A corrupção não nasceu hoje ou O Brasil não é mais Belíndia

Vi recentemente um analista político do UOL – Josias de Souza – comparando a situação atual do nosso país, globalmente considerado, ao estado do Maranhão, aquele que sempre figura entre os portadores dos mais baixos índices de desenvolvimento humano (por acaso é governado, há muito, pela família Sarney). O tom do artigo era de profundo pesar pelo fato de Dilma ainda estar na dianteira das pesquisas eleitorais, a despeito do “mar de lama” em que se revolvem os políticos do PT e seus agregados (aqui o link para o artigo: http://bit.ly/1qLiz4C). Minha reação, ao terminar a leitura, foi sorrir. Afinal, é engraçada a seletividade com que tantas vezes se analisa o histórico brasileiro. Quer dizer que há pouco tempo o Brasil era uma Paris gigante, governada com eficiência de políticos suecos e/ou noruegueses e os governos Lula-Dilma transformaram esse baluarte do desenvolvimento humano em um Maranhão hipertrofiado? Claro que não foi isso o que aconteceu.

Quem não lembra do termo Belíndia (Bélgica + Índia), cunhado em meados dos anos 1970, pelo economista Edmar Bacha, para definir os contrastes de nosso país? A coisa continua nessa toada, mais ou menos. O mesmo país em que se sediou uma bem-sucedida copa do mundo de futebol é aquele em que faltam médicos nos postos de saúde e hospitais; o mesmo lugar em que há um alto percentual de jovens “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham) é aquele que hoje bate recordes de alunos matriculados no ensino superior. Se bem que há melhorias… O termo mais adequado hoje não seria Belíndia, mas sim Italordânia (Itália + Jordânia). A Itália não é tão rica quanto a Bélgica – nem a Jordânia tão pobre em indicadores sociais quanto a Índia. O que isso significa? Simples. Houve alguma melhoria para aqueles que ocupam o pavimento inferior de nossa pirâmide social. (Sobre o assunto “Italordânia”, confira o link seguinte: http://abr.ai/1i2e7kv.)

Uma coisa é certa: análises da corrente situação de nossa pátria que apontam para a vigência do caos no Brasil, em oposição a um passado supostamente idílico, andam bem distantes da realidade. Nosso país é extremamente mais complicado do que faz crer aquele que fala como se a corrupção fosse produto dos últimos doze anos. É essa simplificação, inclusive, que torna ainda mais fácil a missão do marqueteiro João Santana, que trabalha na campanha de Dilma Rousseff. É fácil “vender seu peixe” quando o da concorrência está tão passado do ponto, envelhecido, inadaptado à realidade atual. Essa análise política em que na verdade vai embutida torcida contra ou a favor – encontrada tanto ao lado daqueles que querem seja Aécio, como dos que querem Dilma ou ainda Marina – nunca deve servir de norte para quem quer entender o nosso país para efeitos práticos. Ela apenas alimenta a já imensa chama da torcida do nosso eterno “Fla X Flu Político” (isso quando todos sabemos que futebol não resolve problemas políticos de país nenhum).

Houve melhorias. E quem mais as sentiu foram os ocupantes do andar de baixo. É sintomático o fato de eu nunca ter visto, durante esta campanha, o adesivo “Fora Dilma e leve junto o PT” adornando carros populares. Tampouco abrilhantando moradias da periferia daqui de Recife. Tal ornamento sempre é visualizado em carros importados, de preferência naqueles grandes utilitários “quatro por quatro”. Talvez isso seja reflexo da mudança no andar de cima: o pessoal que habitava a Bélgica na época em que Edmar Bacha sacou da cabeça a “Belíndia”, hoje habita a Itália. Isso os deixou em estado de extrema fúria antipetista, já que atribuem ao partido de Lula essa retumbante perda de status. Certamente quem vivia na Índia está menos descontente por estar na Jordânia. Isso talvez explique os números atuais das pesquisas para nossas eleições, que concedem vitória a Dilma, amplamente ancorada no voto do eleitor pertencente à classe C. A luta de classes, afinal de contas, está por aí, viva como sempre.

Redação

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