Bastardos inglórios, por Luís Costa Pinto

Quero falar apenas de César Mata Pires Filho, pois consumi alguns anos a tentar explicar a ele a dinâmica injusta da política que mói reputações e depois pode dar tempo para reconstruí-las.

Bastardos inglórios

por Luís Costa Pinto

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Passei as últimas 48 horas em São Paulo a velar e enterrar a terceira vítima direta que conheço da máquina de moer gente e reputações, e de destruir empresas e empregos, que se converteu essa Opersção Lava Jato.

César Mata Pires Filho, 40 anos, chamava-me de “tio” porque casou com uma sobrinha minha. Tinha uma doçura aparentemente incompatível com o shape de um metro e oitenta e cinco e a largura dos jogadores de rúgbi. Na cabeça, a ideia fixa de salvar o negócio da família, a OAS. Na alma, a angústia de quem era acusado por coisas que jamais fez e por urdir atos que nunca pensou executar.

As outras duas pessoas mortas em razão dos mesmos males, das mesmas pressões, e que não conseguiram viver para assistir ao reverso do massacre ao qual sucumbiram foram Marisa Letícia Lula da Silva, ex-primeira-dama, e César Mata Pires, o fundador da OAS, morto em 2017 aos 67 anos, também de infarto como o filho. Seis meses antes de sua morte, no curso de uma conversa mais longa, explicando-me como tomar uma decisão mais complicada, o pai do meu sobrinho me revelou a ponta de uma de suas dores: “você está diante de um homem que se viu obrigado a demitir 170.000 pessoas. Sabe o que é ser responsável por 170.000 dramas familiares?”.

Quero falar apenas de César Mata Pires Filho, pois consumi alguns anos a tentar explicar a ele a dinâmica injusta da política que mói reputações e depois pode dar tempo para reconstruí-las. Esse é o sonho que embala a alma resiliente de Lula e de alguns outros que parecem feitos de um aço-carbono diferente daquele das pessoas normais.

César não terá mais como esperar essa reconstrução pela qual tanto ansiava. Passarei as próximas décadas, junto com outros familiares, tentando explicar às filhas de 7 e de 5 anos, e ao caçula de 40 dias que ele deixou conosco, como e por que a crueldade e a frieza de vermes que se apoderaram de instrumentos do Estado usaram da perfídia persecutória para matar de angústia o pai amoroso e dedicado que tinham.

César nasceu sob um teto de homens personalistas, duros, difíceis até. O avô, Antonio Carlos Magalhães, dispensa apresentações. O pai, líder de uma das cinco maiores empreiteiras do país, construíra um império fruto de sua ousadia e de seu jeito muitas vezes polêmico, mas sempre admirado pelos concorrentes.

César foi criado para construir viadutos e jogar um jogo cujas regras estavam dadas desde tempos imemoriais de nossa vida política nacional. De repente, imbuídos de projetos pessoais, de uma forma personalista de ver o Estado e a serviço de uma facção política, um juiz periférico em Curitiba e uma força-tarefa imprópria de procuradores vaidosos e despreparados, levaram à mudança súbita das regras e ao colapso de um setor da economia nacional. Tudo o que fizeram foi movido por recalque social e por perseguição política.

Os viadutos que César sonhava construir começaram a sair da prancheta dos projetos de expansão de cidades para pesarem sobre seus ombros. Isso ficou ainda mais evidente depois da morte do pai, que sucumbiu de pé à pressão imprópria de integrantes dessa força-tarefa abjeta de Curitiba.

Os métodos corruptos, a vaidade, a forma anti-republicana de uso do Estado por parte de juízes e procuradores da “Operação Lava Jato” mostram que os manipuladores integrantes dessa trupe do desmonte brasileiro são, na verdade, bastardos inglórios. Lamento profundamente não ter mais a companhia de César para celebrar, em brindes contidos, cada tropeço na lama e na desonra que gentalha como Moro, Dallagnol, Carlos Fernando, todos eles, vêm dando a cada revelação de conversas escroques que mantiveram dentro da gang curitibana agora revelada a partir do The Intercept e pela rede de veículos de imprensa associados.

Redação

11 Comentários

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  1. Luís Costa Pinto, seu texto me comoveu – pelo drama vivido por essa família e pelas 170.000 outras famílias, atingidas por esse horror… – e me deixou mais uma vez com esse gosto amargo de revolta e nojo dessa operação medonha, a Lava Jato…
    Espero que muitos a compartilhem e que alguns dos brasileiros manipulados pela Globo e esses falsos “heróis”, enxerguem a realidade em vez dessa ficção rasa em que nossa sociedade se embriagou.
    Compartilhei no meu Face, com o comentário abaixo.
    .
    ““você está diante de um homem que se viu obrigado a demitir 170.000 pessoas. Sabe o que é ser responsável por 170.000 dramas familiares?”.
    A frase acima pertence a um diálogo entre o autor do texto e o fundador da OAS, César Mata Pires, falecido em 2017 por um infarte fulminante aos 67 anos…..
    Há dois dias, seu filho, que lutava para reconstruir a empresa, obviamente combalida pelos ataques selvagens da Lava jato, teve o mesmo destino….
    Eram santos? Ora, não sejamos hipócritas!!! Do jeito que as coisas funcionam no Brasil há séculos, “santos” não sobreviveriam no meio promíscuo entre as empreiteiras e os governos, todos os governos, em nosso país…. Não gerariam riquezas, tecnologia, milhões e milhões de empregos e, nos últimos anos, graças ao trabalho magnífico de Lula, não levariam o nome do Brasil a quase todos os países do mundo, enfrentando concorrentes de peso: americanos, franceses, chineses, etc., etc…..
    Em nenhum outro país seriam humilhados, destroçados, esmagados, levados praticamente à bancarrota….. Os “santos” empreiteiros dos Estados Unidos estão em festa até hoje! Rodrigo Janot, Sérgio Moro, Rede Globo, procuradores da Lava Jato e a classe média mais tosca do planeta, lhes fizeram o favor de, em nome do combate à corrupção, eliminarem, em quatro anos, TODA A CONCORRÊNCIA representada pelas empresas brasileiras…..
    Um país estrangeiro que nos conquistasse teria sido mais misericordioso……
    Nossos bastardos conseguem ser os mais inglórios entre todos!”
    .
    (eduardo ramos)

  2. Toda a minha solidariedade aos atingidos por injustiças. Inclusive às milhares de famílias vítimas da lava-jato.
    Na verdade, nosso poder judiciário, alcunhado impropriamente de “justiça”, sempre usou de métodos parciais e persecutórios. Isso só não era notado, pelos que se mostram indignados agora, porque atingia à ralé, os não-existentes.
    Quando, uma vez mais, as baratas voltarem para os esgotos, os moradores do condomínio de luxo esquecerão a existência delas. Até que em mais um ciclo de nossas inevitáveis “sístoles e diástoles”, elas subam novamente.
    Curioso, ainda, o fato de nesse e outros artigos/comentários a lava-jato ser vista como uma espécie de entidade autônoma. É evidente que a demolição geral provocada não é possível de ser atribuída à uma deliberação desse grupo. Primeiro por não ter poder para tanto e, segundo, porque, definitivamente, nenhum de seus membros possui a capacidade intelectual necessária.
    Parece que todos têm receio de encarar a realidade de que, de fato, existem monstros escondidos dentro do armário.

  3. Lastimável. Pena que os brasileiros tenham se deixado seduzir por esses “flauteiros” da ignomínia, apenas, pela vaidade e, agora, sabemos todos, pela dinheiro-ouro-politicagem-capitalista-criminoso. Pior, ainda querem “massacrar” o portador da verdade, sob os auspícios do stfolóide, do mpfolara e outras enrolações-milicianas.

  4. Prezado, o senhor foi muito cometido na adjetivação dos lesa pátria, lamento não ter a língua da terra de santa cruz algo mais contundente para qualificar estes “merdas”.

  5. Você citou três nomes de assassinados pela sanha maldita de lavajatistas criminosos. Um deles, Marisa Letícia, também já foi citado por mim, pois uma AVC pode ser causado, sim, por dramas psicológicos impostos às pessoas tal como ocorreu com a esposa de Lula. Mas ainda há Teori Zavaski e mais outros que viajavam no mesmo avião, assassinados provavelmente pelo grande beneficiado com a morte de Teori: o maldito Moro E há também aquele reitor catarinense que suicidou-se após humilhações sofridas por ordem de uma protegida de Moro ( delegada Marena). Os criminosos da lavajato podem ser também assassinos? Não podemos provar mas podemos ter convicção disso………e eu tenho, são assassinos sim. Além de assassinos da honra de muitas pessoas…..merecem ser decapitados com cabeça espetada no alto de um mastro para servirem de exemplo……A S S A S S I N O S!

  6. Sou solidário na lamentação de 2 coisas, o fato em si descrito pelo jornalista e a ausência de seu familiar/amigo para brindar os tropeços na lama. Relativamente ao nosso eterno Presidente, olhando pelo retrovisor e enaltecendo o seu “aço-carbono”, desejo e espero que ele aguente. Sem menosprezar sua agonia sinto uma paradoxal e trágica alegria de perceber hoje que as sucessivas negativas de sua libertação, que não desejo que se prolonguem, tenham ocorrido. Se algum de seus HCs o tivesse favorecido talvez não tivesse emergido essa lama podre e os “moralistas” continuariam “moralizando” e morolizando. Mérito exclusivo de Lula que nunca se vergou diante dessa escumalha que, acredito, será dejetada junto com a lama. O brinde nem precisa ser muito contido.

  7. Na Bahia essa empresa é conhecida como “Obrigado Amigo Sogro”.
    Quem alavancou a OAS foi ACM na época da ditadura , em função de ser governador da Bahia e de seus ótimos contatos com o militares e com os demais políticos do nordeste.
    Ter pena desses caras é hipocrisia.

  8. Luís C Pinto, não sei que bolha vc vive !!!
    Seu texto está fora da realidade e do contexto que nós – ex funcionários constatamos.
    Uma empresa que demonstra não ter ética profissional. Os valores de credibilidade, confiança, respeito e notadamente moral não fazem parte do ambiente de trabalho.
    Inadimplência com fornecedores e rescisões trabalhistas são tratadas como normais. E nada acontece …
    Lamentamos a morte, entretanto afirmar que ele tinha intenção de reerguer a empresa é uma mentira deslavada e muito equivocada de sua parte.
    A realidade é que os herdeiros e diretores atuais estão buscando vender os ativos restantes e finalizando a blindagem dos bens. E depois falir, para librá-los.
    E expectativa é que os herdeiros e atuais diretores, cúmplices e marionetes dos acionistas, sejam enjaulados o mais rápido possível

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