Brasil Milênio discute as novas tecnologias e os setores de produção

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Carlos Frederico Rocha discute temas como substituição de mão de obra e sindicatos no oitavo episódio da série que pensa o Brasil pós-Bolsonaro

JORNAL GGN – Um dos temas centrais para se discutir a reconstrução da Brasil é o impacto das novas tecnologias sobre o emprego, um cenário que tem se mostrado muito problemático, como explica Carlos Frederico Leão Rocha, Vice-Reitor e Professor do Instituto de Economia da UFRJ, ao jornalista Luis Nassif no oitavo capítulo da série Brasil Milênio: o Brasil pós-Bolsonaro.

“De uma maneira geral, o mundo seguiu uma trajetória liberalizante, que implicou em uma retirada de uma série de direitos da classe trabalhadora. Como resultado geral, a gente tem um problema de polarização”, explica Rocha. “Ela acontece no nível das empresas – tem empresas que ganham espaço e outras que perdem espaço, mas não é qualquer mudança: ela implica em um maior grau de monopolização”.

O segundo ponto é que os trabalhos que exigem médio conhecimento, e possuem nível médio de renda, são os mais afetados por essa tecnologia. “Alguns resultados que a literatura apresenta mostra que até o pessoal de nível superior e de gerência média está perdendo posto de trabalho. E esse impacto gera o seguinte: poucas pessoas com rendimentos muito elevados, e uma grande massa com rendimentos muito baixos. E de uma maneira geral, os países estão com pouca legislação para fazer frente a isso”, explica Leão Rocha, ressaltando que até mesmo economistas com viés mais liberal mostram-se preocupados com essa tendência, que vem sendo agravada por meio das novas tecnologias de automação no capitalismo moderno.

Leão Rocha explica que a adoção da tecnologia é boa para substituir processos repetitivos, mas ela também está ficando boa na capacidade de coleta de dados e de fazer previsões – embora a tomada de decisão ainda fique a cargo de um trabalhador. “Um caso, por exemplo, é o caso de advogados. Hoje, você tem programas que conseguem prever sentenças muito melhor do que os advogados. Em um sistema como o brasileiro é até um pouco mais complicado, mas em um sistema como o norte-americano, que você segue as tradições, a capacidade das tecnologias de mapear as sentenças e, a partir desse mapeamento, conseguir prever qual vai ser a sentença, é um exemplo de substituição do advogado”.

Enfraquecimento do sindicato e o que esperar do futuro

Um pretexto muito usado para dar mais efetividade às empresas – e, por consequência, acaba por aumentar o desemprego estrutural – é o enfraquecimento dos sindicatos. Para o vice-reitor da UFRJ, o papel do sindicato está diretamente relacionado com políticas de transferência e, também, com a possibilidade de negociação de igual para igual em uma mesa.

“Existe uma longa tradição na economia que entende que existe o nível de subsistência, que é o nível de salário de subsistência, que é exogenamente determinado pelas condições sociais. E essa questão é uma que vínhamos trabalhando no Brasil desde a Constituição de 88, nós vínhamos trabalhando em políticas que aumentavam o salário de subsistência – é o salário mínimo, mas o salário mínimo apenas consolida essas políticas”, explica.

“Há economistas que vão ser contrários a isso, mas essa política foi completamente exterminada a partir de 2016, e vem sendo combatida consistentemente, com uma exceção que é o auxílio emergencial que foi dado durante a pandemia, é a única exceção e é uma política emergencial que tá sendo retirada agora. Vamos voltar a salários menores”, pontua o professor, ressaltando ainda o impacto que o desmonte do Estado de Bem Estar Social pelos ataques de autoridades vai gerar sobre os trabalhadores.

Para o Brasil pós-Bolsonaro, Carlos Frederico Leão Rocha afirma que alguns pontos precisam ser trabalhados e algumas apostas a serem feitas em termos macroeconômicos, como mudança na legislação de herança, considerada muito benéfica ao capital, e um endurecimento por meio da cobrança de imposto sobre herança seria “uma boa medida para financiar programas de transferência de renda, por exemplo”.

A realização de uma reforma tributária também é defendida pelo professor da UFRJ – neste caso, ele sugere “retirar impostos sobre mercadorias para aumentar os impostos sobre a renda. Isso pode permitir algum ganho de distribuição de renda” -, assim como uma mudança nos custos indiretos do trabalho. “Mudar a forma de cobrança para reduzir os custos indiretos e reduzir, isso sim, o disparate que tem entre emprego formal e a criação dessa pejotização. reduzir o nível de pejotização”.

Confira mais sobre estes e outros temas debatidos entre Luis Nassif e Carlos Frederico Leão Rocha na íntegra da entrevista, que pode ser vista abaixo:

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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