A insanidade da guerra contra as drogas, comentário de Luiz Fernando Juncal

Sobre a mais recente vítima infantil dessa insanidade, vale a pena recordar que o fio da meada vem de longe. Essa pilha de cadáveres é o resultado inevitável da política homicida de "guerra às drogas"

Comentário referente ao post “A garota inocente, inteligente, estudiosa, obediente e de futuro assassinada por Witzel”

Por um desses acasos da vida, esta madrugada terminei de ler A GUERRA – Ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil, de Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias. Foram 3 semanas avançando 3 páginas e voltando duas. O que tem a ver com a tragédia? Tudo. O fio da meada vem de longe, como diz a professora e jornalista Sylvia Moretsohn, no seu Facebook:

Sylvia Moretzsohn – 7 h – Sobre a mais recente vítima infantil dessa insanidade, vale a pena recordar que o fio da meada vem de longe. Essa pilha de cadáveres é o resultado inevitável da política homicida de “guerra às drogas”. A menina do Tuiuti, cuja morte o então secretário de segurança do governo Moreira atribuiu a um “acidente de trabalho” (e por essa estúpida declaração foi exonerado, porque na época atitudes assim ainda tinham consequência), é um símbolo de toda essa tragédia. Porque Chico Buarque dedicou uma canção lancinante a essa menina do Brasil, uma menina igual a mil.

Hoje, a “absurda melodia” atinge níveis inimagináveis, na igualmente inimaginável associação entre dois psicopatas fascistas, um no governo do estado, outro na presidência. Um que salivava ainda durante a campanha, falando em “mirar na cabecinha”. O outro comemorando antecipadamente a cena dos que iriam “morrer como moscas”.

Como é possível continuar a viver numa cidade assim? Num país assim?”

Nas páginas 323/324, os autores abordam o surgimento de jornalistas e mídias alternativas nas comunidades do Rio sujeitas a intervenção das forças federais. Um deles, Renê Silva, de 17 anos na época, responsável pelo jornal mensal Voz da Comunidade, em debate sobre jornalismo com um dos autores do livro falou sobre o efeito da “guerra nos morros” no cotidiano das favelas.

“qual o tamanho da população do Alemão? quantos moradores vocês acham que vivem no Alemão”, iniciou, voltando-se para a audiência. “São mais ou menos 100 mil moradores”, ele mesmo respondeu, para depois questionar. “Qual seria a porcentagem de traficantes? Podem chutar. Dez por cento? Com certeza não é tudo isso”, ele mesmo respondia. “Isso significa 10 mil traficantes, o que daria quase um traficante por rua da favela. Vamos pensar em um por cento? Também seria muito porque daria mil homens, bem acima da realidade. Talvez haja quinhentos homens, pra menos. Aí começamos a entrar numa estimativa razoável.” Depois do cálculo, ele arrematava com uma reflexão contundente.

“Pensem então o seguinte. Por causa de mais ou menos quinhentas pessoas ou 0,5% da população, 99 mil habitantes precisam se submeter a todo tipo de violência produzido pelas forças de segurança do Estado. Pessoas que são humilhadas pelo estigma que carregam, como se a morte de seus parentes e amigos não importasse para o resto da cidade.”

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. A POLÍCIA É A CORPORAÇÃO QUE MAIS MATA NO BRASIL. MATA POR PRAZER PARA SE SENTIR PODEROSA PORÉM EXISTEM SERES DESUMANOS (.QUE SO TÊM OLHOS EMBAÇADOS PELA COVARDIA E O MEDO) QUE NA VERDADE ESTÃO ESTIMULANDO A GUERRA EM NOSSO PAÍS, INCENTIVANDO A PARANÖIA NESTE POVO COVARDE. TODOS OS PAISES POR MAIS DESENVOLVIDOS QUE SEJAM TÊM MUITO MAIS ROUBO E ASSASSINATOS DO QUE O BRASIL. Exemplo: EUA!

  2. O que é mais insano? a política assassina de Witzel, ou a enorme quantidade de pessoas que votaram nele para implementá-la.
    O raciocínio da democracia é que as pessoas elegem seus candidatos em razão das suas propostas eleitorais.
    Parece-me, que a população do Rio de Janeiro ou foi enganada e, mesmo assim, não esboça reação, ou pior, compactua com esta política desde que os seus não sejam atingidos.
    A verdade é que neste quesito, a gestão federal foi desastrosa e as gestões estaduais, não merecem comentário.
    Curioso, que neste ambiente conservador, não se discute o aspecto mais óbvio da criminalidade: o ganho econômico.
    Quanto mais houver ganho com as drogas, maior a dificuldade em equacionar a violência associada.
    Não há ninguém corajoso o suficiente na esquerda (da direita é que não virá com seus políticos milicianos), para propor oficialmente a legalização da droga no país.
    Tratada como substância legal, os efeitos da legalização se sentirão em arrecadação, em empregos e mesmo, em saúde pública e previdencia (quantas pessoas são feridas, superlotando o serviço público de saúde, e quantos morrem ou ficam aleijados, sobrecarregando a previdência/assistência social).
    Por fim, caberá aos policiais civis e não militares, coibirem a receptação de mercadorias roubadas, fonte absoluta do financiamento do vício. Punindo severamente receptadores, isto diminuirá o risco do financiamento do vício pelo roubo.
    Então meu caro, onde estão os políticos sérios e corajosos para enfrentarem a crítica pública que um projeto assim, criaria?
    Enquanto isto, o Witzel vai se beneficiando da violência.

    1. Se legalizar as drogas fosse solução, a máfia norte-americana teria acabado no dia seguinte à revogação da Lei Seca. Como se sabe, ela migrou para outros negócios, inclusive o tráfico de drogas.

      A droga é tão somente o negócio mais lucrativo do momento. Mas os grandes traficantes, capitalizados e com suas quadrilhas montadas, apenas escolherão outro negócio se as drogas forem descriminalizadas. Aí o que vão fazer? Descriminalizar a extorsão, os sequestros e os assaltos?

      O que se chama de Guerra às Drogas nada mais é do que Guerra ao Crime. Como o crime adquiriu essa feição organizada e militarizada nas últimas décadas, ele só pode ser combatido como se combate em uma guerra. É ingênuo afirmar, ah, os traficantes são só 0,5% da população da favela. Talvez seja isso mesmo, mas ninguém precisa ser especialista para saber que não se domina uma comunidade de milhares de pessoas só com umas poucas dezenas de comparsas armados: os traficantes têm, sim, uma base social constituída por pessoas que trabalham ou colaboram de alguma forma para eles. Essa base social compreende um percentual considerável da população, e toda essa gente deseja a presença dos traficantes ali, já que lucram com isso. E não é só a contratação de serviços, os traficantes também promovem recreação (bailes funk), dão presentes, e têm conexões com ONG´s e políticos.

      É muito simplório acreditar que essa estrutura toda pode ser combatida só com polícia civil prendendo receptador.

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