O desabafo de um jornalista de televisão, por Florestan Fernandes Jr

Apenas um desabafo de um jornalista de televisão

“Vai ser rápido, três takes”, foi o que disse Santiago ao sair da redação. A expressão banal usada com frequência por repórteres e cinegrafistas quando têm a tarefa de gravar um assunto que não demanda muito tempo, agora merece uma longa e demorada reflexão.

Morreu um companheiro de trabalho, jornalista de frente, da cobertura pesada das ruas, vielas e palácios suntuosos do país. Morreu um repórter do cotidiano, que colocava sua vida em risco quase que diariamente na nobre tarefa de informar. Com suas imagens ajudou a aumentar a audiência de telejornais. Certamente nunca teve o reconhecimento financeiro de seu importante trabalho. Como todos os colegas de profissão, tinha um salário miserável pelo risco que corria.

Mas isso não é mais importante. Ele já está morto. Morreu registrando as cenas de barbárie de um país que, pela primeira vez, se olha no espelho e vê refletido um rosto marcado pelas cicatrizes de centenas de anos de abandono e descaso. De um país de poucos, de uma justiça para poucos, de terras nas mãos de poucos, da educação para poucos, de riqueza para poucos. Um país de uma elite arrogante, perversa e preconceituosa, que por séculos controla a política em todos os níveis; estadual, municipal e federal.

Nós jornalistas, sim, estamos de luto. A família de Santiago Andrade está de luto. A sociedade brasileira mais uma vez está de luto. Não nossos patrões que fazem do jornalismo um espetáculo dos horrores. Que colocam na frente das câmaras âncoras despreparados e irresponsáveis que vomitam seus preconceitos e ódios. Jornalismo de baixo nível que usa e abusa do sensacionalismo para garantir audiência. De “âncoras” desafiando o bom senso todos os dias com um pensamento esquizofrênico e preconceituoso. Um jornalismo travestido de notícia que manipula dados, denúncias e, em vez de levar conhecimento, cultura e educação, faz da noticia um controle de mentes.

São os Black bloc da comunicação. Ajudaram e continuam ajudando a destruir os valores mais importantes da cidadania e de justiça social. Tudo cinicamente justificado pela liberdade de expressão. Tudo para manter o status quo de uma elite atrasada e mesquinha que realmente não quer abrir mão de seus privilégios.

Luis Nassif

36 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A morte do  cinegrafista da

    A morte do  cinegrafista da Band está gerando uma verdadeira onde de bobagens ditas pelos seus colegas. Muitos já afirmam que ele foi vítima da “banalidade do mal”.

     

    Toda vez que os jornalistas banalizam um conceito sofisticado que foi produzido para um contexto histórico determinado seu conteúdo se perde. É o que está ocorrendo com o emprego  do conceito de Hannah Arendt para descrever a morte do cinegrafista.

     

    Não é possível entender a “banalidade do mal” sem levar em conta o “colapso da moral” que ocorreu na Alemanha nazista. Nos anos 1930 a sociedade alemã passou por uma completa inversão de valores. A nova realidade foi sendo metodicamente criada pelo regime nazista: primeiro ocorreu a proibição dos alemães saudáveis se casarem com doentes mentais e judeus, depois os doentes mentais passaram a ser esterilizados e por fim eles começaram a ser exterminados, a “solução final” da questão judaica se valeu das experiências prévias feitas durante o extermínio dos doentes mentais. Durante este período, a Lei alemã  passou a obrigar os agentes estatais a matar como se isto fosse um imperativo moral positivo (e não uma violação da lei moral, que em todos os tempos e lugares diz quase sempre a mesma coisa “não matarás”). Aqueles que se recusassem a matar eram punidos.

     

    Não estamos vivendo sob a égide do mal banal, pois não ocorreu uma completa inversão dos valores morais. Muito pelo contrário, a legislação brasileira continua protegendo a vida e a integridade das pessoas e o Estado se obriga a punir sua violação. Além disto, o simples fato dos jornalistas criticarem abertamente a violência urbana sem sofrer qualquer tipo de punição em razão disto (o que certamente ocorreria caso o “colapso da moral” tivesse invertido profundamento o conteúdo dos preceitos legais) é um indício de saúde moral da sociedade brasileira.

     

    A pueril insistência dos jornalistas de usar o conceito de Hannah Arendt de maneira inadequada num contexto histórico diferente daquele para o qual ele foi criado não nos ajuda a identificar a fonte do problema do Brasil para que ele possa começar a ser resolvido. Resumindo, a propósito de justificar o problema de uma maneira sofisticada, os jornalistas estão nos impedindo de ver a realidade para extrair dela a solução.

     

    Olhem a realidade e não os livros, meus caros pseudo-intelectuais. Foi isto que Hannah Arendt fez quando se debruçou sobre o nazismo. 

    https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/sobre-a-banalidade-do-jornalismo-pueril

    1. O texto mostra o desabafo de

      O texto mostra o desabafo de um jornalista que já está saturado de “mentiras”praticadas diariamente com sentido diferente de informar, educar e ajudar ao próximo – aproveitou o momento para refletir e sugerir aos seus pares que reflitam e mudem a sua postura.

      Vem você filosofar com teorias de “banalidade do mal”, Alemanha Nazista, Hannah Arendt …

      Leia de novo ! Quem sabe você consiga entender e  transmitir  a sua opinião de forma simples sem pensar em “tese de Mestrado “.   Apreciaria entender seus pontos de vista/

      1. O pior que é tão simples

        O pior que é tão simples acabar com a farsa da globo. A rede tvsófrer na mão de todos e é a que vem fazend oum jornalismo mais isento. Sobre o Mensalão do PT fiquei sabendo muito antes por um assessor do Romeu Tuma, falou para mim que se sobesse que o PT era tão bom teria apostado nele antes. Ai falou presta a atenção no Silvinho é o Homem da caneta.

        Quando Acusaram Jeferson naquele video, e ele acusou o Zé Dirceu já deduzi que era para caçar ele em plenario.

        Como Ze Dirceu exigiu julgamento rápido procuraram que nem um locos não encontraram na e deram nele um dominio do fato.

        Eles não queriam que caisse o Marcos Valério era só pra pegar o Zé Dirceu, Ai destrancou a porta suja do PSDB com os esquemas de corrupção em todos os orgãos publicos, fiscais da receita que não autuam, leva por fora, trabalho a mesma coisa, são poucos os honestos. Mas estes são afastados e jogados para esferas menores.

        A mesma coisa a Corregedoria da Policia Militar tem que ser civil com visão de direitos humanos, com membros das varias camadas socias. Do conttrário encobrirão tudo sempre.

    2. O hábito da propagação de

      O hábito da propagação de ideias facilmente digeríveis e assimiláveis abstrai os fatos. A decisão, acho que vinda da publicidade, de passar mensagens rápidas por palavras ou expressões chaves, tem substituido a narrativa dos fatos em si, que fica ausente. Qualificam-nos, mas não os expõem. Muito menos os contextualizam. É um jornalismo econômico, fora outros qualificativos morais piores. Falam tanto em banalização, quando são eles mesmos que banalizam os fatos. Esses pós-modernos acreditaram mesmo na notícia, furo de reportagem, daquele idiota Fukuiama que decretou o Fim da História.

    3. Caro Fábio,
      Quem o criticou

      Caro Fábio,

      Quem o criticou não leu o que vc escreveu, menos ainda o que o FFJr escreveu! Reli recentemente Hannah Arendt e vc está coberto de razão! Obrigado por ser conciso, direto e claro. Poupou-me um  bom tempo de reflexão, coisa a qual pouquíssimos estão afeitos…

      Abs generalizados!

    4. Hannah Arendt

      Fábio, concordo plenamente com você. O pessoal está misturando as coisas e isso não ajuda, entretanto, pergunto, como é que chegamos a isto?. Tive um tio que um dia, sobre a violência, disse: “…a massa de se fazr seres humanos não é mais a mesma. Perdemos o conteudo religioso que tinhamos na nossa formação”.

      Será que é isto???!!!

  2. CRU, LAPIDAR E DEFINITIVO


    Sobre o engulho que sentimos em relação a mídia brasileira das famiglias, a todo momento, a tanto tempo, Florestan Jr foi cru, lapidar e definitivo.

    Resta-nos apenas divulgar o certeiro e mortal texto, pois eles merecem e nós necessitamos fazer a merecida pressão para que deixem o Brasil em paz, para sempre, antes tarde, que nunca.

  3. Eu fiquei impressionada com a

    Eu fiquei impressionada com a simplicidade da mulher de Santiago. Simplicidade não no sentido intelectual, mas de pobreza mesmo.

    Não basta os cinegrafistas colocarem os equipamento no chão. É preciso que negociem melhores condições de trabalho e treinamento para cobrirem eventos violentos.

    O comentário de Florestam esta impecável.

  4. texto irrepreensivel

    O que o Florestan coloca é um resumo de toda uma analise estrutural da sociedade estratificada a partir de um principio de desequilibrio herdado de nosso passado colonial.  E nao podemos nos esquecer que o imperio colonial só conseguiu exito no controle da populaçao com o apoio irrestrito da igreja,  naturalizando a aceitaçao da desigualdade em troca de um futuro celestial.  Parece que as pessoas cansaram de esperar e agora querem resolver a questao diretamente. Os que pertencem ao 1% logo precisaram de meios cada vez mais repressivos pra controlarem as massas.

  5. Parabens FF

    Desabafo realmente de todos nós brasileiros que não temos os meios de acesso das mídias em geral.

    Diariamente temos esbravejadores e sinto que estão aumentando e muito inclusive nas rádios.

    Ontem foi postado também por Nassif o pensamente do dr.Marins em palestra no SECOVI,que vem ao encontro

    de tudo isso .  Momento muito difícil o atual.

  6. parabéns

    Parabéns pelo artigo que realmente retrata o nosso cotidiano como o dever de informar a sociedade o que ocorre nas Ruas enquanto outros beneficiam-se do nosso trabalho sob sol, ou chuva, dia ou noite, e como o trágico passamos somente a estatistica e logo a seguir ao esquecimento.

    Jorge Ruas Jornal Metrô Car segunda pagina.

  7. Texto irretocável

    Falta agora que mais jornalistas de verdade venham a público se manifestar contra o “jornalismo pau mandado” e denunciar os graves desvios de conduta que ocorrem  escondidos debaixo da alegação de exercício da “liberdade de imprensa”. Só o F.F. tem coragem?

     

  8. Morte do Cinegrafista

    As redes de televisão e rádio não tem normas e rotinas a serem seguidas pelos seus profissionais quando vão fazer coberturas com riscos mais elevados? Não existe a obrigatoriedade de uso de equipamento de segurança pessoal, seguro de vida e acidentes especial, pessoal de segurança para seus profissionais? Cade o sindicato desses profissionais ou até mesmo o Ministerio Público do Trabalho para investigar as condições de trabalho desse setor?

    1. A maioria dos juizes de

      A maioria dos juizes de trabalhos estão nas mãos das empresas. Eles descumprem todas as legilação de carga horaria semanal. Profissionais da nossa area de comunicação, eles colocaram tudo no sinticato de processamentos de dados.

      O valor da hora extra é menor, autorizam o banco de horas de forma indiscrinada. Pagando, as vezes, da seis meses com a porcentagem menor de extra.

      Na empresa que trabalhei e entrei com processo falei que a empresa descumpria meu cargo me resgistrando num sindicado que não representava minha categoria. Estava com portfolio em mãos, como prova de minhas atribuições, falei eu faço isto.. O juiz disse tudo bem e eu fiquei falando sózinho. Deu ganho de causa pra a empresa, que alegou que não era da resonsabildade dela na apresentação de defesa.

      eles estão por todo judiciario procuradoria, desembargadoria é um antro. Não da para confiar e nenhum. Juizes não pode ser impunes. precisa ser feito algo para muda a forma como se escolhem juizes e para procuradores.

      Teve um Senador que chegou a propor para uma empresa que trabalhava, um acordo de arrendamento da grafica do sendo, nos administravamos a grafica e ficavamos com uma porcentagem , ele ficava com mais de 50% do montante. Nós receberiamos só de numero nem dariamos as caras lá.

  9. Deveriam se olhar no espelho também.

    Agora mesmo estou assistindo por uma filiada da globo,uma entrevista onde um médico que é presidente regional do conselho de medicina,quer desbancar cinicamente o programa mais médicos tendo a cara de pau de dizer que “todos os dias vemos pela imprensa”…

    Vemos o que? O mau atendimento por parte de muitos médicos brasileiros? Que alguns médicos brasileiros  nem aparece para assinar o ponto?É assim que portam,a elite parasita e alguns “empresários” da comunicação.Se  acham os donos da verdade,criticam por criticar  sem apontar soluções,porque?Porque querem manter o status quo.Querem manipular.Querem que o pobre se exploda.E quando alguem joga na cara deles que estão manipulando,alardeam hipocritamente que estão querendo censura-los.

    Taí o resultado,um pai de famíla assassinado por um daqueles que eles incentivam.

     

  10. Três “takes”: um polícial

    Três “takes”: um polícial jogando bomba de gás, um (a)  manifestante chorando, uma correria…

    Não deu nem o primeiro…

    Foi abatido pelo “fogo amigo” dos manifestantes…

    É a culpa é de nossa secular estrutura desigual…

    Haja paciência…

    1. Fogo amigo??? Vc é

      Fogo amigo??? Vc é terrorista? Quem atira artefatos explosivos com a intenção de matar é um criminoso e deve ser preso, pois não merece viver em sociedade. Se quiser fazer apologia de crimes você também responderá por isso,

  11. Parabéns, Florestan! Mas como

    Parabéns, Florestan! Mas como é duro ver, ouvir, ler a nossa imprensa maldita usar a morte do Santiago para justificar e continuar perpetuando o status quo dessa elite arrogante, perversa e preconceituosa.  

  12. Não foi um repórter da mesma

    Não foi um repórter da mesma emissora, que certa vez, ao cobrir uma troca de tiros entre 2 gangues ou Polícia e gangue, foi tb ferido ? Eu me lembro que na ocasião foi mt discutido (mas parece que  não colocado em prática) o uso de coletes à prova de balas, em reportagens do tipo.  Depois o assunto morreu, como sempre…. Será que a emissora e o âncora do seu jornal mais importante do dia vão continuar a incentivar essas manifestações (tão singelas, q nada usam p/ proteger seus jornalistas e cinegrafistas) e aumentarem seus IBOPES ?

  13. É Florestan Fernandes Jr,

    É Florestan Fernandes Jr, agora tem que garantir segurança para os trabalhadores da EBC que tem negado o direito à equipamentos de cobertura e são pressionados por gente como você e seus parceiros da direção a se expor nas ruas.

    1. Rodrigo, passei a maior parte

      Rodrigo, passei a maior parte da minha vida na rua como repórter. Enfrentei enchentes, tiroteios, rebeliões e ate guerras em outros países. Pegunte para qualquer repórter cinematógrafico como era meu comportamento com eles e com meus colegas de redação. Acho muito feio atacar colegas como você está fazendo comigo. Não sou patrão, sou um jornalista empregado de uma empresa pública.  Fico envergonhado como cidadão e como jornalista esse tipo de ataque aos colegas. Nunca obriguei ninguém a correr risco. Aliás, está é uma avaliação que deve ser feita pelo repórter na rua. Ele que está na frente de batalha é que tem que avisar as chefias. E sempre que isso ocorreu, a equipe retornou para a redação. Saudações. 

      1. É preciso um movimento grevista?

        É tão absurda a situação na EBC que foi preciso fazer um movimento grevista para chamar a atenção a esta situação, será que os trabalhadores são tão sem noção que já partiriam para uma greve antes de exporem para suas chefias a situação de insegurança? Era e é amplamente sabido da falta de segurança dos jornalistas na empresa, na cobertura das manifestações, e ter estado na mesma situação só aumenta a responsabilidade, espero que na Ouvidoria isso possa ser conseguido rapidamente.

         Em tese todos são empregados nas Empresas Públicas, mas é claro que quem ocupa cargos de chefia e gerência tem responsabilidade quanto aos rumos da empresa.

  14. Bom saber

    que existem pessoas com acesso aos meios de comunicação que podem nos ajudar a mudar essas estruturas sufocantes, massacrantes. Não vejo esses noticiários viciados, mas me aborrece muito saber que eles continuam tentando manipular  pessoas ingênuas. E em nome do espetáculo,  jogam seus peões às feras.

  15. O mundo poderia cair em cima

    O mundo poderia cair em cima das organizações Globo. O século muda e ela continua ma mesma, vamos ver como ela e CBF e Cartolas irão se safar por desresteitar uma lei maior.

  16. Dilma poderia exigir horário e falar a nação!

    Dizer que estão fazend ouma constituição cidadão e a Globo e outros meios de comunicação preferem pregar o ódio em vez da paz Que etá em votaçã osalario minio de 1400 reais já acordados pela casa, desde que o Pt retirasse a clausula de pocentagem de aumento do PiB até 2023 com estava na lei. Estão votando o fim da redutor de aposentadoria. Alegando que foi um sacrilégio que fizeram com os aposentados. Ai desmascarava ela, perderia a crediblidade de vez.

    Por estar protegendo imagem da UNIMED!!!!!

     

  17. Os civitas compraram o Anglo

    Os civitas compraram o Anglo para fornecer material de educação, Unip, Positivo, Coc dominam a area. E tem pauzinhos no conselho do Mec.

    Venderam para a população não possui bom emprego por que não possui curso superior, jogada para vender cursos com cargas horárias cada vez menor e ainda estão dando aula distancia engando o povo.

  18. Floresta Fernandes Júnior

    É uma perfeita simbiose: a mídia precisa dos black blocks para melhora a audiência e desestabilizar o governo (Federal), jogando-lhe a culpa por “tudo o que está aí”, etc. e os bagunceiros precisam de publicidade. Se não houvesse cobertura, tudo seria diferente e o jornalista não teria perdido a vida tão prematuramente.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador