
Henrique Alexandre Barros Viana, de 44 anos, conhecido no mundo do funk como “Rato da Love”, é apontado pela Polícia Federal como um dos principais suspeitos de integrar uma célula do Primeiro Comando da Capital (PCC) utilizando recursos provenientes do tráfico de drogas para financiar o agenciamento de artistas, garantindo o pagamento de seus shows. Nas redes sociais, Rato exibe um estilo de vida luxuoso, repleto de carros importados, lanchas e até um avião particular, enquanto compartilha vídeos ostentando maços de dinheiro oriundos de rifas vendidas a seus seguidores.
A reportagem do Estadão teve acesso a material relacionado aos empresários Rato, sua esposa, Daniela Cristina Viana, e de seu amigo, o influencer Wesley Rodrigo Goes Wenceslau, o Wesley Alemão. Em resposta ao jornal, a defesa dos acusados negou as acusações e que seus clientes já haviam sido investigados Polícia Civil de São Paulo e inocentados sobre o caso.
Rato é dono da produtora Love Funk Shows, da Foguete Music Records, em Goiânia, da Love Funk Music, de empresas de comércio de pneus, de uma fazenda na Paraíba. Agentes da Receita Federal informou ao Estadão que o empresário não declara seu patrimônio e que o montante de suas movimentações financeiras entre 2017 e 2022 é “praticamente irrisório”.
A Mega Operação Latus Actio
Deflagrada em 12 de março de 2024, a Operação Latus Actio é fruto do esforço conjunto entre a Receita Federal Brasileira, a Força Tarefa de Combate ao Crime Organizado (FICCO/SP), a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP/SP), Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) e a Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo, com o objetivo de combater crimes contra a ordem tributária e de lavagem de dinheiro relacionado a produtoras musicais e uma empresa do setor de comércio de peças e acessórios para veículos automotores com sede em Itu, no interior de São Paulo.
O inquérito foi iniciado em 2022, fundamentado em diligências policiais e informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que apontava transações financeiras suspeitas entre contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas relacionadas a produtores musicais do funk que estariam movimentando e ocultando recursos de origem ilítica e não declarados aos Fisco. Segundo a investigação, tanto laranjas como empresas de fachada vinculadas a indivíduos com histórico de relação com tráfico de drogas, organização criminosa e crimes contra o patrimônio.
Durante o processo de reconstituição do caminho do dinheiro, a PF passou a suspeitar que o crime organizado lavava dinheiro comprando datas de show de artistas através das empresas de Rato, com o objetivo de esquentar o dinheiro. Os pagamentos pelos shows não apenas seriam realizados em espécie, como muitos também foram fracionados, como forma de escapar da fiscalização.
A reportagem aponta que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) tenha recebido informes dos bancos Itaú e Safra alegando que a Love Funk seria uma empresa com “localização periférica aparentemente incompatível com a movimentação financeira realizada na conta”. Além disso, o documento do Safra indicou que “foi possível identificar que a maioria das pessoas físicas remetentes de recursos foram favorecidos com auxílio emergencial do Governo Federal no ano de 2020″.
Além disso, a PF teria encontrado mensagens com teor de ameaças de morte, ocultação de bens e do recurso à arbitragem do PCC para resolução de dilemas entre os empresários com os acusados. A reportagem exemplifica com uma disputa entre Rato e um concorrente identificado como Dom Novo, cujo telefone era de Orlando, Flórida.
Na época, 15 mandados de busca e apreensão foram emitidos em São Paulo, Guarujá, Itu e Indaiatuba. O bloqueio de valores em contas bancárias dos empresários em torno de R$ 1 bilhão, sequestro de veículos de luxo e de imóveis foram determinados pela Justiça.
Rato da Love apoiou Marçal nas eleições
Após o dono da produtora GR6, Rodrigo Oliveira, postar um vídeo com o atual prefeito e candidato à reeleição pela cidade de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), o Rato da Love Funk postou um vídeo em que o concorrente Pablo Marçal (PRTB), visitava sua produtora em tom de convergência.
O produtor de funk atraiu ainda mais atenção ao declarar apoio ao candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, no final de agosto deste ano. Figuras do gênero urbano como MC Ryan, MC Daniel, Djonga, Filipe Ret e MC Hariel foram contrários à associação de Marçal, um forte crítico do funk por uma perspectiva discriminatória, de receber apoio dentro da indústria. Durante as discussões, um vídeo de Marçal mencionando que o funk seria “drives mentais para psicopatas e assassinos” voltou a circular nas redes sociais.

“As músicas antigas eram poesia. Agora, são ‘drives mentais’ para psicopatas, assassinos. Esses caras destruíram a música, a arte, a religião, a família. E vocês caem como patos. Admiram obras lixo. Esse povo é doente, acabaram com as músicas. Instala ‘drive mental’ de corno, de preguiçoso, de estuprador, de vagabundo”, afirma o goiano em vídeo resgatado pelos internautas.
A fonte milionária das rifas ilegais
Outra fonte abundante de recursos para o crime organizado é o setor de rifas ilegais impulsionadas nas redes sociais dos investigados. O documento da PF demonstra que as reclamações dos seguidores sobre atrasos nos sorteios ou a falta de divulgação dos vencedores de tais rifas são recorrentes nas redes sociais de Rato. Os influenciadores prometiam prêmios como um Porsche Carrera 911. Em um vídeo, Rato vendia rifa por R$ 0,04 para concorrer a um prêmio de R$ 10 mil.
A defesa dos acusados luta pelo arquivamento
Os advogados de Jonatas, Wesley, Daniela e de Viana tentaram arquivar a investigação por falta de justa causa, alegando que o inquérito da PF apontava fatos que não constituíam crime que justificassem a acusação de lavagem de dinheiro e que fatos idênticos já teriam sido investigados pela Polícia Civil e que a Justiça já havia optado pelo arquivamento dos casos. No entanto, a reportagem do Estadão aponta que a Justiça negou tais alegações e os recursos das defesas dos acusados. O próximo passo da investigação seria que a FICCO convencesse a Justiça de que os jogos de azar ilegais são crimes antecedentes realizados para o cometimento de lavagem de capitais para que a condenação dos acusados fosse conseguida.

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