As obras inéditas para piano do maestro Cyro Pereira

O jovem Diogo Ferreira, aluno do 2º ano de performance de piano na Universidade de São Paulo, gravou o inédito Estudo Rítmico nº 2

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Os nostálgicos da música popular brasileira lembram-se bem do maestro Cyro Pereira, mas por sua carreira na música popular. Ele era o maestro do programa ̈O Fino da Bossa¨, escreveu milhares de arranjos e fez a orquestração de grandes sucessos da MPB. Consagrou-se também como um dos fundadores e maestro da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo.

Também deixou uma obra erudita, como Fantasia para Piano e orquestra sobre temas de Ernesto Nazareth, arranjos para diversas obras de Villa Lobos e composições para orquestras.

Em 1965, ao lado do maestro Mário Albanese – um grande pianista e inovador – Cyro lançou o projeto Jequibau, que pretendia criar uma nova batida na música brasileira, um espaço quinário (5/4). Seu conjunto tinha grandes nomes do violão, como Macumbinha e Santisteban.

Sobre Macumbinha, escrevi em 2003:

Conheci Mário Albanese e cheguei a gravar um especial com ele.

As músicas de ambos foram gravadas por grandes instrumentistas nacionais e internacionais. E mereceu uma tese acadêmica de Daniel Guerra Vilela, da Universidade Federal da Paraiba.

No resumo, Vilela diz o seguinte:

Criado por Mário Albanese e Cyro Pereira, lançado em São Paulo, em 1965, o Jequibau é uma expressão musical construída em compasso quinário (5/4). Mais conhecido pelos epítetos de “Samba em Cinco” e “Bossa em Cinco”, gravado em mais de vinte países por nomes como Hermeto Pascoal, Charlie Byrd, Sadao Watanabe e Susana Colonna, o Jequibau manteve-se fora do foco midiático e acadêmico.

O intuito deste trabalho é preencher esta lacuna, analisando-o sistematicamente sob diferentes perspectivas. Para tanto, sua trajetória é criticamente descrita, compreendendo seus diversos momentos através de abordagens historiográficas e etnomusicológicas.

A sua concepção enquanto obra é analisada por um viés mais filosófico, no qual o conceito de arte assenta-se no centro do debate. Suas intrincadas relações com a cidade de São Paulo e seu discurso identitário, mostrando o que dele sintetiza e o que a ele adiciona o Jequibau, também constitui-se como objeto de discussão e reflexão.

Por último, os aspectos rítmicos, harmônicos e melódicos, bem como suas influências e transformações, são analisados com a utilização de ferramentas como a partitura e conceitos como time-line-pattern, minha-variações e fricção de musicalidades. Toda a pesquisa e o texto aqui apresentados estão permeados por materiais coletados ao longo de dez anos de trabalho de campo. São muitas reportagens, matérias de jornais e revistas, partituras, entrevistas, imagens e depoimentos aqui examinados. Antes negligenciado e esquecido, o Jequibau apresenta-se como uma importante contribuição para se pensar a música brasileira popular, configurando-se como parte importante desta.

No início de carreira, com apenas 17 anos, compôs essa lindíssima “Valsa da Saudade”. Aqui, um playlist de Cyro.

Mas também deixou uma grande obra de composições inéditas.

Agora, o jovem Diogo Ferreira, aluno do 2º ano de performance de piano na Universidade de São Paulo, gravou o inédito Estudo Rítmico nº 2, de 1960. Luciana Sayure, sua professora, montou um projeto para gravar em estúdio toda a obra de piano solo de Cyro.

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