A crise mundial é o preço da insanidade, por Luis Nassif

A crise energética levou a uma explosão no consumo de carvão, com produção aumentando de 100 mi de toneladas para 1,3 bi

Para as instituições multilaterais, os próximos anos serão os mais desafiadores em décadas, para a economia mundial. Haverá mais dificuldade para conter a inflação. A vice-diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, previu um período com choques de oferta muito mais voláteis.

Em parte, pela interrupção das cadeias de suprimento, decorrentes do Covid-19. O apoio fiscal e monetário dos diversos países estimulou um aumento da demanda. Finalmente, a invasão da Ucrânia pela Rússia gerou novos choques de commodities, pressionando ainda mais os preços.

David Malpass, presidente do Banco Mundial, considerou os instrumentos dos Bancos Centrais inadequados para combater pressões inflacionárias provocadas pela oferta. Assim, o aperto monetário provocará um período de crescimento lento e enfraquecimento do mercado de trabalho, segundo Jay Powell, presidente do FED (o Banco Central americano).

E aí entra em cena a marcha da insensatez. Quando os países da União Europeia se curvaram aos Estados Unidos, atuando para prorrogar a guerra – em vez de pressionar pela paz -, atendiam às demandas imediatas dos eleitores. Mas sem um pingo de visão estratégica sobre o dia seguinte.

A consequência óbvia era uma explosão nos preços da energia, devido à dependência europeia do gás russo. Agora, há o risco concreto de que os preços da energia levarão à recessão, confirmando a miopia coletiva de seus governantes em relação à guerra. 

Na semana passada os preços no atacado de gás e eletricidade atingiram o maior valor de todos os tempos. As expectativas negativas derrubaram o valor do euro e promovem uma fuga para o dólar. A moeda, enfraquecida, estimula mais ainda a inflação. Mais inflação exige mais juros. E mais juros prolongam a recessão.

E onde moram as esperanças dos europeus? Segundo o Financial Times, na China. Maior comprador mundial de gás natural liquefeito, a China está revendendo algumas de suas cargas excedentes para a Europa. Nos seis primeiros meses do ano, as importações europeias cresceram 60%, em termos anuais, permitindo uma taxa de ocupação de armazenamento de gás para 77%. Cálculos mostram que a China pode ter revendido cerca de 4 milhões de toneladas, equivalente a 7% das importações de gás europeu de janeiro a junho.

Mas trata-se de um período transitório, provocado pelo desaquecimento da economia chinesa. Mesmo assim, a maior refinaria de petróleo da China, a Sinopec Group, reconheceu estar canalizando o excesso de GNL para o mercado internacional. 

Por outro lado, a crise energética levou a uma explosão no consumo de carvão. Apenas a província de Shanxi aumentou a produção de carvão de 100 milhões de toneladas para 1,3 bilhão de toneladas.

Os sinais de crise se espalham por todos os países. A Uniper, da Alemanha, e a Wien Energie, da Áustria, foram atrás de apoio emergencial do governo para enfrentar os custos crescentes do gás e da energia.

Uma das maiores concessionárias de serviços públicos da Alemanha, a Uniper pediu aumento de 4 bilhões de euros para garantir a liquidez de curto prazo da empresa. Historicamente, era a maior compradora de gás russo na Europa. As compras caíram quase 80% desde junho

Já a Wien, que tem 2 milhões de clientes domésticos, também fez um pedido de suporte adicional, depois que o preço de referência do gás subiu quase um terço em apenas uma semana.

Luis Nassif

7 Comentários

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  1. Nos próximos meses os europeus começarão a importar madeira cortada na Amazônia para manter suas lareiras acesas durante o inverno. Isso explica a tolerância deles em relação à catastrofe ecologica promovida pelo capitão genocida.

  2. Com a tomada de Constantinópolis pelos turcos em 1453, os europeus ficaram privados do acesso marítimo para a Ásia através do mar negro. Face ao bloqueio Não levou muito tempo, os europeus começaram a contornar a costa africana para alcançar a Ásia, feito alcançado antes da virada do século. Além disso, em outra empreitada, Colombo chegou à América em 1492.
    Como a história mostra, bloqueios econômicos tem efeito de curta duração. Mas ao que tudo indica, nem os europeus nem os americanos, aprenderam ou observaram a história.
    O bloqueio turco propiciou aos europeus uma expansão econômica que os tornaram o centro do mundo, enquanto o império turco foi aos poucos se apagando.

  3. A insensatez dos líderes de várias nações ao não realizar uma mediação que atendesse aos interesses de todo o continente europeu, concluindo que a Rússia não se importaria com o avanço da OTAN, custa caro a todo o planeta. Não apenas está causando desaceleração no crescimento econômico e aumento da inflação, está também prejudicando o surgimento de soluções para uma economia de baixa emissão de carbono. As disputas geopolíticas e geoeconômicas nas várias regiões do Mundo, que vinham sendo somente comercial e econômica, entrou no campo militar. Isso traz um componente de instabilidade nas relações entre os diversos países, que agora não se interpretam pelas causas econômicas. Mas agora ameaças militares passam a ter importância na equação das relações diplomáticas, comerciais e econômicas de forma ressaltada. Toda essa situação em cadeia seria evitada caso as lideranças europeias tivessem a visão de todos os desdobramentos para o continente da ocorrência desse conflito, o quanto isso compromete os desenvolvimentos no continente, da competitividade econômica e das condições sociais dos países. A Ucrânia perde muito, o Mundo está perdendo e a Europa paga o maior preço por toda essa insanidade. Não existe esse heroísmo ucraniano do presidente da Ucrânia, o que existe é o prejuízo que pode ser pago ao longo de gerações em toda a Europa que se exila em relação ao progresso do restante do planeta.

  4. Se está ruim pra todo mundo, fica ótimo para alguns.
    Trombetas conspiracionistas anunciavam uma grande crise econômica mundial há pelo menos 5 anos, dando-nos conta de que ela seria fabricada pelo grande capital que é composto por banqueiros e um rosários de grandes corporações. A hora chegou e as vítimas pagam a conta. Ursula Von Der Leyen não vai ficar sem gás em casa, o “Salsicha Ofendida” Olaf Scholz não vai passar calor ou frio e nem deixará de tomar banhos quentinhos. Macron vai bem, obrigado. O herói nacional ucraniano que sabe tocar piano com o piu-piu – Volodomyr Zelensky – vai continuar “enricando” e pousando com a sua conja para a Vogue enquanto seu povo sangra nas ruas . São todos eles peões da mesma “conspiração” a quem a crise não alcança e para quem tudo está ótimo. Países da África, do Oriente Médio estão em guerra constante há anos e USA/OTAN nunca se incomodaram em punir os invasores. Por que será, não? Ingenuidade nossa achar que essa crise seja insanidade.

  5. Churchill foi um grande reaça; mas não um burro. Enquanto a pernóstica e arrogante elite inglesa só tinha olhos para o fim da União Soviética, Churchill, ao contrário de Neville Chamberlain fez inicialmente jogo duplo, inclusive fazendo o esporte predileto de anglo-americanos de SEMPRE cutucar os russos, porém jamais dando trela pra Hitler, que sabia, se cumprisse fielmente com seu contrato de acabar com a União Soviética e seu comunismo, sairia hiper fortalecido para dobrar toda a Europa e além; se falhasse, como falhou, traria os soviéticos para cima da Europa Ocidental, precisando pois negociar para salvaguardar o mínimo.
    Mas Churchill foi estadista; e não um gerente almofadinha a serviço dos banqueiros como Blair e Johnson, para ficar só nestes.
    Como cunhou certo jornalista pelo qual nutro grande respeito, todos CABEÇAS DE PLANILHA. Meros burocratas. Desastre líquido e certo.

  6. Concordo plenamente. Mas, a propaganda norte-americana, aqui, no Brasil,induziu os incautos a demonizar a Rússia e não entender essa guerra como um jogo geopolítico. Acho, que foi culpa da preguiça mental, e preconceituosa, dos europeus, que não perceberam quem seriam eles que pagariam, a maior parte do pato

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