UFMG: Não há como assimilar cortes sem prejuízos ao ensino, pesquisa e extensão

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Foto: Foca Lisboa

Da UFMG

Os abaixo-assinados, ex-reitores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vêm a público manifestar sua indignação perante os ataques de diferentes naturezas de que são alvo as universidades públicas federais brasileiras, entre elas a UFMG.

Membros do governo e várias redes sociais estão, há algum tempo e com crescente intensidade, divulgando imagens e acusações, algumas pontuais e outras genéricas e infundadas, visando macular instituições que constituem um patrimônio do país, construído durante décadas com a contribuição de várias gerações de brasileiros e brasileiras. Somam-se a isso violações constantes do preceito constitucional que garante a autonomia universitária.

As universidades públicas respondem pela quase totalidade da pesquisa brasileira e por mais de 80% dos cursos de mestrado e doutorado do país. Formaram ao longo de sua história muitos dos melhores quadros profissionais do país em todos os campos do conhecimento. Para exemplificar, são ex-alunos da UFMG Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade.

O Hospital das Clínicas da UFMG, hospital universitário de ensino, pesquisa e extensão, exclusivo para atendimento pelo SUS, é o único em Minas Gerais que garante, para esse sistema, a oferta de procedimentos de alta complexidade, como transplantes, e mantém um centro de telessaúde, que atende vários municípios mineiros. O Hospital Risoleta Tolentino Neves, desde sua implantação pela UFMG em 2006, também com atendimento exclusivo pelo SUS, tornou-se elemento indispensável à rede do Estado de Minas Gerais e Região Metropolitana.

No campo da pesquisa, fundamental para o avanço do conhecimento, a UFMG possui, entre as universidades brasileiras, o maior número de patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e no World Intellectual Property (WIPO). A insulina humana recombinante para o combate ao diabetes mellitus e a vacina contra a leishmaniose são apenas dois exemplos de pesquisas desenvolvidas na UFMG que trazem enormes benefícios para a população brasileira.

A extensão universitária saiu de seus limites geográficos e implantou programas de alto impacto social, contribuindo, de forma decisiva, para a solução de graves problemas da sociedade brasileira, especialmente nas regiões mais carentes. Um exemplo é o programa Participa UFMG, que atua na reconstrução de Mariana e Brumadinho.

Pela avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), vinculado ao MEC, a graduação da UFMG é classificada com a nota máxima (5). Entre seus cursos de pós-graduação, 66% estão avaliados pela Capes em nível de excelência. Nos rankings de universidades, a UFMG também se destaca. Classificou-se, no Ranking de Universidades Folha (RUF), em primeiro lugar, na dimensão ensino, e em terceiro lugar no âmbito geral no Brasil. Pelo Times Higher Education (THE), a UFMG está classificada entre as 10 melhores instituições de ensino superior da América Latina e entre as 300 melhores do mundo.

Esse é o patrimônio que vem sendo desrespeitado e maculado, seja pela má-fé daqueles que desejam destruir as universidades públicas, seja pelo desconhecimento dos que acreditam facilmente em qualquer informação divulgada sem nenhuma comprovação. Esse tipo de notícia certamente visa criar condições para o desmonte do parque universitário público, que tanto vem contribuindo para o desenvolvimento do país.

Aos ataques contra dirigentes e membros da comunidade universitária somam-se os sucessivos cortes orçamentários, que assumiram recentemente uma proporção tal que inviabilizará o funcionamento das universidades, comprometendo a formação de recursos humanos e interrompendo de forma irreparável projetos de pesquisa em andamento, vitais para o futuro da economia e da sociedade brasileiras.

Como se não bastasse esse desmonte, as agressões contra as universidades e seus membros ultrapassaram todos os limites da civilidade e da convivência democrática e respeitosa. Palavras ofensivas e atitudes inaceitáveis são usadas contra dirigentes, professores, servidores e estudantes. Áreas importantes como as humanidades, relevantes e imprescindíveis para a formação crítica e cidadã, são desvalorizadas em falas dos principais dirigentes do país.

Reconhecemos a grave situação econômica em que se encontra o país, mas, em épocas de crise, é necessário garantir que sejam preservados ao menos os investimentos portadores de futuro, que promovem o desenvolvimento da nação.

Como ex-reitores, sabemos que, por mais competente e eficiente que seja a gestão da UFMG, não há como assimilar os cortes orçamentários atuais sem gravíssimos prejuízos ao ensino, à pesquisa e à extensão. As consequências serão imensas para o futuro de Minas Gerais e do Brasil.

Por isso, conclamamos a sociedade de Minas Gerais e do país, assim como nossos parlamentares, a se juntarem a nós e à comunidade da UFMG em defesa desta Instituição que nos foi legada pelos que nos antecederam e que devemos preservar para as próximas gerações.

Tomaz Aroldo da Mota Santos (gestão 1994-1998)
Francisco César Sá Barreto (gestão 1998-2002)
Ana Lúcia Almeida Gazzola (gestão 2002-2006)
Ronaldo Tadêu Pena (gestão 2006-2010)
Clélio Campolina Diniz (gestão 2010-2014)
Jaime Arturo Ramírez (gestão 2014-2018)

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O anúncio do corte foi dado brusca e autocraticamente pelo “ministro” da Educação. A competência seria do “ministro” da Economia, que logo transformou o inditoso corte em contingenciamento.

  2. Na real qual é de fato o papel da Universidade no universo social sem o viés ideológico.A universidade é como o monte olimpus cheio de semideuses que da sociedade comum estao distantes de seu diversos problemas.Hoje a universidade pelo que vemos não é um fim em si mesmo.Temos a Agricultura a Saúde básicos.A esquerda através de suas metodologias grita por grana não por qualidade.Vejam os contigenciamentos feito nas gestões dos governos anteriores ai vcs comparem.

  3. Vc está viajando! Nos governos do PT não ocorreram cortes efetivos e nem havia ainda, o famigerado congelamento dos investimentos públicos por 20 anos e saúde, educação, segurança e infraestrutura. Agora os bilhões para os parasitas especuladores, que não geram um único emprego, estão liberados. Esse papo de direita esquerda já deu. Queremos educação, saúde, infraestrutura de qualidade, felicidade, pois pagamos impostos para isso e fim!!

  4. Vc está viajando! Nos governos do PT não ocorreram cortes efetivos e nem havia ainda, o famigerado congelamento dos investimentos públicos por 20 anos e saúde, educação, segurança e infraestrutura. Agora os bilhões para os parasitas especuladores, que não geram um único emprego, estão liberados. Esse papo de direita esquerda já deu. Queremos educação, saúde, infraestrutura de qualidade, felicidade, pois pagamos impostos para isso e fim!!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador