Brasil carece de planejamento na política de banda larga

Estudos revelam correlação entre o nível de renda per capita e o uso de tecnologias da informação, afirma João Maria de Oliveira do IPEA Fotógrafo Nasho Lemos
Pesquisador analisa a importância das TICs para o desenvolvimento socioeconômico 
 
Estudos recentes revelam que existe uma forte correlação entre o nível de renda per capita e o uso de tecnologias da informação (TICs). Um deles encomendado pelo Banco Mundial e publicado em 2012 analisou 107 países e concluiu que nações ricas com melhor distribuição de renda utilizam duas vezes mais internet, softwares e hardwares do que nações em desenvolvimento. 
 
“Esse índice não propõe uma relação de casualidade [entre PIB e uso de TICs], mas demonstra que os TICs são um dos motores possíveis que podem alavancar a renda já que as TICs possibilitam transbordamentos para outras áreas importantes ao desenvolvimento humano, como no campo educacional”, ponderou José Maria de Oliveira, um dos responsáveis pelo Panorama da Economia Criativa no Brasil do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 
 
Oliveira participou do Fórum Brasilianas – A produção de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no Brasil – realizado em novembro na cidade de São Paulo. O pesquisador também apresentou dados de outro levantamento encomendado pelo Banco Mundial e publicado em 2009 onde se descobriu que 1% de expansão de banda larga possibilitava o crescimento de 0,38% do produto interno bruto (PIB).
 
Para comprovar ainda mais que as TICs são o motor do desenvolvimento na atualidade Oliveira destacou o levantamento mais recente do IDI – ICT Development Index que avaliou 161 países nos três indicadores: acesso as tecnologias digitais (softwares e hardwares); acesso a internet; e capacidade de fruição ou navegabilidade nos instrumentos digitais. 
 
O Brasil ocupa nesse ranking a 61ª posição com um IDI de 4,72, ou simplesmente metade do IDI da primeira colocada da lista, a Coréia do Sul (8,56). “Se formos comparar com países que, em termos territoriais, são semelhantes ao Brasil, veremos que nossa pontuação também é preocupante”, completou Oliveira. O IDI da Austrália, Canadá e Rússia são, respectivamente, 7,05; 7,04 e 6,0, e as três nações ocupam, pela ordem , a 21ª, 22ª e 37ª posição no ICT Development Index. 
 
Para Oliveira o uso reduzido de TICs no Brasil está relacionado, entre outros fatores, a precariedade da infraestrutura de banda larga e sinais de telecomunicações. A última pesquisa do Cetic.br/Cgi realizada entre empresas brasileiras revelou que menos de um terço fazem uso de ferramentas básicas de TICs para melhorar sua gestão interna.
 
“Apesar de 98% das empresas que responderam a pesquisa utilizarem computador, 62% delas não utilizaram nos últimos doze meses qualquer tipo de software de planejamento empresarial. Isso é sintomático de duas questões: ou a nossa capacidade de gestão empresarial não está à altura para atender a demanda desse tipo de solução, ou talvez a solução das nossas empresas esteja distante da capacidade de fazer investimentos nessas tecnologias”, avaliou Oliveira. A mesma pesquisa revelou que apenas 30% das empresas fizeram algum tipo de investimento em software relacionado a aperfeiçoamento e inovação de processos e produtos.
 
Em relação às classes sociais, a pesquisa Cetic.br/Cgi de 2012 apontou ainda que 94% das pessoas da classe A são usuárias da internet contra 47% da classe C. “Nesse ponto os serviços de telecomunicações impactam diretamente”, afirmou Oliveira. 
 
Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a densidade de acesso à internet por banda larga no Brasil é de 10,5 pessoas para cada 100 habitantes sem considerar as grandes desigualdades regionais. Enquanto no Sudeste 14,59 indivíduos entre 100 acessam a web através de uma infraestrutura de dados rápida, apenas 4 a cada 100 indivíduos dos estados do Nordeste se conectam à internet por banda larga.
 
A média de densidade de acesso à banda larga entre as ações mais desenvolvidas do grupo OCDE é de 22,29%. “Ou seja, estamos muito distantes e nossa política pública tem que ser no sentido de ampliar esse mercado. Hoje, o grande diferencial de países com alta renda é o mercado de telecomunicações com acesso a dados e banda larga, que possibilitam melhor e maior integração de pessoas e conhecimentos”, pontuou o pesquisador do Ipea. 
 
Críticas ao Plano Nacional de Banda Larga
 
Para Oliveira o PNBL se assemelha ao que alguns países desenvolvidos fizeram na década passada. “A Austrália tem um plano de banda larga, usado para incluir a região rural”, exemplificou. O nosso PNBL tinha como ponto de partida características positivas que era a intervenção no mercado através da Telebrás, para que mercados pouco atraentes para as empresas privadas fossem atingidos pelo plano. Mas isso não foi sequenciado, a exemplo do pacote popular de acesso a internet com qualidade prometido pelas empresas de telecomunicações. “Nossa implementação de políticas públicas carecem de planejamento de médio e longo prazo”, concluiu.
 
 
A seguir, assista o vídeo da exposição feita pelo por João Maria de Oliveira, pesquisador do Ipea, na abertura do 45ª Fórum de Debates Brasilianas.org.
 
https://www.youtube.com/watch?v=lvNa54RxZic width:700
Redação

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