Jornal GGN – O general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, não elaborou um plano nacional de imunização contra Covid-19 que seja tecnicamente aceitável. Não considerou as especificações de cada vacina em negociação, a logística de armazenamento e transporte, e o público que deve ser priorizado na campanha. O que Pazuello fez, sob pressão, foi pegar o plano que estava pronto no Ministério, utilizado todos os anos na campanha contra a gripe, e apresentar ao público. Mas a pandemia de coronavírus demanda uma estratégia mais “complexa” do que essa.
Na prática, portanto, “eles não fizeram nada. Foram pressionados para fazer um plano, pegaram o plano da gripe que se faz anualmente e falaram que vai ser esse aí.” É o que revela o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, em entrevista ao BR Político (Estadão) desta quarta (9).
Segundo Mandetta, o SUS está totalmente preparado para fazer rodar uma campanha de vacinação. O problema é que o governo federal não apresentou um plano e sequer sabe quais vacinas irá usar.
Para Mandetta, Bolsonaro errou ao colocar um “milico” sem capacitação na área de Saúde para cuidar do Ministério em meio a pandemia. “Acho que ele é especialista em balística, e entenderam logística”, ironizou. O resultado da má escolha é o que está ocorrendo agora: uma batalha pela vacina, com estados como São Paulo declaradamente indispostos a esperar pela liderança de Pazuello, que se curva às vontades políticas de Bolsonaro.
Mandetta ainda disse que “o maior tropeço” até agora foi ter colocado todas as fichas exclusivamente na vacina da Astrazeneca, desenvolvida com a Universidade de Oxford e testada no Brasil com a Fiocruz. O correto era ter investido em um pool de vacinas.
A vacina de Oxford era uma das mais promissoras, mas apresentou erro na fase 3 e, por isso, deve atrasar sua entrega, prevista para começar em dezembro. Por isso foi que Pazuello anunciou que o plano de imunização seria iniciado somente a partir de março de 2021. Com a Coronavac, o governo de São Paulo começaria a campanha em 25 de janeiro de 2021.
Para Mandetta, está claro que o governo Bolsonaro não admite a derrota: a primeira vacina a ser aprovada é a da chinesa Sinovac. O governo federal está tentando, agora, “ganhar tempo” e é capaz até de atrasar a aprovação da Coronavac, enquanto tenta adiantar ao máximo a da Astrazeneca. “Saindo as duas, vão dizer que o critério é o preço. Como já pagou por uma, vão dizer que não vão querer pagar duas vezes.”
Ainda segundo Mandetta, a preocupação maior é com a segunda onda chegando a partir de março e abril. “Se entrarmos com baixa vacinação no outono e no inverno, nós vamos ter, aí sim, uma segunda onda muito grande.”
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