Como Serra usava o governo de SP para cobrar milhões em propina da Odebrecht

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Foto: Agência Senado
 
Jornal GGN – A divulgação estrondosa da lista de Fachin, jogando no mesmo balaio todos os políticos citados em delações da Odebrecht que serão investigados com autorização do Supremo Tribunal Federal, misturou tubarão com peixe de aquário e tirou a devida atenção de casos como o de José Serra.
 
Sete delatores disseram à Lava Jato que o tucano negociou, ao longo dos últimos anos, mais de R$ 30 milhões em propina para abastecer, principalmente, suas campanhas eleitorais. Mas há casos de repasses a afilhados políticos do PSDB. 
 
Só em 2010, quando Serra foi derrotado por Dilma Rousseff na corrida à presidência, a Odebrecht pagou R$ 23 milhões ao tucanato via caixa 2. Em 2008, foram mais R$ 3 milhões. Em 2006, mais R$ 4 milhões. E outros R$ 2 milhões foram repassados em 2004.
 
A exorbitância dos valores por si só é digna de nota. Em seu acordo de colaboração, Alexandrino Alencar disse que a deputados do PT, entre 2008 e 2010, foram pagos entre R$ 50 mil e R$ 150 mil, valores considerados “bons para a época”. Ele citou como exemplos Maria do Rosário e Vicente Cândido, e destacou que a doação irregular nunca teve nenhuma contrapartida por parte dos parlamentares.
 
No caso de Serra, obras do governo de São Paulo foram usadas para cobrar propina da Odebrecht.
 
O delator Roberto Cumplido disse que Serra chegou a cobrar propina duas vezes em cima da mesma obra, a do Rodoanel. Primeiro, ele pediu R$ 1,2 milhão. Depois, fez uma renegociação do contrato “que prejudicava o contribuinte e favorecia empreiteiras” e, por conta disso, recebeu mais R$ 2,2 milhões, em mesadas de R$ 200 mil.
 
O esquema detalhado por Cumplido aconteceu quando Serra era governador. À época, Paulo Preto, à frente da Dersa, conseguiu fazer cada empreiteira beneficiada pela repactuação dos contratos do Rodoanel destinar 0,75% do faturamento ao caixa 2 arquitetado por Serra.
 
Enquanto o esquema esteve em vigor, a mesada era depositada na off-shore Circle Technical Company INC, que pertence a Amaro Ramos, um operador do PSDB. O delator Luiz Eduardo Soares confirmou essa denúncia de Cumplico.
 
Em 2009, Serra, em parceria com Sergio Guerra, conseguiu manobrar uma divida que a Odebrecht tinha a receber do governo de São Paulo para conseguir os R$ 23 milhões que foram usados na campanha de 2010. O pagamento foi feito no exterior, com apoio do tesoureiro da campanha presidencial, Márcio Fortes, afirmaram.
 
“Em outras delações, foi mencionado que Serra recebeu R$ 2 milhões na campanha de 2004 e o dobro do valor, R$ 4 milhões, quando concorreu e ganhou o governo paulista em 2006. Os executivos da Odebrecht também contaram que o senador pediu R$ 3 milhões para financiar a candidatura do PSDB a prefeitura de São Paulo em 2008.”
 
Na planilha da Odebrecht, o delator Fabio Gandolfo disse que Serra era o “vizinho”. Isso porque ele morava próximo de Pedro Novis, ex-presidente da Odebrecht. Novis, aliás, teria sido destacado pela cúpula do grupo para atender as demandas de Serra. 
 
O delator ainda afirmou que a propina de 2004 estava relacionada a uma obra do Metrô. Dos contratos da linha 2-Verde, 3% deveriam ser repassados ao caixa de Serra.
 
OUTRO LADO
 
Em nota à imprensa, Serra “reitera que não cometeu irregularidades em sua longa vida pública, que sempre foi pautada pela lisura, ética e transparência.”
 
“A abertura do inquérito pelo Supremo Tribunal Federal servirá como oportunidade para demonstrar que as acusações e o conteúdo das delações são fantasiosos e infundados”, diz.
 
Assine
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

19 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. Essa é a finalidade do jogo do Fachin.

      Fazer com que afinal tudo pareça igual e permitir que intérpretes como vc consolidem essa impressão na cabeça dos incautos. Bom trabalho!

    2. Ah, é!? Então encontre algo assim contra Lula.

      Prezado,

      Embora os detratores de lula, do PT e da Esquerda em geral – aí inclusos todos os integrantes da Fraude a Jato, do PIG/PPV  e de outras ORCRIMs intitucionais que apoiaram ou participaram do golpe de Estado – raramente se lembrem da Lei quando os investigados e acusados são da Esquerda Política,  o Art. 5 da CF/1988 diz que todos devem ser considerados inocentes antes do trânsito em julgado de ação penal condenatória.

      Entretanto apenas essa determinação legal não torna semelhantes ou iguais as situações de José Serra e Lula. Há fartas provas de José Serra se envolveu em negociatas e praticou corrupção Contra Lula até agora não apareceu nenhuma prova digna de ser considerada, mostrando que ele ou alguém da família dele tenha cometido alguma ilicitude ou crime

      Não perderei meu tempo debatendo contigo Sugiro apenas que leia as matérias que stãopostadas em https://www.conversaafiada.com.br/politica/2010/10/13/o-que-serra-fez-para-abafar-denuncia-de-bierrenbach, mostrando que José Serra manobrou e manipulou para que Flavio Bierembach não pudesse usar contra ele o dispositivo “Exceção da Verdade”, que dá uma das partes a oportunidade de apresentar as provas que possui contra  a outra. JS, além de manobrar no PJ, retirou algumas das acusações contra Bierrembach, deixando apenas a de crime de injúria, que não admite a “Exceção da Verdade”.

      Se vocêencontrar algo parecido que Lula tenha feito, poderá reivindicar que Ele e JS estejam na mesma situação e sejam ambos inocentes no mesmo grau.

  1. Cumplicidade “complicou” o tarja-preta
    Prezados,

    O ‘careca’ ou ‘tarja-preta’, como atualmente é conhecido, teve sua situação “cumplicada” por Cumplico.

    O que é ridículo, surreal, é essa tosca tentativa da Fraude a Jato e do PIG/PPV de compensar as multimilionárias corrupções dos tucanos graúdos, agora escancaradas e com os “varões de Plutarco” com as calças nas mãos, com essas menções a doações não registradas a petistas, cujos valores, comparados aos das milionárias negociatas tucanas, parecem esmola ou arrecadação de quermesse. O ridículo é ainda maior quando os próprios delatores afirmam que nenhuma contrapartida foi exigida pelos parlamentares do PT, pois isso é prova cabal de que não se cometeu corrupção. Ou seja: no afã de incriminar petistas, compensando o desmascaramento do tucanato, os integrantes da Fraude a Jato acabaram levando os delatores a produzir a prova contrária.

    É por essas e outras que afirmo que os lavajateiros se acham o suprassumo da inteligência e sofisticação, mas suas ações mostram que estão a anos-luz disso.

  2. Algo me diz que o afastamento

    Algo me diz que o afastamento de Serra de um ministério por ele sonhado se deu por prever o que estava pra acontecer, embora, em tão poucos tempo na pasta, pode ter sentido sua incompetência, bem como a necessidade de trabalhar muito, coisa que dizem as más línguas, ele não é muito chegado.

  3. Os caciques tucanos e suas peculiares características:

    Serra é o exemplo vivo da “meritocracia” tão apregoada pelo PSDB: na hora de roubar, os méritos são todos dele.

    Aécio é um sujeito aparentemente inimputável que, mesmo sob inúmeras evidências e provas de envolvimento em corrupção, ainda aponta o dedo aos seus adversários e chama-os de “levianos”.

    Geraldo é um protótipo de santo que dentre dezenas de roubos e mazelas, em geral, consegue se manter num patamar acima dos outros: ainda tem gente que não acredita que ele seja ladrão.

    FHC é o precursor das práticas de compra de votos e tráfico de influência, contudo, inacreditavelmente  toleradas. 

    Aloísio é aquele pedante prepotente que pensa que a truculência perpetrada aos seus inquiridores lhe livrará das responsabilidades sobre seus atos corruptos.

     

  4. Me desculpem mas …

    Me desculpem mas vosso site está meio incoerrente , denuncia as denuncias como golpe quando atigem o PT e as repercutem como denuncia quando miram os tucanos , decidam …. 🙂

    1. Incoerência

      Paulo: mesmo respeitando tal ponto de vista, não lembro de ter visto sua manifestção quando a grande mídia fazia isto, com muito mais estardalhaço. Será que, nesta análise crítica, a incoerência não estaria com você?

    2. Leiam …

      Leiam o que eu escrevi , a falsa polarização foi o que agravou a crise quando a presidente ao meu hulmide ver se recusou a dialogar com parte da sociadade , não bati panelas e não fui a eventos de apoio ao governo todavia , o motivo , perdi a fé apenas isto …. 

  5. PSDB
    Procura-se o lider do partido da etica e moral no pais. Acho que ele se calou e sumiu,cadê os adeptos psdbistas globais,e fenomenos cadê?…

    1. fidelidade….

      Os serviços prestados por Paulo Preto na área de propina e corrupção são tão conhecidos que já está pensando em pedir aposentadoria por tempo de serviço. Como disse Odebrecht, imprensa, oposição e justiça num cinismo inacreditável.  

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador