Uma cineasta negra explica crise com série sobre Marielle

Antônia Pellegrino, José Padilha e o roteirista George Moura no núcleo duro da produção é tudo o que Marielle não defenderia

Jornal GGN – A produtora, roteirista e diretora Sabrina Fidalgo, premiada no último Festival de Brasília de Cinema, publicou nesta segunda (9) um artigo explicando por que a série da Globo sobre a vida e morte da ex-vereadora Marielle Franco melindra o movimento negro e as pautas de esquerda.

A questão começa com a escolha de José Padilha para a direção do seriado, mas não para por aí. O problema é que além, do cineasta de estilo hollywoodiano que cometeu erros recentemente em O Mecanismo (Netflix), a série com Marielle tem mais dois brancos no núcleo duro: Antônia Pellegrino, produtora, e George Moura, líder do grupo de roteiristas.

Pellegrino tinha tudo para agradar os movimentos que defendem a memória de Marielle. Sua ascensão se deu a partir de produções elogiadas, que surgiram na onda da primavera feminista de 2015. A escritora é esposa de Marcelo Freixo e amiga de Marielle havia cinco antes antes do atentado que tirou a vida da vereadora do PSOL.

Mas ao defender a escolha de Padilha para a produção, Pellegrino pisou na bola. Disse ao UOL que procurou negros para trabalhar na série, mas no Brasil não há nenhum “Spike Lee” e nenhuma “Ava DuVernay”. Além disso, José Padilha, na visão de Pellegrino, seria a chave para tornar a série sobre Marielle famosa também fora do Brasil.

“Pellegrino ainda tentou consertar essa emenda com um esclarecimento editado posteriormente na mesma entrevista. Tarde demais, pois o estrago já estava feito. Com essa afirmação, a roteirista não só se mostra desatualizada do Zeitgeist atual, onde a diversidade é o segredo do sucesso e o novo ‘modus operandi’ nos quatro cantos do globo, como também menospreza nomes mais premiados e com trabalhos muito mais conhecidos, relevantes e consistentes do que os que constam em seu próprio Curriculum Vitae”, escreveu Sabrina.

A título de exemplo, Sabrina citou nomes como “Adélia Sampaio, Carmen Luz, Lilian Solá Santiago, Jeferson De, André Novais de Oliveira, Gabriel Martins, Viviane Ferreira, Yasmin Thayná, Glenda Nicácio, Thiago Almazy, Lázaro Ramos, Jéssica Queiroz, Irmãos Carvalho, Jô Bilac, Grace Passô, entre muitos outros.”

Na visão da cineasta, Pellegrino e seu time tendem a executar Marielle pela segunda vez. A ex-vereadora “não merecia ter um (ex-)defensor de seus algozes como diretor de uma série sobre sua vida e que, além de tudo, é escrita por homens e mulheres brancos pertencentes de uma exclusiva elite financeira e intelectual.”

Redação

2 Comentários

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  1. Algo que chama muita atenção das corriqueiras e agressivas reações dos identitários é que eles se acham detentores do pincel de coloração racial do Brasil, pintando como lhes convêm as pessoas de negras ou brancas, nesse binarismo racial importado e estranho. Decidiram, por exemplo, que Antônia Pellegrino é “branca”, porque não gostaram de sua escolha para a direção do documentário. Se a aprovassem, provavelmente seria enquadrada como “parda, feminista e progressista”, a propósito companheira de Freixo, este sim um branco palatável aos militantes (por ora!).

  2. Será que não é o momento de parar de dicotomizar?
    Negros, brancos, amarelos, pardos, afinal porque não apenas e somente pessoas?
    Estas sim, podemos não querer aquelas elitistas para representar uma mulher que representa tudo, menos a elite podre e cheirando mofo.

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