

https://www.youtube.com/watch?v=2H1YieUR_Mk

 

Afinal, esse é o único discurso possível de Bolsonaro, já que ele próprio admite que nada entende sobre economia ou qualquer outro tema das pastas ministeriais.

Primeira leitura: o ufanismo

O olhar inicial da marca visual denota o claro tom ufanista. O vídeo no qual a nova marca foi divulgada (claro, na Internet…) diz que o povo brasileiro foi às urnas para “escolher” e “resgatar um novo País”. “Em 2018, não fomos às urnas apenas para escolher um novo presidente. Fomos às urnas para escolher um novo Brasil, sem corrupção, sem impunidade, sem doutrinação nas escolas e sem a erotização de nossas crianças. Fomos às urnas para resgatar o Brasil”, diz o vídeo divulgado pelos perfis das redes sociais do presidente.

Se desde Collor de Mello (o primeiro presidente eleito após a redemocratização do País), as marcas sempre tiveram um tom executivo ou programático (“trabalhando em todo o Brasil”, FHC; “Governo do Brasil”, Collor; “Pátria Educadora”, “País de Todos”, “País Rico é País sem Pobreza”, governos petistas), dessa vez o ufanismo da propaganda política clássica domina esse primeiro nível de leitura semiótica.

                 Nesse primeiro nível de leitura, tudo parece ser uma clássica propaganda política apelando para Nacionalismo, Pátria, Nação etc. Mas a narrativa sugerida pela imagem estilizada (o Sol que nasce sobre terra verdes) vai mais além: do tom ufanista para o messianismo.

 

 

Segunda leitura: retorica visual e narrativa

Se no primeiro nível descobrimos que há uma narrativa messiânica para além do ufanismo, no segundo nível descobrimos que há uma retórica que satura essa narrativa: a bandeira nacional estilizada como o Sol que nasce ocupa grande parte do espaço visual. A bandeira nacional chega a ser o próprio céu, sobre o solo verde que ocupa o menor espaço.

Portanto, está acima do nível dos olhos, criando o efeito contra-plongée – isto é, a bandeira vista de baixo para cima. A criação da mitologia da superioridade, idealismo, ou seja, a princípio o velho macete da propaganda política nazi ou de contra-propaganda norte-americana na Segunda Guerra Mundial que até hoje está presente nos pôsteres promocionais de filmes românticos ou de aventura hollywoodianos.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

3 Comentários

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  1. Perfeita Narrativa

    Lamentavelmente o Brasil nos últimos 30 anos os políticos criam um personagem para arrumar o emprego e depois do emprego conquistado, ao invés de trabalhar eles conntinuam atuando

     

    Foi exatamente assim com todos os presidentes após a era Sarney.

  2. o mais difícil para a

    o mais difícil para a oposição é refutar esses símbolos, essas ideias reacionárias,  sem

    dar conotação de anti alguma coisa, anti-brasil….

     

     

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