Os veículos de comunicação e a Indústria da difamação

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Indústria da difamação

Por Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia

Do blog do autor

Em um salão amplo, em torno de uma grande mesa de reunião, será tomada a decisão da pauta do próximo número de um dos maiores periódicos do país. O editor chefe, os chefes de editorias setoriais e, o que é incomum para este tipo de reunião, o próprio dono da editora estão presentes. Em geral, ele recebe a pauta gerada nestas reuniões e ainda interfere nas decisões. Mas, desta vez, ele está interessado em mostrar ao seu filho, um dos mais recentes diplomados em jornalismo, como funciona o negócio da família. Por isso, trouxe o rebento para a reunião. O editor chefe está com a tarefa, determinada pelo dono, de presidir a reunião e com a recomendação de esquecer a sua presença. Assim, falando mais alto, ele abafa o bate papo do grupo e inicia a reunião.

Editor chefe – Quero sugestões para a matéria principal e para as demais matérias. Vamos começar com a matéria principal, com direito à chamada da capa.

Jornalista 1 – Pasadena, depoimentos, Petrobras, Paulo Roberto Costa …

Editor chefe – Para matéria principal, não. Precisamos de um furo, algo novo ou de uma nova declaração sobre um tema antigo.

Todo mundo fica em silêncio, até que uma jornalista, que só tem dois meses na editora, pede para falar.

Jornalista 2 – Eu tenho a informação de uma fonte que outro diretor da Petrobras também está envolvido em superfaturamentos, negócios não bem explicados etc.

Editor chefe – É algum dos que nós já fizemos matérias?

Jornalista 2 – Não. É outro.

Editor chefe – É coisa séria?

Jornalista 2 – Minha fonte foi apresentada por um amigo, que diz que ela é séria. Mas, até agora, não tive nenhuma confirmação.

Editor chefe – Então, vá à luta e descubra o máximo que puder. Antes da edição do novo número, vamos ter mais uma reunião e, sempre que precisar, fale comigo.

Jornalista 2 – Só tenho medo de não conseguir comprovar as denúncias. Aliás, têm muitas pessoas que dizem exatamente o contrário. Dizem que quem conhece o tal diretor não pode acreditar que as acusações sejam verdadeiras.

A jornalista 2 não sabe ainda como as coisas funcionam nesta editora. Por isso, o editor chefe olha para o dono, esboça um ligeiro sorriso e responde para a jornalista.

Editor chefe – Busque a história e as comprovações. Mas, mesmo que você não consiga comprovar, fale comigo, porque há chance de se utilizar o material.

Jornalista 2 – Como assim?

Editor chefe – Se só faltar um link óbvio, você não precisa de comprovação. A própria obviedade é a validação da informação. Além disso, muitas vezes, o leitor quer ouvir mais versões do que realidades. E temos, também, que satisfazer o leitor!

Jornalista 2 – Mas, tem a chance de grupos com interesses na empresa estarem querendo “queimar” este diretor e, por isso, estariam “plantando” estas notícias falsas na nossa publicação.

Editor chefe – Colha todo o material e, depois, venha na minha sala com ele.

Neste ponto, o filho do dono se dirige ao pai, falando baixinho.

Filho – Agir como ele propõe não pode resultar em um processo futuro de difamação, que poderá trazer prejuízos?

Em ato incontinente, o dono se levanta e diz para o grupo continuar com a reunião, mas ele terá que se ausentar, devido a tarefas inadiáveis. A seguir, sai da sala, acompanhado do filho. Chegando a sua sala, dirige a palavra para o filho.

Dono – Você sabe qual o negócio mais rentável nesta empresa?

Filho – Edição das nossas publicações, incluindo o carro-chefe, em cuja reunião de pauta, nós estávamos?

Dono – Não!

Filho – A publicação de livros?

Dono – Também não. Você não vai descobrir. É o lançamento de acusações, verdadeiras ou não. Através delas, há a possibilidade de se ganhar dinheiro de várias formas. Em primeiro lugar, porque a venda da publicação com denúncias é sempre alta. Depois, os grupos econômicos por trás do corrupto, beneficiários das suas falcatruas, ou seja, os corruptores, ficam propensos a abrir os cofres para que paremos a linha de investigação. Muitas vezes, estes grupos ficam sabendo, antecipadamente, as nossas investigações e …

Filho – Como podem?

Dono – Eles têm espiões na nossa redação. E, aí, eles oferecem valores consideráveis para as investigações serem paralisadas.

Filho – E nós aceitamos?

Dono – Se o valor oferecido garantir uma boa lucratividade e dependendo, também, da inconsistência das acusações que temos, sim!

O filho fica pensativo. O pai continua com a sua explicação.

Dono – Têm as encomendas de calúnia para “queimar” adversários políticos. Por fim, os governos, às vezes, ficam sabendo antecipadamente também, e oferecem, por exemplo, a compra de publicidade para não publicarmos determinadas denúncias.

Filho – Isto não seria proibido?

Dono – É. Mas, é muito difícil de ser detectado.

Filho – E o caso que lhe perguntei na reunião? São publicadas acusações não comprovadas e o cidadão, que se julga difamado, vai à Justiça. Se esta der ganho de causa ao reclamante, não vai nos dar prejuízo?

Dono – Têm dois fatores a se levar em consideração. O primeiro é que ganhar uma causa na Justiça não depende, necessariamente, de se estar fazendo justiça. Se você está sendo representado por bons advogados, suas chances de ganhar aumentam muito. Por isso, nós trabalhamos com um dos melhores escritórios existentes. O outro ponto a considerar é que, mesmo que percamos a causa, o total das penalidades ainda pode ser menor que o lucro gerado pela edição caluniosa. E o pagamento das penalidades só acontece anos depois da receita do fato calunioso ter entrado no nosso caixa.

O filho continua pensativo e o pai complementa da seguinte forma.

Dono – Eu prefiro trabalhar com fatos verdadeiros, até porque com eles você não é desmascarado e não tem a chance de perder a credibilidade. Mas, o nosso negócio é o escândalo. E, às vezes, os escândalos reais ficam escassos.

Filho – E os difamados injustamente? Como ficam?

Dono – São acidentes de percurso. Não há nada pessoal contra eles.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

15 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Mercenários….., nada mais!!!!!

    Alguns podem até não saberem destas manipulações, mas a realidade é simplesmente esta!

    Quanto as ficticias indagações do filho do dono deste suposto jornal, ou seria crônica, se não fosse infantil, seria hilária!!!

  2. Para que reunir só um jornal

    Falta criatividade. Podiam fazer uma reunião assim com os editores chefes de outros jornais num mesmo local e horário. Uma pergunta chave seria: quem está disposto a “repercutir nossa infâmia”? Depois o chefe falaria: asim não dá, todos juntos vai ficar muito na cara. Vamos fazer assim: primeiro você fulano, no dia seguinte, você sicrano e depois de uma semana todos juntos. Depois nós “repercutimos” uma denúnica qualquer suas, e os apoios adjacentes vão ser na ordem inversa. Pronto. Já temos assunto para toda a semana, talvez mês. Os joranis do interior fazem o que sempre fizeram, vocês sabem,copiam os adorados mestres. Outra coisa que vai falar com o presidente do sindicato dos jornalistas para intimidá-lo este mês? E quem vai dar uma palestra na escola superior de jornalismo sobre o risco iminente que a imprensa livre corre? Você e você. Pronto. Reunião finalizada.

  3. ” Por fim, os governos, às

    ” Por fim, os governos, às vezes, ficam sabendo antecipadamente também, e oferecem, por exemplo, a compra de publicidade para não publicarmos determinadas denúncias.”

    O governo gastou 2,3 bilhões em publicidade pode ser coincidência claro.

     

    1. Seu argumento é muito
      Seu argumento é muito frágil. Se vc já leu o Príncipe da Privataria… o que vc acabou de falar aconteceu com FHC e Serra na prefeitura de São Paulo com vários out-doors espalhados pela cidade. Em relação ao PT não acho provável… quanto mais propaganda mais os caras batem no PT… então é totalmente inócuo para o PT fazer propagando com o PIG para ser elogiado. Essa não colou. Tem argumentos um pouco mais consistentes?

  4. Histeria da dita

    Histeria da dita esquerdalha

    A midia sempre ( via de regra ) pega no pe do govrno

    O que a midia ja falou de Sarney, Collor, e Maluf AMPLAMENTE  appoiada pelo PT e demais da esquerda nao esta escrito no gibi.

    Para nao falar no golpe midiatico REAL com ampla participaçao da esquerda e apoio do PT e SAO LULA que foi a deposiçao do Collor onde mais tarde seria absoluvido de TODAS as acusaçoes usadas para depor o homem…rs

    A galera qeu vive falando em falta de provas para Dirceu e CIA nao fala disso sobre  o Collor e nem acham qeu devam um pedido FORMAL de perdao ao hoje atual aliado né?

    A midia é PODEROSA a serviçod da CIA , GOLPISTA etc e tal mas o PT nao tem sido eleito e reeleito a 12 anos? rs

    E o Brizola em pleno anos 80 onde a Globo era ainda mais forte nao foi eleito 2 vezes no rio para governador?

    Ele nao conseguiu direito de resposta no jornal nacional?

    Essa pelegada exagera tudo …rs

    1. Histeria…

      A sua bazófia tola e enfadonha só tem uma serventia: a absolvição do Collor pelo STF, foi tão somente, mais um episódio a comprovar que a “direitalha” (sic) sempre será privilegiada, caso venha a ser julgada por acusações, que lhe sejam imputadas.  Simples, assim!

      1. Hum…rsQue feio Jose…O

        Hum…

        Que feio Jose…

        O conceito original é que sem provas ninguem poderia ser preso ou punido lembra? rs

        Que na ausencia disso tratava-se de… (como era mesmo o termo?)

        -Ah lembrei!

        -Tentativa golpista da oposição para através da midia derrubar um presidente democraticamente eleito!!!

        Acredita que depois de tudo Não houve prova para legitimar a deposiçao do homem?

        Que ele foi inocentado de todas ( todas! ) as acusações?

        E ai fica a pergunta ( com o perdao do trocadilho )

        -E agora companheiro?

        rs

        Não havendo prova ( e seguindo a linha que justifica ” A paixão de Dirceu ” ) é necessario que o partido reveja sua participaçao decisiva neste ” golpe midiatico ” rs

        A proposito , sobre ” direitalha ” seria essa a alinhada do peito do PT nos dias atuias?

        Para as quais o São Lula chegou a pedir voto alegando que o pais deve respeito a trajetoria de vida de um dos seus maiores expoentes?

        Ou pedir voto na cara dura dizendo ser esse dita ” direitalha ” algo novo que com sua eleição iria mudar coisas como o estado do Maranhão por exemplo?

        Não!, nem precisa  responder…rs

  5. Leonidas a matéria pelo que

    Leonidas a matéria pelo que entendi fala das  patifarias na industria da difamação

    Em que parágrafo você viu  mencionar  partidos ou tendencia politicas e a responsabilidaddes destes com a ética no jornalismo?

    Quanta ideia fixa.

    Vai tomar um copo de agua com açucar pra ver se acalma.

    1. Isso, o Paulo não mencionara

      Isso, o Paulo não mencionara uma única vez nomes de partidos. Mas o Leônidas se entrega fácil. Calma cara, pode ir dormir tranquilo sem precisar checar se hácomunista debaixo da sua cama. Cristo! Depois fala que é “esquedolandia” que é paranóica. O cara tá vendo esquerda em tudo…internação?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador