Quem financia o maior movimento anti-aborto do Brasil?

A pastora Damares Alves ocupa, ao mesmo tempo, o cargo de ministra da Mulher e de secretária-nacional do Movimento Brasil Sem Aborto, um dos grupos mais focados em proibir o aborto em qualquer situação no País. A instituição não revela como é financiada nem esclarece suas relações com os EUA

Foto: Agência Brasil

Jornal GGN – O El País publicou nesta semana uma reportagem especial mostrando como o lobby contra o aborto em qualquer situação no Brasil avançou nos últimos anos, contando com a campanha de movimentos autodenominados “pró-vida” que não são transparentes quando a questão é financiamento.

A matéria destaca também como o governo central e o Legislativo federal foram tomados por empresários e militantes ligados aos movimentos “pró-vida”. É o caso de Damares Alves, que hoje é ministra da Mulher, mas também do senador como Eduardo Girão – que desengavetou a PEC da Vida, uma das maiores ameaças que as mulheres irão enfrentar neste ano.

A pastora Damares ainda não teve a oportunidade de responder à imprensa se não vê conflito em ser, ao mesmo tempo, ministra da Mulher – papel que, em tese, a obriga a cuidar de políticas que garantam o acesso das mulheres ao aborto na rede pública, nas situações previstas em lei – e secretária-executiva nacional de Relações Institucionais do Movimento Brasil Sem Aborto. Seu nome ainda consta no site da instituição que é uma das maiores – se não a maior – na luta para proibir o aborto até em caso de estupro.

El País narra que o Brasil Sem Aborto foi criado em 2007, para fazer frente à discussão sobre o uso de células-tronco no Supremo Tribunal Federal. Damares participa desde sua fundação, que contou com a participação também do então assessor parlamentar Jaime Lopes. Ele convidou a farmacêutica Lenise Garcia, professora de microbiologia da Universidade de Brasília, para ser a presidente do Brasil Sem Aborto, cargo que ela ocupa há mais de uma década.

Em entrevista ao El País, Lenise não quis contar detalhes de como o movimento é sustentado financeiramente. “À frente do Brasil Sem Aborto, Lenise promove encontros com organizações de todo o país. Ainda assim, ela garante não saber o número de entidades que integram o movimento e divaga sobre o financiamento da organização: ‘Como o tema é controverso, às vezes as empresas dão dinheiro, mas não querem aparecer. Outros ajudam, como empresas de transporte que abrem espaço nos ônibus para nossos cartazes’.”

Lenise, ainda segundo o El País, foge quando questionada sobre “suportes internacionais às organizações pró-vida, embora esses vínculos estejam presentes desde a concepção desses movimentos”, principalmente por influência dos Estados Unidos.

Outra integrante do governo Bolsonaro, a advogada Angela Vidal Gandra Martins, hoje secretária da Família, tem histórico de relações com o movimento pró-vida a partir “de uma temporada nos Estados Unidos, onde trabalhou com a Alliance Defending Freedom, organização cristã sem fins lucrativos que atua no direito à liberdade religiosa e aos direitos fundamentais.”

No Brasil – mais precisamente, em Porto Alegre – a Alliance estaria por trás do oferecimento de um curso de 40 horas de formação em atuação jurídica contra o aborto voltado para recém formados em Direito.

De acordo com o El País, as 50 bolsas serão distribuídas pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure). Os jovens advogados terão aulas com o americano Jeffery Ventrella, da Alliance, sediada no Arizona.

A Alliance, Ventrella “dirige um programa de nove semanas criado em 2000, que já treinou mais de 2.100 estudantes de Direito de 21 países, alguns deles selecionados no Brasil pela Anajure.”

El País afirma que os Estados Unidos estão na “origem dos movimentos antiaborto do Brasil” desde o final dos anos 1980, quando representantes da Human Life International, “a maior organização antiaborto do mundo”, desembarcou em terras tupiniquins para participar ativamente da promoção do “Movimento em Defesa da Vida”, lançado no Rio de Janeiro pelo monsenhor Ney Affonso de Sá Earp, em 1989.

Além do Movimento Brasil Sem Aborto, estão entre os maiores lobistas o Movimento Legislação e Vida e o Movida, fundado pelo senador Girão.

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Redação

6 Comentários

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  1. Muito lindo os “evangélicos” (entre aspas pois o evangelho de Jesus que é bom não seguem) serem contra o aborto e ao mesmo tempo em favor da pena de morte, excludente de ilicitude pra proprietários rurais que matarem e posse e porte de armas. o Estado não tem que proibir nada, o estado é ASSASSINO, por não legalizarem, por exemplo a maconha, deixam os traficantes no comando do negócio, e sabemos que eles não tem a mínima pena de matar um usuário que deixar de pagar o produto fiado, a culpa é do estado em proibir algo que não faz mal a ninguém, se faz mal idaí? se a pessoa quiser morrer idaí? deixa morrer! o alcool mata mais gente que maconha e ninguém fala nada! LIBERDADE!

  2. Assistam um Filme
    O grito silencioso com o Dr. Bernard Nathanson. Depois do advento do exame de ultrassom foi possível constatar que o feto já nas primeiras etapas da gestação reage aos procedimentos do aborto fugindo e se esquivando dos instrumentos cirúrgicos. Depois de milhares de abortos o médico abriu mão das suas posições acadêmicas anacrônicas e partiu para uma campanha de conscientização geral. O aborto é um crime contra um ser vivo, com relativa consciência do ataque contra a sua vida. Somente nos casos previstos em lei ele deve ser tolerado com remédio amargo.
    Espero ter colaborado com a discussão de alguma forma.
    https://youtu.be/Ee2JuEa1lGc

  3. A questão de ser contra o aborto não é uma questão de argumentação religiosa mais sim científica. O corpo é da mulher, mas o feto é um ser humano com outro DNA, é um outro ser humano. O biologia nos disse que a vida começa depois da fecundação. Muitas mulheres que fazem aborto tem sérios problemas psicológicos etc .Humanidade é ser contra o aborto .

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