Do Brexit a Bolsonaro: como as redes sociais corrompem as democracias

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Ao longo das décadas, países aprovaram suas próprias leis para impedir abuso de poder econômico em eleições. Mas as redes sociais contornaram isso

Publicado originalmente em 25/4/2019

Jornal GGN – Em junho de 2016, um dia após o referendo do Brexit, o Reino Unido acordou em choque ao descobrir que sairia da União Europeia. A repórter Carole Cadwalladr, do jornal The Observer, foi enviada para uma cidade ao sul do País de Gales, onde a maioria, 62% da população local, votou para sair da União Europeia.

Carole cresceu nos arredores da cidade que costumava ter uma grande concentração de classe trabalhadora por causa das minas de carvão. Ao longo dos anos, a cidade se transformou com a chegada de empresas chinesas. Está modernizada e muito da nova infraestrutura – escolas de tempo integral, centros esportivos – estava sendo erguida com financiamento da União Europeia.

Eis que, ao conversar com moradores locais, Carole ouviu histórias sobre como as pessoas estavam “cansadas” e de assistirem a UE fazer nada por elas; queriam “retomar o controle” e estavam fartas da atenção dada a imigrantes e refugiados.

Todos os argumentos para justificar o voto a favor do Brexit foram absorvidos de uma grande campanha obscura nas redes sociais. Os moradores já não observavam a realidade a sua volta, apenas reproduziam o discurso-slogan que receberam no celular.

“O referendo ocorreu na escuridão, porque ocorreu no Facebook. E o que acontece no Facebook, fica no Facebook. Nós só vemos a nossa página, o nosso feed, e depois tudo aquilo desaparece. É impossível pesquisar depois. Não temos ideia do que as pessoas viram, por quais anúncios elas foram impactadas. Que informações foram usadas para atingi-las, ou quanto dinheiro foi gasto”, comentou Carole.

O Facebook tem resposta e recusa-se a dar. Mark Zuckerberg já foi convocado pelo parlamento britânico diversas vezes para explicar a denúncia de vazamento de dados, e se recusou a colaborar todas as vezes.

“Crimes foram praticados no referendo, e foram praticados no Facebook.”

Ao longo das décadas, países aprovaram suas próprias leis para impedir abuso de poder econômico em eleições. Mas as redes sociais contornaram isso, porque são verdadeiras caixas-pretas.

A campanha a favor do Brexit disseminou inúmeras mentiras, como, por exemplo, que a Turquia iria se juntar à União Europeia, sendo que isso nunca esteve em pauta. E em mensagens de medo destinadas a determinados grupos, afirmava-se que a liberação do trânsito na Turquia iria aumentar a entrada de terroristas, imigrantes e criminosos.

Quem não viu esse tipo de mensagem certamente não estava dentro do público-alvo que seria facilmente influenciado por ela.

Foi assim que, na visão de Carole, empresas de tecnologia da informação ajudaram a construir a “maior fraude eleitoral na Grã-Bretanha em 100 anos.”

É neste contexto que se insere a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro, no Brasil.

Brexit foi uma “experiência” para Trump, afirmou Carole, em termos de uso irregular de dados privados, disseminação de mensagens de ódio e fake news, financiamento desconhecido e empresa especializada na segmentação de públicos nas redes sociais. Nos dois casos, trata-se da Cambridge Analytica.

A empresa, segundo denúncias da imprensa internacional, teria acessado ilegalmente a base de dados de 50 milhões a 80 milhões de usuários do Facebook. Com as informações, traçou perfis políticos e segmentou o público em agrupamentos por interesses ou características em comum. Com isso, consegue bombardeá-las com mensagens de ódio e fake news.

Boa parte do esquema veio à tona quando um dos funcionários da Cambridge resolveu falar ao The Observer e outros jornais europeus.

A história é um indício muito forte de que as democracias estão sendo violadas pela tecnologia desenvolvido pelos “deuses do Vale do Silício”. Não há, alertou Carole, como falar em qualquer eleição livre e justa daqui para frente, até que o Facebook esclareça o que ocorreu no escândalo da Cambridge Analytica.

“Nossa democracia está corrompida, nossas leis não funcionam mais, e não sou eu dizendo isso, nosso parlamento publicou um relatório sobre isso. A tecnologia que inventaram é fantástica, mas agora é a cena de uma crime, e o Facebook tem as provas.”

O parlamento britânico foi o primeiro do mundo a tentar responsabilizar o Facebook, mas falhou sem a cooperação da empresa.

Para Carole, a história vai lembrar dos responsáveis como “lacaios do autoritarismo ao redor do mundo”, porque eles recusam-se a reconhecer que as tecnologias estão dividindo as nações ao meio, com informações repassadas na escuridão.

Não são “apenas anúncios”. Os usuários “não são mais espertos do que isso”, as mentiras que estão lendo todos os dias.

19 Comentários

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  1. “Dark posts” foram largamente usados no Brasil. Funcionou e elegeram o que há de pior moral e politicamente.
    Agora, para se manterem no poder sem que o povo note rápido demais a fraude que são, criam factóides por minuto transformando o pais num circo de horrores gerando uma sangria mortal na já anemica democracia brasileira.

  2. Nem saímos dos currais e estamos sendo contrangidos nos corredores dos matadouros eleitorais. De pronto: o fim do voto obrigatório para atender anseios de cidadãos conscientes que se recusam a servir de massa de manobra de interesses escusos.

  3. No Brasil o povo cansou de ser enganado e tentou mudar se vai ser bom ou nao o tempo dira.
    Acho engraçado que quando vem noticias do bandido corrupto do lula dizem ser mentira que nao a provas mais como se ele ja foi julgado em primeira e segunda instancia e ainda pela STJ. Entao tres vezes se enganaram? E dificil.
    Votei no lula me arrependo votei na dilma me arrependo votei no bolsonaro vamos ver oque acontece porque 16 anos no pt acabou com o Brasil entao quem e contra aceita e torça pra que seja um bom governo querendo ou nao sendo ptista ou nao todos moramos aqui.

    1. Votar no bolsonaro não é torcer pra dar certo, é ser torcido pelo que já está errado.
      Você apenas teve a visão distorcida pelas mídias sociais e a notícias da TV.
      Sua memória foi apagada e não vai voltar,porque tudo de bom que a era Lula fez e você não viu ou não se lembra, foi desmentido pela mídia.
      Nem a realidade é capaz de superar o ódio de uma difamação.
      A propósito: eu nunca votei no Lula.

  4. Aqui matérias sobre CIA vigiar internet, celulares, redes sociais, Androide, Iphone, Smart TV, Google, como Gestapo global. Assange/ Snowden/WikiLeaks

    Abrimos este link para postar somente matérias relacionadas aos riscos globais para democracia com CIA vigiando tudo na internet, celulares, redes sociais, Androide, Iphone, Smart TV, etc., como Gestapo nazista na segunda guerra, repetindo o militarismo da Alemanha e do Japão, e ainda tudo sobre os heróis da humanidade Assange, Snowden, e sobre o WikiLeaks, para liberar espaço no link geral das melhores matérias de jornalismo sério e imparcial, isento e independente que achamos para explicar grave crise do Brasil e global devido ditadura atual arrastando humanidade para o desastre conforme link geral das matérias:

    https://www.linkedin.com/pulse/aqui-matérias-sobre-cia-vigiar-internet-celulares-redes-garrucino/?published=t

  5. Textos recentes analisando os cenários e a conjuntura do Brasil e do mundo sob óptica diferente ou fora das velhas caixas de crenças ou ideologias reacionárias e conservadoras, aprofundo uma visão crítica radical da atual crise ética, moral e espiritual do Brasil e da humanidade a caminho do nada ou do buraco, ruina, queda, destruição e morte se nada for feito ou se não mudarem a atual educação heterônoma para uma autônoma libertadora dos cidadãos com ciências, história, filosofia, física quântica, democracia e liberdade efetivas, e o Deus real da física quântica, e o Jesus real do cristianismo primitivo, desmoronando todos estes castelos medievais como enormes muros de Berlim em novas Perestroikas ou Glasnot agora globais detonando o reino ou ditadura das ideologias materialistas e fundamentalistas religiosas, políticas e econômicas da atual ditadura global gerando os males que vemos no mundo em plena nova era ou terceiro milênio ou século XXI.
    Extrema direita cresce em reação à esquerda e áreas acadêmicas presas no modelo materialista newtoniano ignorando física quântica e democracia.
    https://www.linkedin.com/pulse/extrema-direita-cresce-em-reação-à-esquerda-e-áreas-presas-garrucino/?fbclid=IwAR3Lzi-r8niJ63Y3EgiHWH-n23inpuEnymP-0gzP-wORVRsgxTWXvBDcnlE

  6. Brasil e ataque dos “capetas” depressão transtornos mentais obsessão fascinação subjugação possessão e luta entre ego e self/alma/espírito/iluminação
    Ansiedade, tensão, depressão, transtornos mentais e o bipolar, meta hipnose, etc;. Vídeos de psicologia transpessoal ou profunda da Dra. Anete Guimarães, da Federação Espírita do Mato Grosso, em Cuiabá, do psicólogo espirita Vitor Antenori Rossi, do psicólogo guru Pree Baba, do filosofo pela USP guru e médium Guilherme Romano, meditações, terapias alternativas, etc.
    https://www.linkedin.com/pulse/brasil-e-ataque-dos-capetas-depressão-transtornos-luta-garrucino/?published=t&fbclid=IwAR3-7Zie779tF6yUhPadrtE7R6dAPBMpDEJxWfFrU0uCbF-Yrw8wUffQCOU

  7. Roustanguistas adulteraram quase tudo do Kardec depois da sua morte e até vaticano da FEB no Brasil. Educação autônoma sumiu para imporem a heterônoma das velhas igrejas e nada mudar.
    Adulterações comprovadas dos livros “A Gênese” e “Obras Póstumas” depois da morte de Kardec, além da Revista Espírita e a Sociedade do Kardec terem virado roustanguistas contrariando o Kardec e o espiritismo, assim como o vaticano da FEB também roustanguista deturpa espiritismo e Kardec devido as legiões trevosas de fascinadores ou “capetas” dominando o kardecismo nestes 150 anos.
    https://www.linkedin.com/pulse/roustanguistas-adulteraram-quase-tudo-do-kardec-depois-garrucino/?published=t

  8. Por que não se menciona as “urnas fraudadas” e nem a “comprovação do voto”? Considero esses os responsáveis pelos maiores transtornos nas eleições. Há criaturas que, percebe-se claramente, não foram eleitos honestamente. Estranhamente não há comentários sobre isso…

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