Golpe não é para amadores! (II)

Na mesma linha que venho mantendo há mais de um ano vou continuar a reafirmar os motivos porque NUNCA ACREDITEI que teríamos um golpe ou mesmo que estávamos próximo ao um golpe.

A direita civil brasileira a partir de 1966 com o malogro da chamada Frente Ampla desaprendeu como fazer um golpe, nem  a antiga UDN que foi criada em 1945, produto de partidos conservadores do passado mais remoto, não conseguiu depois de anos de tentativas conseguir fazer um golpe civil no Brasil. O último grande articulador civil de golpes ou de revoluções foi Getúlio Vargas que dentro de uma realidade completamente adversa, foi o último civil em 1930 a conseguir articular, gerar e ter sucesso num golpe civil, que chamamos revolução de 1930, mas isto era outra história, Getúlio era um Estadista e não um político normal e ainda, a situação política e militar do país era outra.

Digo que a direita civil não tem condições de armar um golpe no Brasil, pois lhe falta à capacidade de análise da situação internacional e de articular com outros estados interessados em desestabilizar e alterar as condições políticas brasileiras.

1964, por mais que tenham conspirados e organizados o golpe, os civis foram simplesmente colocados de lado e derrotados definitivamente em 1966 com o afundamento da Frente Ampla que reunia grande parte dos organizadores da parte civil em 1964 (Carlos Lacerda e outros).

A mesma incapacidade de gerar golpes antes de 1964 que a direita tinha foi potencializada e ampliada nos dias atuais, podendo-se dizer que coloco no título que “Golpe não é para amadores”.

Para golpear um governo legitimamente eleito tem-se que ter alguns pré-requisitos, primeiro é a arguição da ilegitimidade das eleições, o primeiro passo tomado por Aécio Neves, talvez instruído por algum serviço de inteligência estrangeiro, bateu contra a organização política nacional, esqueceram os autores de manuais de “Como fazer o seu golpe em vinte etapas” que cada país tem as suas peculiaridades e quanto maior e mais complexo for a sociedade mais são complexas as ligações entre as instituições. Alegar fraude no Brasil bate contra o sistema jurídico instituído e manejado por elementos conservadores que além de conservadores são teimosos e detestam ouvir qualquer coisa que ponha em suspeita a sua capacidade de organizar coisas como eleições. Mesmo que as urnas brasileiras sejam uma verdadeira peneira a fraude, quem as defende não é o partido A ou B, mas sim a burocracia judiciária solidamente instituída e enraizada no poder que transcende a partidos de ocasião.

Vencida a etapa da alegação da fraude, o obstáculo a ser vencido torna-se muito mais alto e impenetrável, o golpe tem que partir do pressuposto que será feito contra um governo legitimamente eleito e com reconhecimento internacional. Para superar isto só seria possível com alegadas provas de corrupção dos governantes. Para isto entra em ação a Lava a Jato e a Petrobras. Mais uma vez o autor do manual do golpe em Vinte Etapas, esqueceu que grandes países têm grandes empresas, grandes interesses e uma trama muito grande de ligações. Mexer com a Petrobras mexe não só com interesses do governo, mas também com interesses de acionistas (nacionais e estrangeiros), grandes empresas como as empreiteiras e mais uma imensa massa de pessoas que orbitam em torno dos interesses da Petrobras. A medida que ia amplificando a trama contra malfeitos reais de diretores da estatal, foi entrando mais uma série de atores que estavam fora do esquema central mas que possuem grande poder econômico e político no Brasil. Entra as usinas nucleares, entra programas militares que são importantes para as forças armadas (um grande erro de estratégia) e mais um banco de investimento que é ligado com toda a cadeia produtiva brasileira. Ou seja, o número de inimigos ao esquema de golpe aumentou exponencialmente enquanto os aliados foi uma progressão linear.

Além de tudo isto faltou à base operacional para o golpe, isto talvez seja o fator que todos os que pensavam que ele sairia ignoraram, tanto os que estavam a favor como os que estavam contra. Para que se faça um golpe tem que ter uma estrutura governamental sólida e importante que organize descaradamente as ações golpistas. Em 1930, quando o Estado do Rio Grande do Sul era forte não só economicamente, mas como também militarmente, ele serviu de base à Revolução  de 30. Em 1964, se tinha o Estado de Minas, e mais outros estados importantes dando base para isto. Em 2015 o único estado importante para pretensões golpistas e com capacidade para tanto era São Paulo, mas devido a conflitos internos e uma crise hídrica sem precedentes o governo deste estado não tinha o mínimo interesse de entrar nesta aventura.

Soluções alternativas do “Manual de golpes” foram articuladas, uma imprensa subserviente e mais movimentos “espontâneos” na Internet e nas ruas no ano anterior a tentativa foram incentivados. Porém, mais uma vez a grandeza do país dificultou o gerenciamento dos mesmos. Também o autor do manual dos golpes não levou em conta que num estado federado, a repressão a movimentos populares, ou melhor, movimentos com muitas pessoas, é feito pelos estados e não pelo poder Federal.

Apesar de vozes destrambelhadas da situação pedir insistentemente que o governo Federal agisse contra todos estes movimentos “espontâneos” ,  o governo Dilma e o sábio Ministro da Justiça tiveram a sabedoria de não entrar em conflito contra toda esta armação política-jurídica-mediática, que ficou agitando colocando medo nas criancinhas que apoiam o governo. Estas pobres e coitadas criancinhas ficaram acuadas e medrosas dos perigos que se avizinhavam.

Sem apoio militar, sem um apoio aberto de países estrangeiros (nada falo de apoios velados), sem organização civil, sem apoio de uma base social que não teria nada a perder se fosse a rua, sem conseguir chegar ao núcleo do poder, pois este não se envolveu em falcatruas ou em bravatas ante oposição, naturalmente as frágeis ligações com os dispersos, oportunistas e desunidos operadores de grupos de pressão foi-se desmanchando e perdendo força.

Retrocessos políticos foram necessários para vencer não só a crise política, mas como também estancar a crise econômico-financeira ocorreram, fazendo que o governo perdesse uma grande parte do apoio popular, entretanto na falta de uma oposição para colher frutos da crise, esta oposição sofreu um desgaste proporcional ao desgaste do próprio governo.

Só falta falar da última tentativa de seguir o “Manual” os tais movimentos dos caminhoneiros. Copiando a experiência chilena, partiu-se para a mesma estratégia, porém esqueceram que a frota de caminhões é operada por um número imenso de pequenos proprietários que devido ao número e dispersão são difíceis de operar.

Não vou falar aqui do aspecto externo, pois o texto já está muito longo, mas estes operadores externos que gostam de escrever manuais esqueceram que para máquinas complexas, fora da linha de fabricação normal de países, é necessário escrever um manual específico para cada país, porém para escrever este manual precisa de pessoas com capacidade e criatividade para tanto, e como diz a propaganda do cartão de crédito, isto não tem preço, e não se encontra disponível nas prateleiras de qualquer agência de inteligência.

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