Usinas sem reservatórios diminuem segurança energética

Os projetos para empreendimentos hidrelétricos do país passaram por uma série de transformações de engenharia, dentre elas a redução ou quase total desaparecimento dos seus reservatórios. A proposta das chamadas usinas ‘fio d’água’ reduz o impacto ambiental das construções por ocuparem áreas menores, por outro lado, poderá diminuir a segurança energética do país ao longo dos anos. E, ainda, prejudicar a inserção de fontes renováveis à matriz elétrica como um todo, explica Rafael Kelman, diretor da PSR Consultoria

“Os reservatórios das hidrelétricas funcionam como armazéns virtuais de energia. No período quando a produção eólica é menor, por exemplo, aumenta-se a produção de energia hidroelétrica através do esvaziamento dos reservatórios. E vice-versa: na época de maior produção de energia eólica, reduz-se a geração hidrelétrica e, com isso, aumenta-se o armazenamento de água nos reservatórios”.

Em outras palavras, a redução progressiva da capacidade relativa de armazenamento de hidrelétricas, a partir da construção de usinas fio d’água, opção adotada nas obras de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, “dificultará a inserção das energias renováveis que tem como caráter comum serem intermitentes”.

Kelman lembrou que a Alemanha,  país com maior capacidade eólica instalada no mundo (22 mil MW), recentemente passou 5 dias sem nenhum vento. A falta foi compensada pela queima de combustíveis fósseis nas termelétricas.

“Na Alemanha, a cada 1 MW de energia eólica instalada, aumenta-se também em 1 MW a capacidade instalada das térmicas”, respalda Élbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeólica), que também concorda que a implantação de usinas hidrelétricas sem reservatórios diminui a confiabilidade do sistema energético brasileiro.

Por outro lado, Élbia não concorda que a construção de usinas hidrelétricas fio d’água prejudicará a expansão das energias de fontes renováveis e mais dependentes do humor da natureza, como eólica, solar e biomassa de cana, que tem seu período de safra, portanto não é ofertada o ano inteiro. 

“O consumo irá aumentar, naturalmente, e, com reservatórios de água proporcionalmente menores, com o passar do tempo, vamos acabar reduzindo o estoque de energia boa e barata e, portanto, teremos mais necessidade de diversificar a matriz com as demais fontes”, destaca.

Segundo Élbia, o Brasil está longe de chegar no limite de aproveitamento dos reservatórios de água que possui. Atualmente o país produz 120 mil MW de energia elétrica, sendo que 70% do total é ofertado pelas hidrelétricas, enquanto apenas 1,8% por parques eólicos. Essa proporção irá aumentar para 5,3% do total da matriz, em 2014 – leilões já realizados pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) garantem essa expectativa. Élbia destaca, ainda, que, em 2020, os parques eólicos deverão ofertar 12% do total da energia elétrica consumida no Brasil.

O Ministério de Minas e Energia estima que, em 2030, o país terá que dobrar a produção de energia para poder acompanhar a demanda. Para atingir essa meta o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) estipula a necessidade de aumentar em 3,3 mil MW/ano a oferta de energia elétrica.

Redação

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