
Por Carlos Wagner
É de cortar os pulsos ouvir, ler e assistir às explicações dos colegas jornalistas especializados em economia sobre a explosão dos preços das carnes e dos grãos no comércio varejista do Brasil. As análises deles acabam se espalhando pelos mais longínquos rincões, porque são usadas como recheio nas notícias produzidas pelos repórteres que cobrem o dia a dia dos jornais (papel e site), rádios, TVs e outras plataformas. O principal argumento utilizado pelos colegas para explicar a disparada dos preços é o aumento da demanda por grãos e carnes (suína, aves e gado) por parte dos mercados externos, principalmente a China. Somam a esse fato a distribuição do auxílio emergencial do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), os 600 reais. As explicações estão corretíssimas. Mas não é tudo. E sobre isso que quero conversar, principalmente com os repórteres envolvidos na cobertura do dia a dia.
Antes de seguir conversando. Não estou usando a palavra especulador de maneira pejorativa. Ele é um profissional presente em todos os sistemas econômicos do mundo. No caso do capitalismo, é a pessoa que compra e vende no atacado mercadorias e capitais. Ele se abastece de informações verdadeiras e exclusivas. E espalha para o público a sua versão dos fatos com o objetivo de ganhar dinheiro. É do jogo. Mas precisa ser explicado ao nosso leitor. Voltando à história. Vamos deixar de lado o economês, expressão que usamos nas redações para descrever o uso de termos técnicos nas matérias que só os especializados entendem. Dentro de uma economia de mercado, como é brasileira, a informação é uma moeda forte para todos os envolvidos. Portanto, o repórter precisa ter bem claro que fornecerá ao consumidor informações que ele usará para montar uma estratégia de enfrentamento aos especuladores. A explicação que a imprensa está dando aos brasileiros é que o reajuste dos preços pelos mercados internacionais, que usam o dólar americano como moeda, é necessário para evitar o desabastecimento interno. Esse procedimento evita que o produtor estoque a mercadoria à espera de uma oportunidade para vendê-la para o exterior.
Essa é a explicação que estamos dando aos nossos leitores. Mas não é bem assim. Nos últimos 50 anos o Brasil se tornou um dos grandes produtores de proteínas vegetal e animal do mundo. Há estudos que mostram que os agricultores e criadores (gado, suínos e aves) produzem cinco vezes mais do que pode ser consumido pelo mercado interno. Isso significa que o produtor e o especulador não têm tanto tempo assim para ficarem com a mercadoria parada, por dois motivos: o primeiro é a concorrência entre os países produtores de alimentos, incluídos os Estados Unidos. E o segundo é que tanto os produtores quanto os especuladores trabalham com dinheiro dos bancos — recursos que têm prazo para serem devolvidos. Há mais um fator. O governo brasileiro está enfrentando um fogo cerrado disparado pelos ambientalistas ao redor do mundo contra os descasos com o meio ambiente, especialmente a Floresta Amazônica. Se o governo não mexer na sua política ambiental, o boicote aos produtores brasileiros ao redor do mundo é uma questão de tempo. Todo mundo sabe disso, principalmente a ministra da Agricultura, Tereza Cristina Corrêa. Acrescente-se o fato de que o principal comprador dos grãos e carnes do Brasil, a China, vive sendo xingada pelas pessoas que fazem parte do círculo pessoal do presidente Bolsonaro, o Gabinete do Ódio.
A soma de tudo isso mostra ao consumidor que o atual quadro não é definitivo porque existem muitos fatores envolvidos. O grande problema do consumidor, isso nós temos que repetir cansativamente nas nossas matérias, é que ele ganha em reais e paga por produtos que têm os seus preços reajustados pelo mercado internacional, que opera com o dólar. Em 2018, o então presidente da Petrobras, Pedro Parente, acabou com o sistema pelo qual a empresa subsidiava o óleo diesel para os caminhoneiros. E os preços passaram a ser reajustados pelo mercado internacional. A maneira como a mudança foi feita acabou desencadeando uma greve de caminhoneiros que durou 10 dias, causando um prejuízo de R$ 10 bilhões. Depois da greve, foi montado um sistema de reajuste para o diesel que mantém os caminhoneiros quietos. A explosão dos preços dos alimentos é como se fosse um sismógrafo dando sinal. Nós jornalistas precisamos ter bem claro que os brasileiros ganham em reais e pagam produtos reajustados pelos mercados internacionais. É simples assim.
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A explicação de Nassif é simples, didática e verdadeira, mas certamente não chegará aos bolsomínions.
E se chegar, será neutralizada pela narrativa abaixo – divulgada em páginas do FB.
“LULA EXPULSOU ARROZEIROS
“Em 2008, com autorização do STF, Lula expulsou os arrozeiros em Roraima, na Raposa Terra do Sol, onde milhões de toneladas de arroz em produzidas por ano.
“Agora a conta chegou.”