Porrada em geral e spray de pimenta por sadismo: o que ensinam aos concurseiros da PRF (com vídeos)

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Em aulas para aspirantes à carreira policial, instrutores compartilham episódios de violência indiscriminada e desnecessária. Assista

Agente da PRF de costas, durante uma operação nas estradas
Foto: Polícia Rodoviária Federal/Agência Brasil

A morte de Genivaldo de Jesus, 38 anos, durante uma abordagem de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Sergipe, levantou um debate sobre a formação violenta das policias no Brasil.

Após a repercussão do caso, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Sergio Moro, defendeu a PRF afirmando que “são profissionais valorosos e a violência policial é rara”.

APOIE O JORNAL GGN. CONHEÇA NOSSA CAMPANHA: CATARSE.ME/JORNALGGN

A declaração de Moro contrastou com um Brasil atônito não apenas com a morte de Genivaldo, mas também com duas dezenas de vidas perdidas durante a chacina na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, após uma operação supostamente de combate ao tráfico de drogas. A PRF participou desta e de ao menos outras duas chacinas no governo Bolsonaro.

O discurso de que a “violência policial é rara” contrasta também com vídeos que circulam em redes sociais, mostrando que a violência está presente já na fase preparatória para a entrada na carreira policial.

Um exemplo que surgiu no Reddit, remetendo ao caso de Genivaldo, é um pedaço da aula de Ronaldo Bandeira, policial rodoviário federal e professor do AlfaCon Concursos Públicos, onde ele conta um episódio em que usou spray de pimenta para amansar uma pessoa que resistia à prisão já dentro de uma viatura.

“Ele estava na parte de trás da viatura e tentou quebrar o vidro com chutes. O que o ‘policia’ faz? Abre um pouquinho, pega o spray de pimenta e taca [faz barulho de spray]. Foda-se. É bom pra caralho. A pessoa fica mansinha. Ai daqui a pouco só escutei assim: ‘eu vou morrer, eu vou morrer’. Eu fiquei com pena. Abri o vidro e falei assim: ‘tortura’ [risos].”

A história do PRF arranca risos da turma de aspirantes. O policial afasta o microfone na hora de falar do spray, pois sabe que está sendo gravado. No final, ele se desdiz, tentando não se comprometer com uma possível infração: “sacanagem, fiz isso não.”

Outro exemplo que surgiu no Twitter nesta semana é o vídeo abaixo, onde o fundador do AlfaCon Concursos Públicos, Evandro Guedes, em aula direcionada a aspirantes da PRF, contou como gostava de ser violento em seu passado como policial militar. “Porrada sobrou. Dei porrada em todo mundo: homens, mulheres, idosos e adolescentes.”

O professor de concurseiros compartilhou um episódio em que foi atacado por um “favelado, feio, desgraçado” com uma latinha de cerveja com urina durante um jogo do Flamengo e, em revide, foi autorizado por um superior a dar porrada em parte da arquibancada, já que não conseguiu identificar o autor.

“Foi o primeiro ato de execução de maldade e crueldade que eu fiz”, disse. “Que delícia. Ali eu descobri que gosto de bater nas pessoas e ponto. É uma coisa que eu gosto de fazer e tive que me controlar por anos para não dar merda”, comentou Guedes, que é tratado como “referência” na preparação de cursos do gênero.

Na mesma aula, Evandro Guedes também disse aos aspirantes que policiais rodoviários federais, ao contrário de juízes e promotores, não serão a “nata da sociedade”, mas “aqueles caras fodas que toda mulher vai querer dar”, com “uma pistola na cintura e uma porra de um distintivo”. Vão fazer “trabalho de peão, mas peão com uma .40 na cintura e distintivo da Polícia Federal. Pode dar ‘carteirada’ em todos os puteiros. (…) Eu já bati até em putas.”

A violência da PRF de Sergipe contra Genivaldo ficou impressa no laudo do IML, que apontou asfixia como causa da morte. O homem com transtornos mentais foi abordado, imobilizado e jogado dentro de uma viatura pelos policias rodoviários federais. Imagens divulgadas na internet mostram que um dos agentes jogou uma bomba de efeito moral dentro do carro. Após respirar o gás por cerca de dois minutos, o homem apagou. Foi levado ao hospital, onde foi constatado o óbito.

Em nota, a PRF de Sergipe chamou a câmara de gás improvisada pelos policiais de “instrumento de menor potencial ofensivo” e afirmou que a vítima resistiu com “agressividade” à abordagem, tentando justificar assim a “técnica” fatal usada pelos policiais. A PRF anunciou um processo disciplinar para apurar a conduta dos envolvidos. Na internet, juristas apontam que o caso pode culminar em denúncia por homicídio culposo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Abordagem ilegal, desrespeito ao direito do cidadão, violência generalizada, tortura e morte numa câmara de gas: homícidio culposo? É sério? Dizer que foi premeditado é o mínimo.

  2. Talvez a sociedade só venha a reagir – incluindo os fariseus que se regozijam com esse tipo de selvageria – quando ela chegar noutro Herzog.

  3. 92 anos de Cleptocracia. A Violência como Política de Estado. Semana passada foram 2 Patrulheiros Assassinados. Trabalhadores invisíveis para a sanha e doutrinação esquerdopata-fascista e seu Líder: “O Presidente só pensa na Polícia” (enquanto não apóia e defende aos Criminosos. Vítimas da Sociedade, segundo a Doutrinação quase secular). Imprensa Panfletária e Ideológica segue seu caminho doutrinário de ABI(1932) ou Assis Chateaubriand ou RGT, fazendo papel de Advogado e Apóstolo da perspectiva monocrática e absolutista. O Trabalhador braçal, raso, de baixa patente, do dia a dia como algoz e idealizador de uma Política de Estado. Não existem Comandos. Não existem Elites. Não existe toda Estrutura de Estado e sua Cleptocracia a comandar todo este Processo ?!!! Outro Carandiru, onde Governador de estado e Secretário de Segurança desaparecem e são omitidos pela Imprensa e cumplicidade da Cleptocracia do Judiciário? Agora a culpa é também dos Concurseiros ao invés de um Protocolo e Cadeia de Comando nas Ações ?? Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  4. Como já disse o Chico, “Chame o Ladrão”… è essa bndidagem uniformizada que cuida da nossa segurança, melhor tratar direto com o crime sem farda. Com eles pode dar acerto.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador