O descompasso de Bolsonaro com a sociedade brasileira

Em dois anos de mandato, presidente deixa de lado promessas feitas em campanha e prioriza agenda que atenda aos interesses familiares

Foto: Isac Nóbrega/PR

Jornal GGN – O presidente Jair Bolsonaro está bem longe de estabelecer a marca de eficiência no uso da máquina pública, ao mesmo tempo em que arquivou promessas feitas durante a campanha eleitoral e retrocedeu em ações sociais.

Ao menos 12 medidas que afetariam a política e a economia foram deixadas de lado por Bolsonaro nos primeiros dois anos de seu mandato – dentre elas, a reforma tributária, as privatizações e o apoio à operação Lava-Jato, como explica reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.

O país também passa por momentos difíceis diante da pandemia de covid-19, e a falta de conexão do governo com a gestão fez com que o Ministério da Saúde tivesse três ministros em apenas um ano, sendo que o atual, general Eduardo Pazuello, chegou a ocupar a pasta de forma interina por quatro meses.

Também foi possível comprovar o congelamento do “choque liberal” prometido pelo Ministério da Economia e os sucessivos conflitos entre parceiros econômicos internacionais, em um Itamaraty comandado por Ernesto Araújo.

Ao invés disso, a atuação presidencial ficou concentrada em realizar discursos ideológicos nas redes sociais (comandadas pelo ‘gabinete do ódio’, coordenado pelo vereador Carlos Bolsonaro, o filho ‘02’), fechar alianças com os partidos do Centrão e dar atenção às questões familiares – como impedir as investigações em torno de um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), acusado de liderar um esquema de rachadinha quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

 

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Redação

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  1. No Brasil de Bolsonaro, o grande problema não é político, mas psiquiátrico

    Chico Alves Colunista do UOL 20/12/2020 12h53

    Basta ouvir alguns segundos do bate-papo que Jair Bolsonaro manteve neste sábado com o filho, Eduardo, em um canal do YouTube, para ter certeza que a crise brasileira transcende o contexto político. O presidente da República cria seus próprios fatos, parece acreditar neles e é com base nesses devaneios que dirige o país. Não há mais qualquer dúvida: o problema do Brasil é da esfera da psiquiatria.

    Na conversa com o filho, com a média diária de mortes por covid-19 passando de 700 vítimas, Bolsonaro fala disparates como “a pandemia, realmente, ela está chegando ao fim”. E emenda: “os números têm mostrado isso aí “.
    Para dizer algo assim, na contramão de todas as estatísticas e desrespeitando aqueles que perderam parentes e amigos, ou é um ser humano que vive em delírio ou é alguém que quer convencer os simpatizantes de uma mentira. Delirante ou mentiroso, nenhuma das duas qualificações cai bem para o chefe de uma nação.

    Em seguida, no papo com o filho, Bolsonaro disse ainda que a pressa pela vacina não se justifica (!). Não sem antes insinuar interesses escusos por parte de quem quer apressar o uso dos R$ 20 bilhões liberados pelo governo na compra do imunizante.

    Ainda por cima, Bolsonaro teve coragem de afirmar que nunca quis politizar a vacina — logo ele, que comemorou a morte de um voluntário que testava a CoronaVac e escreveu nas redes sociais “eu ganhei”. Soube-se depois que houve suicídio do voluntário.

    Não há outro exemplo no mundo de um presidente assim. Nem mesmo o negacionista Donald Trump foi tão longe em sua realidade paralela.

    Apesar disso, militares, políticos e Judiciário agem de forma natural, como se fosse normal um chefe de Estado desdenhar de uma tragédia que lota de pacientes as UTIs e de cadáveres os cemitérios de todo o Brasil.

    Os militares do grupo liderado pelo ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas foram os que criaram as condições para que Bolsonaro chegasse ao poder. Montados na ilusão de superioridade que os oficiais da caserna têm sobre os civis, criaram uma situação anômala de intimidação ao Judiciário (vide o célebre tuíte de Villas Bôas antes do julgamento do habeas corpus de Lula) e voltaram se meter em politica.

    Deu no que deu. O resultado do desastre está aí, à vista de todos.

    Mas generais, parlamentares e magistrados agem como parentes de uma pessoa inimputável que aparece pelada em plena festa de casamento de uma sobrinha. “Deixa, ele é assim mesmo”, dizem o tempo todo.
    Não é apenas Bolsonaro, são as instituições brasileiras que estão em transe.

    Nem as mortes evitáveis de tantos brasileiros comovem essas pessoas a ponto de mostrar indignação à altura da tragédia. Os políticos do Centrão querem seus cargos, o Judiciário está intimidado e para os militares bastou ter impedido o PT de chegar ao poder. Não importa a devastação sanitária, ambiental e econômica que o atual desgoverno esteja empreendendo.

    Somente os psiquiatras podem explicar com propriedade o que se passa hoje no Brasil.

    Enquanto a vaca vai para o brejo, os responsáveis pelas tais instituições continuam repetindo aos brasileiros: “Deixa, ele é assim mesmo”.

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