Os patos migram para o paraíso panamenho, por Laura Carvalho

Jornal GGN – Em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, a professora da USP, Laura Carvalho, comenta o vazamento das informações sobre a firma Mossack Fonseca, sediada no Panamá e especializada na abertura de offshores. Ela lembra que o escândalo, que envolve nomes importantes da política internacional, também traz informações sobre Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, e do filho de Paulo Skaf, presidente da Fiesp, entidade que lançou a campanha “não vou pagar o pato”, contra o aumento dos impostos.

Para Laura, o mundo das offshores parece ser acessível somente para os mais ricos, que “buscam ao mesmo tempo uma qualidade de vida escandinava e uma capacidade de fiscalização e arrecadação da Somália”. Ela diz que, enquanto isso, os pequenos empresários e consumidores sofrem com pesada carga tributária: “alguns desses, sem perceber que são os únicos patos dessa história, parecem sentir-se representados pela campanha da Fiesp”, afirma. Leia a coluna abaixo: 

Da Folha

Os patos vão para o paraíso
 
Laura Carvalho

Foi necessária a fuga de informações sobre centenas de milhares de operações oriundas da firma de advogados Mossack Fonseca, sediada no Panamá, para que o mundo tomasse conhecimento dos meandros e personagens de um amplo sistema “offshore” desenhado, sobretudo, para legalizar a sonegação de impostos e a lavagem de dinheiro.

As informações preliminares sugerem que entre os usuários do sistema estão a oligarquia russa; autocratas sauditas; o presidente da Argentina, Mauricio Macri; o jogador Lionel Messi; ao menos 29 multimilionários listados na revista “Forbes”; o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o filho de Paulo Skaf, presidente da Fiesp –a entidade que lançou a agora célebre campanha “Não vou pagar o pato”.

No paraíso cartorial dos patos, convivem sonegadores, bancos que querem escapar da regulação, corruptores, corruptos, traficantes e até mesmo terroristas. É da necessidade de fuga –da lei, dos impostos ou da regulação– que se alimenta essa rede complexa, que não começa nem termina no Panamá.

Algo une todos os clientes: o mundo das “offshore” parece só ser acessível aos mais ricos. Como escreveu a deputada portuguesa Mariana Mortágua, “para os demais, os que trabalham e ganham o salário mínimo, ou o médio, fica o peso de uma administração tributária implacável e a responsabilidade de, com os seus impostos, financiar os Estados”.

No Brasil, segundo a organização de pesquisa e consultoria Global Financial Integrity (GFI), a saída ilícita de capitais chegou a US$ 226,6 bilhões em dez anos (2004-2013), o que nos torna o sexto país em desenvolvimento a mais sofrer com a saída de recursos. Na Operação Zelotes, que trata de sonegação e corrupção –tudo junto e misturado– em território nacional, a Polícia Federal investiga desvios da ordem de R$ 20 bilhões.

Os tais patos, indignados com o olho grande do Estado sobre sua renda e/ou patrimônio, querem o melhor dos mundos, no qual a Mossack Fonseca vende lotes na terra prometida. Buscam ao mesmo tempo uma qualidade de vida escandinava e uma capacidade de fiscalização e arrecadação da Somália. Não parecem enxergar nenhuma incompatibilidade entre a conquista de tal qualidade de vida, que só existe de verdade ao final de uma travessia de alto crescimento e forte redução das desigualdades e, por exemplo, o tipo de ajuste fiscal que demandam do Estado brasileiro.

Concentram suas forças em pressionar o governo por amplas desonerações fiscais e impedir a volta da cobrança de Imposto de Renda da Pessoa Física sobre lucros distribuídos, a elevação dos impostos sobre grandes heranças ou a criação de um imposto sobre grandes fortunas.

Enquanto isso, trabalhadores e pequenos empresários sofrem com a carga tributária pesada e demasiado complexa sobre o consumo e a produção. Alguns desses, sem perceber que são os únicos patos dessa história, parecem sentir-se representados pela campanha da Fiesp. Se mais bem informados e conscientes de que direitos sociais, sonegação e corrupção não cabem no mesmo orçamento, certamente trocariam de alvo e substituiriam os gritos de “Vai pra Cuba!” pelos de “Vai pro Panamá!”.

 

15 Comentários

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  1. Quá quá quá!

    Quer dizer que o filho do Pato Skaf está na Mossack?

    Família esperta! Sabe aplicar e fugir dos impostos do seu país. O seria sonegação?

    Ou seria evasão ou corrupção? Precisa ser apurado.

    Se fosse do PT, a Lava Jato certamente já estaria preparando alguma “coercitiva”, ou uma “temporária” e até mesmo, por que não?, uma “preventiva”.

    Ah, é assim. 

    Quem não viu (ainda) o Delação, do Porta dos Fundos? A seletividade das delações está ali retratada. 5 milhões já viram.

    Se não viu, vá ver e dê o seu positivo. Se já viu, volte lá e dê o seu positivo pois tem uma batalha de Democracis x Golpe na contagem dos a favor e dos contra:

    https://www.youtube.com/watch?v=m92wwsCxk7k 

  2. Quem paga o pato?

    O tão propalado “instinto animal” dos empresários brasileiros costuma ser proclamado por eles como uma qualidade, porque conseguem disfarçar o caráter carniceiro do seu instinto animalesco. São essencialmente animais mamíferos porque não sobrevivem sem as tetas do Estado. Depois que comeram e engordaram com as desonerações concedidas pelo Governo, querem agora que o povo pague novamente o pato, mais do que já pagaram antes do pacto celebrado e não cumprido por eles, no que lhes cabia.

  3. Por mais que se analise os

    Por mais que se analise os problemas da crise política, sem precisar ser grande estudioso, chega-se sempre à conclusão que corrupção existe nos países mais desenvolvidos da América do Norte e Europa, por exemplo, bem como que pela Terra de Cabral ninguém realmente está com esse interesse em coibir corrução, a não ser dentro de um esquema político-judicial-midiático, escalafobético, distante quilômetros das boas intenções.

    Todos os nossos problemas advem de um passado distante, que está ainda hoje pregado como uma gosma virulenta na desigualdade social. Um por cento de ricos, uma bobagem de classe média e setenta por cento de pobres, miseráveis, sem sequer conseguirem terminar um segundo grau. 

    Por que essa ânsia em prender o líder Lula, único político sensível a essas mazelas da sociedade, que ao lado de quem indicou para Presidente da República, lutaram por meio de projetos dignos, sustentáveis, a fim de atingirem esses objetivos. Se milhões de brasileiros ascenderam em suas condições, dando novo formato à pirâmide social brasileira, ainda muito seria necessário para ambos, ou seguidores seus, por essas ideias, pudessem atingir esse sonho, que é de todos os países do mundo, ainda vivendo a população em regime similar a de escravidão.

    Quem mandou Lula ser generoso, pensar em gente pobre, e querer que todos tivessem seus direitos garantidos, mesmo não interferindo na farra dos ricos? Deu uma dor profunda nessa gentalha se deparar com um povinho de repente bem-vestido, de repente, em faculdade, de repente querendo o que querem os que sempre tiveram.

    Lula, então, persegido como um cão sarnento, parece ter que levar para o túmulo essa agonia, essa angústia, e talvez perguntas sem respostas, que, por certo, se Deus existe somente ELE lhes dará.

    A liberdade de Lula e de Dilma ameaçadas só podem acontecer de novo se ele for preso ou assassinado, e ela, se cair na esparrela de ouvir seus opositores, renunciando seu cargo para dar de bandeja aos bandidos de plantão, que vivem feito moscas à espreita do poder.

  4. Eu ainda me pergunto o porque

    Eu ainda me pergunto o porque do Joaquim Barbosa estar na Mossack & Fonseca. E vai pro Panamá é ótimo. Fica a dica para as novas manifestações de cidadania. Aceito até que a direita assuma o slogan.

    E  quá quá pro Skaf.

  5. A autora nos fala que se os

    A autora nos fala que se os trabalhadores e pequenos empresários fossem mais bem informados e cosncientizados não se uniriam ao pato da FIESP. É exatamente isto que falta ao povo brasileiro informação e conscientização. Mas isto teria que começar nas escolas.História do Brasil bem explicada,a formação do povo brasileiro, a chegado dos estrangeiros, sua participação na nossa história, a desigualdade social a falta de oportunidades dos mais pobres, a escravidão negra e suas consequencias. Tudo isto nos ajudaria a formar cidadãos informados e conscientizados.

    1.  Bem que esses dados podiam
       Bem que esses dados podiam ir para o Nassif também, se a ICIJ fosse mais séria as informações seriam divulgadas abertamente e integralmente em um site, para qualquer um verificar, sem os “filtros da exclusividade”. Tá me cheirando retalhação ao BRICS e a saída da Inglaterra do Euro. O grande trabalho da imprensa não é mostrar e sim esconder através de cortinas de fumaça. Todos esses dados foram analisados pelo PRISM denunciado pelo Edward Snowden e só agora estão sendo vazados?

  6. Pelo menos já sabemos de onde

    Pelo menos já sabemos de onde veio o dinheiro para pagar pelos patinhos e pelo patão. Será que eles podem por um mostrador do Evasômetro/Sonegômetro do lado do Impostômetro? Não precisa é só fazer as contas para cada real do Impostômetro vão pelo menos 10 centavos para o Evasômetro/Sonegômetro. Quem paga o pato? Você, eu, todos que não podem ir para o Panamá e adjacências.

  7. Os patos 2

    Os patos somos nós:

    “NOVA YORK – O professor emérito de economia da Universidade de Berkeley e de relações internacionais da Universidade de Columbia, Albert Fishlow, afirmou em apresentação na noite desta quarta-feira, 6, que tem havido uma ilusão no Brasil de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff pode ser a solução para os problemas do País e de que o judiciário pode resolver todas as questões. “O impeachment não vai resolver virtualmente nada”, disse o economista. Para ele, o Brasil caminha para uma nova década perdida.”

    http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,impeachment-de-dilma-nao-resolvera-problemas-e-brasil-vai-ter-decada-perdida–diz-especialista,10000025281

  8. Quando o uso de offshores é

    Quando o uso de offshores é por parte dos cidadãos dos países ricos, a coisa é grave. Mas, e quando isso acontece com malandros de países como o Brasil, com grandes deficts nas áreas de educação, saúde, saneamento, etc.?

    E quando sabemos que, conforme o post:

    “Algo une todos os clientes: o mundo das “offshore” parece só ser acessível aos mais ricos. Como escreveu a deputada portuguesa Mariana Mortágua, “para os demais, os que trabalham e ganham o salário mínimo, ou o médio, fica o peso de uma administração tributária implacável e a responsabilidade de, com os seus impostos, financiar os Estados”.

    O sentimento que aflora causa enorme desconforto. A indignação é tamanha que a raiva fica a ponto de explodir.

    E quando sabemos que essa raiva está sendo canalizada por gente como Skaf, por organizações como a Globo, que, por terem poder e amplo domínio nos meios de comunicação, propagandeam para o povão que o mal que assola o país está sendo ocasionado pelos governos petistas, cujos membros, aliás, não constam como usuários de offshores. Nenhum petista abriu offshores. Estão lançando a culpa sobre aqueles que tiraram 40 milhões de brasileiros da miséria.

    Quando sabemos disso, a raiva tem de tomar outro caminho, pois está sendo canalizada para o caminho errado.

    Façamos uma analogia, imaginando alguém que constroi canais para tirar água de pedra, sabendo que água está muito longe, num poço, em um lençol freático com água pura, cristalina e em quantidade inimaginável. Scaf e a Globo estão canalizando a raiva do povo para a pedra, para que metam a cabeça nela e estourem os miolos, pensando que quem o está enganando são os petistas, que são eles que estão escondendo a água 

    Eles, usuários de offshores, gente muita rica e criminosa, estão escondendo do povo a água, canalizando sua raiva quase incontida para o lugar errado, para as pessoas erradas. Como dominam os meios de comunicação, o Jorná Nacioná, e quase todas as rádios, podem dar notícias enviezadas, canalizadas de modo a esconder do povo quem de fato está provocando o mal no país.

    A Globo é usuária de offshore, o filho de Skaf, Cunha, Aécio, o filho de FHC, muita gente do PSDB, quase todas as famílias milionárias do país. Falam sobre Cunha porque sobre ele não dá mais para esconder. A Lava Jato canaliza quase tudo para o PT. Não há nada provado contra Lula e Dilma, mas o povão não sabe disso.

    Canalizam a raiva do povo para a pedra, cavaram esse canal para o povo entrar de gaiato dentro dele. O canal deles conduz diretamente para água, enquanto o do povo conduz para a pedra. Querem que o povo fique lá, lambendo a pedra, metendo a cabeça nela e colocando a culpa de tudo em Lula e Dilma. Gritando nos mercados, nas padarias, nas feiras, e em todos os lugares onde fazem compras, que as coisas estão muito caras e que há desemprego por causa de Lula e Dilma. Quando os milionários das offshores ouvem os gritos do povo, dão muitas risadas. Contentes por estarem escondendo dele os verdadeiros culpados pelos preços elevados e pelo desemprego. Eles nao pagam imposto de renda, a grana deles vai diretamente para os paraísos ficais, as offshores.

    O povo precisa abrir oszói, para ver onde está a água e o que, de fato, está acontecendo no país.

  9. Abutres travestidos

    Achei genial o artigo. Bem feito para o Skaf. Os grandes abutres travestidos de grandes patos voam para o Panamá. Ficamos nós aqui os patinhos sem asas dando duro para  sustentar um Estado e uma política corrupta. Afinal, precisamos manter o segundo Congresso nacional mais caro do mundo e os privilégios da elite estatal. Revolução republicana já. Contra o império do dinheiro. 

  10. a família skff sonega e cria

    a família skff sonega e cria um símbolo para pagarmos o pato…

    abutres´- são o que são..

    insanos….

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