A suicida coalizão de oportunidade na política brasileira

Apesar do título, não acrescentarei mais uma crítica pessoal a um líder político já impedido de se defender. O verdadeiro papel de Eduardo Campos surgirá, com o tempo, à partir até de desdobramentos futuros que nenhum de nós é ainda capaz de avaliar com precisão. Que se conceda ao menos o tempo do luto, antes de se partir para desqualificações covardes e passionais.

Ao contrário do Uruguai, que tem sua Frente Amplio desde 1971, ou do Chile, que tem a Concertación de Partidos desde 1998 (agora Nueva Mayoría), o Brasil nunca foi capaz de manter uma coalizão do gênero, a não ser por breves momentos.

O princípio da coalizão é sobretudo o da alternância do poder e o respeito a uma pauta mínima consensual entre os membros deste grupo político. É uma aposta em uma política direcionada que ao mesmo tempo será administrada e testada de diferentes formas através da alternância dos seus componentes no exercício do governo. Ao invés do governante eleito ficar refém de grupos externos para formar uma maioria, ele aumenta suas chances de forma-la junto com a própria coalizão.

O PT, num certo sentido, ajudou alguns pequenos partidos a crescerem e se fortalecerem. De seu interior saíram também as bases para a formação de novos partidos. Aquilo que poderia ser o caminho para a formação de uma ampla base progressista, perdeu-se pelo papel hegemônico do próprio PT nesta aliança. A escolha de candidatos majoritários sempre pertenceu ao partido. Não haveria como isto não ocorrer se a aliança se dá com vistas à eleição e em torno de um partido.

Ora, Eduardo Campos não foi o primeiro nem será o último, a perceber isto. Se por um lado o PSB cresceu na esteira de sua aliança com o PT, por outro chegou no topo daquilo que esta aliança podia oferecer. Se Campos não se lançasse agora, qual a posição entre 2014 e 2018 ele poderia almejar? Como ele teria a certeza de possuir em 2018 a mesma densidade política e projeção que tem hoje? Política não se faz com promessas, mesmo se elas forem cumpridas.

É neste ponto que insisto, temos que deixar de lado as políticas de aliança de olho apenas nas eleições e ser capazes de unir as forças políticas progressistas, do centro à esquerda, para estabelecer um projeto de futuro. Isto pode até custar uma eleição, como foi o caso da vitória de Piñera no Chile, mas acabaria com as contraditórias, desagradáveis e esdrúxulas políticas de aliança atuais da política brasileira.

O único caminho para chegarmos a um projeto para o país (cuja ausência cobramos) é a organização de uma frente progressista onde todos os partidos membros possuam representatividade. Será pedir demais? O maior inimigo de uma política progressista, não estará no seio deste mesmo campo? Não seria uma novidade nas terras do Pau Brasil.

Penso que ao menos a morte de Eduardo Campos serve para mostrar a fragilidade das coalizões brasileiras. Sempre de olho apenas nas eleições. É necessário romper com isto, reunir o campo progressista. Como fazem o Uruguai e o Chile. Precisamos de políticas de longo prazo, não planos circunstanciais.

Redação

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