Há coesão nas narrativas globais da extrema-direita, diz César Calejon ao GGN

“É muito importante para o nosso povo saber que existem atores muito mais preponderantes para formar aquilo que eles chamam de realidade do que o fantasma do comunismo."

Jornal GGN – O jornalista César Calejon comenta os principais fatores que levaram “A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI”, título de sua nova obra, como a capitalização certeira da ultra-direita sobre as novas tecnologias e influência exterior nos países da América Latina, em entrevista ao jornalista Luis Nassif, no TV GGN 20H, desta sexta-feira, 7 de agosto.  

Calejon começou a produzir sua análise a partir de maio de 2018 ao perceber a força da narrativa política utilizada por Jair Bolsonaro (sem partido). Ele nomeia cinco fatores que influenciaram o resultado das urnas em outubro daquele ano, são eles: o antipetismo, o elitismo histórico, o dogma religioso, o sentimento de antisistema e o uso de novas ferramentas de tecnologia na disseminação do discurso de ódio. 

Para o jornalista, o antipetismo foi o elemento mais “nevrálgico” para o triunfo de Bolsonaro, a partir do movimento da grande mídia de criminalizar o Partido dos Trabalhadores, a partir da figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e consequentemente a esquerda. “O antipetismo foi explorado com ‘veracidade ímpar’ por alguns veículos de imprensa do Brasil, (…) para de alguma forma criminalizar a esquerda e afirmar que a Lava Jato era a solução para moralizar o país”. 

Ele também destaca a potência da influência externa nos países da América-latina, principalmente dos Estados Unidos – como processos de perseguição política -, que implica diretamente na emancipação dessas nações em termos de regulação. “É muito importante para o nosso povo saber que existem atores muito mais preponderantes para formar aquilo que eles chamam de realidade do que o fantasma do comunismo”, destaca Calejon.

A partir dessa influência externa, o jornalista também analisa a ‘desidratação’ do movimento bolsonarista no Brasil, que pode ser fortemente impactado pelo resultado da eleição presidencial americana este ano com a possível queda de Donald Trump. A perda de força de Bolsonaro também se mostra diante de suas respostas “negacionistas e genocidas” à pandemia do novo coronavírus.

Calejon ainda comenta o sucesso da capitalização pela extrema-direita do uso de novas plataformas tecnológicas, potenciais agentes de comunicação de massa, no impacto gerado no cenário eleitoral brasileiro.

“Essa dimensão aconteceu de uma forma mais ampla em todo mundo e a extrema-direita conseguiu capitalizar isso de uma forma muito adequada, porque existem cases desse tipo em todo mundo (…) e que seguem dinâmicas muito similares, o que isso denota é que existe algum nível de coesão. E, onde você perceber os mesmos elementos de coesão de forma repetida é um indício de que existe um comando de forma central organizando narrativas e avançando neste tipo de raciocínio”, analisa. 

O jornalista ainda destaca a necessidade de uma regulação que abarque e responsabilize as empresas de tecnologia. “Essas novas tecnologias e outras dinâmicas que permitem a disseminação de ódio e a exploração de elitismos históricos e sociais como em nenhuma outra parte do nosso desenvolvimento humano, isso tudo gera um contexto novo e imprevisível (…) A gente precisa de uma regulação firme e isso também tem ser feito com muito cuidado, no sentido de que tipo de conteúdo é disseminado por qual plataforma. (…) Essas grandes empresas de tecnologia precisam ser compelidas a arca com a responsabilidade pelo tipo de mensagem que circula na plataforma deles”, completa. 

Assista a entrevista na íntegra, a partir dos 19 minutos:

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Redação

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