

Professor Nelson Lago aponta impactos positivos dos softwares livres sobre a economia
A indústria de aplicativos movimenta por ano 20 bilhões de dólares no mundo. É um setor que cresce exponencialmente e que não existia antes de 2008. A título de comparação, o mercado de cinema nos Estados Unidos movimenta 24 bilhões de dólares ao ano.
Em todo esse ambiente como o Brasil se enquadra em termos de produtor e consumidor de aplicativos, softwares e hardwares? Os números não são muito animadores. Um levantamento encomendado pelo Banco Mundial revelou que o país ocupa a quarta posição no ranking dos maiores mercados consumidores de tecnologia da informação e comunicação (TIC) no mundo. Em contrapartida o Brasil é responsável por apenas 5% da produção de negócios do setor de TICs.
Para o gerente técnico do Centro de Competência em Software Livre (CCSL) do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, Nelson Lago, dentre os fatores que prejudicam o desempenho do Brasil como produtor de TICs estão: a falta de uma estrutura forte de apoio a inovação no país direcionada às startups; a falta da cultura hacker entres os jovens brasileiros e a pouca mão de obra qualificada.
“A falta de mão de obra qualificada é um fenômeno mundial e a tendência é que isso piore nos próximos 20 anos. Basicamente, tem mais postos de trabalho sendo formados do que pessoas na área”, pontuou durante sua participação no Fórum de Brasilianas.org – A produção de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no Brasil, realizado em novembro na capital paulista.
A pouca mão de obra qualificada desenvolvida no Brasil acaba sendo absorvida por bancos e empresas de telecomunicações. Em relação ao apoio à inovação, Lago destacou como exemplo os Estados Unidos, onde existem mecanismos públicos consolidados de oferta de créditos de risco para startups.
“Assim, o jovem que gosta da área e se forma não tem nenhum incentivo para criar novas empresas [no Brasil] com apoio financeiro, de outro lado tem um banco oferecendo bons salários. É isso que vemos no IME-USP onde, apesar de ser uma conceituada escola de formação em TICs do país, é raríssimo ver uma startup surgindo”, alertou.
Lago defendeu um apoio maior por parte do governo brasileiro aos softwares livres, não apenas por uma questão ética, mas pelo impacto positivo que esses produtos causam nos mercados. Segundo o professor, muitas empresas multinacionais estão trabalhando e ganhando dinheiro com softwares livres.

Nelson Lago/IME-USP Foto: Nasho Lemos
“A IBM disse ter investido 1bilhão de dólares em 2001 no Linux tendo recebido o retorno financeiro em menos de um ano. Temos também o caso da Sun Microsystems que tinha como seu produto principal um software livre que era a linguagem Java. Ela foi comprada pela Oracle. Outro exemplo mais recente é do Android do Google que tem alguns componentes que não são livres, mas está aí com 64% do mercado de smartphones”, justificou.
Por definição um software livre tem como características códigos abertos para ser livremente: executado, programado, estudado, modificado, distribuído e melhorado.
A RedHat, uma empresa que trabalha basicamente com software livre, desde 2009 passou a fazer parte do “índice das 500” da Standerd & Poor’s, o que não seria possível caso sua importância fosse mínima no ambiente de negócios.
A produção de softwares livres não só acelera ainda mais o surgimento de tecnologias novas e melhoradas, como também impacta na “cultura hacker” entre os jovens, atendendo a sede de conhecimento que muitas vezes não é abarcada pelas instituições de ensino, por falta de materiais didáticos adequados.
“A falta de cultura hacker no Brasil, [ou seja, do ímpeto de aprender e criar no ambiente digital] está ligada a barreira da língua e também aos problemas das cópias ilegais. Enquanto um norte-americano, por exemplo, está brincando de como fazer o drive da rede wifi funcionar, o brasileiro está descobrindo como quebrar o WGA da Microsoft”, justificou o professor.
Lago ressaltou, ainda, que a popularização de software livre traz consigo a criação de uma série de pequenos e médios empreendimentos de serviços agregados como implantação, customização, integração, consultoria e treinamento, além de incentivar a competitividade “baseado na reputação daquele prestador que ofertar os melhores serviços”.
Um exemplo do que o país estaria perdendo ao não criar políticas de estado que incentive os setores de TICs e a popularização de softwares livres é o valor vendido de dois sites com basicamente os mesmos serviços, um nos Estados Unidos e outro no Brasil. O primeiro, chamado Geocities foi comprado por 3,7 bilhões de dólares. Já o segundo trabalho, com o mesmo perfil, mas desenvolvido por brasileiros é o extinto Kit.net, vendido em 2003 por 6 milhões de reais à Globo.com.
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