A Degradação da Estética e da Ética

As relações humanas têm se revelado cada vez mais tensas, pois os interesses particulares sempre prevalecem. O todo não passa da soma de fragmentos das tensões dos grupos que se formam por afinidades e por interesses. Vivemos em permanentes conflitos, em virtude da ênfase dada às bajulações, interesses, recompensas, reconhecimentos, elogios e trocas de favores, enfim, preenchemo-nos de covardias, de perseguições mesquinhas, de bordéis sentimentais porque nos afastamos do plano da convivência estética e ética.

Na política, aqueles a quem apontamos o dedo pela corrupção escancarada não passam de um reflexo de nós mesmos, enquanto sociedade mal lapidada e degenerada pela fala de “bom senso”. A fazemos com tom de empáfia uma crítica burra, porque não aprendemos a criticar a corrupção em si, aquilo que a produz e a reproduz e nos atemos apenas aos seus efeitos visíveis. Corrupção que não é apenas resultado de um sistema político deteriorado, mas sobretudo, pelas formas em que as relações humanas se configuram. A corrupção surge em virtude de um modelo de política que privilegia aqueles que são visíveis pelo poder do capital e que gastam milhões de reais para serem eleitos. Apontamos o dedo quando o desafeto pertence à ideologia política à qual não comungamos e somos muito toleráveis ou cegos com as tendências com as quais compactuamos.

Os discursos são permeados de falsa retórica; as pessoas se revestem do mais digno altruísmo e chegam até a derramar algumas lágrimas – de “crocodilo” é claro – para armar uma determinada situação que lhes convenha, mas o que está em jogo são sempre os interesses. Aplaudem quando algo lhes interessa e dão as costas quando não vêem proveito pessoal nisso. Então, se escondem atrás de suas próprias sombras, fingem, para ocultar o fel que derramam sobre as cabeças de seus desafetos e quando alguém necessita de algum tipo de apoio, mesmo que pequeno, a covardia impera, os gestos se calam e as costas se voltam. Delatam ao qualquer tom de ameaça para salvar a própria pele e não vislumbram qualquer mudança de comportamento – os mesmos crimes continuam a ser praticados. As pessoas que preenchem tais “casulos” apresentam o semblante da ignorância mesclada ao sorriso traiçoeiro.

Nas instituições, pequenos grupos se formam com o objetivo de juntar forças pela disputa de espaços onde possam exercer pequenos poderes e, consequentemente, surgem outros grupos de resistência – daí as rivalidades entre pequenos grupos fragmentados, que destroem o bem-estar coletivo, desintegram o espírito de equipe e as pessoas giram em torno da defesa de suas reputações e suas condutas. As relações humanas na política são apenas uma extensão do que vemos nos pequenos grupos e na sociedade como um todo.

Geralmente, esses grupos são controlados por um líder de índole negativa e, muitas vezes, permeados de atos corruptos. Evidentemente, pela natureza humana, também existem grupos “do bem”, aqueles que se preocupam com o todo e o bom senso nas relações interpessoais. Esse grupo possui como premissa o senso de equipe, a motivação e preza pelo bem maior – o bem de todos. Caso alguém esteja com alguma dificuldade terá o verdadeiro apoio desses “anjos” corporativos, porém é raro encontrarmos pessoas com esse tipo de comportamento humanístico.

Já o outro modelo de grupo – a maioria: a turma “do mal” – é alimentado pela fofoca, pela discórdia e tem a corrupção ou a intriga enquanto forma de sustentação do poder; não soma, mas exclui as pessoas e, de certa forma, discrimina aqueles que não comungam com os seus ideais. Atolados na sua ignorância, não são capazes de reconhecer suas maledicências – o culpado é sempre o outro e transferem toda responsabilidade das desgraças e conflitos para os outros. Não me refiro aqui às oposições naturais de pontos de vista divergentes. Nesse caso, as divergências são dissolvidas pelo respeito à pluralidade de ideias, visando um objetivo comum.

A grade questão e o grande desafio está na forma de viver, que implica horizontalidade e intensidade do sentimento de ser, com um espírito de equipe, com os preceitos morais e éticos. E isso é para poucos; aos eleitos aos quais se vislumbrou a espessura da luz, para que sejam capazes de saber como se colocar no lugar do outro e saber a quem responder neste mundo.

Luiz Claudio Tonchis é Professor e Gestor Escolar, bacharel e licenciado em Filosofia, com pós-graduação em Ética pela UNESP, Especialista em Gestão Escolar pela UNIARARAS e em Gestão  Empreendedora pela UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (MBA). É autor do livro A Arte de Ser Feliz: Na Visão da Ética Aristotélica, publicado em 2016 pela Paco Editorial. (https://www.pacolivros.com.br/A_Arte_de_Ser_Feliz/prod-4686011/). Escreve regularmente para blogs, jornais e revistas, contribuindo com artigos em que discute questões ligadas à Política, Literatura, Educação e Filosofia.

Contato: [email protected]

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