Americanas deu calote de R$ 7 milhões em transportadora: “Parece que foi premeditado”, diz empresário ao GGN

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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"Eu enfartei. Meu sócio está com síndrome do pânico, não consegue trabalhar. Chegamos ao fundo do poço", diz Moacir Reis ao GGN. Assista

O empresário Moacir Reis, da Forte Minas, veio à falência após a Americanas tomar uma série de decisões que provocaram o estrangulamento financeiro da empresa às vésperas de romper o contrato sem aviso prévio. Foto: Arquivo pessoal

A fraude descoberta no seio das Lojas Americanas tem gerado discussões polêmicas nas últimas semanas. A empresa, que já pediu recuperação judicial, tem um rombo estimado em 40 bilhões de reais e deve ser processada por seus acionistas. Mas para além do prejuízo dos investidores, há outros ângulos desta crise que merecem atenção.

Por exemplo, o drama atravessado pelos prestadores de serviço que levaram um calote monumental da Americanas e vieram à falência. É o caso do empresário Moacir Reis, da Forte Minas, uma empresa de logística que sofreu estrangulamento financeiro por decisões provocadas pela Americanas, depois viu o contrato ser rompido sem aviso prévio e, agora, amarga um calote de mais de R$ 7 milhões a receber.

“Eu enfartei. Meu sócio está com síndrome do pânico, não consegue trabalhar, está super depressivo. Chegamos ao fundo do poço”, diz o empresário Moacir Reis à TVGGN.

Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, Moacir Reis narrou os capítulos finais da relação com a Americanas e ainda revelou como a varejista está cobrando da Forte Minas o extravio de mercadorias que foram subtraídas dos galpões depois que a própria Americanas rompeu unilateralmente o contrato com a transportadora, dando um calote nos prestadores de serviço.

A derrocada da Forte Minas

A Forte Minas é uma empresa de logística que se expandiu em Minas Gerais e Espírito Santo tendo empresas do grupo Americanas como suas principais clientes.

“Quando fechamos, eu estava com 350 funcionários em Minas, 200 e poucos funcionários no Espírito Santo e mais uns 800 agregados, terceirizados, que com carro próprio faziam entregas e transferências para as filiais no curto tempo que esse mercado exige”, relatou Moacir.

Em 2020, a transportadora estava em seu terceiro ano de contrato direto com a Americanas, quando a varejista passou a tomar uma série de decisões que colocaram o caixa da Forte Minas em crise.

Primeiro, a Americanas negou reajuste da tabela de frente já negociada pela Forte Minas em 8%, e ainda cortou mais 5% do valor do frente em cima da tabela já defasada;

– Depois, a Americanas passou a exigir que os pagamentos pelo transporte de suas mercadorias fossem faturados em um prazo impraticável, de pelo menos 60 dias. A Forte Minas precisou recorrer a um banco indicado pela própria Americanas para antecipar pagamentos em época de Black Friday e Natal;

– A Americanas também exigiu que a Forte Minas abandonasse o perfil de carga de e-commerce (pequenos produtos), para adotar o perfil de carga de linha branca (eletrodomésticos, móveis, etc), obrigando a transportadora a investir em galpões mais espaçosos. Com isso, a Forte Minas saiu de um gasto de R$ 80 mil ao mês com aluguel de galpões, para cerca de R$ 600 mil ao mês!

“Parece que foi premeditado. Me negaram reajuste, aumentaram prazo [para faturar as entregas], uma série de coisas que foram dificultando meu caixa”, disse Moacir.

O calote da Americanas

No final de 2020, a Forte Minas, já referência no mercado de logística, recebeu uma proposta irrecusável de uma empresa concorrente da Americanas que estava interessada em comprar a transportadora. Mas por força de contrato, Moacir precisou avisar a Americanas da preferência em caso de compra.

Para a surpresa de Moacir, a Americanas sinalizou que compraria a Forte Minas. Mas em janeiro de 2021, a Americanas não apenas recuou das negociações em andamento como ainda anunciou, sem aviso prévio, o fim do contrato. “No telefone, disseram: a partir de amanhã, a carga não vai mais”.

A partir daí, o serviço foi interrompido, e os pagamentos, idem. “Bloquearam todos os meus recebíveis de 60 dias para frente, algo em torno de R$ 7 milhões para receber. Eu fiquei com 29 filiais, 350 funcionários em Minas, e meus galpões sendo saqueados por prestadores de serviços que ficaram com receio da gente não pagar.”

Moacir acrescentou: “Começamos a ter um passivo alto porque comecei a não ter todas as mercadorias para devolver. Mas foi por culpa da Americanas, pois se ela tivesse cumprido o contrato e me dado aviso prévio, eu teria condições de administrar esse encerramento e recompor a nossa logística com uma nova carteira de clientes. Mas não tivemos esse tempo. Foi tudo parado da noite para o dia, com esse prejuízo de R$ 7 milhões em recebíveis, e a desvalorização da minha empresa.

Hoje a Americanas não quer saber de resolver o calote, mas cobra o extravio das cargas, sendo que a mercadoria tinha seguro junto à varejista. Se houve apropriação indébita, cabe à seguradora da Americanas correr atrás”, explicou Moacir.

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

15 Comentários

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  1. A AMERICANAS vem atuando como predadora desde que o Grupo Garantia apossou-se da empresa no século passado. Nada do que vem deste malfadado plantel é saudável. Mas o Deus Mercado continua reverenciando a falta de ética e escrúpulo, desde que resulte em lucro.

  2. A solução é bem simples: bloqueio imediato de todos os bens do Lemann e dos amiguinhos (já não é a primeira vez que coisas estranhas acontecem com o trio ternura; processo criminal e civil nos três; prisão para os crimes de colarinho branco. Eles fazem o que querem, pois estão acima do bem e do mal. Belas espécimes de homem de bem, tradicional, de família, uns anjos.

  3. Alguns, ainda escrevem ou falam em suas entrevistas: “Parece que foi premeditado!” Como parece uma vez que foram comprovadas fraudes contábeis para esconderem empréstimos? Com base em todas essas evidências como o Fisco. Posto Fiscal não detectaram as operações assim como fazem com o Sr Manoel da esquina que tem uma banca de jornal. Como os bancos conseguiram o direito de reaver seus ativos? Porque a justiça não abre essa caixa preta?

  4. Bloqueia os Bens dos 3 Patetas e de seus Laranjas e Familares.apreende seus Passaportes e Apreende seus Aviões Jantinhos particulares pra não fugirem pra suas mansões na Europa…..

  5. Premeditado? Claro que sim… Eles sabem que no Brasil jamais serão presos pois são bilionários, e fizeram o que os Políticos fazem sempre, ROUBARAM….. Mais do mesmo!!!

  6. Parece que foi? Foi um golpe articulado, essa não é a única empresa a fazer isso e nem será a última. Muitas vezes as pessoas sedem ao nome, a possível grandeza que a empresa é, e deixam de realizar bons negócios acreditando em ilusão. Mais vale ter muitos pequenos cliente, que depender de um só e ainda se tornar escravo dele.

  7. Eu que não sou doido de comprar lá.. Pagar um produto e ter seu dinheiro preso e depois ter q recorrer para receber de volta em longas e medíocres parcelas…

  8. gostaria muito de faze contato com o senhor Moacir de Almeida Reis

    sou do Distrito Federal -DF

    sou do seguimento de entregas

    gostaria de conversar com o senhor Moacir de Almeida Reis

    por favor me passa o contato dele por favor

  9. Aceitaram passivamente a imposição do cliente, e trabalhar com um só cliente, sem ter um plano B, por favor.

    Duas coisas a não se fazer nunca, trabalhar exclusivo para um só e trabalhar para governo em algum momento você vai levar calote.

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